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"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

sexta-feira, 31 de março de 2017

Ninguém Deveria Perseguir Meus Sacerdotes por Causa de seus Defeitos.




O respeito devido aos Sacerdotes

Filha querida, ao manifestar-te a grande virtude daqueles Pastores, quero colocar em evidência a dignidade dos Meus ministros. Pelo pecado de Adão, as portas da eternidade fecharam-se, mas o Meu Filho abriu-as com a chave do seu Sangue. Ao sofrer a Paixão e Morte, Ele destruiu vossa morte e vos lavou no Sangue. Sim, foram seu Sangue e sua Morte que, em virtude da união da natureza divina com a humana, deram acesso ao Céu. E a quem deixou Cristo tal chave? Ao Apóstolo Pedro e a seus Sucessores, os que vieram e que virão depois dele até o dia do Juízo Final. Todos possuem a mesma autoridade de Pedro; nenhum pecado a diminui, do mesmo modo que não destrói a santidade do Sangue de Cristo e dos Sacramentos. Já disse, que o sol eucarístico não tem manchas e que o mal cometido por quem O administra ou recebe não apaga sua luz. Não, o pecado não danifica os Sacramentos da Santa Igreja, não lhes diminui a força; prejudica a graça e aumenta a culpa somente em quem os ministra ou recebe indignamente.

Visão sobre o Papa

Na terra, quem possui a chave do Sangue é o Cristo-na-terra.1 Certa vez Eu te manifestei essa verdade numa visão, para indicar o grande respeito que os leigos devem ter pelos ministros, bons ou maus que eles sejam, e quanto Me desagrada que alguém os ofenda. Pus diante de ti a Hierarquia da Igreja sob a figura de uma despensa contendo o Sangue de meu Filho. No Sangue estava a virtude de todos os Sacramentos e a vida dos fiéis. À porta daquela despensa, vias o Cristo-na-terra, encarregado de distribuir o Sangue e fazer-se ajudar por outros no serviço de toda a Santa Igreja. Quem ele escolhia e ungia, logo se tornava ministro. Dele procedia toda a Ordem Clerical; ele dava a cada um sua função no ministério do glorioso Sangue. E como dispunha dos seus auxiliares, possuía a força de corrigi-los nos seus defeitos.

De fato, é assim que Eu quero que aconteça. Pela dignidade e autoridade confiada a meus ministros, retirei-os de qualquer sujeição aos poderes civis. A lei civil não tem poder legal para puni-los; somente o possui aquele que foi posto como Senhor e Ministro da Lei Divina.

Não perseguir os Sacerdotes

Os ministros são ungidos Meus. A respeito deles diz a Escrituras: “Não toqueis nos meus cristos”.2 Quem os punir cairá na maior infelicidade. Se Me perguntares, por que a culpa dos perseguidores da Santa Igreja é a maior de todas, e, ainda, por que não se deve ter menor respeito pelos Meus ministros por causa de seus defeitos, respondo-te: porque, em virtude do Sangue por eles ministrado, toda reverência feita a eles, na realidade não atinge a eles, mas a Mim. Não fosse assim, poderíeis ter para com eles o mesmo comportamento de praxe para com os demais homens. Quem vos obriga a respeitá-los, é o Ministério do Sangue. Quando desejais receber os Sacramentos, procurais meus ministros; não por eles mesmos, mas pelo poder que lhes dei. Se recusais fazê-lo, em caso de possibilidade, estais em perigo de condenação. A reverência é dada a Mim e a meu Filho encarnado, que somos uma só coisa pela União da Natureza Divina com a humana. Mas também o desrespeito. Afirmo-te que devem ser respeitados pela autoridade que lhes dei, e por isso mesmo não podem ser ofendidos. Quem os ofende, a Mim ofende. Disto a proibição: “Não quero que mãos humanas toquem nos meus cristos!”

Nem poderá alguém escusar-se, dizendo: “Eu não ofendo a Santa Igreja, nem me revolto contra Ela; apenas sou contra os defeitos dos maus Pastores!” Tal pessoa mente sobre a própria cabeça. O egoísmo a cegou e não vê. Aliás, vê; mas finge não enxergar, para abafar a voz da consciência. Ela compreende muito bem que está perseguindo o Sangue do meu Filho e não os Pastores. Nestas coisas, injúria ou ato de reverência dirigem-se a Mim. Qualquer injúria: caçoadas, traições, afrontas. Já disse e repito: não quero que Meus cristos sejam ofendidos. Somente Eu devo puni-los, não outros. No entanto, homens ímpios continuam a revelar a irreverência que tem pelo Sangue de Cristo, o pouco apreço que possuem pelo amado tesouro que deixei para a vida e santificação de suas almas. Não poderíeis ter recebido maior presente que o todo-Deus e todo-Homem como alimento. Cada vez que o conceito relativo aos Meus ministros não coloca em Mim sua principal justificativa, torna-se inconsistente e a pessoa neles vê somente muitos defeitos e pecados. De tais defeitos falarei em outro lugar.3 Mas, quando o respeito se fundamenta em Mim, jamais desaparece, mesmo diante de defeitos nos ministros; como disse,4 a grandeza da Eucaristia não é diminuída por causa dos pecados. A veneração pelos Sacerdotes não pode cessar; se tal coisa acontecer, sinto-Me ofendido.

O grande pecado dos perseguidores

São muitas as razões que fazem desta ofensa a mais grave. Vou lembrar apenas três. A primeira, é porque os perseguidores agem contra Mim em tudo o que fazem em oposição aos meus ministros. A segunda, é porque desobedecem àquela ordem pela qual proibi que meus Sacerdotes fossem tocados. Ao persegui-los, os homens desprezam a riqueza do Sangue de Cristo recebida no Batismo. Desrespeitando o Sangue de Jesus e perseguindo os ministros, rebelam-se e tornam-se membros apodrecidos, separados da Hierarquia Eclesiástica. Caso venham a morrer obstinados em tal revolta e desrespeito, irão para a condenação eterna. Se reconhecerem a própria culpa na última hora, humilhando-se e desejando a reconciliação, mesmo que não o consigam fazer exteriormente, serão perdoados. Mas, não devem esperar pelo momento da morte, pois será incerto o próprio arrependimento. A terceira razão, pelo qual este pecado é o mais grave, está no seguinte: é uma falta maldosa e deliberada. Os perseguidores têm consciência de que o não devem cometer, sabem que vão pecar; cometem um ato de orgulho, em que não entram atrações sensíveis, muito pelo contrário. Tais pecadores arriscam a alma e o corpo: a alma, privando-se da graça, muitas vezes em meio a remorsos da consciência; o corpo, gastando seus bens a serviço do Diabo e indo morrer como animais. Não, este pecado cometido contra Mim não possui características de satisfação ou prazer pessoais; acompanham-no apenas os desvarios e a maldade do orgulho! Um orgulho que nasce do egoísmo e daquele medo próprio de Pilatos, quando matou Meu Filho, por temor de perder o cargo. É o que sempre fizeram e fazem os perseguidores. Os demais pecados procedem de uma certa simploriedade, de ignorância ou de satisfação pessoal desordenada, de certo prazer ou utilidade presentes no ato mau. Naqueles pecados, o homem prejudica a si mesmo, ofende a Mim e ao próximo. Ofende-Me por não Me glorificar; ao próximo, por não o amar. Na realidade, não se ergue frontalmente contra Mim; ergue-se contra si mesmo, e isso Me desagrada. Já no pecado de perseguição contra a Santa Igreja, Sou ofendido diretamente. Os outros vícios possuem uma justificativa, uma razão intermediária. Já afirmei que todo pecado e virtude são feitos no próximo.5 O pecado é ausência de amor por Mim e pelos homens; a virtude é amor caritativo. Neste pecado, os maus perseguem o próprio Sangue de Cristo ao se investirem contra Meus ministros, e privam-se de sua riqueza espiritual. Entre todos os homens, os Sacerdotes são Meus eleitos, Meus consagrados, são os distribuidores do Sangue do Meu Filho, em quem vossa natureza está unida à Minha. Quando consagram a Eucaristia, os ministros o fazem na pessoa de Jesus. Como s, realmente este pecado é dirigido contra Meu Filho; por conseguinte, contra Mim, pois somos Um. É uma falta gravíssima. Não se dirige aos ministros, dirige-se a Mim. Também o respeito demonstrado para com eles, considero-os como se fossem para Mim e Meu Filho. Por tal motivo te dizia que, se colocasses de um lado todos os demais pecados e este, sozinho, do outro, o último ser-Me-ia mais ofensivo.

Falei de tudo isso para dar-te motivo de maior preocupação, seja por causa do pecado com que Me ofendem, seja pela condenação eterna dos infelizes perseguidores. Assim, o teu sofrimento e o dos Meus servidores dissolverão a grande treva que desceu sobre estes membros apodrecidos, atualmente separados da Hierarquia da Santa Igreja. Infelizmente, quase não acho pessoas que aceitem angustiar-se por causa das perseguições em curso contra o precioso Sangue. Mais facilmente encontro quem atire continuamente flechas contra Mim; são pessoas cegas à procura de fama. Consideram honroso o que é infame, infame o que é honroso; recusam humilhar-se diante do próprio Superior.6 Com tais defeitos, muitos ousam perseguir o Sangue de Cristo, ferem-Me profundamente. Quanto podem, tanto se esforçam por prejudicar-Me. Na realidade, não Me danificam. Sou como a pedra que, ao ser batida, devolve o golpe a quem o deu. Mesmo os pecados mais vergonhosos não Me causam males; são flechas envenenadas que a eles retornam em forma de culpa. Durante esta vida, privam-se da graça, e no dia da morte, não havendo arrependimento, irão para a condenação. Vivem distantes de Mim, atrelados ao Demônio com quem se coligaram. Quando o homem perde a graça, amarra-se ao pecado. É um laço feito de ódio pelo bem e de amor pelo mal; uma corrente com que espontaneamente a alma se entrega ao Diabo, pois a isso ninguém a pode obrigar.

Este mesmo laço une os perseguidores da Igreja entre si e com o Maligno; de comum acordo, aqueles desempenham a função do Demônio. Esforça-se este por perverter os homens, induzindo-os ao pecado mortal; deseja que as almas tenham em si a maldade em que ele vive. Pois bem, fazem a mesma coisa os inimigos da Igreja: quais membros do Diabo, procuram levar os filhos da Igreja à revolta contra a Hierarquia, afastam-nos da caridade, acorrentam-nos ao pecado, privam-nos dos benefícios da Paixão. O vínculo que une tais perseguidores nasce do orgulho e da vanglória; com medo de perder os bens materiais, acabam perdendo a graça. De possuidores da dignidade de Cristo, decaem para a maior confusão interior possível. São pactos que trazem o selo das trevas. Desconhecendo os males e pecados em que vivem, neles fazem cair outros; inconscientes dos seus pecados, não se corrigem. Como cegos, caminham vangloriando-se para a destruição da própria alma e do próprio corpo.

Filha querida, chora profundamente diante dessa cegueira e miséria. São homens que, como tu, foram lavados no Sangue; que se nutriram no Sangue; que cresceram no seio da Santa Igreja. Agora, revoltados, abandonaram-na sob pretexto de corrigir os defeitos dos Meus ministros. Eu já proibira tal comportamento, dizendo: “Não quero que meus ministros sejam ofendidos”. Autêntico terror deveria apossar-se de ti e dos demais servidores Meus, quando ouvis falar de semelhantes alianças. Tua linguagem é insuficiente para referir quanto as abomino. O pior é que tais pessoas procuram encobrir seus defeitos sob o manto dos defeitos dos Meus ministros. Não se lembram de que não existe capa que os esconda diante de Mim. Na opinião pública, bem que passam despercebidos; não em Minha presença. Conheço os acontecimentos desta vida e muito mais. Pensei em todos vós e vos amei antes de vosso nascimento.

Um dos motivos pelos quais esses infelizes não se corrigem, é a falta de fé. Julgam que não os vejo. Se acreditassem realmente que sei dos seus defeitos, se acreditassem que todo pecado é punido e todo bem recompensado, como expliquei em outro lugar,7 haveriam de corrigir-se e pedir humildemente o perdão. Nesse caso, pelo Sangue de Cristo, Eu os perdoaria. Mas, vivem na obstinação, reprovados por tantos males. Arruinaram-se, vivem nas trevas, perseguindo cegamente a Cristo.

Em suma, ninguém deveria perseguir Meus Sacerdotes por causa de defeitos seus!


Fonte: Santa Catarina de Sena, “O Diálogo”, II Parte, Caps. 28.3; 28.3.1; 28.3.2; 28.3.3; pp. 237-243; 3ª edição, Editora Paulus, São Paulo, 1985.


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1.  Com esta expressão “Cristo-na-terra”, Catarina indica a pessoa do Papa. Durante o ditado do DIÁLOGO, ocupava a Sede Romana Urbano VI, homem íntegro, mas, de gênio violento. Catarina lhe escreveu bem 9 cartas.

2.  Salmo 105, 15.

3.  28.6.

4.  28.2.1.

5.  2.6.

6.  A autora pensa na situação de revolta das cidades italianas contra o Papa, naquele ano de 1378.

7.  14.10.

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