Blog Católico, para os Católicos

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"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

quarta-feira, 20 de julho de 2022

SANTO ELIAS, O PROFETA.

 

Elias nasceu em uma povoação, situada além do Jordão, chamada Tesbis, da qual lhe veio o nome de Tesbita. A Sagrada Escritura o introduz como um outro Melquisedec, sem nos falar no seu nascimento nem no nome de seus pais. Santo Epifânio diz, que o pai se chamava Sebara, nobre e virtuoso cidadão de Tesbis. Outros afirmam que foi santificado no ventre de sua mãe e confirmado em graça como o Batista. Foi Elias grande Profeta, zeloso pela glória de Deus. Tendo visto que o rei Acab, a instância de sua mulher Jesabel, levara todo o Israel a adorar o ídolo de Baal, pediu a Deus que castigasse o povo, recusando a água do Céu. Tendo-lhe sido isto concedido, Elias foi ter com o rei e disse-lhe: “Vive Deus, em cuja presença estou, que não cairá nem orvalho nem chuva do Céu nestes anos, enquanto eu o disser”. O rei ficou atônito. Assim o fez Deus; por três anos e meio não caiu chuva, e todo o reino sofreu os rigores da fome.

Nestes entrementes, Elias escondeu-se na torrente do rio Carit. Cuidou o Senhor dele. De tarde e de manhã traziam-lhe os corvos pão e carne, na água da corrente podia matar a sede; a corrente, porém, secou-se, porque não chovia; Deus então mandou-lhe que se retirasse para Sarepta, cidade dos Sidônios, onde uma viúva o alimentou. Elias obedeceu. A pouca distância da cidade viu uma mulher recolhendo umas maravalhas para o fogo; chamou por ela e pediu-lhe água. Vinha para ele com a água, quando acrescentou o Profeta: “Também te peço que me tragas um pouco de pão”. Respondeu ela: “Viva o Senhor teu Deus, que não tenho pão, mas apenas uma pouca de farinha, quanta cabe mão fechada, e um pouco de azeite em uma almotolia, e ando a apanhar estas maravalhas para mim e meu filho comermos e depois morrermos”.

Elias que não ia para lhe ser pesado, mas para a salvar com sua bênção, disse-lhe: “Não temas, mas traze-me primeiro a mim disso para que coma, que tu e teu filho comerei depois, porque da parte de Deus de Israel te digo, que a farinha não faltará, nem minguará o azeite na almotolia até ao dia, em que o Senhor há de dar água à terra”. Assim sucedeu. Apresentou-se Elias em casa da viúva e todos comiam da farinha e do azeite, multiplicando-os Deus nos vasos, onde estavam.

Enfermou e morreu depois o filho desta piedosa viúva, a qual na veemência da sua dor, estreitando ao peito o filho que acabava de expirar, se foi a Elias e com grande aflição lhe disse: “Que é isto, homem de Deus? Entrastes em minha casa para matares o meu filho?”. Elias pediu-lhe que lhe trouxesse o cadáver e com ele se encerrou em um aposento. Pô-lo sobre o leito e três vezes se estendeu com o corpo deitado, orando muito a Deus para que se dignasse mandar voltar a alma ao corpo daquele menino. O Senhor ouviu-o e o menino ressuscitou.

O Santo, tomando o menino pela mão, foi levá-lo à mãe, dizendo-lhe: “Aqui tens vivo o teu filho”. Ela cheia de contentamento respondeu-lhe: “Agora conheço que és o homem de Deus, e que a Palavra do Senhor está verdadeira em tua boca”.

Enquanto o Céu beneficiava esta viúva, andava Acaba no auge do desespero, procurando Elias para o matar, a quem Deus ordenou que fosse apresentar-se-lhe. Obedeceu o Profeta e encontrando-se com Abdias, mordomo do rei, disse-lhe: “Vai dizer a teu amo que estou aqui”. Respondeu Abdias: “Isso não faço eu, Profeta santo, porque o rei, meu senhor, te deseja muito ver, e te tem mandado buscar por diversas partes, e se eu lhe disser agora que estás aqui, e vem ver-te, pode ser que o Espírito de Deus te leve para outra parte e não te achando me mande matar; e não é razão que por tua causa eu morra, pois sirvo ao Senhor que tu serves, e por servi-Lo tenho em diversos lugares escondido, para que Jesabel não os mande matar, os profetas do Senhor e os sustento à minha custa”.

