A
Devoção ao Sagrado Coração de Jesus
segundo
a Teologia Católica
Pe. Adolphe-Alfred
Tanquerey sintetiza-nos
a
devoção ao Sagrado Coração de Jesus
1º.
Observações preliminares.
Para concluir o que levamos dito acerca da caridade, nada melhor
podemos fazer que convidar os leitores a buscar no Sagrado Coração
de Jesus a fonte e o
modelo da caridade
perfeita: nas Ladainhas
aprovadas oficialmente pela
Igreja invocamo-lo, efetivamente, como fornalha ardente de caridade,
plenitude de bondade e amor: “fornax
ardens caritatis... bonitate et amore plenum”.
Há,
com efeito, na devoção ao Sagrado Coração de Jesus dois
elementos essenciais: um
elemento sensível,
o Coração de carne, hipostaticamente unido à Pessoa do Verbo; um
elemento espiritual,
simbolizado pelo Coração material, e que outro não é senão o
amor do Verbo Incarnado para com Deus e para com os homens. Estes
dois elementos não fazem mais que um, como não fazem mais que um, o
sinal e a coisa significada. Ora, o amor significado pelo Coração
de Jesus é, sem dúvida, o amor humano,
mas realmente também o amor divino,
já que em Jesus as operações divinas e humanas andam unidas e
indissolúveis. É o seu amor para com os homens:
“Eis aqui o Coração que tanto amou os homens”; mas
é também o seu amor para com Deus, porque, já o mostramos, a
caridade para com os homens deriva da caridade para com Deus e tira
dela o seu motivo verdadeiro.
Podemos,
pois, considerar o Coração de Jesus como o modelo mais perfeito do
amor para com Deus e
do amor para com o
próximo, e até como o
modelo
de todas as virtudes,
visto a caridade as conter e aperfeiçoar todas. E como, durante a
sua vida mortal, Jesus mereceu para nós a graça de imitarmos as
suas virtudes, é também a causa
meritória, a fonte
das graças que nos permitem amar a Deus e a nossos irmãos e
praticar todas as outras virtudes.
2º.
O Coração de Jesus fonte e modelo de amor para com Deus.
O amor é o dom total de si mesmo; ora, sendo assim, quão perfeito
não é o amor de Jesus para com seu Pai! Desde
o primeiro instante da Incarnação, oferece-se e dá-se como Vítima,
para reparar a glória de Deus, ultrajado por nossos pecados.
No
seu Nascimento, como no dia da Apresentação no Templo, renova esta
oblação. Durante a vida
oculta, testemunha o seu
amor para com Deus, obedecendo a Maria e a José, em quem vê os
representantes da Autoridade Divina: e quem nos dirá os atos de puro
amor que da pequenina Casa de Nazaré se elevavam incessantemente
para a adorável Trindade? No decurso da sua vida
pública, não busca
mais que o beneplácito e a glória de seu Pai: “Quae
placita sunt ei facio semper...
Ego honorifico Patrem”;
na última Ceia, pode-se
dar a Si mesmo testemunho de que glorificou a seu Pai durante a vida
inteira: “Ego te
clarificavi super terram”;
e no dia seguinte, levava o dom de Si mesmo até à imolação do
Calvário: “factus
obediens usque ad mortem, mortem autem crucis”.
Quem poderia jamais contar os atos internos de amor que brotavam
incessantemente do seu Coração e fizeram da sua vida inteira um ato
contínuo de caridade perfeita?
Mas
quem poderia sobretudo exprimir a perfeição
deste amor?
“É,
diz S. João Eudes,
um amor digno de tal Pai e de tal Filho; é um amor que iguala
perfeitíssimamente
as perfeições inefáveis do
seu objeto tão amado; é um Filho infinitamente amante, que ama a um
Pai infinitamente amável, é um Deus que ama a um Deus... Numa
palavra, o divino Coração de Jesus, considerado segundo a sua
divindade ou segundo a sua humanidade, é infinitamente mais a cada
momento que todos os corações dos Anjos e dos Santos juntamente O
podem amar por toda a eternidade.
Ora,
este amor nós o podemos fazer nosso,
unindo-nos ao Sagrado Coração de Jesus, e oferecê-lo ao Eterno
Pai, dizendo com S. João Eudes: “Ó meu Salvador, eu me entrego a
Vós, para me unir ao amor eterno, imenso e infinito que Vós tendes
a Vosso Pai. Ó Pai adorável, eu Vos ofereço todo este amor eterno,
imenso, infinito de Vosso Filho Jesus, como um amor que me
pertence... Eu Vos amo como Vosso Filho Vos ama”.
3º.
O Coração de Jesus fonte de amor para com os homens.
Dissemos (nº 1247), quanto Jesus os amou na terra; resta-nos
explicar como não cessa de os amar, agora que está no Céu.
a)
Porque nos ama, é que nos santifica pelos Sacramentos:
são, efetivamente, diz S. João Eudes,
“outras tantas fontes inexauríveis de graça e santidade, que
tem a sua origem no oceano imenso do Sagrado Coração de nosso
Salvador; e todas as graças, que deles procedem (Sacramentos), são
outras tantas chamas desta divina fornalha”.
Mas
é sobretudo na Eucaristia
que Ele nos dá a maior prova de amor.
1)
Há dezenove séculos (XXI séc.) que está conosco, noite e dia,
como um pai que não quer deixar seus filhos, como um amigo que tem
as suas delícias em estar com seus amigos, como um médico que se
conserva constantemente à cabeceira dos seus doentes. 2)
E está ali sempre ativo, adorando, louvando e glorificando a seu Pai
por nós; dando-lhe perenemente graças por todos os bens que Ele não
cessa de nos prodigalizar, amando-O por nós, oferecendo os seus
méritos e satisfações para reparar os nossos pecados, e pedindo
incessantemente novas graças para nós, “semper
vivens ad interpellandum pro nobis”.
3) Não cessa de
renovar sobre o Altar o Sacrifício do Calvário, fá-lo um milhão
de vezes por dia, em toda a parte onde há um Sacerdote para
consagrar, e isto por amor para conosco, para aplicar a cada um de
nós os frutos do seu Sacrifício (nº 271-273); e não contente de
se imolar, dá-Se todo inteiramente a cada alma que comunga, para lhe
comunicar as suas graças, as suas disposições e as suas virtudes
(nº 277-281).
Ora,
este divino Coração deseja vivamente comunicar-nos os seus
sentimentos de caridade: “O Meu divino Coração, dizia Ele a S.
Margarida Maria, está tão apaixonado
de amor para com os homens, e para contigo em particular, que não
podendo mais conter em Si mesmo as chamas de sua ardente caridade, é
força que as difunda por teu meio, e que se lhes manifeste a eles,
para os enriquecer de seus preciosos tesouros”.
E foi então que Jesus lhe pediu o coração para o unir ao Seu, e
pôr nele uma centelha do Seu amor. O que fez de modo maravilhoso
para a Santa, fá-lo para nós de modo ordinário na Sagrada
Comunhão, e cada vez que unimos o nosso coração ao Seu; porque Ele
veio à terra trazer o fogo sagrado da caridade e nada tanto deseja
como ateá-lo em nossos corações: “ignem
veni mittere in terram, et quid volo nisi ut accendatur?.
4º.
O Coração de Jesus fonte e modelo de todas as virtudes.
Muitas vezes na Sagrada Escritura o coração designa todos os
sentimentos internos do homem, por oposição a seus atos externos:
“O homem não vê senão o que se manifesta no exterior, Deus,
porém, vê o coração: Homo
videt ea quae parent, Deus autem intuetur cor”.
