com muito pudor;
olhai como veste
a Mãe do Senhor"
(Hino: À 13 de Maio).
Virtude Encantadora
A Modéstia como a Pureza é uma virtude agradabilíssima aos olhos de Deus e também aos olhos dos homens. Vê como se torna aborrecida a todos uma pessoa atrevida, desenvolta, descarada e sem vergonha. Compara-a com uma outra de aparência tímida e talvez acanhada, mas envolvida nesse véu celestial de Modéstia, de simplicidade, de pudor, de rubor e de simpática vergonha.
É o complemento necessário e indispensável de uma alma pura e, mais ainda, de uma alma virgem. São Paulo anima-nos a praticar a Modéstia, quando diz: 'A vossa modéstia seja vista e reconhecida por todos os homens'. E acrescenta esta poderosa razão: 'Pois o Senhor está perto de vós'. Isto é, se conservais a presença de Deus e vos dais conta de que Deus preside a todos os vossos atos, sereis necessariamente modestos. São Francisco de Sales insiste na mesma razão e diz: que 'em todos os nossos atos devemos ser sempre muito modestos, pois estamos sempre na presença de Deus e à vista dos seus Anjos'. Vê bem como esta virtude recebe do Céu mesmo todo o seu encanto, dignidade e atrativa beleza. E assim compreenderás a razão por que a Santíssima Virgem tanto amava esta virtude. A reverência que sentia para com a Majestade de Deus, a quem via e tinha presente na Pessoa de seu Filho, o amor santo, veneração e respeito profundo que sentia para com a Divindade, a sua perfeitíssima e contínua presença e conversação com Deus, foram a causa de que Ela aparecesse sempre como a Virgem modestíssima, Maria! que Modelo de encantadora Modéstia! No seu semblante, no seu olhar, nos seus modos, no seu porte, aparecia uma santa gravidade e seriedade acompanhada de uma inexplicável suavidade e de uma doçura celestial e divina. Assim era a sua Modéstia, grave e simpática ao mesmo tempo, uma Modéstia rigorosa que não admitia o mais pequeno descuido, mas sempre natural e simples, sem violência nem ridicularias, afável e atraente sem leviandades nem gracejos, sem soberba nem desconfiança. Todos os que a viam ficavam absortos naquela Modéstia e recato que nada tinha de carrancudo nem de melancólico. Jamais se viu Nela a mais pequenina inconveniência nem a mínima incorreção. Que beleza tão harmoniosa em todo o seu ser, produzida por esta tão encantadora Modéstia.
Além disso, a Modéstia isola-nos e separa-nos da vida do mundo e facilita a vida de fervor, evitando a dissipação que produz o derramamento dos sentidos, convertendo a alma como que num templo onde Deus habita e com quem tem grande familiaridade. Assim amava Maria a sua Modéstia, como a salvaguarda do seu Virginal Coração, como o meio melhor de desprender-se de todos os atrativos exteriores, como o modo mais prático de viver toda e só para Deus. E como manifestação desta sua profunda Modéstia, contempla com fervor aquela vergonha, aquele rubor, mais que angelical que circunda o seu semblante. Contempla-a diante do Arcanjo na sua Anunciação, surpreendida pela vista inesperada daquele encantador mancebo, e ainda que Maria sabe que é um Anjo, e ainda que nada possa temer, contudo, ruboriza-se, tinge-se de vermelho o seu rosto, perturba-se, e presta, com essa perturbação uma homenagem à sua Imaculada Pureza e à sua Virginal Modéstia. Ah! Como é simpática esta vergonha que assim sobe ao rosto, de quem possui um coração inocente, delicado, puro e modesto! Vê aquele jovem que se chamou Estanislau Kostka, ruborizar-se, envergonhar-se de tal modo, ao ouvir uma palavra inconveniente, uma expressão grosseira ou malsoante, a ponto do seu coração fazer subir ao rosto todo o seu sangue, ficar sem vida e cair desmaiado. De quem aprendeu ele esta delicadeza, esta esquisita sensibilidade senão de sua Mãe? Daquela a quem não podia deixar de amar pois que era sua Mãe? A Modéstia, a vergonha, o rubor, é o distintivo do homem. Entre os animais não se dá isto, nem mesmo entre os homens que chegaram a esse estado de rebaixamento irracional próprio do pecado animal e sensual. A Modéstia e a vergonha é a barreira que se levanta entre o homem e o animal; e por isso mesmo a vergonha, na presença do animal, ruboriza as faces com o que se chamou a púrpura da Castidade, que é o rubor. Pede a tua Mãe esta santa vergonha, este encantador rubor que demonstra ao mundo, a tua paixão pela Pureza, pela Castidade, pela Modéstia que a defende.
