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S. João Paulo VI e a Irmã Lúcia |
Apresentamos
aqui uma transcrição editada de uma palestra feita em 9 de Outubro
de 2006 pelo Padre Nicholas Gruner, estudioso de Fátima de valor
reconhecido, a centenas de Bispos, padres e leigos presentes à
conferência Última
Oportunidade para a Paz Mundial. Na
sua palestra, o Padre Gruner descreve a famosa entrevista do Padre
Agustín Fuentes com a Irmã Lúcia, a última vidente de Fátima, em
26 de Dezembro de 1957. Foi nesta entrevista histórica que a Irmã
Lúcia disse: “Nossa Senhora está muito triste por ninguém fazer
caso da Sua Mensagem.”
pelo
Padre Nicholas Gruner, S.T.L., S.T.D. (Cand.)
Hoje
quero apresentar-lhes alguns comentários sobre o encontro histórico
entre a Irmã Lúcia e o Padre Agustín Fuentes em Dezembro de 1957.
Foi nesta entrevista profética que se revelou o núcleo do Segredo
de Fátima, pelo menos em parte.
O
Padre Fuentes era um sacerdote mexicano que foi nomeado postulador da
causa da beatificação de Jacinta e Francisco Marto. Já se tinha
encontrado com a Irmã Lúcia em 10 de Agosto de 1955, e teve a
oportunidade de a rever em 26 de Dezembro de 1957. Depois desse
encontro, fez uma palestra em 22 de Maio de 1958 na casa-mãe das
Irmãs Missionárias do Sagrado Coração e de Nossa Senhora de
Guadalupe. Durante esta palestra, o Padre Fuentes repetiu as palavras
que ouvira da Irmã Lúcia em Dezembro anterior, e mais tarde a
palestra veio a ser publicada. O Padre Alonso disse-nos que a
palestra do Padre Fuentes foi publicada com todas as garantias de
autenticidade, e com a devida aprovação episcopal, incluindo a do
Bispo de Leiria, que é a diocese em que Fátima se situa.
O
Padre Fuentes sublinhou muito claramente que a Mensagem a que se
referiu foi-lhe transmitida diretamente pela Irmã Lúcia, a
principal vidente de Fátima. Aqui estão alguns excertos, traduzidos
do texto original do Padre Fuentes, que é em espanhol.
A
Santíssima Virgem está muito triste!
Começamos
pelo Padre Fuentes: “Só quero falar-lhes da última conversa que
tive com a Irmã Lúcia em 26 de Dezembro do ano passado.
Encontrei-me com ela no convento. Estava muito triste, muito pálida
e emagrecida. E disse-me: ‘Senhor Padre, a Santíssima Virgem está
muito triste, por ninguém fazer caso da Sua Mensagem, nem os bons
nem os maus; os bons, porque continuam no seu caminho de bondade, mas
sem fazer caso desta Mensagem; os maus, porque, não vendo que o
castigo de Deus já paira sobre eles por causa dos seus pecados,
continuam também no seu caminho de maldade, sem fazer caso desta
Mensagem. Mas creia-me, senhor Padre, Deus vai castigar o mundo, e
vai castigá-lo de uma maneira tremenda. O castigo do Céu está
iminente.’”
É
assim que começa a entrevista. Tenhamos presente que estas palavras
foram ditas em 1957, em 26 de Dezembro. Isto foi antes de a Irmã
Lúcia ter sido totalmente silenciada, situação em que está nos
últimos quarenta e cinco anos da sua vida. E mesmo já nessa altura,
as entrevistas com a Irmã Lúcia já estavam a ficar cada vez mais
raras. A visita anterior à Irmã Lúcia mais conhecida foi a do
Padre Lombardi, Jesuíta bem conhecido, fundador do Movimento para um
Mundo Melhor. Mas por volta 1960, até o velho confessor da Irmã
Lúcia — outro Jesuíta, que a tinha confessado e sido o seu
diretor espiritual durante cerca de dez
anos nas décadas de 1930 e 1940 — não a conseguiu ver, quando
regressou do Brasil em 1960.
A
Irmã Lúcia foi desligada em 1960
Era
preciso obter uma licença para ver a Irmã Lúcia, e esta era
concedida, não pelo Bispo de Fátima nem pelo Bispo de Coimbra, mas
pelo Cardeal Prefeito do Santo Ofício ou pelo próprio Papa. Assim,
esta entrevista com o Padre Fuentes foi talvez a última entrevista
com a Irmã Lúcia que veio a ser publicada sem restrições.