Por
via
de
consequência, simboliza o Coração de Jesus não somente o amor,
mas todos os sentimentos internos da sua Alma. Foi sem dúvida assim
que os grandes místicos da Idade Média e, após eles, S. João
Eudes encararam a devoção ao Sagrado Coração de Jesus. O mesmo se
diga de Santa Margarida Maria. É indubitável que a Santa insiste
principalmente, e com razão, no amor de que está
cheio este divino Coração; mas nos seus diversos escritos
mostra-nos este Coração como o modelo de todas as virtudes; e o Pe.
de la Colombière, seu confessor e intérprete, resume o seu
pensamento num Ato de Consagração, que se encontra ao fim do seu
livro Retraites
spirituelles.
“Este
oferecimento faz-se para honrar este divino Coraçao, sede
de todas as virtudes,
manancial de todas as bênçãos e refúgio de todas as almas santas.
As principais virtudes que Nele se pretendem honrar são: em
primeiro lugar, um amor
ardentíssimo para com Deus seu Pai, juntamente, com um profundíssimo
respeito e a maior humildade
que jamais existiu; em
segundo lugar, uma
paciência infinita nos males, uma dor extrema dos pecados cujo peso
carregara sobre Si mesmo, a confiança dum filho terníssimo aliada
com a confusão de um grandíssimo pecador; em
terceiro lugar, uma
compaixão, sobremaneira sensível, das nossas misérias, e, apesar
de todos estes movimentos, uma igualdade inalterável, causada por
uma conformidade tão perfeita com a Vontade de Deus que não podia
ser perturbadas por nenhum acontecimento”.
De
mais a mais, como todas as virtudes derivam da caridade e nela
encontram a sua última perfeição (nn. 318-319), sendo como é o
Coração de Jesus fonte e modelo da divina caridade, o é também de
todas as virtudes.
Destarte
vem a coincidir a devoção ao Coração de Jesus com a devoção à
Vida
Interior de Jesus
exposta por M. Olier e praticada em S. Sulpício. Esta
vida interior, diz ele, consiste “nestas disposições e
sentimentos internos para com todas as coisas: por exemplo, na sua
religião
para com Deus, no seu amor para com o próximo, no
seu
aniquilamento para consigo mesmo,
no seu horror
do pecado,
e na sua condenação
do mundo e das suas máximas”.
Ora,
estas disposições encontram-se no Sagrado Coração de Jesus, e é
lá que se devem ir beber. E é por isso, que a uma
pessoa piedosa, que gostava
de se recolher no Coração de Jesus, escreve M. Olier: “Perdei-vos
mil vezes ao dia no seu amável Coração, ao qual vos sentis tão
poderosamente atraída... Não há recinto mais escolhido que o
Coração do Filho de Deus; é a pedra preciosa do escrínio de
Jesus; é o tesouro do próprio Deus em que recolhe todos os seus
dons e comunica todas as graças... Foi neste Coração Sacratíssimo
e neste adorável Interior que primeiro se operaram todos os
Mistérios... Vede, pois, a que vos chama Cristo Senhor Nosso,
abrindo-vos o seu Coração, e como deveis aproveitar-vos dessa graça
que é uma das maiores que tendes alcançado em vossa vida. Não
vos arranque jamais a criatura desse lugar de delícias, onde queira
Deus estejais abismada para o tempo e para a eternidade com todas as
santas esposas de Jesus”.
E noutra parte acrescenta:
“Que coração não é o Coração de Jesus! Que oceano de amor se
encontra nele contido, a transbordar sobre toda a terra! Ó manancial
fecundo e inexaurível de todo o amor! Ó abismo profundo e
inesgotável de toda a religião! Ó divino centro de todos os
corações!... Ó Jesus, sofrei que eu Vos adore em Vosso Coração
que eu vi ainda esta manhã. Quereria
descrevê-lo, mas não me é possível, tão arrebatador é Ele! Eu O
vi como um Céu, todo
cheio de luz, de amor, de ação de graças e de louvor. Ele exaltava
a Deus, exprimia as suas grandezas e magnificências”.
Para M. Olier, o Interior de Jesus e o Seu Sacratíssimo Coração
são uma e a mesma coisa: é o centro de todas as suas disposições
e virtudes, é o santuário do amor e da religião, em que Deus é
glorificado e as almas fervorosas se deliciam em recolher-se.
Conclusão
Para
que a devoção ao Sagrado Coração de Jesus produza estes felizes
resultados, deve consistir em dois atos essenciais: amor
e reparação.
1º.
O amor é o primeiro
e principal
destes deveres, segundo Santa Margarida Maria e S. João Eudes.
Dando
conta ao P. Croiset da segunda grande aparição, escreve Santa
Margarida Maria: “Ele me deu a conhecer que o grande desejo que
tinha de ser amado pelos
homens e de os retirar
do caminho da perdição O havia levado a formar este desígnio de
manifestar o seu Coração aos homens, com todos os tesouros de amor,
misericórdia, graça, santificação e salvação, para que todos os
que quisessem tributar-lhe e procurar-lhe toda a honra, glória e
amor que estivessem em seu poder, Ele os enriquecesse com abundância
e profusão destes divinos tesouros do Coração de Deus que deles é
a fonte”.
E numa carta a sóror de la
Barge, conclui assim: “Amemos, pois, esse único amor de nossas
almas, já que Ele foi o primeiro a nos amar e nos ama ainda com
tanto ardor que se inflama continuamente no Santíssimo Sacramento.
Não é necessário mais que amá-lo, este Santo dos Santos, para se
fazer santa uma alma. Quem nos impedirá, pois, de o ser, já que
temos corações para amar e corpo para sofrer?... Não há senão o
seu puro amor que nos leve a fazer tudo o que lhe agrada; não há
senão este perfeito amor que nos leve a fazê-lo do modo que lhe
agrada; e não pode haver senão este amor perfeito que nos leve a
fazer todas as coisas, quando lhe agrada”.
2º.
Mas o segundo destes atos é a reparação;
porque o amor é ultrajado pelas ingratidões dos homens, como o
próprio Cristo Senhor Nosso declara na terceira grande aparição:
“Eis
aqui este Coração que tanto tem amado os homens, que nada poupou
até se esgotar e consumir para lhes testemunhar o seu amor; e, em
paga, não recebo da
maior parte deles senão ingratidões
pelas suas irreverências e sacrilégios e pelas friezas e desprezos
que tem para Comigo neste Sacramento de amor”. E, então, pede-lhe
que repare essas ingratidões pelo fervor do seu amor: “Minha
filha, eu venho ao coração que te dei, para que pelo
teu ardor repares as injúrias que tenho recebido
dos corações tíbios e frouxos que Me desonram no Santíssimo
Sacramento”.
Estes
dois atos nos santificarão em extremo: o amor,
unindo-nos intimamente ao Sagrado Coração de Jesus, far-nos-á
comungar nas suas virtudes e dar-nos-á coragem de as praticar, a
despeito de todos os obstáculos: a reparação,
fazendo que nos compadeçamos dos sofrimentos de Jesus, estimulará
ainda o nosso fervor e nos levará a padecer corajosamente por amor
todas as provações, a que Ele se dignar associar-nos.
Assim
entendida, a devoção ao Sagrado Coração de Jesus não terá nada
de afetado, nem de efeminado: será o próprio espírito do
Cristianismo, uma feliz combinação de amor e sacrifício,
acompanhada do exercício progressivo das virtudes morais e
teologais. Será uma como síntese
da via iluminativa
e uma feliz iniciação
da via unitiva.
Pe.