Conta-se de São Francisco de Assis, que pregava somente com a sua presença humilde e modesta e que movia com o seu recolhimento e gravidade à devoção, ao louvor de Deus. Que não diremos da Santíssima Virgem? Que constante e eficaz a sua pregação! Seria essa uma das obras de zelo apostólico a favor das almas. O seu exemplo era, sem dúvida, a suave e delicada e por vezes irresistível maneira de difundir e até de impor aos outros, compostura e recato nas palavras, modos e atitudes, etc. Quem se atreveria, em sua presença a proceder de outro modo? Por que não A imitas nisto? Por que não te impões também para que difundas em volta de ti o amor à Pureza e à Modéstia, e para que todos saibam que na tua presença não se pode proceder, falar, ou apresentar-se de modo incorreto e inconveniente?
Quando a verdadeira Modéstia existe, é tal a união que se dá entre a exterior e a interior, que uma não anda sem a outra, as duas ajudam-se mutuamente, de sorte que a compostura exterior deve proceder sempre de um interior perfeitamente composto e ordenado, e a interior encontrará a sua melhor defesa e sustentáculo na exterior. São Francisco de Sales explica isto com a seguinte comparação: 'Como o fogo produz a cinza, e a cinza serve admiravelmente para manter e conservar o fogo, assim acontece com estas duas Modéstias, que a interior produz a exterior e esta mantém e conserva a interior de onde brotou'.
Esta Modéstia interior é de duas classes: uma que refreia os movimentos da concupiscência e os atos internos do entendimento, da imaginação e da vontade, que nos levam ao pecado da impureza, e a outra Modéstia é a que modera os movimentos da alma, que têm relação com a soberba e a vaidade. Assim, quando louvamos a uma pessoa dizemos que não queremos ferir a sua Modéstia, e outras vezes admiramos a Modéstia das pessoas que pelos seus méritos, pelas suas virtudes, pela sua dignidade, podiam dar-se mais importância. Esta Modéstia, como se vê, praticamente reduz-se ao exercício da verdadeira humildade, por isso a alma humilde há de ser necessariamente modesta interior e exteriormente.
Quanto a esta Modéstia, é evidente que ninguém pôde jamais comparar-se com a Santíssima Virgem; ninguém houve com mais merecimentos, virtudes, santidade, dignidade e grandezas divinas. Quem foi, apesar disso, mais simples, afável, caritativa, pobre e humilde do que Ela? E, portanto, quem mais modesta quanto ao desprezo que fazia da importância da Sua pessoa e da Sua própria excelência?
E quanto à Modéstia oposta à concupiscência, onde encontrar uma ordem mais completa, uma submissão mais perfeita de todos os seus pensamentos, sentimentos e afeições à regra da razão e desta à Vontade de Deus?
1 ─ Nas Palavras: Imagina como seriam as da Santíssima Virgem, que estava persuadida de ser a última das escravas do Senhor; palavras de edificação e de encantadora Modéstia, ao considerar, cheia de gozo, os imensos benefícios de que o Senhor a cumulara; a Ele dirige o seu agradecimento e os seus louvores, e admirar-se-á que o Todo Poderoso tenha posto os seus olhos na 'miséria da sua escrava'. Estava simplesmente e firmemente persuadida da falta de merecimentos da sua parte e por isso quão longe estava em suas palavras, de atribuir a si coisa alguma! Aprende Dela esta Modéstia no falar, tanto no tom da voz, não querendo impor-te com gritos, nem com palavras nervosas e excitadas, como na simplicidade e caridade das tuas expressões.
À imitação de Maria, evita as palavras duras, bruscas, malsoantes. Vê como a linguagem de tua Mãe é tranquila, afável, discreta, humilde, tornando-se simpática e atraente pela doçura de voz, pela vontade, pureza, caridade e até alegria santa das suas palavras. Tem cuidado, em especial, com as disputas e bate-bocas; ainda que tenhas razão, deves moderar o teu juízo próprio, cedendo, sem ser teimoso nem ter cabeça dura; é melhor ceder e calar com Modéstia, que sair triunfante com teimosia e soberba.
Não é compatível com a soberba a sã alegria que em piadas, passatempos e brincadeiras se podem manifestar. Mas, ah! Como é fácil em tudo isto, passar os limites da correção e da Modéstia!
2 ─ No Vestido e na Habitação: A pobreza da Casa de Nazaré, própria de uma operária, faz que nela tudo seja humilde e modesto em último grau. A simplicidade e Modéstia do seu vestido avalia-a pela extrema necessidade de Belém e verás como nem em casa de Maria, nem no enxoval e vestido, encontrarás coisa alguma que indique luxo, afetação da sua pessoa, comodidade de algum gênero.