Eu
sei, evidentemente, que foram publicadas outras entrevistas que
afirmam reproduzir as palavras da Irmã Lúcia, num capítulo de O
derradeiro combate do demônio,
Christopher Ferrara sublinha a falta de credibilidade do que foi
apresentado como uma entrevista concedida em 2001. O Sr. Ferrara diz
que o relato desta entrevista quase não é credível; e que há
muitas omissões flagrantes.
Mas
isto é assunto para outra conferência. Hoje quero concentrar-me na
entrevista dada em 1957 ao Padre Fuentes. Esta entrevista é muito
profética, e considero-a a última entrevista completa e sem
alterações que a Irmã Lúcia deu.
Porque
é que Ela está triste?
A
Irmã Lúcia disse que “a Santíssima Virgem está muito triste.”
Porque é que está triste? Está triste “por ninguém fazer caso
da Sua Mensagem, nem os bons nem os maus.”
Compreende-se
que os maus não lhe deem atenção. Os pecadores, endurecidos no
pecado, alguma vez se interessam pelas coisas de Deus? Mas o que é
mais notável é que a Irmã Lúcia acrescenta que também os bons
não fazem caso da Mensagem de Nossa Senhora.
O
que é ainda mais surpreendente para nós, que o consideramos da
perspectiva de quase cinquenta anos passados, é que a Irmã Lúcia
disse que o castigo de Deus estava iminente. Disse isto, apesar de,
em 1957, não terem passado muitos anos desde o fim da Segunda Guerra
Mundial e de outra guerra importante na Coreia.
O
pior castigo
Então,
de que castigo é que fala a Irmã Lúcia? Ela faz uma alusão mais
adiante, mas é preciso usar os olhos da fé para a ver. Não quero
aqui falar da fé na Mensagem de Nossa Senhora, mas antes na
compreensão da Sua Mensagem a partir da perspectiva da Fé Católica.
Esta
perspectiva é-nos dada por S. João Eudes, citando as Sagradas
Escrituras. Jeremias diz-nos, falando em nome de Deus: “Voltai
atrás, filhos revoltados, diz o Senhor... E eu dar-vos-ei pastores
segundo a Minha vontade, e eles alimentar-vos-ão com conhecimento e
doutrina.” (Jeremias 3:14-15)
S.
João Eudes deduz desta passagem que, se não
voltarmos
para Deus, então Deus enviará pastores que são apenas pastores no
nome — pastores que são, na realidade, lobos em pele de cordeiro.
E continua, dizendo que, quando Deus está particularmente irado com
o Seu povo, envia-lhes maus pastores. É o pior castigo que Ele pode
dar!
Isto,
creio eu, é o castigo a que a Irmã Lúcia se refere. Fala disto na
parte seguinte das suas declarações. “A Irmã Lúcia também me
disse,” contou o Padre Fuentes, “Senhor Padre, o demônio está
travando uma batalha decisiva contra a Virgem Maria. E como sabe que
é o que mais ofende a Deus e o que, em menos tempo, lhe fará ganhar
um maior número de almas, trata de ganhar para si as almas
consagradas a Deus, pois que desta maneira deixa também o campo das
almas desamparado e mais facilmente se apodera delas.”
Lembremo-nos
que a Irmã Lúcia disse isto em 1957. Em 1965 havia 455.000 padres
católicos. Em 1975 só havia 400.000. 55.000 padres — um pouco
mais de que um nono — deixaram o ministério em apenas dez anos. Em
toda a história da Igreja, nunca se viu um tal declínio no número
de sacerdotes.
Ainda
hoje, segundo as estatísticas mais recentes, publicadas em
L’Osservatore Romano,
o
número mais alto dos sacerdotes que se mantiveram na Igreja pouco
excede os 406.000. E, por exemplo, a idade média dos padres nos
Estados Unidos é hoje na casa dos 60 anos, em vez da dos 40 como
costumava ser.
Embora
o número de padres esteja a declinar, a população de leigos que se
consideram Católicos — embora menos bem instruídos e menos
praticantes — tem aumentado. Estas almas têm cada vez menos padres
por cada mil pessoas, para as ensinarem e guardarem. E a percentagem
de padres em relação aos leigos ainda diminuirá mais
significativamente nos próximos dez anos, à medida que o gasto
natural da morte atinge muitos dos padres que têm hoje 60, 70 ou 80
anos.