Mário Corti
e
o Viver na Graça do Sagrado Coração de Jesus
1
– Quem é Jesus Cristo – Só
conhecemos o que uma pessoa é, quando chegamos a penetrar no seu
íntimo: não basta conhecê-la por aquilo que aparece por fora. Mas,
infelizmente, é fato, que muitos homens, tem
como que duas caras: uma honesta – a que mostram ao público –
outra egoísta e desdenhosa – a que tem reservada no seu íntimo e
só manifestam na sua vida particular.
Jesus
Cristo, porém, não é assim. Ao contrário, quanto melhor
conhecemos o Seu íntimo, tanto mais nos sentimos atraídos para Ele.
Se
queremos conhecê-lO bem e evitar o desleixo e superficialidade em
matéria de religião, que são tão comuns no nosso tempo,
procuremos abrir o Evangelho. No Evangelho, Deus revela-se a Si
mesmo. Assim como o camponês sabe falar com acerto do seu campo, um
operário mecânico da sua arte, um professor dos seus estudos, assim
também Deus sabe falar com acerto de Deus, o sabe revelar-se tal
como é.
“Compreenderás
o Coração de Deus nas palavras do mesmo Deus”,
diz São Gregório.
“Causa-nos
impressão sobretudo, segundo
dizia Pio XII, – o
modo como Jesus sabe transfundir nas suas palavras a sua Alma,
juntamente, com as riquezas inexauríveis
da sua sabedoria e do seu amor, de modo que as suas mesmas palavras
são um espelho fiel da sua Pessoa”.
Ao
percorrer as páginas do Evangelho, nota-se como Jesus possui um
conjunto admirável de qualidades, tais como uma sensibilidade
profunda, uma inteligência penetrante, uma vontade enérgica e uma
bondade sem limites.
Ele
admira com delicadeza de sentimentos a vida simples da aldeia da
Palestina. Jesus não é de nenhum modo um homem alheado das coisas,
um visionário. Pelo contrário, tem os olhares bem abertos às
impressões da vida que O rodeia; aponta com traços rápidos, mas
claros e precisos, tudo aquilo que passa debaixo dos seus olhos.
Observa os meninos que brincam na praça, o pobre que espera à porta
do rico; os pássaros do Céu, que o Pai Celestial sustenta; a
galinha, que esconde os pintainhos debaixo das suas asas, e o
lavrador, que segura o arado mas volta o rosto para trás a ver se o
rego vai direito; o ceifeiro nos campos, o vinhateiro no meio da sua
vinha, o pastor que vai à procura da ovelha perdida, o negociante
que procura pérolas preciosas.
Admira
as flores do campo, que seu Pai reveste de mais esplendor do que
Salomão, mostra-se encantado pelo olhar cheio de inocência e de
alegria dos meninos que correm atrás d'Ele.
Toda
a Palestina tem reflexos na Alma serena de Jesus, e por consequência
nas suas palavras e nas suas parábolas; assim, as colinas, os
prados, os rebanhos, as vinhas, o belo lago, as estações do ano, o
povo robusto dos pescadores e dos camponeses.
Jesus
Cristo, além disso, mostra possuir uma inteligência extraordinária.
Sirva de prova um episódio: os judeus, astutos como eram,
armaram-Lhe uma cilada, bem preparada, para O comprometerem; mas Ele,
sem demora, vence essa astúcia, solucionando a questão com estas
palavras: “Dai
a Deus o que é de Deus, e a César o que é de César”. Desde
essa hora não mais tentaram lançar-Lhe semelhantes ardis, para não
ficarem confundidos perante o povo. Não lhes é possível apanhá-Lo
em falta: Ele
tem sempre a palavra a tempo e as suas respostas são de uma
sabedoria por ninguém imaginada. Possui a consciência de dizer
sempre a palavra definitiva, aquela palavra da qual depende o curso
das coisas.
Indica
com clareza e precisão admiráveis, a todos os homens, o termo para
o qual se devem dirigir, mostrando-lhes donde vem e para onde vão.
“Ele é a Luz para todo o homem que vem a este mundo”. Os
maiores sábios deste mundo, confrontados com Ele, são como
crianças, capazes apenas de balbuciar.
Até
ao fim, nunca há uma confusão, nenhum juízo duvidoso; na vida e na
morte, marcha sabendo sempre o que iria acontecer.
Achá-Lo-emos
em seguida, como um natural concomitante disto, sempre claro, firme e
decisivo nos seus conceitos, falando sempre “como quem tem
autoridade”, de sorte que os seus inimigos eram forçados a
exclamar: “Nunca ninguém falou como este homem fala”.
Nós
O encontraremos sem se enganar na sua avaliação dos homens; Ele
nunca se engana, nem se deixa levar pela impressão da superfície...
Possui,
além disso, uma força de vontade verdadeiramente invencível:
depois de quarenta dias de jejum, deveria sentir uma fome devoradora,
e, todavia, repele sem hesitação alguma o Demônio, que O tentava
para fazer um milagre, que Lhe matasse a fome. E tem palavras
enérgicas repreendendo o mesmo Pedro, que O induzia a fugir da Cruz.
Contra os escribas e fariseus usa palavras de fogo: “Ai de vós,
escribas e fariseus hipócritas! Insensatos e guias de cegos, que
coais um mosquito e engolis um camelo: sois semelhantes aos sepulcros
branqueados, que tem paredes formosas por fora, mas por dentro estão
cheios de ossos e de toda a sorte de imundície”.
Esta
severidade do Salvador tinha origem no amor à sua Missão: as almas
devem ser desenganadas e salvas a todo o custo, e por isso, os
mestres do erro devem ser denunciados e os hipócritas desmascarados.
Jesus é de uma sinceridade e de uma retidão de ânimo absolutas, e
por isso, foge de toda a duplicidade: nada de política, nada de
interesses egoístas, nada de ligação com os grandes deste mundo,
com os servos do prazer. Jesus é sempre natural e espontâneo nos
seus modos. Nada de convencional. A sua vida, bem como as suas
palavras, são límpidas como a água que brota de uma fonte
puríssima.
Este
conjunto de qualidades diversas, em Jesus Cristo, como se vê no
Evangelho, estão unidas entre si num equilíbrio moral perfeito:
energia e mansidão, majestade e doçura, autoridade e
condescendência.
E
é assim que o seu temperamento nunca perde o equilíbrio. Está
sempre sereno, mesmo nas circunstâncias mais trágicas; está sempre
com igual humor, mesmo nos trabalhos mais fatigantes. Percorria, no
mesmo dia, dezenas de quilômetros, para ir às várias localidades
da Palestina; em seguida falava ao ar livre a milhares de ouvintes,
instruía aos seus Apóstolos e, depois de tanto trabalho diurno,
passava grande parte da noite em oração. Nele não se veem esses
saltos bruscos de entusiasmo, seguidos de desânimos profundos, que
se encontram até na vida de grandes homens e mesmo em alguns Santos.
Na
sua Paixão, esse equilíbrio moral chega ao maravilhoso, tão
surpreendente é. Com efeito, os homens, quando se encontram
dominados por uma dor intensa que esmaga corpo e alma, deixam cair a
máscara, e mostram o que na realidade são.
Jesus,
porém, no meio dos tormentos acerbíssimos da Cruz, continua como
sempre foi, nada n'Ele convencional e de afetado, mostrando-se ao
mesmo tempo bem longe de toda a fraqueza.
É
verdade que a sua sensibilidade rompe em palavras de angústia, mas a
sua vontade permanece sempre comedida, sempre firme na vontade de seu
Pai: “Pai, não se faça a minha vontade, mas a Vossa!”
A
vida de Jesus, manifestada no Evangelho, é a mais bela “Imagem
de Deus; é Deus feito homem”.
