Caríssimos, envio-lhes o meu artigo semanal, que espero lhes interessar. Com
meu abraço fraterno e bênção cordial.
+ Dom Fernando Arêas Rifan
FAMÍLIA – IGREJA
Dom Fernando Arêas Rifan*
Em
minha
pequena intervenção no Simpósio da 4ª Peregrinação das
Famílias, fiz alusão ao
que disse o Papa João Paulo II, chamando a família de “Igreja
doméstica” (Familiaris
consortio, 21, Lumen
gentium, 11, CIC 1666) e “Santuário
da vida” (Carta às Famílias, 11).
Igreja
e
santuário são lugares sagrados, como deve ser a família. De
fato, é ali que
nasce a vida, dom do Criador à criatura. É na família, de modo
especialíssimo e
único, que Deus continua a obra da sua criação, infundindo a
alma na matéria
fornecida pelos pais, formando assim um novo ser humano, que
concretiza o amor
dos esposos cristãos.
O
lar cristão
é o lugar onde os filhos recebem o primeiro anúncio da Fé.
Nesta “Igreja
doméstica”, comunidade de graça e oração, escola de virtudes
humanas e de
caridade cristã, aprendem-se as primeiras orações, o bom
comportamento, isto é,
os limites que devemos respeitar, o correto uso da liberdade,
o respeito, a boa
educação, a fraternidade e o amor.
Mas
isso não
significa que na família não haja problemas ou dificuldades. A
Sagrada Família,
modelo de todas, onde o Pai quis que seu Filho nascesse e
crescesse, passou por
grandes dificuldades, como no nascimento pobre de Jesus em
Belém, na fuga para
o Egito perseguido por Herodes e na simplicidade do trabalho
em Nazaré. Mas nem
por isso deixou de ser a família mais feliz do mundo. Também
não quer dizer que
na família não haja até pessoas ruins. Na ascendência de
Jesus, entre seus
ancestrais, portanto na sua família, havia pessoas não muito
recomendáveis, que
Deus quis que fossem nomeadas na sua genealogia.
Mas,
se a
família é como uma Igreja, a Igreja é também uma família. São
Paulo nos chama
de membros da família de Deus, “domestici Dei”, edificados
sobre o alicerce dos
Apóstolos (cf. Ef 2, 19-20). É na Igreja que “nascemos de
novo” pelo Batismo.
Nesta família fomos recebidos, nela estamos alegres e felizes,
por saber que
estamos na casa de Deus.
Como
toda
família, a Igreja, divino-humana, tem também seus problemas,
devidos à sua
parte humana. Jesus disse que o “Reino de Deus” aqui na terra,
a Igreja, é
semelhante a uma rede, com peixes bons e maus, a um campo com
trigo e joio. A
depuração será só no fim do mundo. Quem quiser uma Igreja só
de santos deve esperar
o fim do mundo ou ir para o céu.
Essa
noção de
família é muito importante na eclesiologia. A Igreja é algo
objetivo, fundada
por Nosso Senhor sobre os Bispos, segundo a sucessão
apostólica. A Igreja não é
um grupo de amigos. “Na Igreja, eu não procuro meus amigos, eu
encontro meus
irmãos e minhas irmãs; e os irmãos e as irmãs não se procuram,
se encontram. Esta
situação de não arbitrariedade da Igreja na qual eu me
encontro, que não é uma
igreja da minha escolha, mas a Igreja que se me apresenta, é
um princípio muito
importante. Isto não é minha escolha, como se eu fosse com tal
grupo de amigos
ou com outro; eu estou na Igreja comum, com os pobres, com os
ricos, com as
pessoas simpáticas e não simpáticas, com os intelectuais e os
analfabetos; eu
estou na Igreja que me precede” (Ratzinger, Autour de la
Question Liturgique,
Fontgombault, 24/7/2001).
*Bispo
da Administração Apostólica Pessoal
São
João
Maria Vianney
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