Nas suas viagens não usará carruagens, nem mesmo as mais modestas de então. O Evangelho nada mais diz senão que foi, por exemplo, à Judéia, com grande pressa, pois a estimulava a caridade. Eis toda a sua preparação e equipagem: uma pobre trouxa de roupa e muito amor de caridade para com Deus e para com o próximo. Que exemplo de simplicidade e Modéstia! Não é Modéstia a falta de asseio, o vestuário desarrumado; ao contrário, pode haver Modéstia em meio de uma sóbria elegância, contanto que, esta seja conforme o teu estado, a tua condição, e as circunstâncias que te rodeiam; mas nunca será compatível com o luxo, com a vaidade dos vestidos, e menos ainda com qualquer defeito por pequeno que seja, em matéria de honestidade.
Tem muito cuidado neste último ponto e não esqueças, que na igreja e na rua, em público e em particular, deves vestir sempre modestamente. É intolerável o permitir-se, ao estar em casa, modos de vestir impudicos ou pelo menos muito livres; não há pretexto nem razão que possam autorizar isto. A Modéstia deve acompanhar-te em todos os instantes da tua vida.
3 ─ Nas Maneiras: Isto é, em todos os teus atos exteriores que realizas perante os outros. Modéstia no semblante e particularmente nos teus olhos, não só para evitar os olhares pecaminosos, mas também, para evitar a excessiva curiosidade de quem tudo quer ver e observar. Modéstia nas posições do andar, ao sentar-te, não buscando precisamente a posição mais cômoda, senão a mais conveniente. Modéstia em todos os teus movimentos, evitando tudo o que seja leviandade e desenvoltura, e muitíssimo mais tudo o que não seja decoroso e digno.
Acostuma-te a esta Modéstia, ainda estando só, para que assim naturalmente a pratiques diante dos outros. É muito conhecido o caso de São Francisco de Sales, que observado quando se encontrava só no seu quarto, guardava os mais pequenos preceitos da compostura e da Modéstia. Procedia sempre como se o vissem os Anjos do Céu e na presença de Deus.
Nota, de modo especial, tudo isto na Santíssima Virgem e verás o conjunto admirável de todos os seus atos executados com aquela naturalidade, e simplicidade, franqueza, e ao mesmo tempo delicadeza, honestidade, e prudência próprios da santa Modéstia. Examina-te um pouco nesta matéria, e pergunta a ti mesma como guardas a Modéstia interior do teu coração, e a exterior do teu corpo e de todas as tuas maneiras" (Dr. D. Ildefonso Rodriguez Villar, "Pontos de Meditação sobre as Virtudes de Nossa Senhora", Meditações 31ª e 32ª, pp. 192-204; Traduzido da 5ª edição, revisto pelo R. Pe. Manuel Versos Figueiredo, S. J., Porto, 1946).
► A verdadeira devoção à Santíssima Virgem Maria é acompanhada da "devoção interior sem desprezar o exterior de modéstia" (S. Luís Mª Grignion de Montfort, "Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem", Cap. III, Art. I, n. 96, p. 101 3ª edição, Vozes, 1946).
► A verdadeira devoção à Santíssima Virgem Maria "torna a alma corajosa para se opor ao mundo em suas Modas e Máximas, à carne, em seus aborrecimentos e paixões, e ao Demônio, em suas tentações" (S. Luís Mª Grignion de Montfort, ob. cit., n. 109, p. 109).
► "Hão de vir umas Modas que hão de ofender muito a Nosso Senhor. As pessoas que servem a Deus não devem andar com a Moda. A Igreja não tem Modas. Nosso Senhor é sempre o mesmo..." (Palavras de Nossa Senhora de Fátima aos três Pastorinhos em 1917).
A Beata Jacinta Marto "ao ver algumas pessoas, que iam visitar outros doentes, (e que) vestiam-se imodestamente, e que algumas enfermeiras mostravam certos exageros no traje pouco conveniente, repetia: 'Para que serve aquilo? Se soubessem o que é a eternidade! ... Se os homens soubessem o que é a eternidade, como haviam de fazer tudo para se emendarem!".
E, por fim, ela "chorou tanto ao ver-se despida nas mãos dos médicos!" (R. Pe. Luís Gonzaga Aires da Fonseca, S. J., "Nossa Senhora da Fátima", Cap. XIII).
► "Um dos encantos prediletos (de Nossa Senhora) é a Modéstia no vestir" (Frei Bernardino, "O Segredo de Fátima", pp. 138-139).
