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"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Da Eternidade Bem-aventurada e das Misérias desta Vida.


Tomás de Kempis




Imitação de Cristo
Livro III, Capítulo XLVIII


1 – A Alma – Ó bem-aventurada mansão da Cidade celestial! Ó dia claríssimo da eternidade, que nenhuma noite obscurece, mas que sempre brilha com os raios da soberana Verdade! Dia sempre alegre, sempre seguro, cuja felicidade não terá mudança.

Ó, quem me dera ver amanhecer este dia, e passarem já as sombras das coisas perecedouras! Este ditoso dia já luz para os Santos com seu eterno resplendor: porém, para nós, peregrinos no deserto deste mundo, só de longe vislumbra, e como entre sombras nos aparece.

2 – Os cidadãos do Céu sabem quão alegre seja aquele dia; mas os degredados filhos de Eva gemem de ver quão amarga e fastidiosa seja a vida presente.

“Os dias deste mundo são poucos e maus”, cheios de dores e misérias (Gên. 47, 9).

Neles se vê o homem manchado com muitas paixões, angustiado de muitos temores, ocupado com muitos cuidados, distraído com muitas curiosidades, implicado em muitas vaidades, cercado de erros, quebrantado de trabalhos, perseguido de tentações, afeminado pelos prazeres, atormentado pela pobreza.

3 – Ó, quando virá o fim de todos estes males? Quando me verei livre da miserável escravidão dos vícios? Quando me lembrarei, Senhor, de Vós somente? Quando me alegrarei plenamente em Vós?

Quando gozarei da verdadeira liberdade, sem impedimento nem embaraço de corpo e espírito?

Quando possuirei essa paz sólida, essa paz imperturbável e segura; essa paz interior e exterior, paz de todo permanente e invariável?

Ó, bom Jesus! Quando me será dado ver-Vos? Quando contemplarei a glória de Vosso Reino? Quando me sereis tudo em todas as coisas?

Quando estarei convosco no “reino que preparastes desde toda a eternidade para os que Vos amam?” (S. Mat. 25, 34).

Ai! Pobre e desterrado me vejo em terra inimiga, onde há guerra contínua e grandes infortúnios.

4 – Consolai o meu desterro, mitigai a dor de meu coração, que por Vós suspira com todo o ardor de seus desejos. Todo o prazer do mundo é para mim penoso tormento.

Desejo gozar-Vos intimamente; mas não posso consegui-lo. Desejo estar unido com as coisas celestiais; porém, minhas paixões imortificadas me arrastam para a terra.

Minha alma aspira a elevar-se acima de todas as coisas; porém, a carne me violenta a estar sujeito a ela.

Deste modo eu, homem infeliz; comigo pelejo, “e sou pesado a mim mesmo”, vendo que o espírito busca elevar-se, e a carne abater-se (Jó 7, 20).

5 – Ó, quanto não padeço eu, quando revolvo em meu pensamento as coisas celestiais, e logo minha oração é interrompida por um tropel de ideias mundanas! Deus meu, “não Vos aparteis de mim, e não abandoneis com ira Vosso servo” (Salm. 70, 13; 36, 14).

Lançai um raio de Vossa luz, e dissipai todas estas ilusões; lançai Vossas setas, e afugentai estes fantasmas do inimigo.

Chamai a Vós todos os meus sentidos; fazei-me esquecer todas as coisas mundanas, dai-me resolução para lançar longe de mim até as sombras dos vícios.

Socorrei-me, Verdade eterna, para que não me seduza vaidade alguma.

Vinde a mim, suavidade celestial, e fuja de Vossa presença toda torpeza.

Perdoai-me também, e olhai-me com misericórdia, todas as vezes que, na oração, penso em outra coisa do que em Vós. Pois, confesso ingenuamente que nela estou de ordinário bem distraído.

Em pé ou sentado, muitas vezes não estou onde está meu corpo, mas antes, onde me leva o meu pensamento. E meu pensamento está de ordinário onde está o que amo.

O que mais facilmente me ocorre, é o que naturalmente me deleita ou agrada por costume.

6 – Por isso Vós, ó Verdade eterna, nos dissestes expressamente: “Onde está vosso tesouro, aí está também vosso coração” (S. Mat. 6, 21).

Se amo o Céu, com gosto penso nas coisas celestiais. Se amo o mundo, alegro-me com as prosperidades mundanas, e entristeço-me com suas adversidades.

Se amo a carne, muitas vezes penso nas coisas carnais. Se amo o espírito, em coisas espirituais me deleito.

Porque de todas as coisas que amo, falo e ouço falar com gosto, e levo comigo a lembrança delas ao meu aposento.

Porém, bem-aventurado é aquele homem, ó meu Deus, que, por amor de Vós, desterra da sua lembrança todas as criaturas, que faz violência a sua natureza, e crucifica os apetites carnais com o fervor do espírito, para que serenada sua consciência, Vos ofereça uma oração pura, e desembaraçado interior e exteriormente de tudo que é terreno, se faça digno de adorar a Deus em espírito na companhia de seus Anjos.

1ª Reflexão:
Monsenhor Marinho

Imagina um filho que, desterrado em país afastado, passa os seus dias em duros trabalhos, aguardando ansioso a hora, em que lhe seja dado reunir os seus salários e tomar o caminho da pátria, onde o espera um pai amoroso. Quantas vezes se verá ele acometido e quase vencido do desalento no meio das mil contrariedades desse exílio prolongado? Que aflitiva é a sua sorte! Procurava amigos e encontra traidores; busca a paz, e talvez que por toda a parte se lhe depare a guerra.

Sabe que possui um pai extremoso e uma mãe carinhosa, mas não os vê face a face: para onde alargará ele as suas vistas nas horas de pesado infortúnio? Para onde lhe fugirão as aspirações veementes da alma e os afetos espontâneos do coração, ao ver-se torturado por sucessivos desenganos? Sem dúvida, para a sua querida pátria, onde a felicidade lhe sorri com indefiníveis atrativos. Se és um cristão, animado de viva Fé, eis aí em ligeiro quadro a imagem da tua vida. Quem vive aferrado ao gozo dos bens temporais está longe de poder altear-se à dignidade de um verdadeiro cristão.

E apesar disso, se lançamos os olhos para o mundo, veremos que a grande maioria dos homens parece ter de todo renunciado à glória eterna. Não se lhe nota aquela fome e sede de justiça que distingue os eleitos: “Felizes os que tem fome e sede de justiça, porque esses serão saciados” (S. Mat. 5, 6); quer dizer, felizes os que se esforçam por conhecer e possuir a Deus, porque esses trilham o caminho que conduz à verdadeira felicidade. Muitos são os sequiosos, que no mundo vivem abrasados pelo ardor das paixões; muitos os famintos, que procuram saciar os seus apetites brutais. Em vão, porém, se cansam; a taça dos prazeres, com que tentam inebriar-se, aumenta-lhes a sede e a fome. Onde procuravam gozos, encontraram amarguras; porque o castigo do criminoso começa no momento do crime.

“Pois não sabeis que os vossos membros são templo do Espírito Santo, que em vós existe, recebido de Deus, e que não sois vossos? Com efeito, fostes resgatados por grande preço”  (1 Cor. 6, 19-20). Para que esse preço nos aproveite, é necessário que saibamos suportar até ao fim as provações do nosso desterro.

2ª Reflexão:
Presbítero J. I. Roquette

Os trabalhos, as doenças, os sofrimentos, as tentações, o invencível desejo de uma felicidade, que neste mundo não se encontra, tudo nos chama continuamente a essa grande eternidade onde a Fé nos promete, com a posse de Deus, o descanso, a paz, o Bem perfeito, infinito, ao qual aspiramos com todas as potências de nossa alma. Eis aqui porque os Santos gemem tão amargamente debaixo do peso dos laços que nos prendem ainda à terra; eis porque exclamava o Apóstolo: “Desejo que meu corpo se dissolva, a fim de estar com Jesus Cristo” (Filip. 1, 23).

Então não haverá mais nem temor, nem lágrimas, nem combate, mas um eterno triunfo e uma alegria sem fim.

Se um fraco vislumbre de verdade soberana transporta já nossa inteligência, que será quando A contemplarmos em seu inteiro resplendor? E se, desde agora, nos é tão caro O amar, que será quando nos saciarmos na Fonte do puro amor? Oh! Sim, Senhor, desejo a dissolução de meu corpo, para estar convosco! Esta esperança só me consola; ela é toda minha vida. Que é para mim o mundo, e que pode ele dar-me? “Tenho vivido entre os habitantes de Cedar, e minha alma foi estrangeira no meio deles”. Vosso reino, meu Deus, Vosso reino, não tenho outra Pátria. Dignai-Vos chamar a ele este pobre desterrado, e “ele celebrará eternamente Vossas misericórdias” (Salm. 119, 5; 88, 2).

3ª Reflexão:
São Francisco de Sales

Ainda há mais proporção da luz de uma lâmpada com a luz e claridade deste grande luzeiro que nos alumia, e mais relação há entre a beleza assim da folha como do fruto de uma árvore, e a mesma árvore carregada de folhas e de frutos todos juntos,... mais relação do que entre a luz do sol e a claridade de que gozão os Bem-aventurados na glória; ou entre a beleza de uma vargem matizada de flores na primavera, e as belezas daqueles campos celestes, e entre a amenidade de nossas colinas carregadas de frutos, e a amenidade da Bem-aventurança eterna. (Sermão para o 2º Domingo da Quaresma)

Passam estes anos temporais...; seus meses se reduzem a semanas, as semanas a dias, os dias a horas, e as horas a momentos que são os únicos que possuímos; mas apenas possuimo-los, perecem e tornam perecedoura nossa vida, a qual todavia nos deve ser mais amável, pois, sendo cheia de miséria, não poderíamos ter nenhuma consolação mais sólida que a de estarmos certos de que ela vai se dissipando, para dar lugar àquela santa eternidade que nos é preparada na abundância da misericórdia de Deus, e a qual nossa alma aspira continuamente, pelos incessantes pensamentos que sua própria natureza lhe sugere, bem que a não possa esperar, senão por outros pensamentos mais elevados que lhe infunde o Autor da natureza. (121ª Carta espirit. xii.)

Fonte: Monsenhor Manuel Marinho, “Imitação de Cristo”, pp. 262-264; Novíssima Edição, Editora e Tipografia Fonseca, Porto, 1925.

Fonte: Presbítero J. I. Roquette, “Imitação de Cristo”, pp. 334-339; Tradução Nova, Editora Aillaud & Cia, Paris/Lisboa.

Fonte: Imitação de Cristo Senhor Nosso, Versão Portuguesa por um Padre da Missão, pp. 278-279; Reflexões e Orações colhidas nas obras de São Francisco de Sales; Imprenta Desclée,
Lefebvre y Cia., Tournai (Bélgica), 1904.



“Non omni homini reveles cor tuum”
“Não abras o teu coração a qualquer homem”
(Imitação de Cristo, Livro I, Cap. 8; Ecle. 8, 22).


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