Blog Católico, para os Católicos

BLOG CATÓLICO, PARA OS CATÓLICOS.

"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

terça-feira, 15 de novembro de 2022

O LIVRO DOS ELEITOS.


O Crucifixo

meu Livro de Estudo1


1. No Museu de Viena admira-se o célebre quadro de Alberto Dürer – Os Santos no Céu.

Deus Pai tem, sobre seus joelhos, seu Filho Crucificado e propõe-no à contemplação dos Santos.

2. Eterno e delicioso objeto da contemplação dos Santos no Céu, o Crucifixo é, neste mundo, o livro de estudo dos futuros eleitos.

Pregamos, diz São Paulo, Jesus Crucificado… Potência e Sabedoria de Deus para proveito dos Predestinados”.2

A Cruz do Senhor, diz Santo Agostinho, não é somente um altar onde se imola a Divina Vítima, é também uma cadeira, do alto da qual nos dá sublimes lições”.


Ouvi-me então:


A sociedade antiga, surge das trevas e vícios do paganismo e sobe, esperançosa, o Monte Calvário; vive e morre abraçada à Cruz: é uma sociedade feliz!

A sociedade moderna, tendo horror à Cruz, desce, desvairada, do Calvário e submerge-se nas trevas e vícios do neo-paganismo; vive e morre “abraçada ao esterco, como diz o Profeta, corrompida até a medula dos ossos: é uma sociedade desgraçada!

A sociedade hodierna, precisa de arrepiar caminho, lançar-se de novo nos braços do Cristianismo que tão ingratamente tem abandonado.

A graça do Cristianismo, no seu princípio, é a graça de um Deus que morreu na Cruz; é necessário que, para ter relação com o seu princípio, nos leve aos prazeres da outra vida pelas mortificações desta.

A graça do Cristianismo é o preço do Sangue de um Deus; para no-la aplicarmos, é necessário, como diz São Paulo, crucificarmos a nossa carne com as paixões e desejos desordenados.

A graça no Cristianismo, no seu sujeito – o cristão, acha um culpado; logo é necessário que o castigue; e, porventura, pode fazê-lo sem a mortificação? Acha um enfermo; logo é necessário que seja medicinal, e por consequência, amarga. Precisamos, pois, de abraçar a mortificação como um castigo justamente devido aos nossos pecados e um remédio salutar às nossas enfermidades.


Devoção ao Crucifixo


1. Um artista italiano do século XIV, Taddeo di Bartolo, deixou-nos um Crucifixo muito eloquente. Crucificado na Cruz, Jesus dá o último suspiro. A seus pés, de olhos levantados e fixos no seu Deus crucificado, está São Jerônimo. É evidente que o Crucifixo é o seu grande livro de devoção. Encontrava sempre nas páginas desse livro, escritas com sangue, novos ensinamentos. E aconselhava a todos os seus discípulos que lessem, sem cessar, neste livro. Eu vos dou o mesmo conselho.

2. O Crucifixo tem sido, em toda a parte, através de todos os tempos, objeto de especial devoção.

Para propagar o culto da sua Paixão, Jesus Cristo não tem somente empregado meios ordinários, tem mesmo feito milagres.

O Crucifixo de São Boaventura enegrecido com os beijos, animava-se diante do Santo, que se abrasava de amor ao seu contato. O de São Tomás de Aquino inclina-se um dia para o Santo e diz: “Tomás, tu falaste bem de mim”.

O de São Francisco de Assis, um dia, opera esta maravilha: – deixa sair de suas mãos, de seus pés, do lado aberto, dardos inflamados, que gravam os estigmas nos membros de São Francisco.


Não te esqueças nunca

da graça que te fez

o que ficou por teu fiador,

porque ele expôs a sua vida

para te valer”.