► "O Venerável Lopes, declamando contra o modo de trajar de muitas mulheres, diz assim: 'Que loucura quererem andar assim vestidas, imitando mais uma comediante, do que a Virgem Santíssima! Vede como Ela andava, e como vós andai, e envergonhai-vos'.
Nossa Senhora aparecendo a Santa Brígida, como se lê nas suas Revelações, Lhe disse deste modo: 'Abstenham-se as mulheres de vestidos de ostentação, que por soberba e vaidade se tem introduzido, porque o Demônio é quem as tem ensinado para que, desprezando os costumes antigos e louváveis, tomem esse abuso dos adornos na cabeça, nos pés e nas demais partes do corpo, que não serve senão para provocar a luxúria e irritar a Deus'" (R. Pe. Fr. Manoel da Madre de Dios, O. C. D., "Práticas Mandamentais ou Reflexões Morais sobre os Mandamentos da Lei de Deus e os abusos que lhe são opostos", 1871).
► "Quem quisesse implorar à Virgem a cessação dos flagelos, sem um sério propósito de reforma de vida privada e pública, estaria pedindo simplesmente a impunidade da culpa, o direito de regular a própria conduta não com a Lei de Deus, mas com as paixões desenfreadas. Tal súplica seria a negação e o contrário da súplica cristã, seria uma injustiça a Deus, uma provocação à Sua justa cólera, um obstinar-se no pecado, que é o único e verdadeiro mal do mundo" (S. S. Pio XII, "Homilia" de 13 de Junho de 1944, na Igreja de Santo Inácio).
► "Se, sobretudo, quiséssemos conversar intimamente convosco, ó Mãe Castíssima, ó Mãe Imaculada, que lições de pureza nos darias... Conversam cordialmente convosco essas almas, talvez boas no fundo, mas sem energia contra as Modas absurdas, que podem apresentar-se a Vós, ó Puríssima, sem envergonhar-se de seus trajes imodestos?" (R. Pe. Carlos Suavé, S. S., "S. Bernardita y la Intimidad de Lourdes − Elevaciones Dogmáticas", Cap. II, 19ª Elevación, Ponto II, 3).
► "Como, pois, podem ser verdadeiras devotas da Virgem aquelas esposas e jovens cristãs que em tão pouca conta têm à santa virtude da Modéstia, tão essencial à natureza da mulher? Custa-nos crer que senhoras e donzelas que seguem à risca os excessos da Moda atual e andam de vestidos exageradamente decotados, de braços nus, de face e lábios escandalosamente pintados, possam ser, não digo fiéis e sinceras devotas da Virgem, mas ao menos almas positivamente cristãs!
Não se pode ser verdadeiramente devota da Virgem e ao mesmo tempo entregar-se ao torvelinho e à vertigem desenfreada do mundo, praticando à risca o que este tirano exige de seus escravos e adoradores! Como é que se podem conciliar, na prática da vida, coisas tão opostas e contraditórias, como são: a devoção eficiente e positiva à Virgem Maria e a cega subserviência às pompas, às vaidades, às disfarçadas indecências do mundo? Oh! a malícia do cristão é enorme, e sua falta de lógica e coerência flagrante, quando ele se ilude pretendendo ser piedoso e devoto na igreja e libertino na rua, entre os colegas, na sociedade; em casa rezar, e no teatro (cinema, televisão) assistir a espetáculos indecentes; confessar-se pela Páscoa, ser irmão de uma Irmandade Católica, e ao mesmo tempo pertencer a Seitas proibidas pela Igreja! E é justamente essa mistura absurda de atos contraditórios, o que se dá na época atual, arruinando aos poucos o caráter do homem moderno, e paganizando não poucos dos nossos cristãos incautos e alucinados!
Seja, pois, piedosos fiéis, sincera e coerente nossa devoção para com a Virgem Maria; amemos e veneremos verdadeiramente a Maria, nossa Mãe, esforçando-nos por imitar Suas virtudes, e cumprindo com a Lei de Seu Divino Filho e nosso adorável Salvador, Jesus Cristo" (R. Pe. Dr. Felicio Magaldi, "A Ação Católica segundo Pio XI", Cap. "Discurso de Encerramento do Mês de Maio").
► "São tantas as almas que a Justiça de Deus condena por pecados, contra Mim cometidos, que venho pedir reparação: sacrifica-te por essa intenção e ora" (Nossa Senhora à Irmã Lúcia, "Documentos de Fátima", pp. 463-465; pelo R. Pe. Antônio M. Martins, S. J.).
Se queres te aproximar de Mim, foge do mundo.
Se queres Me agradar dá-me o teu coração.
Se queres Me imitar guarda a inocência.
Penitência. Penitência. Penitência.