Devemos
proclamar Fátima
O
plano do demônio foi aqui esquematizado pela Irmã Lúcia. É minha
opinião que está no próprio Segredo, porque quase tudo nesta
entrevista se refere ao Segredo. Se quiser saber porque digo isto,
peço-lhe que leia o livro The
Third Secret de
Frère Michel. Foi o próprio Frère Michel que me chamou a atenção
para a entrevista do Padre Fuentes com a Irmã Lúcia. Isto aconteceu
em 1985, quando fizemos uma conferência para Bispos na Cidade do
Vaticano, no dia da abertura do sínodo extraordinário em Novembro
de 1985. Estiveram presentes uns duzentos padres e Bispos, incluindo
Sua Beatitude Giacomo Beltritti, o Patriarca Católico de Rito Latino
de Jerusalém. E ele disse-me: “Continue a falar em público à sua
maneira. Eu continuarei, à minha maneira, a falar por vias
particulares.” Já foi receber a sua recompensa eterna; que Deus o
abençoe. Mas desde o princípio que é minha convicção que, como
Fátima tem sido impedida de ser obedecida, e oposta de formas
estranhas quando se fala no assunto por vias particulares, devemos
continuar a falar publicamente.
Muitas
nações irão desaparecer
A
Irmã Lúcia perguntou ao Padre Fuentes; “O que falta para 1960? E
o que sucederá então? Será uma coisa muito triste para todos, não
uma coisa alegre, se, antes, o mundo não fizer oração e
penitência. Não posso detalhar mais, porque é ainda um segredo.
Segundo o desejo da Santíssima Virgem, só o Santo Padre e o Bispo
de Fátima podem conhecer o Segredo, mas eles decidiram não o
conhecer, para não serem influenciados. Esta é a terceira parte da
Mensagem de Nossa Senhora, que ficará em segredo até 1960.”
E
continuou: “Diga-lhes, Senhor Padre, que a Santíssima Virgem
repetidas vezes, tanto aos meus primos Francisco e Jacinta como a
mim, nos disse que muitas nações desaparecerão da
face da terra, que a Rússia seria o instrumento do castigo do Céu
para todo o mundo, se antes não alcançássemos a conversão daquela
pobre nação.”
A
única maneira de obter a conversão daquela pobre nação é
consagrá-la, porque é “por este meio” — a Consagração da
Rússia — que a Rússia se salvará. Não há outro meio.
Cada
um de nós deve escolher
Portanto,
estamos perante uma escolha. Podemos pensar que temos outras opções,
mas só temos uma opção. Podemos obedecer a Nossa Senhora de
Fátima, ou não Lhe obedecer. Não podemos não Lhe obedecer com o
pretexto de que não sabemos bem o que Ela quer. Isso simplesmente
não é verdade. E não podemos não Lhe obedecer com o pretexto de
que não somos obrigados a fazê-lo, porque se trata de uma
“revelação privada”. Isso também não é verdade. Por outro
lado, podemos não Lhe obedecer porque decidimos
não
Lhe obedecer e temos a honestidade de o reconhecer. Mas dá tudo no
mesmo: não Lhe obedecemos.
Alternativamente,
podemos obedecer-Lhe e obter as bênçãos que Nossa Senhora
prometeu. Não Lhe obedecer é alcançar a maldição de Fátima.
Seremos amaldiçoados, como temos sido amaldiçoados até agora, por
não Lhe obedecermos. E a maldição ainda será pior até que,
finalmente, quem sobreviver dirá: “Não faremos o erro daquela
geração que ignorou Nossa Senhora. Vamos finalmente obedecer. Vamos
receber as bênçãos.”
Esta
geração foi escolhida para ser abençoada ou amaldiçoada por
Fátima. Não temos outra escolha. Não escolhemos nascer nesta
geração, mas aqui estamos, e a decisão é nossa.
Não
a deixamos a uma pessoa junto de nós, alguém de maior autoridade,
ou alguém que diz ser mais religiosa do que nós. A decisão acaba
por ser apenas nossa, e seremos responsabilizados por ela.
A
Rússia irá ser o instrumento do castigo
No
Velho Testamento, conta-se que Jeremias profetizou a queda de
Jerusalém. Os sacerdotes daquele tempo diziam: “Deus não vai
deixar que os Babilônios conquistem Jerusalém, porque Jerusalém é
a Cidade Santa; tem a promessa.”
E
hoje há Católicos que dizem que nós
temos
“a promessa de Nosso Senhor; as portas do inferno não prevalecerão
contra a Igreja”. Portanto, Deus não permitirá que a Igreja seja
forçada a passar à clandestinidade. Deus não permitirá que o Papa
seja assassinado.
Embora
o Papa atual tenha revelado a visão de Fátima, o que ele não diz,
ou o que não compreendeu, é que se trata da visão de um Papa no
futuro, que poderia ser ele. Não é a visão da tentativa de
assassínio do Papa em 1981. É uma visão de um futuro
Papa
que será morto.
Há
vinte e nove anos que ando a estudar a Mensagem de Fátima. Até fui
acusado de estar contra o Papa, mas a verdade é que sou o melhor
amigo do Papa! Estou literalmente a tentar salvá-lo. Mas receio que
não seja escutado muito bem ou com a devida clareza. Um padre —
seja eu, seja outro qualquer — não pode consegui-lo, só por si
próprio. Precisamos de outros padres para divulgar a Mensagem, para
explicar a Mensagem e para ajudar a salvar o Papa e os Bispos.
Acabaremos
como o Rei de França?
Nosso
Senhor disse-nos em Rianjo: “Faz saber aos Meus ministros que, como
seguiram o exemplo do Rei de França em atrasarem a execução do Meu
pedido, segui-lo-ão na desgraça.”
O
“Rei de França” refere-se aos reis de 1689 a 1789. Em 17 de
Junho de 1689, o Sagrado Coração ordenou ao Rei de França que
consagrasse o seu reino ao Sagrado Coração de Jesus. Mas os reis de
França seguiram os conselhos dos seus confessores — que, por
acaso, também eram Jesuítas — e não obedeceram.
O
que aconteceu aos Jesuítas foi que, em 1759, foram suprimidos pelo
Papa. E trinta anos mais tarde, a 17 de Junho — exatamente cem anos
depois do aviso de Nosso Senhor — o Rei de França foi despojado da
sua autoridade legislativa pelo Terceiro Estado em ascensão. Cerca
de três semanas depois, foi preso, e quatro anos depois foi
executado pelos soldados da revolução como se fosse um criminoso.
Nosso
Senhor está a dizer aos Bispos e ao Papa e — de forma menos
extensa, mas nem por isso menos verdadeira — aos padres que, “como
seguiram o exemplo do Rei de França em atrasarem a execução do Meu
pedido, segui-lo-ão na desgraça.”
Podemos
ter a ilusão de que controlamos as coisas. Até eu às vezes tenho a
ilusão de estar a controlar o meu pequeno apostolado, mas a verdade
é que acontecem coisas sobre as quais não tenho controlo. Tenho a
certeza de que terão a mesma experiência nas vossas dioceses. Tenho
a certeza de que o Papa tem a mesma experiência na Igreja. No fim de
contas, é Deus
que
controla tudo, e é Ele Quem levará as coisas a acontecer, com ou
sem a nossa colaboração.
A
Rússia é o instrumento escolhido pelo Céu para castigar o mundo
pelos seus pecados.
O
Papa Pio XII diz-nos, na sua encíclica Evangelii
Praecones (2
de Junho de 1951); “O mundo está hoje pior do que antes do
dilúvio.” Ora se hoje está pior do que era em 1951, o que é
certamente verdade, o que diria ele de nós hoje?
Em
1951 o aborto não estava legalizado, pelo menos NÃO
no
Ocidente. Hoje, como é sabido, temos o holocausto do aborto, com
cinquenta milhões de mortos por ano. O mundo está hoje muito pior
do que era antes de 1951, e ainda pior do que antes do dilúvio.
O
Modernismo ataca o clero
O
castigo que se abateu sobre nós mostra que o demônio aproveitou bem
a sua oportunidade. Teve sucesso, não só com os 55.000 padres que
abandonaram o seu ministério, mas também com todos os que vieram a
aceitar a interpretação modernista das Sagradas Escrituras, da
Liturgia e até do Dogma — e a interpretação modernista de
Fátima.
