Quando o poeta alemão Clemente Wenzeslaus Brentano de La Roche (1778-1842), depois de ter passado muito tempo nas loucuras mundanas, chegou ao conhecimento de sua miséria, com pessoas bem intencionadas e de sua confiança lastimava-se muitas vezes dos erros de sua vida, esperando assim achar algum alívio e consolo. Porém, essas queixas não lhe restituíram a paz do coração. Um descontentamento geral e profundo apoderou-se-lhe da alma, e pesaroso olhava para sua vida passada. Nesta triste disposição de ânimo, encontrou-se um dia (era ao fim do ano de 1816) com uma piedosa senhora protestante, a poetisa Luíza Hensel, a qual lhe conquistou em breve a confiança pela sua inocência e candidez, de modo que Brentano lhe abriu todo o seu coração. Esta, porém, lhe respondeu gravemente: “De que lhe serve manifestar isso a uma jovem? O senhor é católico; tem a felicidade de ter a Confissão. Exponha seus vexames ao seu Confessor”. A estas palavras Brentano começou a chorar, e disse, de modo que os que estavam presentes na sala o podiam ouvir: “Pois, me diz isso, a filha de um pastor protestante!”
Foi uma humilhação para Brentano ouvir da boca de uma senhora, que não era a uma jovem, nem num salão e sim ao Sacerdote e na igreja, que devia fazer a confissão de suas misérias, mas foi uma humilhação para o seu bem! Lutou para achar a paz e achou-a.
“Vá confessar-se”, era a resposta que a amiga, ao encontrar-se com ele e ouvindo-lhe as queixas, sempre lhe repetia; conformando-se ao conselho dela, tomou a resolução de fazer uma Confissão Geral. Foi ter com o Cônego Tauber, bom e zeloso Sacerdote pedindo-lhe ouvisse-o em Confissão, logo que para isso estivesse preparado. Já nesta ocasião, em que expôs ao Padre o triste estado de sua alma em geral, e dele recebeu palavras de animação e conforto, começou a fundir-se-lhe o gelo do coração como que às brisas primaveris da graça. Após uma longa preparação por entre os combates mais veementes, Brentano fez, por fim, sua confissão (a primeira depois de 10 anos).
No dia seguinte recebeu também a Santa Comunhão. Era sobremodo feliz por ter-se reconciliado com a Santa Igreja, por ter achado a paz com Deus e consigo.
“O senhor é católico; tem a felicidade de gozar do benefício da Confissão; vá confessar-se!” Que preciosa verdade encerram estas palavras! Sim, assim é. Felizes somos nós católicos por termos a Confissão. Quantas graças não devemos a Deus por ter instituído para nossa salvação o Santo Sacramento da Penitência, no qual o Sacerdote, autorizado para isso, perdoa em nome de Deus os pecados, se o pecador arrependido os confessa sinceramente e tem a vontade de cumprir a penitência imposta.
Nós católicos somos felizes por termos a Confissão. Ela é para nós o meio mais fácil e mais simples para nos reconciliarmos com Deus; é uma fonte de paz e consolo para nosso coração atribulado. Por uma boa e digna confissão fechamos as portas do Inferno e abrem-se-nos as do Céu.
A Confissão, porém, não é somente para nós uma felicidade inestimável, mas também um dever rigoroso. O divino Salvador disse aos seus discípulos: “Em verdade vos digo, que tudo o que ligardes sobre a terra, será ligado também no Céu; e tudo o que desatardes sobre a terra, será também desatado no Céu”.1 E pouco antes da sua Ascensão conferiu solenemente aos Apóstolos o poder de perdoar os pecados, dizendo-lhes: “Assim como o Pai me enviou, assim eu vos envio… Recebei o Espírito Santo; àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados, e àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos”.2
Que se segue daí? Sem dúvida, que é obrigatório ao pecador o reconciliar-se com Deus pelo Sacramento da Penitência e que não lhe é facultado fazê-lo de outra maneira; pois, se pudéssemos, sem o Sacramento da Penitência e sem o Padre, obter o perdão dos nossos pecados, Cristo em vão teria dado tal poder somente aos Apóstolos e seus Sucessores. Este seu poder seria vão e inútil, se não pudessem exercê-lo: não seria nenhum poder.
Bem exprimiu este pensamento Santo Agostinho († 480): “Fazei penitência como se faz na Igreja, a fim de que a Igreja ore por vós. Ninguém diga consigo: ‘Eu faço penitência perante Deus, às ocultas. Deus que me perdoe, sabe que estou arrependido no coração’. – Pois desta forma seria dito em vão: ‘Tudo o que desatardes sobre a terra, será desatado também no Céu’; em vão a Igreja teria recebido o Poder das Chaves. Acaso nos é lícito frustrar o Evangelho e as palavras de Cristo?” Em outras palavras: Cristo nos remete para os Apóstolos e seus Sucessores, os Bispos e Sacerdotes, se desejamos obter o perdão dos pecados.
Para todos os fiéis, portanto, que, depois do Batismo, cometeram um pecado mortal, torna-se necessária a recepção do Sacramento da Penitência, ou, sendo esta impossível, ao menos o desejo de recebê-lo…
Felizes somos nós católicos por termos este grande Sacramento, que não só nos purifica do pecado, mas também nos protege poderosamente contra ele, ajudando-nos eficazmente a alcançar a perfeição cristã.
É verdade: como todas as coisas boas são combatidas, e até convém que o sejam, para poderem mostrar sua força e vigor, assim também a instituição da Confissão. Poucas instituições da Santa Igreja são tanto impugnadas pelo poder das trevas quanto a Confissão. Que pretextos e razões fúteis inventam os homens para difamarem na opinião de outros o Sacramento da Penitência ou ao menos para se eximirem a si mesmos da obrigação de recebê-lo! Até bons cristãos sofrem às vezes estas tentações.
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Fonte: Pe. Fr. Frutuoso Hockenmaier, O.F.M., “O Cristão Prático – Exposição Prática da Moral Cristã”, Notas Preliminares, pp. 9-13. Editora Mensageiro da Fé, Bahia, 1925.
1. Mat. 18, 18.
2. Jo. 20, 21-23.
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