Todas
as pessoas, mesmo os simples, ficavam de tal modo cativados pela
Pessoa de Jesus, que O escutavam durante dias inteiros, e iam em
massa de um lugar para outro a fim de ouvirem as suas palavras,
sempre cheias de amor. E esta qualidade é justamente a que mais
impressiona.
Sempre
afável e misericordioso, mostra compaixão diante de todas as
misérias, tanto da alma como do corpo: “Olhando para aquela
gente, compadeceu-se dela, porque estava fatigada e quebrantada, como
ovelhas sem pastor”, e exclama: “Tenho compaixão dessa
gente, porque há já três dias que Me seguem e não tem que comer”.
O
AMOR é o que domina toda a vida de Jesus Cristo. Ele é, com efeito,
a Pessoa, que amou neste mundo mais que ninguém. Ninguém, como
Jesus, amou tanto os homens. Pode bem dizer-se que Ele é todo amor,
mas amor forte, varonil e santo: um amor que O leva a derramar todo o
seu Sangue para nos dar a vida da graça. E porque tanto ama, sente,
muito deveras, a amizade. Chora diante da sepultura de seu amigo
Lázaro, e os que notavam os seus suspiros exclamavam: “Vede
como Ele o amava!”
E
ama tanto a sua pátria que chora pensando nas desgraças que vão
cair sobre ela.
Tem,
além disso, um amor ardentíssimo pela família. Depois do amor de
seu Pai Celestial, o seu maior amor é por sua Mãe, Nossa Senhora.
No meio de sofrimentos atrozes, pouco antes de exalar o último
suspiro, o seu pensamento voa para Ela, que está aos seus pés e em
breve vai ficar só, e por isso, a confia a João, e seu discípulo
amado.
E
que grande amor mostrou à sua Mãe na casinha de Nazaré, onde
passou os anos da sua juventude, e a S. José durante os dias em que
estiveram juntos no trabalho! Bastará recordar que fez o seu
primeiro milagre justamente para contentar sua Mãe. E que grande foi
o seu amor pelos homens! Percorrendo os caminhos da Palestina,
demorava-se a falar, principalmente com os humildes e com os pobres;
dava a saúde aos pobres doentes, consolava os que choravam, a todos
ajudava; a todos anunciava a grande novidade, que Ele tinha vindo ao
mundo para dar aos homens a vida da graça.
E
que grande amor manifestam as parábolas da ovelha perdida e do filho
pródigo!
Na
verdade, as suas preferências são pelos pecadores! Gosta do título
que os judeus, por injúria, lhe dirigem de amigo dos pecadores.
Ama-os com aquela ternura constante e solícita que todas as mães
sentem por seus filhos, que estão doentes.
Acolhe
com extraordinário amor tanto à Madalena como a Zaqueu, trata Judas
até o fim com a mesma delicadeza.
“A
todo o tempo encontraremos n'Ele o mais terno dos corações, um pai,
uma mãe, um irmão, uma irmã, um verdadeiro e não um protetor ou
condescendente amigo, o exato igual de cada um e de todos, com uma
simpatia individual e compreensiva para cada coração que a Ele se
descobre...
Por
outro lado, Ele nunca está cansado, ou demasiado indulgente ou
meigo, ou demasiado cego pela afeição para ver o mal ou as
deficiências do seu amado. Ele dá amor prodigamente e a todos os
que o querem ter, mesmo aos mais privados de amor humano; contudo,
ninguém O teria por lânguido ou sentimental. Ele ganha amor
daqueles que são conquistados pela Sua presença, porque Ele é tão
sincero, tão forte, tão desinteressado em intenções, tão franco,
tão incapaz de enganar...
Ele
não força os homens; Ele tem-lhes demasiado respeito para os
compelir: Ele se lhes oferece a Si mesmo e espera o resultado...
Mas
é inútil prosseguir neste retrato; à proporção que vamos para
diante, a fascinação cresce; a cada novo passo, vemos mais e mais,
porque Ele é totalmente transparente; e contudo, em cada ponto em
que paramos, sentimos que não dissemos nada”.
E
na verdade, percorrendo as páginas do Evangelho, compreendemos a
razão por que Jesus disse a Santa Margarida Maria Alacoque com um
acento de tristeza infinita: “Os homens não Me amam, porque não
Me conhecem!” Santa Teresa, que teve a felicidade de ver
a beleza de Jesus, expressa-se com estas palavras na sua
autobiografia: “A vista de Jesus Cristo imprimiu tão
profundamente na minha alma a sua beleza incomparável que ainda a
tenho presente.
Eu
tive um defeito gravíssimo, do qual me tinham vindo grandes males.
Quando notava que uma pessoa me queria bem e me era simpática, tanto
me afeiçoava a ela que a tinha sempre na lembrança. Não que
eu quisesse ofender o Senhor, mas comprazia-me em ver essa pessoa, em
pensar nela e nas boas qualidades que possuía. E tanto bastava para
que a minha alma andasse desencaminhada, tal era o dano que aquele
afeto me causava. Mas depois de ter visto a grande beleza do Senhor,
não mais houve pessoa que comparada com Ele me parecesse tão amável
que ocupasse o meu espírito. Para ter o coração completamente
livre, basta-me lançar o olhar para a Sua imagem que trago comigo, e
diante da beleza e das perfeições do meu Senhor, todas as coisas
deste mundo só servem para me dar enfado.
Não
há ciência, nem prazer que se possa estimar em comparação com uma
só palavra proferida por aquela Boca divina... Portanto, creio que
nenhuma pessoa poderia ocupar o meu espírito, a não ser que, em
castigo dos meus pecados, Deus permitisse que eu perdesse aquela
lembrança. Para dela me libertar bastaria a mais ligeira recordação
de Jesus...
E
bem compreendo que se Ele é Deus, também é homem, e como tal não
somente não se admira da fraqueza humana, senão que sabe muito bem
que esta nossa miserável natureza está sujeita a muitas quedas por
causa do primeiro pecado que Ele veio reparar.
E,
embora também seja Deus, posso tratar com Ele como se trata com um
amigo. Ele não é como os senhores deste mundo, os quais fazem
consistir toda a sua grandeza numa ostentação externa de
autoridade...
Quem
Vos considera, fica cheio de espanto, sobretudo vendo-Vos tão
humilde e tão cheio de amor para com uma criatura como eu. Passada a
primeira impressão de temor que nasce à vista de tamanha grandeza
como é a Vossa, podemos tratar e falar conVosco livremente. E
depois, com outro temor maior qual é o de Vos ofender, mas já não
é por temor do castigo, pois nessa ocasião para a alma já não
haveria maior castigo que perder-Vos”.
E
é bem natural que Jesus arrebate nossos corações logo que chegamos
a conhecê-Lo. Santo Agostinho exprime muito bem esta verdade: “Se
o poeta pode dizer: Cada qual é atraído por aquilo que
lhe agrada
não pela necessidade, mas pelo prazer, não pela violência,
mas pelo gosto, quanto devemos nós dizer que é mais forte a atração
de Cristo sobre o homem que se deleita na verdade, sendo Cristo isso
tudo?...
Dai-me
alguém que ame na verdade e entenderá o que eu digo; dai-me alguém
que sinta fome; dai-me alguém que tenha sede; dai-me alguém que
esteja desterrado e sedento neste vale solitário; dai-me alguém que
suspire pela pátria eterna; dai-me alguém que esteja nestas
condições e ele entenderá bem aquilo que eu estou dizendo.
Mas
se eu falo com quem é de gelo, esse não entenderá aquilo que eu
digo... Mostra um ramo verde a uma ovelha e ela é atraída; mostra
nozes a um menino e ele é atraído... é atraído pelo amor, é
atraído sem violência corporal, é atraído pelos laços do
coração. Portanto, se estas coisas, que se apresentam como deleites
e prazeres terrenos àqueles que as amam, os atraem, pois que se
verifica aquele dito: Cada qual é atraído por aquilo que
lhe agrada, como não nos deverá atrair Jesus Cristo,
revelado pelo Pai?”
