Não vos admireis se o Senhor chama os prazeres de espinhos. Não vos percebeis este fato, porque estais embriagados pela paixão. Mas aqueles que estão sóbrios, sabem que os prazeres dilaceram mais que os espinhos, que desgastam mais que as preocupações, que fazem sofrer mais cruelmente tanto o corpo quanto a alma. Não, a preocupação não fere tanto quanto a saciedade. Quando o homem dado aos prazeres se vê nas garras da insônia, quando suas têmporas rebentam, quando lhe pesa a cabeça, quando sofre nas entranhas, podeis ver o quanto essas dores são mais cruéis que os espinhos. Os espinhos, seja qual for a maneira com que agarremos, fazem sangrar a mão que os agarrou; do mesmo modo os prazeres ferem os pés, as mãos, a cabeça, os olhos, numa palavra, o corpo inteiro; elas são áridas e estéreis como o espinho; causam danos muito mais graves, e em coisas essenciais. Conduzem a uma velhice prematura, embotam os sentidos, obscurecem a razão, cegam o espírito que antes era clarividente, tornam o corpo mole e flácido, aumentando nele a massa de impurezas, acumulando sobre ele os males, tornam sua carga mais pesada, seu peso excessivo. Daí, a ocorrência de numerosas e repetidas quedas e de frequentes naufrágios.
___________________
Fonte: São João Crisóstomo, Homilia XLIV, sobre o Evangelho de São Mateus, 5.
Nenhum comentário:
Postar um comentário