Cardeal Walter Brandmüller
O Cardeal Walter Brandmüller
(nomeado por Bento XVI) contra a desordem causada pela “falta de clareza
no ensino da doutrina católica.” Doutrina da fé e praxis pastoral podem
ser distintos, sim, mas não separados”
Por Matteo Matzuzzi, Il Foglio | Tradução: Gercione Lima – Fratres in Unum.com
- ”É claro que a falta de clareza sobre a verdadeira Doutrina Católica
por parte dos Bispos, pregadores, catequistas, e especialmente dos
professores de teologia moral é a principal causa do caos atual em que
nos encontramos”. Numa conversa com o Diário Il Foglio, o
cardeal Walter Brandmüller, um eminente historiador da Igreja medieval e
moderna e por muitos anos presidente do Pontifício Comitê de Ciências
Históricas, falou no debate sobre o casamento e a família que será o
tema dos dois sínodos agendados para outubro próximo e o próximo ano. Um
“caos” alimentado mesmo por aqueles que nas fileiras do episcopado
mundial andam dizendo que o ensinamento da Igreja Católica em termos de
moralidade não é mais adaptado aos tempos e, assim, vão criando confusão
entre os fiéis que ainda frequentam mais ou menos as missas dominicais e
confessionais. É o caso, por exemplo, do jovem Bispo de Treviri, Mons.
Stephan Ackermann. “Mas o que isso significa?” Questiona perplexo o
Cardeal Brandmüller: “A afirmação do excelentíssimo Bispo de Treviri
levanta um questionamento e eu acho que é necessário fazer uma
distinção. O prelado fala simplesmente de ‘ensinamento’ e ele poderia
até ter alguma razão se estivesse se referindo ao modo de motivar,
explicar e ensinar a Doutrina da Igreja. No entanto, ele está errado se
quer dizer que a Doutrina da Igreja não é mais apropriada aos tempos.
Com efeito, mudam as perguntas e as questões de acordo com as mudanças
sócio-culturais, mas a resposta da Igreja em cada momento da história
não pode tocar no Depósito da fé que foi estabelecido de uma vez por
todas como válido”. Afinal, ele é “o tesouro do qual o bom pai de
família tira coisas novas e velhas”. Para atender às altas expectativas
“enraizadas entre aqueles fiéis” que defendem atualizações no ensino
moral católico, o cardeal Walter Kasper propôs uma solução que reafirma a
inviolabilidade da Doutrina, mas que ao mesmo tempo permita
intervenções sobre a praxis pastoral. Doutrina e praxis em dois trilhos
separados, portanto, um esquema que já foi criticado pelo prefeito do
ex-Santo Ofício, o Cardeal Gerhard Ludwig Müller e que não encontra
aprovação nem por parte do nosso interlocutor. Sim, “é necessário fazer
a distinção entre a Doutrina da fé e a praxis pastoral. Distinguir sim,
mas separar jamais”. Toda praxis pastoral, se quiser ser autêntica, tem
que ser inspirada e regida pela a verdade da Fé. É verdade – cito ainda
o estudo feito por Bento XVI 2010 – que a realidade sociológica da
família não é mais a mesma dos nossos avós. Mas o que jamais poderá
estar sujeito a mudança histórica é a própria natureza, a substância da
família que nasce do matrimônio sacramental entre homem e mulher. A
pastoral, diz ainda Brandmüller, deve responder às perguntas, explicar
melhor essa realidade para garantir que possamos viver de modo autêntico
no mundo de hoje. Dúvidas até mesmo sobre a corrente de pensamento
segundo a qual a Igreja, no curso de sua história, sempre defendeu que,
permanecendo firme o princípio una fides, há muitas maneiras de
se vivê-la e experimentá-la: “É verdade, -afirma o presidente emérito
do Pontifício Comitê de Ciências Históricas– existem muitas maneiras de
se viver e experimentar a fé. Mas esses modos só podem ser considerados
legítimos se não contradizem a Doutrina da Fé formulada pela Igreja. É
sempre essencial a convergência entre a Doutrina e a vida. “O problema é
a falta de clareza sobre o significado da Doutrina Católica”, o cardeal
observou: “Em mais de vinte e cinco anos de trabalho pastoral –
paralela à minha carreira universitária -, pois fui pároco de área
rural, após o fatídico ano de 1968, eu não tive mais a necessidade de
pronunciar até então a carta pastoral a respeito do ‘Sagrado Sacramento
do Matrimônio’, como está prescrito para o segundo Domingo depois da
Epifania”. Não era uma situação prevista, não era algo esperado e é o
que torna mais emblemático para compreender a situação em que nos
encontramos.”