Elias assegurou-lhe que esperaria o rei Acab. Abdias foi, e chamou o rei. O qual, logo que viu a Elias, disse-lhe: “Não és tu o que perturbas a Israel”. “Não sou eu, mas tu e a casa de teu pai, que abandonastes o Senhor e seguistes a Baal. Congrega no Monte Carmelo a todo o Israel, onde eu estarei, e venham também os profetas de Baal, a quem Jesabel dá de comer”. Acab mandou juntar todo o povo e os profetas de Baal no Monte Carmelo, aos quais Elias falou nestes termos: “Até quando trareis o coração dividido entre o Senhor e Baal? Já o Senhor não tem mais profetas, resto eu só, enquanto que os de Baal são quatrocentos e cinquenta; tragam-se para aqui duas vítimas; escolham eles uma e ponham-na sobre a lenha; farei eu o mesmo com a outra, e invocarei o Senhor, e vós os vossos deuses; e se terá por verdadeiro Deus o que der ouvidos à oração, mandando baixar dos Céus um fogo que consuma a vítima”.

Aplaudiu o povo a proposta. Os profetas de Baal foram os primeiros a invocá-lo desde a manhã até ao meio dia, tendo preparado o sacrifício, por mais de seis horas, esperando em vão o prodígio sem poderem achar pretexto que desculpasse a impotência da sua divindade.

Elias zombava-os dizendo-lhes: “Gritai mais alto, porque esse deus deve estar praticando com alguém e não vos ouve, ou estará em alguma pousada, ou em caminho, ou talvez esteja a dormir”. Então levantaram eles mais as vozes e conforme o seu rito rasgavam-se com facas e lancetas, banhados em sangue. Passou o tempo aprazado, e chegou a vez de Elias, o qual compôs um altar formado de doze pedras e colocou sobre ele a vítima feita em postas; juntou-lhe a lenha, e por três vezes mandou deitar sobre tudo grande quantidade de água.

Feito isto, Elias pôs-se em oração dizendo: “Senhor Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó, mostrai hoje que sois o Deus de Israel e eu vosso servo, que por vosso mandamento fiz todas estas coisas. Ouvi-me, Senhor, ouvi-me! Conheça este povo que Vós sois o Senhor Deus e que de novo haveis convertido o seu coração”. Ao mesmo tempo baixou fogo do Céu e devorou a vítima e a lenha, e as pedras e o pó e a água que havia deitado em volta do altar. O que tendo sido presenciado pelo povo, se prostrou e exclamou à uma só voz: Javé é o verdadeiro Deus, Javé é o Deus verdadeiro”. Mandou então Elias ao povo que apanhasse todos os sacerdotes de Baal, e que os matasse a todos um represália justa dos profetas do Senhor que tinham mandado matar, e para cumprir a Lei que fulminava a pena capital contra todo o profeta que induzisse os israelitas à adoração das falsas divindades. Ao rei recomendou Elias que se recolhesse ao povoado, porque choveria muito; o rei assim o fez. Subiu então o santo ao Carmelo e pôs-se a orar. Chamou o seu criado e disse-lhe que olhasse para uma e outra parte do Céu; olhou e respondeu que via uma nuvenzinha que se levantava do mar. O Profeta disse-lhe: “Vai e dize a Acab que apresse o passo se não se quer nuvens, o vento soprou violento, e caiu uma enorme quantidade de chuva.

Chegou o rei a Israel e contou a Jesabel o que fizera Elias aos profetas de Baal. Muito encolerizada mandou-lhe dizer: “De morte má morra eu, se amanhã a estas horas eu não te fizer a ti o que fizeste a cada um deles”. Permitiu Deus que Elias temesse, e assim se meteu fugitivo pelo deserto sem provisão alguma. Deitou-se, enfim, prostrado de fadiga debaixo de um junípero e disse: “Senhor, tenho vivido bastante”. E pela angústia adormeceu. Um Anjo veio despertá-lo e disse-lhe: “Levanta-te e come, porque largo caminho te fica para andar”. Levantou-se, comeu e bebeu, e com a fortaleza deste alimento andou quarenta dias e quarenta noites, até que chegou ao Monte de Deus, chamado Horeb.

Este manjar é uma figura característica da Eucaristia que nos leva até Deus e pela qual se nos dá a vida eterna.

Chegado ao Monte, entrou em uma caverna; o Senhor falou-lhe dizendo-lhe: “Que fazes Elias?” Ele respondeu: “Zelei a honra do Senhor Deus dos Exércitos; destruíram os vossos altares; mataram os vossos profetas; fiquei eu só e ainda me querem matar”. Mandou-o sair à boca da caverna: “Sai fora, e põe-te sobre o Monte diante do Senhor”. E eis que se levantou um vento muito forte que abalava os montes e quebrava os penhascos. Perguntou Elias: “Vai aí o meu Senhor?” Disseram-lhe: “Não vai aqui o Senhor”. Seguiu-se ao vento um terremoto; o Senhor também não estava no terremoto.

Logo após veio um grande fogo, e o Senhor também não estava no fogo. E em seguida passou um silvo e uma aura branda e suave; tendo-a ouvido Elias, cobriu o rosto pelo respeito ao Senhor. Disse-lhe Deus: “Que fazes aqui, Elias?” Ele respondeu: “Zelei, Senhor, a vossa honra; os filhos de Israel derrubaram os vossos altares, mataram os vossos profetas; fiquei eu só e querem também matar-me”. Mandou-lhe que se dirigisse à cidade de Damasco e ungisse como rei a Hazael, e como rei de Israel a Jehu, e a Eliseu por Profeta em seu lugar, os quais todos haviam de ser perseguidos dos idólatras. Pôs-se Elias a caminho e de passagem encontrou a Eliseu; andava a lavrar as terras de seu pai com doze juntas de bois em companhia de outros; conheceu-o em espírito, chegou-se a ele e deitou-lhe pelos ombros a capa. Eliseu matou os bois, e chamando seus pais, parentes e amigos convidou-os a comerem, despediu-se deles e lá se foi em companhia de Elias.

Alcançava o rei Acab duas grandes vitórias sobre Benadab da Síria, favorecendo-o Deus para o atrair ao seu serviço; mas endurecendo-se acrescentou ao pecado de idolatria, o de homicídio. Foi o caso que, vivendo em Jezrael, havia junto do seu palácio uma vinha de Nabot, homem que gozava de boa reputação entre o povo. Pediu-lhe o rei a vinha para acrescentar aos seus jardins, oferecendo-lhe outra melhor por ela, ou pagando-lha em dinheiro. “Livre-me Deus de vender a herança de meus pais”. Respondeu Nabot. Proibia a Lei aos israelitas alienar para sempre as suas possessões, não lhes permitindo vendê-las senão por algum tempo, quando a necessidade os obrigasse, dispondo a Lei que voltassem as propriedades aos seus antigos donos no ano do jubileu, isto é, dentro de um período fixo de cinquenta anos. Esta recusa causou no ânimo do rei uma profunda melancolia; o desejo de ampliar os seus jardins convertera-se-lhe em paixão inquieta; Jezabel concebeu então o horroroso projeta de dar cabo de Nabot e da sua família. Buscou testemunhas falsas que o acusassem de ter blasfemado de Deus e de ter falado mal do rei; este conluio perdeu-o com efeito. Nabot foi apedrejado e os bens confiscados. Executada a sentença, Jezrael deu parte ao rei do que estava feito e que podia agora apossar-se da vinha.

Enquanto o tirano ia com os seus cortesãos vê-la, saiu-lhe ao encontro Elias e disse da parte de Deus: “Mataste a Nabot, e levantaste-te com a vinha; pois eis o que diz o Senhor: neste mesmo lugar em que os cães lamberam o sangue de Nabot hão de lamber também o de Jezabel”. O rei disse a Elias: “Que te tenho eu feito para que me saias sempre inimigo?” Respondeu o Profeta: “Mostro-me teu inimigo, porque o és de Deus, de quem eu sou servo”. Acrescentou ainda outras ameaças contra Acab e sua casa. Dito isto, voltou Elias ao seu Carmelo.

A sua predição contra Acab e Jezabel cumpriu-se à risca. Reinou depois Ocozias, filho de Acab, o qual caiu de uma sacada em Samaria com grave risco de vida. Mandou consultar a Belzebu, ídolo de Acaron, acerca da sua enfermidade. Elias por mandado de Deus saiu ao encontro dos mensageiros e disse-lhes: “Pois quê? Não há Deus em Israel para irdes consultar a Belzebu, ídolo de Acaron? Pois voltai a vosso rei e dize-lhe: Isto diz o Senhor: não te levantarás da cama e morrerás”. Levaram os mensageiros ao rei esta triste nova e ele perguntou a seus criados: “Que figura tinha o homem que vos saiu ao encontro?” E eles responderam: “Um homem peludo e que traz à cinta uma correia”. Disse o rei: “Elias Tesbita”. Despachou logo um capitão com 50 soldados para que lho trouxessem preso. Foi o capitão e, postado no sopé do monte, onde estava Elias, disse-lhe: “Homem de Deus, o rei manda que desças”. “Se sou homem de Deus, venha o fogo do Céu e te consuma a ti e aos teus”. E assim sucedeu.

Como este não voltasse, mandou o rei outro com a mesma escolta de cinquenta soldados, o qual tendo chegado muito humilde, ajoelhou diante do Profeta e rogou-lhe que tivesse piedade dele, pois vinha para obedecer ao rei. Então o Anjo que assistia a Elias, disse-lhe: Desce com ele, não temas”. Desceu Elias do Monte, e posto na presença do rei, repetiu-lhe o que antes dissera a seus mensageiros, isto é, que não mais se levantaria do leito; que morreria. E assim sucedeu, deixando o reino a Jorão, seu irmão, porque não tinha filhos, e a este o tirou Jehu.

Era já Elias muito velho, e sabendo que Deus queria levá-lo deste mundo, partiu com seu amado discípulo Eliseu para Gálgala e dali para Betel, donde, acompanhado de cinquenta filhos dos profetas, chegou ao Jordão. Tomou Elias o seu manto, dobrou-o, e feriu com ele as águas, as quais se dividiram a um lado e outro, e ambos passaram em seco. Da banda de além do Jordão disse Elias a Eliseu, que lhe pedisse o que quisesse. E como prosseguisse falando, veio um carro de fogo, cujos cavalos eram também de fogo, no qual subiu Elias e em rápido torvelinho foi arrebatado ao alto e desapareceu.

No estado feliz que Elias goza pode ser invocado pelos fiéis, o que consta da prática da Igreja, tanto da antiga como na da Lei da graça. Da antiga consta que Eliseu, quando quis passar o Jordão, o invocara. Os hebreus, quando queriam circuncidar seus filhos, punham dois assentos: um para o sacerdote e outro para Elias, persuadidos de que o Santo Profeta assistia como medianeiro de todas as graças que Deus concedia.

Aos Padres Carmelitas, que sempre o têm venerado como seu Fundador e Patriarca, concederam os Sumos Pontífices Gregório XIII e Sisto V, sem mencionar muitos outros, reza de primeira classe com Oitava, como a seu Pai, Protetor e Fundador, a qual celebra com grande solenidade toda a Ordem Carmelitana.

Santo Elias tem mostrado a sua proteção à Igreja. Duas aparições refere a gloriosa Santa Teresa de Jesus no Livro das suas Fundações e de outras muitíssimas fazem menção várias histórias, todas em utilidade da Igreja e de seus fiéis. É Advogado especial contra a peste e a falta de chuvas.


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Fonte: Rev. Pe. Croiset, “Ano Cristão”, Vol. VII20 Julho, pp. 294-300. Traduzido do Francês pelo Rev. Pe. Matos Soares; O Tradutor - Seminário do Porto, Porto, 1923.


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