Ora,
é bem verdade que Jesus Cristo uma vez conhecido na sua Vida interna
arrebata o coração, pois Ele não é senão amor.
Ensinava
justamente Pio XII: “Quem não compreende o amor, não
compreende quem é Jesus, Amor encarnado”.
E,
aliás, não poderia ser de outra maneira. De fato, Jesus Cristo é
Deus feito homem. Ora, Deus é amor, como Ele mesmo disse. Por
isso, se Deus se fez homem, não pode ser senão AMOR.
Deus
não pode deixar de ser aquilo que é. Se Jesus Cristo não tivesse
sido amor, não seria Deus.
O
Apóstolo São Paulo exalta com palavras inflamadas as glórias e
primazias de Cristo. “O Pai... livrou-nos do poder das
trevas e transferiu-nos para o reino do Filho do seu amor; no qual
pelo seu Sangue temos a Redenção e Remissão dos pecados... Tudo
foi criado por Ele e para Ele. E Ele é a Cabeça do Corpo da Igreja,
e é o Princípio, o Primogênito entre os mortos: de maneira que tem
a primazia em todas as coisas. Porque foi do agrado do Pai que
residisse nELe toda a plenitude e que por meio dEle fossem
reconciliadas consigo todas as coisas, fazendo as pazes mediante o
Sangue da sua Cruz, tanto com as coisas da terra como as do Céu”.
Jesus
é a fonte da graça, pois, “todos nós recebemos de Sua
plenitude, graça sobre graça. Pois, a Lei foi dada por Moisés, a
graça e a verdade vieram por Jesus Cristo”.
2
– O que é a devoção ao Coração de Jesus – …
não é mais que a devoção (que quer dizer conhecimento, dedicação
e entrega) ao amor de Jesus manifestado no símbolo mais eloquente e
claro desse mesmo amor, que é o coração.
Coração
de Jesus é o Jesus autêntico do Evangelho, que tem um coração
“bondoso e cheio de
misericórdia”, que é
o “amigo dos pecadores”
e que nos amou desde o presépio à Cruz e ficou por nosso amor no
Sacrário.
Santo
Afonso Maria de Ligório escreveu: “A
devoção ao Coração de Jesus é a mais bela
e a mais sólida
do Cristianismo. A mais bela,
porque o mais belo atributo de Cristo e o seu amor, que nesta devoção
honramos. A mais sólida,
porque é a devoção ao amor de Jesus, origem da Encarnação e de
todos os seus atos. É, pois, maior que a devoção ao Menino Jesus,
à Paixão, ou ao Santíssimo Sacramento, porque nela veneramos o
amor de Cristo, causa do seu Nascimento, da sua Morte e da sua
permanência Eucarística”.
Ter
devoção ao Coração de Jesus é acreditar no seu amor e viver para
Ele em doação completa e desinteressada. É repetir com o Apóstolo
S. João: “Nós conhecemos e cremos no amor que Deus tem para
conosco”.
Não
se deve, pois, entender esta devoção como mole, afetada,
sentimental, consistindo em observar certas práticas de piedade e
derramar algumas lágrimas deixando intactos os vícios e paixões.
Nada há mais contrário à devoção do Coração de Jesus que,
entendida retamente, significa e exige dedicação a Jesus, forte,
varonil, nobre e que estimula às virtudes heroicas.
Assim
a julgaram os últimos Sumos Pontífices.
“No
Coração de Jesus se há de colocar toda a esperança; a Ele há que
pedir e dEle se há de esperar a salvação dos homens”.
“O
Coração de Jesus é o remédio para os males modernos”.
“Nesta
devoção contem-se o resumo de toda a religião e ainda uma norma de
vida mais perfeita, pois guia suavemente as almas ao conhecimento de
Nosso Senhor e estimula-as eficazmente a amá-Lo com todo o coração
e a imitá-Lo de perto. A devoção ao Sagrado Coração de Jesus é
a substância da religião”.
Mas,
entre todos os Papas, nenhum melhor que Pio XII expôs o que é a
devoção ao Coração de Jesus na sua magistral Encíclica
“Haurietis Aquas”, de que vamos extrair alguns parágrafos mais
significativos.
Introdução:
“Se tu conhecesses o dom de Deus”.
Eis, Veneráveis Irmãos, a paterna recomendação que Nós –
chamado por divina disposição a ser guarda do tesouro da fé e da
piedade, que o divino Redentor confiou à sua Igreja – sentimos o
dever de dirigir a todos.
“O
Coração de nosso Salvador é em certo modo imagem da divina Pessoa
do Verbo, e da sua dupla natureza, humana e divina; e poderemos
considerar nEle não só um símbolo, mas também uma espécie de
compêndio de todo o mistério da nossa Redenção.
“Esta
inerente ao Sagrado Coração, como observa o Nosso Predecessor de
imortal memória Leão XIII, a qualidade de símbolo e de imagem
expressiva da infinita caridade de Jesus Cristo, que nos leva a
correspondermos ao seu amor.
Estamos,
de fato, plenamente persuadidos de que só quando, à luz da divina
revelação, penetrarmos todos, mais a fundo, a íntima e essencial
natureza deste culto, seremos capazes de apreciar devidamente a sua
incomparável excelência e a inexaurível fecundidade em toda a
espécie de graças do Céu!...”
Em
que consiste esta devoção:
“Para podermos, quanto é permitido a homens mortais, “compreender
com todos os santos, qual é a largura e o comprimento, a altura e a
profundidade” da
misteriosa caridade do Verbo Encarnado para com seu Pai celeste e
para com os homens manchados com tantas culpas, é preciso ter bem
presente que o seu amor não foi só espiritual, qual a Deus
compete... O Coração do Verbo Encarnado é considerado o principal
sinal e símbolo daquele tríplice amor, com que o Divino Redentor
ama continuamente o Eterno Pai e todos os homens. É primeiramente o
símbolo do amor divino, que Ele tem em comum com o Pai e com o
Espírito Santo, mas que só nEle, porque o Verbo feito carne se
manifesta através do frágil e caduco corpo humano... É também
símbolo daquela ardentíssima caridade infundida na sua Alma, que é
qualidade preciosa da sua vontade humana... Finalmente – e isto de
modo ainda mais natural e direto – o Coração de Jesus é também
símbolo do seu amor sensível, pois o Corpo de Jesus Cristo, formado
no seio castíssimo da Virgem Maria por obra do Espírito Santo,
possui capacidade sensitiva e perceptiva perfeitíssima, superior à
de qualquer outro corpo humano...
“Ensinando-nos
os Textos Sagrados e os documentos autênticos da fé católica que
reina perfeita consonância e concórdia na Alma santíssima de Jesus
Cristo, e que Ele dirigiu, para nos remir, todas as manifestações
do seu tríplice amor, nós podemos com toda a segurança contemplar
e venerar o Coração do Divino Redentor como imagem expressiva da
sua caridade e testemunho da nossa Redenção, e também como mística
escada para subir ao amplexo de Deus,
nosso Salvador. Por
isso, nas palavras, nos atos, nas ordens, nos milagres e
especialmente nas obras que melhor testemunham o seu amor para
conosco – como a instituição da Divina Eucaristia, a sua dolorosa
Paixão e Morte, a generosa dádiva da sua Santíssima Mãe, a
fundação da Igreja para proveito nosso, e a missão do Espírito
Santo aos Apóstolos e a todos nós – em todas estas obras,
repetimos, devemos admirar outros tantos testemunhos do seu tríplice
amor e meditar as pulsações do ardentíssimo amor do seu Coração
Santíssimo, com as quais parecia contar os instantes da sua
peregrinação terrena, até ao supremo instante, em que, como dizem
os Evangelistas, gritando
com voz forte, disse:
Está consumado.
E inclinando a cabeça,
entregou o espírito.
Foi, então, que o palpitar do seu Coração se deteve e o seu amor
sensível ficou suspenso até ao momento em que, triunfando da morte,
se levantou do sepulcro. Mas desde que se uniu de novo o Corpo,
glorioso agora, com a Alma do Divino Redentor, vitorioso da morte,
nunca o seu Coração Sacratíssimo deixou nem deixará de bater,
regular e calmo, nem nunca deixará de significar o tríplice amor
que une o Filho de Deus com o seu Pai do Céu e com a comunidade
humana inteira de que é, com pleno direito, a Cabeça mística...”
Defesa
e incitamento. “É digna,
pois, da maior estima esta forma de culto, que permite ao homem
honrar e amar a Deus mais intensamente, e consagrar-se com maior
facilidade e prontidão à caridade divina; tanto mais quanto é
certo que o nosso Redentor se dignou propô-la e recomendá-la ao
povo cristão, e os Sumos Pontífices confirmaram-na com grandes
louvores. Por isso, coisa temerária e prejudicial seria, e até
ofensa de Deus, ter em menos estima tão insigne benefício,
concedido por Jesus Cristo à sua Igreja.
“Sendo
assim, não há dúvida que os fiéis, ao honrarem o Sacratíssimo
Coração de Jesus, cumprem o gravíssimo dever que têm de servir a
Deus, e ao mesmo tempo de consagrar ao Criador e Redentor as suas
pessoas e atividades, tanto externas como internas, e cumprem deste
modo o Mandamento divino: Amarás
ao Senhor teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma,
com todo o espírito e com todas as tuas forças.
“Assim
incitamos todos os nossos filhos em Cristo a praticar esta devoção
com entusiasmo...
“Para
tantos males, que hoje como nunca, perturbam profundamente os
indivíduos, as famílias, as nações e o mundo inteiro, onde ir
buscar remédio, Veneráveis Irmãos? Poder-se-á, porventura,
encontrar forma de piedade superior ao culto do Coração de Jesus,
que melhor corresponda à índole da fé católica e mais se adapte
às necessidades hodiernas da Igreja e da humanidade? Que devoção
mais nobre, mais suave e mais salutar, uma vez que este culto se
dirige todo a Cristo – que a piedade para com o Sagrado Coração
de Jesus cada dia mais aumenta e favorece – para levar os cristãos
à prática do Evangelho, sem a qual não pode haver verdadeira paz
entre os homens?...
“Por
isso, seguindo o exemplo de Nosso imediato Antecessor, apraz-nos
também a Nós repetir aqui aquela exortação que Leão XIII, de
imortal memória, dirigia no fim do século passado aos fiéis do
mundo inteiro e a todas as pessoas sinceramente preocupadas com a
salvação de si mesmas e da sociedade: Eis que se oferece hoje,
aos nossos olhos, outro sinal muito favorável e divino: O Coração
Sacratíssimo de Jesus... brilhando entre chamas com esplêndido
fulgor. Nele se devem colocar todas as esperanças; a Ele se há de
pedir e dEle esperar a salvação dos homens.
“É
ainda ardentíssimo desejo Nosso que todos os que se gloriam do nome
de cristãos e lutam estrenuamente pelo estabelecimento do Reino de
Cristo no mundo, tenham a devoção ao Coração de Jesus como
bandeira e princípio de unidade, de salvação e de paz. E ninguém
julgue que este culto prejudica em alguma coisa as outras formas de
piedade, com que o povo cristão, dirigido pela Igreja, honra o
Divino Redentor. Pelo contrário, a fervorosa devoção ao Coração
de Jesus há de, sem dúvida, favorecer e promover sobretudo o culto
da Santíssima Cruz e, do mesmo modo, o amor ao Augustíssimo
Sacramento do Altar. Podemos na verdade afirmar – como põem em
evidência as revelações a Santa Gertrudes e a Santa Margarida
Maria – que ninguém chegará nunca a compreender deveras a Jesus
Crucificado, sem penetrar nos arcanos do seu Coração. Nem é fácil
perceber a força do amor que levou Cristo a dar-se-nos como alimento
espiritual, sem professar especial devoção ao Coração Eucarístico
de Jesus... O culto tributado ao Sacratíssimo Coração de Jesus é
digno de ser considerado como a profissão ideal de todo o
Cristianismo”.
3
– Palavras de Jesus: “Fica
sabendo – disse Jesus a Santa Margarida Maria – que não há
exercício de piedade mais próprio para elevar em breve tempo uma
alma à mais alta perfeição”.
A
experiência confirma exuberantemente esta afirmação. A devoção
ao Coração de Jesus, retamente entendida e bem praticada, favorece
a estima pela vida interior, alma de todas as obras externas; faz
aborrecer o legalismo, o
formalismo, que tantas vezes transforma o homem num sepulcro
branqueado, o orgulho e a superficialidade, que são as maiores
chagas da piedade atual. Faz vencer todas as manifestações do
amor-próprio; favorece o conhecimento íntimo e o amor pessoal a
Jesus; desenvolve o amor à abnegação, ao sofrimento, à cruz.
Devoção inimiga da frieza intelectual, põe em primeiro lugar o
amor, síntese dos nossos deveres para com Deus. É impossível
encontrar uma alma com verdadeira devoção ao Coração de Jesus que
não seja fervorosa e santa.
A
alma de toda a vida cristã é o amor a Deus. A este propósito é
interessante a observação que, de si mesmo, faz Dom Goodier, S.J.:
Quando
eu era mais jovem, noviço de uma Congregação, e me conhecia menos,
e conhecia os outros menos, e estava cheio de grandes ambições na
vida espiritual e procurei nos livros e no estudo, e cogitei planos e
esquemas no papel para me serem guias para o cume da perfeição,
coloquei as virtudes diante de mim, e meditei na sua beleza e
propus-me adiquirí-las, subdividindo-as, analisando-as, dispondo-as
por graus como degraus de uma escada. – Esta semana, como os bons
escritores espirituais me mandavam, eu devia adquirir a virtude da
paciência; na semana seguinte, eu devia guardar cuidadosamente a
língua; na terceira semana seria a vez da caridade; depois
seguir-se-ia o espírito de oração; e num mês ou dois, talvez, eu
poderia ter um êxtase e ver Nosso Senhor.
Mas
agora que me tornei mais velho, e que me encontra ainda lutando pela
primeira destas virtudes, e isso num grau muito elementar, e me
ensinaram lições muito diferentes das que eu sonhei, em parte pelas
tristes surpresas na minha própria alma, em parte pelo progresso
visto nas almas dos outros, estou convencido de que há UM caminho
para a perfeição, melhor do que todos os mais; de fato, se
desprezarmos este, nenhum outro nos será de grande proveito... Não
é possível crescer no conhecimento, no amor e na imitação de
Jesus Cristo, sem ao mesmo tempo crescer na perfeição de cada
virtude e tornar-se mais santo cada dia.
A
santidade começa somente quando o CORAÇÃO está afetado. E isto
faz-se quase apenas pelo AMOR...
A
imitação de Cristo inclui todas as virtudes, fá-las
inconscientemente nossas, produzi-las de si mesma, e não as traz
meramente de fora...
A
caridade adquirida mediante o amor de Jesus Cristo é liberta de toda
a falsidade; começa de dentro; ordinariamente, ao princípio, como o
jato de uma nascente rompendo através da terra, dá um fraco sinal
da sua verdadeira natureza; vive na solidão, esconde o seu tempo,
mostra a sua caridade sobretudo pela paciência e duração, pela
humilde submissão e serviço; entretanto, afina com Ele, aprende a
amar como Ele ama, pela razão de que Ele ama, pelo modo por que ama.
E quando chega o dia do sacrifício, este amor não se encontrará
ausente”.
A
devoção ao Coração de Jesus é devoção própria das almas
dedicadas ao apostolado, segundo a palavra de Jesus à mesma Santa
Margarida: “Todos os que se dedicam à salvação das almas
terão o dom de comover os corações mais endurecidos e trabalharão
com frutos maravilhosos se estiverem compenetrados de uma terna
devoção ao Coração de Jesus, e se procurarem propagá-la e
estabelecê-la por toda a parte... e se forem procurar todas as suas
luzes a esta fonte”.
O
médico não ama um amigo se não fizer quanto puder para lhe salvar
da morte o filho; o advogado não é amigo da mãe se não se esforça
por lhe livrar o filho da cadeia. Quanto fazem os professores para
ajudarem os filhos dos seus amigos a passarem nos exames!
Evidentemente não seriam declarações sinceras de amor ao Coração
de Jesus, as nossas, se ficássemos indiferentes diante da ruína
eterna das almas e não fizéssemos todo o possível pela sua
salvação.
4
– Prática: a) A Consagração
é a entrega sem reservas ao Sagrado Coração. Deve ser bem
preparada, feita com muita seriedade e muitas vezes renovada, de
maneira que chegue a ser norma de vida.
A
consagração ao Sagrado Coração, entendida como Jesus a quer, deve
ser vivida praticamente, momento por momento, durante todo o dia, até
ao esquecimento total de si.
O
apóstolo, depois de viver em si a consagração, deve procurar que
todos realizem e pratiquem este ato, que é a entrega de toda a vida
ao Senhor, como mais adiante explicaremos ao tratar das práticas
promovidas pelo Apostolado da Oração.
Por
isso, o verdadeiro apóstolo do Coração de Jesus emprega todos os
seus esforços para que os fiéis vivam em graça, a fim de não
ofenderem o Coração de Jesus e de se entregarem a Ele por meio da
Consagração. Esta exige como mínimo indispensável a graça de
Deus na alma, como acentuava o Papa Pio XII: “Quem não
tem a alma em graça não pode consagrar-se a Jesus.
Como é possível que cumpra tal ato quem vive em pecado e desobedece
à sua lei? E para se consagrar é necessário estar na graça de
Deus; para viver a consagração é preciso estar pronto a dar mais,
a entregar-se mais”.
b)
A Reparação ocupa
parte muito importante nesta devoção “porque
– como ensina o Papa Pio XI – os
pecados e os delitos dos homens, cometidos em qualquer tempo, foram a
causa de que o Filho de Deus fosse entregue à morte, e, também no
presente, causariam a morte de Cristo, acompanhada das mesmas dores e
das mesmas angústias, visto que cada pecado se considera renovação,
de alguma maneira, da Paixão do Senhor...”
E por isso, ao manifestar-se a Santa Margarida Maria, disse Jesus:
“Eis
o Coração que tanto
tem amado os homens e os cumulou de benefícios, e em paga do seu
amor infinito, em vez de gratidão, encontra esquecimento,
indiferenças, ultrajes, e estes causados algumas vezes até pelas
almas a Ele obrigadas pela dívida mais estrita de especial amor”.
Precisamente em reparação de tais culpas, entre outras muitas
recomendações faz estas, em particular, como muito agradáveis a
Si: que os fiéis com intenção de desagravo se aproximassem da
Sagrada Mesa para fazerem a Comunhão
Reparadora e durante uma
hora inteira realizassem atos de oração e de reparação à qual
com toda a propriedade se dá o nome de Hora
Santa; devoções estas
que a Igreja não só aprovou, mas também enriqueceu com copiosos
favores espirituais...
“Como
se pode, porém, dizer que Cristo reine feliz no Céu, se pode ser
consolado por estes atos de reparação? Dai-me
uma alma que ame e compreenderá o que digo
– respondemos com palavras de Santo Agostinho que vêm muito ao
nosso propósito.
“Os
sofrimentos estão completos, mas na Cabeça. Faltavam, no entanto,
os sofrimentos de Cristo que se devem completar no Seu Corpo... Quem
considerar com os olhos do corpo e com o espírito este mundo todo
posto em malícia não
pode ignorar quanto seja urgente, especialmente neste nosso século,
a necessidade da expiação ou reparação...
“Mas
onde abundou o delito,
superabundou a graça.
Crescendo na verdade a perversidade dos homens, vai também crescendo
maravilhosamente, por graça do Espírito Santo, o número dos fiéis
de um e outro sexo que, com ânimo mais generoso, se esforçam por
dar satisfação ao Coração divino de Jesus por tantas injúrias
que Lhe são infligidas e que não temem até oferecer-se a si mesmos
como vítimas...
“Se
por causa dos nossos pecados futuros, mas previstos, a Alma de Jesus
se entristeceu até a morte, não se pode duvidar que experimentou
desde então, pela previsão da nossa reparação, algum conforto
quando Lhe apareceu o Anjo do Céu para consolar o Seu Coração
oprimido pelas tristezas e pelas angústias”.
c)
Apostolado da Oração.
São milhões de associados que cada dia oferecem à Santíssima
Trindade a sua vida e as suas obras em união com o Coração de
Jesus e por meio do Coração Imaculado de Maria. Com
que fim? Segundo as intenções pelas quais o mesmo divino Coração
está continuamente intercedendo e sacrificando-se em nossos altares.
É a vida da mais íntima união com o Coração de Jesus e as suas
intenções, que são a glória de Deus pela salvação das almas.
O
Apostolado da Oração é uma escola de vida interior,
porque sobrenaturaliza e santifica toda a vida e a une aos Sagrados
Corações de Jesus e Maria para a glória da Santíssima Trindade.
É
um apostolado autêntico:
toda a vida se une a Cristo para propagar a sua glória e servir à
Santa Igreja. O oferecimento exige o dom de si para a glória de Deus
e a salvação das almas.
É
a grande organização mundial
da oração – a Internacional da Oração – com mais de 40
milhões de associados, dóceis às orientações da Santa Igreja
para a grande empresa da salvação das almas, às ordens do Santo
Padre que determina cada mês as intenções para
a oração vital do dia. É uma associação que quer transformar em
oração apostólica a vida de todos os cristãos: Sacerdotes,
Religiosos e Leigos.
Os
Sumos Pontífices têm cumulado de elogios esta associação tão
simples, sobrenatural e prática.
Entre
todos os meios encontrados pelos fiéis para curar, efetivamente, os
males que atormentam a sociedade humana, não há nenhum outro mais
útil do que o “Apostolado
da Oração”.
“Recomendamos
ardentemente o Apostolado da Oração a todos os fiéis sem exceção,
desejando que ninguém deixe de nele se alistar”.
“Este
apostolado da Oração é fácil e, entre todos os gêneros de
apostolado, é o único possível a toda a gente, e, por conseguinte,
obrigatório, de modo que todos os cristãos deveriam pertencer ao
Apostolado da Oração.
É a vossa missão, diretores, e não estará cumprida, enquanto
houver uma alma a conquistar para o Apostolado da Oração”.
“Esta
instituição está intimamente ligada com os progressos da Igreja e
o bem das almas”.
“Também
Nós, como o Nosso Predecessor de feliz memória, declaramos que
seria gratíssimo ao nosso coração que os fiéis cristãos, todos a
uma, se alistassem nesta sagrada milícia”.
Ao
aprovar os nossos Estatutos
enaltece o Apostolado da Oração como um compêndio ou resumo da
ação pastoral: “Pelo
fato de proporcionar uma forma perfeitíssima da vida cristã, o
Apostolado da Oração
contém uma suma e
uma regra compendiada da ação pastoral... Se os pastores de almas
conduzirem as ovelhas que lhes estão confiadas até cumprirem com
constância e empenho os atos recomendados pelo Apostolado
da Oração, tenham para si que
satisfizeram, sem dúvida, uma parte não pequena das suas
obrigações”.
Por
outras palavras, diz o Santo Padre, que o Pároco ou Sacerdote com
cura de almas que levar os fiéis, confiados ao seu zelo, a
realizarem os exercícios propostos pelo Apostolado da Oração, já
cumpriu boa parte dos seus deveres pastorais.
Quais
são os exercícios recomendados por esta Associação? São
o oferecimento do dia – união com Cristo e sobrenaturalização do
viver diário – devoção à Sagrada Eucaristia por meio da
participação assídua e fervorosa na Santa Missa com Comunhão
frequente; devoção a Nossa Senhora manifestada na reza cotidiana do
terço inteiro ou, pelo menos, de um mistério.
Além
disso o Apostolado da Oração promove:
1º.
Prática das Primeiras sextas-feiras:
Procurem os Sacerdotes apóstolos que todos os fiéis cumpram, já
desde crianças, esta devoção pedida pelo Coração de Jesus e
autorizada com a Sua promessa. As condições requeridas são que a
Comunhão se faça em estado de graça,
na primeira sexta-feira de nove meses seguidos com a intenção de
reparar as ofensas ao Sagrado Coração de Jesus. A quem assim
proceder promete o Coração de Jesus a graça de não morrer em
pecado mortal.
Esta
promessa – chamada a Grande Promessa – dá segurança moral da
salvação. Tal certeza baseia-se nas revelações feitas por Nosso
Senhor a Santa Margarida Maria, pessoa equilibradíssima em todas as
suas faculdades, de nenhum modo iludida ou nevrótica e por outro
lado tão escrupulosa e santa que não teria mentido nem ainda a
custo da própria vida. Funda-se, sobretudo, na aprovação mais
augusta que se pode imaginar sobre a terra, a da Santa Sé, que
referiu as palavras da Grande Promessa na Bula da Canonização da
Santa, embora isto não as torne verdade de fé. Funda-se ainda nos
efeitos admiráveis de santificação que produziu e produz nas
almas. Muitos são os casos de grandes pecadores que, à hora da
morte, recebem os Sacramentos, reconhecendo eles mesmos que tal graça
lhes veio pelo cumprimento, noutros tempos, da prática das primeiras
sextas-feiras. Pôr em dúvida a verdade desta grande promessa seria
ir contra as regras da prudência humana. O grande moralista e
insigne teólogo Pe. Vermeersch, professor longos anos da
Universidade Gregoriana, escreve: “A
grande promessa dá a certeza moral suficiente para afastar toda a
ansiedade, sem contudo dar ocasião à temeridade presunçosa”.
2º.
Consagração das Famílias:
Quer o Apostolado da Oração levar todos os indivíduos, famílias e
agremiações a se consagrarem ao Coração de Jesus e ao Imaculado
Coração de Maria.
Às
famílias que se consagrarem ao Coração de Jesus entronizando a Sua
imagem no próprio lar, fez Nosso Senhor estas consoladoras
promessas:
“Abençoarei
as famílias em que for exposta a imagem do Meu Coração.
“Darei
a paz às suas famílias.
“Abençoarei
todos os seus empreendimentos.
“Serei
o seu refúgio seguro durante a vida e na hora da morte”.
3º.
Reparação: As
principais práticas reparadoras promovidas pelo Apostolado da Oração
são a Hora Santa, a reparação paroquial e nacional, a
festa do Coração de Jesus, etc.
A
Devoção ao Sagrado Coração de Jesus
A
Devoção ao Sagrado Coração de Jesus tem por objeto material o
Coração de Carne do Divino Salvador, que pulsava em Seu Peito como
o nosso, e que era n'Ele, como em nós, o motor do sangue e água e o
centro da vida orgânica. Foi deste Coração corporal, material de
Nosso Senhor Jesus Cristo, que se disse: Foi varado da lança, e dEle
saiu Sangue e Água. A Igreja começa o Ofício do Sagrado Coração,
convidando-nos a adorá-Lo. Coração de Jesus, varado pela lança,
vinde para adorá-Lo.
A
Devoção ao Sagrado Coração de Jesus tem por objeto imaterial o
Amor infinito, pelo qual se sacrificou por nós. Dando Seu Coração
ao mundo, Jesus quer se fazer amar.
No século XVII quando o Coração de Jesus obrava maravilhas,
apareceu a seita Jansenística, composta de homens extraviados pelos
princípios falsos da Cartesiana Filosofia; negavam o amor no coração
do homem e no Coração de Deus.
O
Calvário, a Eucaristia, a Graça protestavam contra sua doutrina;
mas eles ousaram sustentar que essas três maravilhas da Divina
Caridade para conosco eram o privilégio exclusivo de algumas almas
predestinadas. Os homens chegaram até a se glorificar de não ter
mais coração; e sua vida não passava de uma vida de abjeta
vegetação, que não tem nome. Por toda a parte os cristãos se
entibiaram, poucos se salvaram completamente desse terrível
naufrágio. Foi então que Jesus não podendo mais, veio a esses
homens que negavam Seu Amor. Curvado ao peso de Sua Cruz, coroado de
espinhos, coberto de sangue, Ele descobriu Seu peito e apontando para
Seu Coração disse: “Eis aqui Meu Coração: Ele está abrasado de
um amor tão ardente por todos os homens, que não pode mais conter
as chamas de Sua Caridade”.
“Esse
Coração Divino, diz a Bem-aventurada Margarida Maria, que O viu
oitenta vezes, parecia uma fornalha capaz de abrasar o Universo, eu
pensava ficar consumida de Suas chamas. Foi então, que me fez
conhecer as maravilhas
de Seu Amor, e ordenou-Me que as contasse ao mundo”.
A
Devoção ao Sagrado Coração de Jesus tem por fim a ação de
graças por seus benefícios, e a reparação dos ultrajes que
continuamente recebe, especialmente no Santíssimo Sacramento dos
nossos Altares.
A
Devoção ao Sagrado Coração de Jesus não é o privilégio
exclusivo de algumas almas piedosas, Nosso Senhor recomendou que ela
fosse publicada e propagado em todo o lugar. Não são todos os
homens o objeto da Sua ternura? Não são todos inundados do Seu
Sangue, e cheios dos Seus benefícios? Não tem ferido todos, este
Coração adorável com seus pecados? O Coração de Jesus é o
tesouro de todos os homens; por todos foi aberto sobre a Cruz, e
todos, ainda os mais culpados, tem parte em Suas misericórdias, em
Seu Amor. É pois um dever para todos pagar ao Coração de Jesus um
tributo de amor, de ação de graças e reparação; é um direito
que todos tem de procurar neste Coração Divino um asilo e uma
consolação. Assim exultou a piedade dos cristãos quando o grande
Pontífice Pio IX decretou que a Festa do Sagrado Coração fosse
celebrada em toda a Igreja, e que fosse colocada de então por diante
entre as principais Festas do ano.
Jesus
Cristo tem presas ao Seu Coração pela cadeia do Seu Amor as
gerações que O amarem.
Ó
Coração aberto do meu Redentor! Ó bendita morada das almas presas
do celeste amor! Ah! Não recuseis receber também minha alma!”
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