(Eclo. 29, 20)


O MEU CRUCIFIXO3


Tenhamos um crucifixo que nos ajude a crucificar-nos com Cristo. Tenhamos um crucifixo que seja o nosso confidente. Um crucifixo que nos ajude a beijar a mão do algoz, que nos crucifica com Cristo. Tenhamos um crucifixo que nos ensine sempre a perdoar, para poder sempre amar. Tenhamos um crucifixo, para, em qualquer vicissitude da vida: na dor ou na alegria, na saúde ou na doença, encontrar o sinal da bênção de Deus.

E cada qual fixe bem e diga convencido: o meu crucifixo é bandeira, é remédio, é bálsamo, é vigor, é amor. É tudo na minha vida!


Quando entibio – afervora-me.

Quando desfaleço – fortalece-me.

Quando caio – levanta-me.

Quando espoliado – enriquece-me.

Quando entristeço – alegra-me.

Quando desprezado – considera-me.

Quando sofro – consola-me.

Quando incompreendido – compreenda-me.

Quando desanimo – alenta-me.

Quando temo – encoraja-me.

Quando enfermo – cura-me.

Quando tentado – sustenta-me.

Quando tremo – assegura-me.

Quando traído – abraça-me.

Quando abandonado – procura-me.

Quando endureço – abranda-me.

Quando esfrio – aquece-me.

Quando me apago – ilumina-me.

Quando me humilho – exalta-me.

Quando morro – acolhe-me na eternidade feliz.



História Admirável da Milagrosa

Imagem do Santo Crucifixo de Berito4


(Exemplo da Onipotência Divina)


Levantemos, fiéis, os olhos da nossa alma, e atendamos à representação de um grave espetáculo, a todas luzes admirável, que, suposto acontecido nos tempos antigos, merece sua memória ser perene em todos os séculos.5 Contemplemos nele a inefável misericórdia de Deus, vencedora sempre da malícia humana, prevenindo nossos corações para um e outro objeto, já com júbilos já com lamentos, e apagando em nossas lágrimas a compunção, que as faz amargosas, com o amor, que as torna doce. Foge da mão a pena, fogem da mente os conceitos, ao dar à luz uma história de que a mesma luz do sol e das estrelas recusaria justamente ser testemunha. Porém, a sabedoria do Altíssimo, que todos os futuros antever e todas as desordens reduz a amável ordem, e a sua Onipotência, que dos abismos do pecado fabrica empíreos de suas glórias, pedem os juros de seu louvor; mas que se paguem do horror de nossos ouvidos com a relação de tão indignos atrevimentos.

Há nos confins de Tiro e Sidônia, uma cidade sufragânea a Antioquia, chamada Berito, onde viviam numerosas famílias de judeus. E junto da sua sinagoga, que era mui grande, alugou um cristão uma casinha onde habitava, o qual pôs na parede contrária fronteira à sua cama um bom painel de Cristo crucificado, de estatura de um homem. Porém, necessitando de mais capaz vivenda, buscou outra na cidade, para onde se mudou, levando seus móveis e trabalhos, e esquecendo-se unicamente de levar a Imagem do Senhor, ou porque o diferiu para outro dia, e depois lhe saiu da memória, ou porque a sua pouca devoção mereceu, porventura, que Deus permitisse este descuido; e o mais certo, é que porque a Divina Providência queria por este meio renovar nos fiéis a memória da Paixão do Senhor e fazer inexcusável a perfídia de seus inimigos.

Mudado, pois, o cristão para outra casa, alugou um judeu esta outra pequena, que ele deixara; e ali entrava e saía sem advertir no painel, quanto mais na pintura dele. Um dia convidou a jantar a outro judeu da sua tribo. E, estando ambos à mesa, o judeu convidado foi levantar os olhos e, vendo a Sagrada Imagem, disse com estranheza para o seu camarada: Se tu és judeu, como tens em casa tal Imagem? E começou a soltar pela boca contra o Salvador do Mundo palavras tão injuriosas e nefandas, que não permite a decência declará-las. E, não contente com isto, vai logo delatar aos seus sumos sacerdotes e presidentes da sinagoga, que aquele judeu tinha em sua casa a Imagem do Nazareno crucificado. