Blog Católico, para os Católicos

BLOG CATÓLICO, PARA OS CATÓLICOS.

"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

segunda-feira, 14 de abril de 2014

A última entrevista sem restrições da Irmã Lúcia


S. João Paulo VI e a Irmã Lúcia


Apresentamos aqui uma transcrição editada de uma palestra feita em 9 de Outubro de 2006 pelo Padre Nicholas Gruner, estudioso de Fátima de valor reconhecido, a centenas de Bispos, padres e leigos presentes à conferência Última Oportunidade para a Paz Mundial. Na sua palestra, o Padre Gruner descreve a famosa entrevista do Padre Agustín Fuentes com a Irmã Lúcia, a última vidente de Fátima, em 26 de Dezembro de 1957. Foi nesta entrevista histórica que a Irmã Lúcia disse: “Nossa Senhora está muito triste por ninguém fazer caso da Sua Mensagem.”

pelo Padre Nicholas Gruner, S.T.L., S.T.D. (Cand.)


Hoje quero apresentar-lhes alguns comentários sobre o encontro histórico entre a Irmã Lúcia e o Padre Agustín Fuentes em Dezembro de 1957. Foi nesta entrevista profética que se revelou o núcleo do Segredo de Fátima, pelo menos em parte.

O Padre Fuentes era um sacerdote mexicano que foi nomeado postulador da causa da beatificação de Jacinta e Francisco Marto. Já se tinha encontrado com a Irmã Lúcia em 10 de Agosto de 1955, e teve a oportunidade de a rever em 26 de Dezembro de 1957. Depois desse encontro, fez uma palestra em 22 de Maio de 1958 na casa-mãe das Irmãs Missionárias do Sagrado Coração e de Nossa Senhora de Guadalupe. Durante esta palestra, o Padre Fuentes repetiu as palavras que ouvira da Irmã Lúcia em Dezembro anterior, e mais tarde a palestra veio a ser publicada. O Padre Alonso disse-nos que a palestra do Padre Fuentes foi publicada com todas as garantias de autenticidade, e com a devida aprovação episcopal, incluindo a do Bispo de Leiria, que é a diocese em que Fátima se situa.

O Padre Fuentes sublinhou muito claramente que a Mensagem a que se referiu foi-lhe transmitida diretamente pela Irmã Lúcia, a principal vidente de Fátima. Aqui estão alguns excertos, traduzidos do texto original do Padre Fuentes, que é em espanhol.


A Santíssima Virgem está muito triste!
 
Começamos pelo Padre Fuentes: “Só quero falar-lhes da última conversa que tive com a Irmã Lúcia em 26 de Dezembro do ano passado. Encontrei-me com ela no convento. Estava muito triste, muito pálida e emagrecida. E disse-me: ‘Senhor Padre, a Santíssima Virgem está muito triste, por ninguém fazer caso da Sua Mensagem, nem os bons nem os maus; os bons, porque continuam no seu caminho de bondade, mas sem fazer caso desta Mensagem; os maus, porque, não vendo que o castigo de Deus já paira sobre eles por causa dos seus pecados, continuam também no seu caminho de maldade, sem fazer caso desta Mensagem. Mas creia-me, senhor Padre, Deus vai castigar o mundo, e vai castigá-lo de uma maneira tremenda. O castigo do Céu está iminente.’”

É assim que começa a entrevista. Tenhamos presente que estas palavras foram ditas em 1957, em 26 de Dezembro. Isto foi antes de a Irmã Lúcia ter sido totalmente silenciada, situação em que está nos últimos quarenta e cinco anos da sua vida. E mesmo já nessa altura, as entrevistas com a Irmã Lúcia já estavam a ficar cada vez mais raras. A visita anterior à Irmã Lúcia mais conhecida foi a do Padre Lombardi, Jesuíta bem conhecido, fundador do Movimento para um Mundo Melhor. Mas por volta 1960, até o velho confessor da Irmã Lúcia — outro Jesuíta, que a tinha confessado e sido o seu diretor espiritual durante cerca de dez anos nas décadas de 1930 e 1940 — não a conseguiu ver, quando regressou do Brasil em 1960.

A Irmã Lúcia foi desligada em 1960

Era preciso obter uma licença para ver a Irmã Lúcia, e esta era concedida, não pelo Bispo de Fátima nem pelo Bispo de Coimbra, mas pelo Cardeal Prefeito do Santo Ofício ou pelo próprio Papa. Assim, esta entrevista com o Padre Fuentes foi talvez a última entrevista com a Irmã Lúcia que veio a ser publicada sem restrições.

Eu sei, evidentemente, que foram publicadas outras entrevistas que afirmam reproduzir as palavras da Irmã Lúcia, num capítulo de O derradeiro combate do demônio, Christopher Ferrara sublinha a falta de credibilidade do que foi apresentado como uma entrevista concedida em 2001. O Sr. Ferrara diz que o relato desta entrevista quase não é credível; e que há muitas omissões flagrantes.

Mas isto é assunto para outra conferência. Hoje quero concentrar-me na entrevista dada em 1957 ao Padre Fuentes. Esta entrevista é muito profética, e considero-a a última entrevista completa e sem alterações que a Irmã Lúcia deu.

Porque é que Ela está triste?

A Irmã Lúcia disse que “a Santíssima Virgem está muito triste.” Porque é que está triste? Está triste “por ninguém fazer caso da Sua Mensagem, nem os bons nem os maus.”

Compreende-se que os maus não lhe deem atenção. Os pecadores, endurecidos no pecado, alguma vez se interessam pelas coisas de Deus? Mas o que é mais notável é que a Irmã Lúcia acrescenta que também os bons não fazem caso da Mensagem de Nossa Senhora.

O que é ainda mais surpreendente para nós, que o consideramos da perspectiva de quase cinquenta anos passados, é que a Irmã Lúcia disse que o castigo de Deus estava iminente. Disse isto, apesar de, em 1957, não terem passado muitos anos desde o fim da Segunda Guerra Mundial e de outra guerra importante na Coreia.

O pior castigo

Então, de que castigo é que fala a Irmã Lúcia? Ela faz uma alusão mais adiante, mas é preciso usar os olhos da fé para a ver. Não quero aqui falar da fé na Mensagem de Nossa Senhora, mas antes na compreensão da Sua Mensagem a partir da perspectiva da Fé Católica.

Esta perspectiva é-nos dada por S. João Eudes, citando as Sagradas Escrituras. Jeremias diz-nos, falando em nome de Deus: “Voltai atrás, filhos revoltados, diz o Senhor... E eu dar-vos-ei pastores segundo a Minha vontade, e eles alimentar-vos-ão com conhecimento e doutrina.” (Jeremias 3:14-15)

S. João Eudes deduz desta passagem que, se não voltarmos para Deus, então Deus enviará pastores que são apenas pastores no nome — pastores que são, na realidade, lobos em pele de cordeiro. E continua, dizendo que, quando Deus está particularmente irado com o Seu povo, envia-lhes maus pastores. É o pior castigo que Ele pode dar!

Isto, creio eu, é o castigo a que a Irmã Lúcia se refere. Fala disto na parte seguinte das suas declarações. “A Irmã Lúcia também me disse,” contou o Padre Fuentes, “Senhor Padre, o demônio está travando uma batalha decisiva contra a Virgem Maria. E como sabe que é o que mais ofende a Deus e o que, em menos tempo, lhe fará ganhar um maior número de almas, trata de ganhar para si as almas consagradas a Deus, pois que desta maneira deixa também o campo das almas desamparado e mais facilmente se apodera delas.”

Lembremo-nos que a Irmã Lúcia disse isto em 1957. Em 1965 havia 455.000 padres católicos. Em 1975 só havia 400.000. 55.000 padres — um pouco mais de que um nono — deixaram o ministério em apenas dez anos. Em toda a história da Igreja, nunca se viu um tal declínio no número de sacerdotes.

Ainda hoje, segundo as estatísticas mais recentes, publicadas em L’Osservatore Romano, o número mais alto dos sacerdotes que se mantiveram na Igreja pouco excede os 406.000. E, por exemplo, a idade média dos padres nos Estados Unidos é hoje na casa dos 60 anos, em vez da dos 40 como costumava ser.

Embora o número de padres esteja a declinar, a população de leigos que se consideram Católicos — embora menos bem instruídos e menos praticantes — tem aumentado. Estas almas têm cada vez menos padres por cada mil pessoas, para as ensinarem e guardarem. E a percentagem de padres em relação aos leigos ainda diminuirá mais significativamente nos próximos dez anos, à medida que o gasto natural da morte atinge muitos dos padres que têm hoje 60, 70 ou 80 anos.


Devemos proclamar Fátima

O plano do demônio foi aqui esquematizado pela Irmã Lúcia. É minha opinião que está no próprio Segredo, porque quase tudo nesta entrevista se refere ao Segredo. Se quiser saber porque digo isto, peço-lhe que leia o livro The Third Secret de Frère Michel. Foi o próprio Frère Michel que me chamou a atenção para a entrevista do Padre Fuentes com a Irmã Lúcia. Isto aconteceu em 1985, quando fizemos uma conferência para Bispos na Cidade do Vaticano, no dia da abertura do sínodo extraordinário em Novembro de 1985. Estiveram presentes uns duzentos padres e Bispos, incluindo Sua Beatitude Giacomo Beltritti, o Patriarca Católico de Rito Latino de Jerusalém. E ele disse-me: “Continue a falar em público à sua maneira. Eu continuarei, à minha maneira, a falar por vias particulares.” Já foi receber a sua recompensa eterna; que Deus o abençoe. Mas desde o princípio que é minha convicção que, como Fátima tem sido impedida de ser obedecida, e oposta de formas estranhas quando se fala no assunto por vias particulares, devemos continuar a falar publicamente.

Muitas nações irão desaparecer

A Irmã Lúcia perguntou ao Padre Fuentes; “O que falta para 1960? E o que sucederá então? Será uma coisa muito triste para todos, não uma coisa alegre, se, antes, o mundo não fizer oração e penitência. Não posso detalhar mais, porque é ainda um segredo. Segundo o desejo da Santíssima Virgem, só o Santo Padre e o Bispo de Fátima podem conhecer o Segredo, mas eles decidiram não o conhecer, para não serem influenciados. Esta é a terceira parte da Mensagem de Nossa Senhora, que ficará em segredo até 1960.”

E continuou: “Diga-lhes, Senhor Padre, que a Santíssima Virgem repetidas vezes, tanto aos meus primos Francisco e Jacinta como a mim, nos disse que muitas nações desaparecerão da face da terra, que a Rússia seria o instrumento do castigo do Céu para todo o mundo, se antes não alcançássemos a conversão daquela pobre nação.”

A única maneira de obter a conversão daquela pobre nação é consagrá-la, porque é “por este meio” — a Consagração da Rússia — que a Rússia se salvará. Não há outro meio.

Cada um de nós deve escolher

Portanto, estamos perante uma escolha. Podemos pensar que temos outras opções, mas só temos uma opção. Podemos obedecer a Nossa Senhora de Fátima, ou não Lhe obedecer. Não podemos não Lhe obedecer com o pretexto de que não sabemos bem o que Ela quer. Isso simplesmente não é verdade. E não podemos não Lhe obedecer com o pretexto de que não somos obrigados a fazê-lo, porque se trata de uma “revelação privada”. Isso também não é verdade. Por outro lado, podemos não Lhe obedecer porque decidimos não Lhe obedecer e temos a honestidade de o reconhecer. Mas dá tudo no mesmo: não Lhe obedecemos.

Alternativamente, podemos obedecer-Lhe e obter as bênçãos que Nossa Senhora prometeu. Não Lhe obedecer é alcançar a maldição de Fátima. Seremos amaldiçoados, como temos sido amaldiçoados até agora, por não Lhe obedecermos. E a maldição ainda será pior até que, finalmente, quem sobreviver dirá: “Não faremos o erro daquela geração que ignorou Nossa Senhora. Vamos finalmente obedecer. Vamos receber as bênçãos.”

Esta geração foi escolhida para ser abençoada ou amaldiçoada por Fátima. Não temos outra escolha. Não escolhemos nascer nesta geração, mas aqui estamos, e a decisão é nossa.

Não a deixamos a uma pessoa junto de nós, alguém de maior autoridade, ou alguém que diz ser mais religiosa do que nós. A decisão acaba por ser apenas nossa, e seremos responsabilizados por ela.

A Rússia irá ser o instrumento do castigo

No Velho Testamento, conta-se que Jeremias profetizou a queda de Jerusalém. Os sacerdotes daquele tempo diziam: “Deus não vai deixar que os Babilônios conquistem Jerusalém, porque Jerusalém é a Cidade Santa; tem a promessa.”

E hoje há Católicos que dizem que nós temos “a promessa de Nosso Senhor; as portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja”. Portanto, Deus não permitirá que a Igreja seja forçada a passar à clandestinidade. Deus não permitirá que o Papa seja assassinado.

Embora o Papa atual tenha revelado a visão de Fátima, o que ele não diz, ou o que não compreendeu, é que se trata da visão de um Papa no futuro, que poderia ser ele. Não é a visão da tentativa de assassínio do Papa em 1981. É uma visão de um futuro Papa que será morto.

Há vinte e nove anos que ando a estudar a Mensagem de Fátima. Até fui acusado de estar contra o Papa, mas a verdade é que sou o melhor amigo do Papa! Estou literalmente a tentar salvá-lo. Mas receio que não seja escutado muito bem ou com a devida clareza. Um padre — seja eu, seja outro qualquer — não pode consegui-lo, só por si próprio. Precisamos de outros padres para divulgar a Mensagem, para explicar a Mensagem e para ajudar a salvar o Papa e os Bispos.

Acabaremos como o Rei de França?

Nosso Senhor disse-nos em Rianjo: “Faz saber aos Meus ministros que, como seguiram o exemplo do Rei de França em atrasarem a execução do Meu pedido, segui-lo-ão na desgraça.”

O “Rei de França” refere-se aos reis de 1689 a 1789. Em 17 de Junho de 1689, o Sagrado Coração ordenou ao Rei de França que consagrasse o seu reino ao Sagrado Coração de Jesus. Mas os reis de França seguiram os conselhos dos seus confessores — que, por acaso, também eram Jesuítas — e não obedeceram.

O que aconteceu aos Jesuítas foi que, em 1759, foram suprimidos pelo Papa. E trinta anos mais tarde, a 17 de Junho — exatamente cem anos depois do aviso de Nosso Senhor — o Rei de França foi despojado da sua autoridade legislativa pelo Terceiro Estado em ascensão. Cerca de três semanas depois, foi preso, e quatro anos depois foi executado pelos soldados da revolução como se fosse um criminoso.

Nosso Senhor está a dizer aos Bispos e ao Papa e — de forma menos extensa, mas nem por isso menos verdadeira — aos padres que, “como seguiram o exemplo do Rei de França em atrasarem a execução do Meu pedido, segui-lo-ão na desgraça.”

Podemos ter a ilusão de que controlamos as coisas. Até eu às vezes tenho a ilusão de estar a controlar o meu pequeno apostolado, mas a verdade é que acontecem coisas sobre as quais não tenho controlo. Tenho a certeza de que terão a mesma experiência nas vossas dioceses. Tenho a certeza de que o Papa tem a mesma experiência na Igreja. No fim de contas, é Deus que controla tudo, e é Ele Quem levará as coisas a acontecer, com ou sem a nossa colaboração.

A Rússia é o instrumento escolhido pelo Céu para castigar o mundo pelos seus pecados.

O Papa Pio XII diz-nos, na sua encíclica Evangelii Praecones (2 de Junho de 1951); “O mundo está hoje pior do que antes do dilúvio.” Ora se hoje está pior do que era em 1951, o que é certamente verdade, o que diria ele de nós hoje?

Em 1951 o aborto não estava legalizado, pelo menos NÃO no Ocidente. Hoje, como é sabido, temos o holocausto do aborto, com cinquenta milhões de mortos por ano. O mundo está hoje muito pior do que era antes de 1951, e ainda pior do que antes do dilúvio.

O Modernismo ataca o clero

O castigo que se abateu sobre nós mostra que o demônio aproveitou bem a sua oportunidade. Teve sucesso, não só com os 55.000 padres que abandonaram o seu ministério, mas também com todos os que vieram a aceitar a interpretação modernista das Sagradas Escrituras, da Liturgia e até do Dogma — e a interpretação modernista de Fátima.

Tenho que admitir que, quando li pela primeira vez a encíclica de S. Pio X sobre o modernismo (Pascendi Dominici Gregis, 1907), fiquei muito assustado. Vinha no avião de Londres para o Canadá, para entrar no seminário, quando li nessa encíclica alguns dos truques manhosos e diabólicos que os modernistas usam.

Um destes truques horrendos é a redefinição de termos católicos. Quando usam a palavra “transubstanciação” ou “magistério” ou qualquer outra palavra católica, dão-lhe outro sentido, mas não têm a honestidade de nos fazerem o favor de dizer que redefiniram o termo. Só o usam uma e outra e outra vez, até que, eventualmente, acabamos por redefinir esse termo na nossa cabeça, e deixamos de pensar como Católicos.

Perguntei a mim próprio, quem poderá vencer este truque? O Papa Leão XIII, ao escrever a sua encíclica sobre os estudos bíblicos, Providentissimus Deus, disse que os estudiosos da Bíblia devem ter sólidos fundamentos no dogma católico, porque, em caso contrário, acabarão simplesmente por “absorver a erudição tortuosa dos racionalistas”.

Eu diria o mesmo aos nossos filósofos e teólogos. Quer sejam peritos nas Escrituras, na Teologia Dogmática ou na Teologia Moral, se não estiverem bem firmes nas definições solenes da Igreja Católica, no sentido em que foram sempre aceites, podem muito bem acabar por aceitar o pensamento distorcido dos racionalistas.

O Modernismo ataca Fátima

Estamos a ver isto mesmo à nossa frente. O Modernismo — que também prega a erudição forçada dos racionalistas — está a ser usado para atacar Fátima, para redefinir Fátima noutros termos.

Aprendi de Santo Agostinho a primeira regra para estudar as Escrituras. Disse ele que devemos, antes de mais, compreender as Escrituras no seu sentido literal, a menos que seja contrário à Fé ou à reta razão. É esta a primeira regra da interpretação, e é também este o método que uso para interpretar a Mensagem de Fátima. Até agora, nunca me falhou, e confirma a minha crença em como as profecias de Fátima devem tomar-se literalmente, e não nalgum sentido metafórico ou simbólico.

Quando Nossa Senhora mostrou aos pastorinhos a visão do inferno, estes compreenderam-na. Porque quem vê o inferno, o que eu nunca experimentei, compreende o que se passa. Mesmo assim, a Santíssima Virgem explicou-lhes: “Vistes o inferno, para onde vão as almas dos pobres pecadores”. Porque Ela explica tudo. Os pastorinhos de Fátima não são os únicos que precisam que lhe expliquem as coisas. Se queremos compreender Fátima como deve ser, devemos ser “como crianças”, como Nosso Senhor disse.

Os maus eclesiásticos
arrastam as almas para o inferno
 
Assim, a Irmã Lúcia explica-nos o que será este castigo iminente. “O que aflige o Imaculado Coração de Maria e o (Sagrado) Coração de Jesus é a queda das almas dos religiosos e dos sacerdotes. O demônio sabe que os religiosos e os sacerdotes que caem na sua bela vocação, arrastam numerosas almas para o inferno.”

O demônio quer tomar posse das almas consagradas. Tenta corrompê-las para adormecer as almas dos leigos e levá-las deste modo à impenitência final. Emprega todos os truques, chegando até a sugerir que adiem a entrada na vida religiosa.

Resulta disto a esterilidade da vida interior, e entre os leigos, a frieza (falta de entusiasmo) em relação a renunciar os prazeres e dedicar-se totalmente a Deus.”

Verificamos que a nossa Fé Católica tem-se tornado confortável, que a Cruz já não se nota, que já não temos que fazer sacrifícios.

Uma pessoa disse-me: “Eu realmente não gosto deste tipo de Catolicismo porque não me agrada, e portanto ponho-o de lado.” Há quem pense que pode escolher o que quiser. Já ouvi pessoas dizer-me que vão ao Confessor A, e se ele lhes diz alguma coisa que não querem ouvir, vão ao Confessor B, porque sabem que ele vai ser muito menos rigoroso. Mas não se pode zombar de Deus.

A Irmã Lúcia continua, dando-nos uma solução: “Diga-lhes também, Senhor Padre, que os meus primos Francisco e Jacinta sacrificaram-se porque, em todas as aparições da Santíssima Virgem, viram-Na sempre muito triste. Nunca nos sorria. Esta tristeza, esta angústia que notamos nEla, penetrou nas nossas almas. Esta tristeza é causada pelas ofensas contra Deus e pelos castigos que ameaçam os pecadores. E nós não sabíamos o que fazer, a não ser inventar várias maneiras de rezar e de fazer sacrifícios.”

A outra coisa que santificou estas crianças foi a visão do inferno.


A Irmã Lúcia explica a sua missão

É claro que hoje, dia em que a Coreia do Norte fez explodir um engenho nuclear (9 de Outubro de 2006), a visão é talvez mais dramática ou mais real para nós. Mas Lúcia descreve a sua própria visão, e a sua própria missão, de outra maneira. “A minha missão não é indicar ao mundo os castigos materiais que certamente virão se o mundo não rezar e não fizer penitência. Não! A minha missão é indicar a todos o perigo iminente em que estamos de perder as nossas almas por toda a eternidade, se continuarmos obstinados no pecado.”

E continua a dizer-nos o que havemos de fazer, à luz das circunstâncias atuais. Eu sei que já é meu costume — e acho ter notado o mesmo nalgumas pessoas presentes — dizer: “Bem, a culpa não é realmente minha; é daquele fulano que ali está. Devia ter feito o seu trabalho, e se tivesse feito o seu trabalho, também eu tinha podido fazer o meu. Mas até que ele o faça, as minhas mãos estão limpas; não tenho que fazer nada.”

Não podemos esperar

A Irmã Lúcia tem uma resposta para isso nesta entrevista. Também disse ao Padre Fuentes, (que o escreveu), “Senhor Padre, não devemos esperar que venha de Roma, da parte do Santo Padre, um apelo para fazer penitência. Nem devemos esperar que o apelo à penitência venha nos nossos Bispos nas nossas dioceses, nem das congregações religiosas. Não! Nosso Senhor já usou muitas vezes estes meios e o mundo não Lhe deu atenção.

É por isso que agora é necessário que cada um de nós comece a reformar-se espiritualmente. Cada pessoa deve não só salvar a sua alma, como também ajudar todas as almas que Deus colocou no seu caminho. O demônio faz tudo o que pode para nos distrair e tirar-nos o amor à oração. Seremos salvos todos juntos, ou seremos condenados todos juntos.”

Estamos nos últimos tempos

Para ficarmos com uma ideia de onde estamos, no contexto da história da salvação, a Irmã Lúcia diz-nos que estamos nos últimos tempos. “Senhor Padre, a Santíssima Virgem não me disse que estamos nos últimos tempos do mundo, mas deu-mo a entender por três razões.”

A primeira razão é porque me disse que o demônio está a preparar-se para um combate decisivo contra a Santíssima Virgem. E um combate decisivo é o derradeiro combate, em que um dos lados sairá vitorioso e o outro lado sofrerá uma derrota. Portanto, a partir de agora devemos escolher. Ou somos por Deus ou somos pelo demônio. Não há outra possibilidade.”

Quero fazer um comentário sobre uma coisa que me levou tempo a compreender. Há quem pense que, se for obediente ao seu superior imediato, está portanto do lado de Deus. E realmente assim é em muitos casos. Porém, o primeiro dos Papas, S. Pedro, fez-nos uma distinção; quando o superior imediato nos dá uma ordem contrária à vontade de Deus, “Obedeçamos antes a Deus do que aos homens.” (Atos 5:29)

Ora bem, é importante que compreendamos que toda a autoridade vem de Deus. Claro que encontramos isso nas Sagradas Escrituras. A autoridade do Papa, a autoridade do Governador — de facto, isto vem definido na bula Unam Sanctam — toda a autoridade vem de Deus.

O Papa Bonifácio VIII sublinha que há duas espadas, a espada da autoridade temporal e a espada espiritual. Mas ambas são dadas por Deus. E a autoridade temporal é menor do que a espiritual. Ora a autoridade espiritual, como vem de Deus, não pode contradizer a autoridade de Deus. Portanto, devemos escolher sempre a Deus, mesmo que seja contra alguma ordem de uma autoridade temporal ou espiritual, se esta autoridade temporal ou espiritual nos mandar alguma coisa contrária à vontade de Deus.

E como podemos saber qual é a vontade de Deus? Eu diria, acima de tudo, pelas Escrituras, pela Sagrada Tradição e pelo Magistério Solene — as definições infalíveis da Igreja. É nestas definições da Igreja que nos devemos apoiar para conhecer as obrigações que Deus nos deu.

A segunda razão que Lúcia dá para saber que estamos nos últimos tempos é que “Ela [a Santíssima Virgem] disse aos meus primos, assim como a mim, que Deus dá ao mundo os dois últimos remédios. São eles o Santo Rosário e a devoção ao Imaculado Coração de Maria. Estes são os dois últimos remédios, o que significa que não haverá outros.”

A terceira razão para Lúcia nos dizer que compreende que estamos nos últimos tempos é “porque, nos planos da Providência Divina, Deus utiliza sempre todos os outros remédios, antes de castigar o mundo. Mas quando Ele vê que o mundo não lhe dá qualquer atenção, então, como dizemos na nossa maneira imperfeita de falar, Ele oferece-nos com alguma trepidação o último meio de salvação, a Sua Mãe Santíssima. E é com alguma trepidação porque, se desprezarmos e repelirmos este último meio, não teremos mais perdão do Céu, porque teremos cometido o pecado a que o Evangelho chama o pecado contra o Espírito Santo.”

Este pecado consiste em rejeitar abertamente, com total conhecimento e consentimento, a salvação que Ele oferece. Lembremo-nos de que Jesus Cristo é muito bom Filho, e que não permite que ofendamos e desprezemos a Sua Mãe Santíssima.”

Sabemos que os testemunhos de muitos séculos da história da Igreja demonstram, pelos terríveis castigos que caíram sobre quem atacou a honra da Sua Mãe Santíssima, como Nosso Senhor Jesus Cristo defendeu sempre a honra de Sua Mãe.”

Assim, a Irmã Lúcia diz-nos nesta entrevista — a última a ser publicada sem interferência — que estamos nos últimos tempos por três razões. A primeira é que o demônio está a preparar-se para um combate final e decisivo. A segunda é que Nossa Senhora disse que estes são os últimos remédios a serem dados à humanidade. A terceira é que Deus esgota todos os outros meios antes de castigar, e se esta Mensagem não for atendida, então Deus castigará o mundo.

E referiu-se em seguida a outros meios. “A Irmã Lúcia disse-me,” acrescentou o Padre Fuentes, “que os dois meios para salvar o mundo são a oração e os sacrifícios.”

Novo poder para o Rosário

Com respeito ao Santo Rosário, a Irmã Lúcia disse: “Olhe, Senhor Padre, a Santíssima Virgem, nestes últimos tempos em que vivemos, deu uma nova eficácia à recitação do Rosário, de tal maneira que não há nenhum problema, por mais difícil que seja, seja ele temporal ou sobretudo espiritual, na vida pessoal de cada um de nós, das nossas famílias, das famílias do mundo ou das comunidades religiosas, ou até da vida dos povos e das nações, que não possa ser resolvido pelo Rosário. Não há problema, digo-lhe, por mais difícil que seja, que não possamos resolver, rezando o Santo Rosário. Com o Santo Rosário salvar-nos-emos, santificar-nos-emos, consolaremos a Nosso Senhor e obteremos a salvação de muitas almas.”

O Imaculado Coração de Maria

No fim desta entrevista, a Irmã Lúcia falou da devoção ao Imaculado Coração de Maria. Ainda dirigindo-se ao Padre Fuentes, disse: “Finalmente, a devoção ao Imaculado Coração de Maria, nossa Mãe Santíssima, consiste em A considerar como sede de misericórdia, de bondade e de perdão, e como a porta certa pela qual entraremos no Céu.”

A reação ao Padre Fuentes

E aqui está a entrevista da Irmã Lúcia ao Padre Fuentes, publicada com a aprovação do Bispo de Leiria-Fátima, e também com a aprovação do prelado do Padre Fuentes, o Arcebispo Pío López, de Veracruz, e com o apoio do Cardeal-Arcebispo de Guadalajara, México.

É uma declaração muito simples. De facto, a Irmã Lúcia já tinha dito coisas mais fortes do que as que o Padre Fuentes publicou, e essas outras declarações foram publicadas sem problemas. Mas esta entrevista do Padre Fuentes deu volta ao mundo e foi circulada amplamente. E — que surpresa! — o Padre Fuentes foi atacado pessoalmente. Foi acusado de ter inventado tudo. Foi acusado de fabricar mentiras.

Ataques anônimos

Há certos sinais que nos ajudam a saber em quem acreditar. O primeiro sinal é termos uma comunicação anônima proveniente da Chancelaria de Coimbra. Isto é, ninguém na Chancelaria — nem o Bispo, nem o Vigário Geral, nem o Chanceler — ninguém está disposto a dizer: “Assumo a responsabilidade por esta declaração.” Mesmo assim, esta nota anônima a atacar o Padre Fuentes foi publicada, e até hoje ninguém se responsabilizou por ela.

O meu pai explicou-me, quando eu era rapaz: “Se receber uma carta anônima, nem sequer a leio. Rasgo-a. Se a pessoa não tem a coragem de assumir a responsabilidade pelo que escreveu, eu também não tenho tempo para a ler.” Infelizmente, foi dado crédito a essa nota anônima.

Ora bem, sabemos que, por lei, para uma ordem ser dada, numa sociedade aberta — o que não é o caso dos Maçons, que dão ordens anonimamente, como é seu costume — numa sociedade aberta, seja ela a Igreja ou o Estado, quem dá a ordem deve estar disposto a assumir a responsabilidade dela. Deve estar disposto a assinar a ordem, se tal lhe for pedido.

Mas agora, pois, temos a Igreja a ser dirigida através de comunicados anônimos: a nota anônima de 1960 a dizer-nos que o Segredo não seria divulgado, e a seguir a nota anônima de 1961 a dizer-nos que o Padre Fuentes mentira sobre aquela entrevista.

Em The Third Secret of Fatima, do Padre Alonso, podemos encontrar o texto completo da entrevista, e ainda umas notas complementares. Devemos saber que o próprio Padre Alonso, em 1965, começou por aceitar a linha partidária apresentada no comunicado anônimo. Mas em 1975, depois de dez anos de estudos, veio a apoiar o Padre Fuentes, dizendo que não há nada na sua entrevista que não seja autêntico. E diz mais que não há nada que a Irmã Lúcia dissesse que não tenha sido confirmado em muitas outras declarações.

Assim, quem quiser discutir um ou outro ponto, leia o livro de Frère Michel, The Whole Truth About Fatima, volume III, The Third Secret. (onde se encontra também toda a entrevista do Padre Fuentes.) E quem não tiver problemas em compreender ou aceitar isto, que leia também o livro de Frère Michel, que é muito importante, especialmente a terceira parte, que foi publicada em 1985. Naquela altura, Frère Michel não podia utilizar as descobertas dos últimos vinte anos de estudos; mas o livro continua a ser uma pedra fundamental no estudo do Segredo de Fátima, que ainda não foi divulgado na sua totalidade.


Nossa Senhora está triste e espera a sua resposta


Quero sublinhar, mais uma vez, Nossa Senhora está muito triste porque ninguém faz caso da Sua Mensagem. Portanto, cada um de nós — não quero dizer a pessoa ao seu lado, à direita ou à esquerda de sai, ou à sua frente ou por trás de si, mas estou a falar de si — cada um de nós pode decidir por si próprio, e de certeza no seu coração, que fará pelo menos o que puder para que a Santíssima Virgem não esteja tão triste, tão infeliz. Podemos decidir que havemos de fazer caso da Sua Mensagem, e em primeiro lugar, e acima de tudo, podemos decidir viver segundo a Sua Mensagem, ser guiados por ela. Rezemos. Façamos por a promover nas nossas mentes, nos nossos corações, nas nossas vontades, nas nossas palavras e nos nossos atos.


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