Tenho
que admitir que, quando li pela primeira vez a encíclica de S. Pio X
sobre o modernismo (Pascendi
Dominici Gregis, 1907),
fiquei muito assustado. Vinha no avião de Londres para o Canadá,
para entrar no seminário, quando li nessa encíclica alguns dos
truques manhosos e diabólicos que os modernistas usam.
Um
destes truques horrendos é a redefinição de termos católicos.
Quando usam a palavra “transubstanciação” ou “magistério”
ou qualquer outra palavra católica, dão-lhe outro sentido, mas não
têm a honestidade de nos fazerem o favor de dizer que redefiniram o
termo. Só o usam uma e outra e outra vez, até que, eventualmente,
acabamos por redefinir esse termo na nossa cabeça, e deixamos de
pensar como Católicos.
Perguntei
a mim próprio, quem poderá vencer este truque? O Papa Leão XIII,
ao escrever a sua encíclica sobre os estudos bíblicos,
Providentissimus Deus,
disse que os estudiosos da Bíblia devem ter sólidos fundamentos no
dogma católico, porque, em caso contrário, acabarão simplesmente
por “absorver a erudição tortuosa dos racionalistas”.
Eu
diria o mesmo aos nossos filósofos e teólogos. Quer sejam peritos
nas Escrituras, na Teologia Dogmática ou na Teologia Moral, se não
estiverem bem firmes nas definições solenes da Igreja Católica, no
sentido em que foram sempre aceites, podem muito bem acabar por
aceitar o pensamento distorcido dos racionalistas.
O
Modernismo ataca Fátima
Estamos
a ver isto mesmo à nossa frente. O Modernismo — que também prega
a erudição forçada dos racionalistas — está a ser usado para
atacar Fátima, para redefinir Fátima noutros termos.
Aprendi
de Santo Agostinho a primeira regra para estudar as Escrituras. Disse
ele que devemos, antes de mais, compreender as Escrituras no seu
sentido literal, a menos que seja contrário à Fé ou à reta
razão. É esta a primeira regra da interpretação, e é também
este o método que uso para interpretar a Mensagem de Fátima. Até
agora, nunca me falhou, e confirma a minha crença em como as
profecias de Fátima devem tomar-se literalmente, e não nalgum
sentido metafórico ou simbólico.
Quando
Nossa Senhora mostrou aos pastorinhos a visão do inferno, estes
compreenderam-na. Porque quem vê o inferno, o que eu nunca
experimentei, compreende o que se passa. Mesmo assim, a Santíssima
Virgem explicou-lhes: “Vistes o inferno, para onde vão as almas
dos pobres pecadores”. Porque Ela explica tudo. Os pastorinhos de
Fátima não são os únicos que precisam que lhe expliquem as
coisas. Se queremos compreender Fátima como deve ser, devemos ser
“como crianças”, como Nosso Senhor disse.
Os
maus eclesiásticos
arrastam
as almas para o inferno
Assim,
a Irmã Lúcia explica-nos o que será este castigo iminente. “O
que aflige o Imaculado Coração de Maria e o (Sagrado) Coração de
Jesus é a queda das almas dos religiosos e dos sacerdotes. O demônio
sabe que os religiosos e os sacerdotes que caem na sua bela vocação,
arrastam numerosas almas para o inferno.”
“O
demônio
quer tomar posse das almas consagradas. Tenta corrompê-las para
adormecer as almas dos leigos e levá-las deste modo à impenitência
final. Emprega todos os truques, chegando até a sugerir que adiem a
entrada na vida religiosa.
“Resulta
disto a esterilidade da vida interior, e entre os leigos, a frieza
(falta de entusiasmo) em relação a renunciar os prazeres e
dedicar-se totalmente a Deus.”
Verificamos
que a nossa Fé Católica tem-se tornado confortável, que a Cruz já
não se nota, que já não temos que fazer sacrifícios.
Uma
pessoa disse-me: “Eu realmente não gosto deste tipo de Catolicismo
porque não me agrada, e portanto ponho-o de lado.” Há quem pense
que pode escolher o que quiser. Já ouvi pessoas dizer-me que vão ao
Confessor A, e se ele lhes diz alguma coisa que não querem ouvir,
vão ao Confessor B, porque sabem que ele vai ser muito menos
rigoroso. Mas não se pode zombar de Deus.
A
Irmã Lúcia continua, dando-nos uma solução: “Diga-lhes também,
Senhor Padre, que os meus primos Francisco e Jacinta sacrificaram-se
porque, em todas as aparições da Santíssima Virgem, viram-Na
sempre muito triste. Nunca nos sorria. Esta tristeza, esta angústia
que notamos nEla, penetrou nas nossas almas. Esta tristeza é causada
pelas ofensas contra Deus e pelos castigos que ameaçam os pecadores.
E nós não sabíamos o que fazer, a não ser inventar várias
maneiras de rezar e de fazer sacrifícios.”
A
outra coisa que santificou estas crianças foi a visão do inferno.
A
Irmã Lúcia explica a sua missão
É
claro que hoje, dia em que a Coreia do Norte fez explodir um engenho
nuclear (9 de Outubro de 2006), a visão é talvez mais dramática ou
mais real para nós. Mas Lúcia descreve a sua própria visão, e a
sua própria missão, de outra maneira. “A minha missão não é
indicar ao mundo os castigos materiais que certamente virão se o
mundo não rezar e não fizer penitência. Não! A minha missão é
indicar a todos o perigo iminente em que estamos de perder as nossas
almas por toda a eternidade, se continuarmos obstinados no pecado.”
E
continua a dizer-nos o que havemos de fazer, à luz das
circunstâncias atuais. Eu sei que já é meu costume — e acho ter
notado o mesmo nalgumas pessoas presentes — dizer: “Bem, a culpa
não é realmente minha; é daquele fulano que ali está. Devia ter
feito o seu trabalho, e se tivesse feito o seu trabalho, também eu
tinha podido fazer o meu. Mas até que ele o faça, as minhas mãos
estão limpas; não tenho que fazer nada.”
Não
podemos esperar
A
Irmã Lúcia tem uma resposta para isso nesta entrevista. Também
disse ao Padre Fuentes, (que o escreveu), “Senhor Padre, não
devemos esperar que venha de Roma, da parte do Santo Padre, um apelo
para fazer penitência. Nem devemos esperar que o apelo à penitência
venha nos nossos Bispos nas nossas dioceses, nem das congregações
religiosas. Não! Nosso Senhor já usou muitas vezes estes meios e o
mundo não Lhe deu atenção.
“É
por isso que agora é necessário que cada um de nós comece a
reformar-se espiritualmente. Cada pessoa deve não só salvar a sua
alma, como também ajudar todas as almas que Deus colocou no seu
caminho. O demônio faz tudo o que pode para nos distrair e tirar-nos
o amor à oração. Seremos salvos todos juntos, ou seremos
condenados todos juntos.”
Estamos
nos últimos tempos
Para
ficarmos com uma ideia de onde estamos, no contexto da história da
salvação, a Irmã Lúcia diz-nos que estamos nos últimos tempos.
“Senhor Padre, a Santíssima Virgem não me disse que
estamos nos últimos tempos do mundo, mas deu-mo a entender por três
razões.”
A
primeira razão “é
porque me disse que o demônio está a preparar-se para um combate
decisivo contra a Santíssima Virgem. E um combate decisivo é o
derradeiro combate, em que um dos lados sairá vitorioso e o outro
lado sofrerá uma derrota. Portanto, a partir de agora devemos
escolher. Ou somos por Deus ou somos pelo demônio. Não há outra
possibilidade.”
Quero
fazer um comentário sobre uma coisa que me levou tempo a
compreender. Há quem pense que, se for obediente ao seu superior
imediato, está portanto do lado de Deus. E realmente assim é em
muitos casos. Porém, o primeiro dos Papas, S. Pedro, fez-nos uma
distinção; quando o superior imediato nos dá uma ordem contrária
à vontade de Deus, “Obedeçamos antes a Deus do que aos homens.”
(Atos 5:29)
Ora
bem, é importante que compreendamos que toda a autoridade vem de
Deus. Claro que encontramos isso nas Sagradas Escrituras. A
autoridade do Papa, a autoridade do Governador — de facto, isto vem
definido na bula Unam
Sanctam — toda
a autoridade vem de Deus.
O
Papa Bonifácio VIII sublinha que há duas espadas, a espada da
autoridade temporal e a espada espiritual. Mas ambas são dadas por
Deus. E a autoridade temporal é menor do que a espiritual. Ora a
autoridade espiritual, como vem de Deus, não pode contradizer a
autoridade de Deus. Portanto, devemos escolher sempre a Deus, mesmo
que seja contra alguma ordem de uma autoridade temporal ou
espiritual, se esta autoridade temporal ou espiritual nos mandar
alguma coisa contrária à vontade de Deus.
E
como podemos saber qual é a vontade de Deus? Eu diria, acima de
tudo, pelas Escrituras, pela Sagrada Tradição e pelo Magistério
Solene — as definições infalíveis da Igreja. É nestas
definições da Igreja que nos devemos apoiar para conhecer as
obrigações que Deus nos deu.
A
segunda razão que
Lúcia dá para saber que estamos nos últimos tempos é que “Ela
[a Santíssima Virgem] disse aos meus primos, assim como a mim, que
Deus dá ao mundo os dois últimos remédios.
São eles o Santo Rosário e a devoção ao Imaculado Coração de
Maria. Estes são os dois últimos remédios, o que significa que não
haverá outros.”
A
terceira razão para
Lúcia nos dizer que compreende que estamos nos últimos tempos é
“porque, nos planos da Providência Divina, Deus utiliza sempre
todos os outros remédios, antes de castigar o mundo. Mas quando Ele
vê que o mundo não lhe dá qualquer atenção, então, como dizemos
na nossa maneira imperfeita de falar, Ele oferece-nos com alguma
trepidação o último meio de salvação, a Sua Mãe Santíssima. E
é com alguma trepidação porque, se desprezarmos e repelirmos este
último meio, não teremos mais perdão do Céu, porque teremos
cometido o pecado a que o Evangelho chama o pecado contra o Espírito
Santo.”
“Este
pecado consiste em rejeitar abertamente, com total conhecimento e
consentimento, a salvação que Ele oferece. Lembremo-nos de que
Jesus Cristo é muito bom Filho, e que não permite que ofendamos e
desprezemos a Sua Mãe Santíssima.”
“Sabemos
que os testemunhos de muitos séculos da história da Igreja
demonstram, pelos terríveis castigos que caíram sobre quem atacou a
honra da Sua Mãe Santíssima, como Nosso Senhor Jesus Cristo
defendeu sempre a honra de Sua Mãe.”
Assim,
a Irmã Lúcia diz-nos nesta entrevista — a última a ser publicada
sem interferência — que estamos nos últimos tempos por três
razões. A primeira é que o demônio está a preparar-se para um
combate final e decisivo. A segunda é que Nossa Senhora disse que
estes são os últimos remédios a serem dados à humanidade. A
terceira é que Deus esgota todos os outros meios antes de castigar,
e se esta Mensagem não for atendida, então Deus castigará o mundo.
E
referiu-se em seguida a outros meios. “A Irmã Lúcia disse-me,”
acrescentou o Padre Fuentes, “que os dois meios para salvar o mundo
são a oração e os sacrifícios.”
Novo
poder para o Rosário
Com
respeito ao Santo Rosário, a Irmã Lúcia disse: “Olhe, Senhor
Padre, a Santíssima Virgem, nestes últimos tempos em que vivemos,
deu uma nova eficácia à recitação do Rosário, de tal maneira que
não há nenhum problema, por mais difícil que seja, seja ele
temporal ou sobretudo espiritual, na vida pessoal de cada um de nós,
das nossas famílias, das famílias do mundo ou das comunidades
religiosas, ou até da vida dos povos e das nações, que não possa
ser resolvido pelo Rosário. Não há problema, digo-lhe, por mais
difícil que seja, que não possamos resolver, rezando o Santo
Rosário. Com o Santo Rosário salvar-nos-emos, santificar-nos-emos,
consolaremos a Nosso Senhor e obteremos a salvação de muitas
almas.”
O
Imaculado Coração de Maria
No
fim desta entrevista, a Irmã Lúcia falou da devoção ao Imaculado
Coração de Maria. Ainda dirigindo-se ao Padre Fuentes, disse:
“Finalmente, a devoção ao Imaculado Coração de Maria, nossa Mãe
Santíssima, consiste em A considerar como sede de misericórdia, de
bondade e de perdão, e como a porta certa pela qual entraremos no
Céu.”
A
reação ao Padre Fuentes
E
aqui está a entrevista da Irmã Lúcia ao Padre Fuentes, publicada
com a aprovação do Bispo de Leiria-Fátima, e também com a
aprovação do prelado do Padre Fuentes, o Arcebispo Pío López, de
Veracruz, e com o apoio do Cardeal-Arcebispo de Guadalajara, México.
É
uma declaração muito simples. De facto, a Irmã Lúcia já tinha
dito coisas mais fortes do que as que o Padre Fuentes publicou, e
essas outras declarações foram publicadas sem problemas. Mas esta
entrevista do Padre Fuentes deu volta ao mundo e foi circulada
amplamente. E — que surpresa! — o Padre Fuentes foi atacado
pessoalmente. Foi acusado de ter inventado tudo. Foi acusado de
fabricar mentiras.
Ataques
anônimos
Há
certos sinais que nos ajudam a saber em quem acreditar. O primeiro
sinal é termos uma comunicação anônima proveniente da Chancelaria
de Coimbra. Isto é, ninguém na Chancelaria — nem o Bispo, nem o
Vigário Geral, nem o Chanceler — ninguém
está
disposto a dizer: “Assumo a responsabilidade por esta declaração.”
Mesmo assim, esta nota anônima a atacar o Padre
Fuentes foi publicada, e até hoje ninguém se responsabilizou por
ela.
O
meu pai explicou-me, quando eu era rapaz: “Se receber uma carta
anônima, nem sequer a leio. Rasgo-a. Se a pessoa não tem a coragem
de assumir a responsabilidade pelo que escreveu, eu também não
tenho tempo para a ler.” Infelizmente, foi dado crédito a essa
nota anônima.
Ora
bem, sabemos que, por lei, para uma ordem ser dada, numa sociedade
aberta — o que não é o caso dos Maçons, que dão ordens
anonimamente, como é seu costume — numa sociedade aberta, seja ela
a Igreja ou o Estado, quem dá a ordem deve estar disposto a assumir
a responsabilidade dela. Deve estar disposto a assinar a ordem, se
tal lhe for pedido.
Mas
agora, pois, temos a Igreja a ser dirigida através de comunicados
anônimos: a nota anônima de 1960 a dizer-nos que o Segredo não
seria divulgado, e a seguir a nota anônima de 1961 a dizer-nos que o
Padre Fuentes mentira sobre aquela entrevista.
Em
The Third Secret of
Fatima,
do Padre Alonso, podemos encontrar o texto completo da entrevista, e
ainda umas notas complementares. Devemos saber que o próprio Padre
Alonso, em 1965, começou por aceitar a linha partidária apresentada
no comunicado anônimo. Mas em 1975, depois de dez anos de estudos,
veio a apoiar o Padre Fuentes, dizendo que não há nada na sua
entrevista que não seja autêntico. E diz mais que não há nada que
a Irmã Lúcia dissesse que não tenha sido confirmado em muitas
outras declarações.
Assim,
quem quiser discutir um ou outro ponto, leia o livro de Frère
Michel, The
Whole Truth About Fatima,
volume III, The
Third Secret.
(onde se encontra também toda a entrevista do Padre Fuentes.) E quem
não tiver
problemas em compreender ou aceitar isto, que leia também o livro de
Frère Michel, que é muito importante, especialmente a terceira
parte, que foi publicada em 1985. Naquela altura, Frère Michel não
podia utilizar as descobertas dos últimos vinte anos de estudos; mas
o livro continua a ser uma pedra fundamental no estudo do Segredo de
Fátima, que ainda
não foi divulgado na
sua totalidade.
Nossa
Senhora está triste e espera a sua resposta
Quero
sublinhar, mais uma vez, Nossa Senhora está muito triste porque
ninguém faz caso da Sua Mensagem. Portanto, cada um de nós — não
quero dizer a pessoa ao seu lado, à direita ou à esquerda de si,
ou à sua frente ou por trás de si, mas estou a falar de si — cada
um de nós
pode
decidir por si próprio, e de certeza no seu coração, que fará
pelo menos o que puder para que a Santíssima Virgem não esteja tão
triste, tão infeliz. Podemos decidir que havemos
de
fazer caso da Sua Mensagem, e em primeiro lugar, e acima de tudo,
podemos decidir viver segundo a Sua Mensagem, ser guiados por ela.
Rezemos. Façamos por a promover nas nossas mentes, nos nossos
corações, nas nossas vontades, nas nossas palavras e nos nossos
atos.
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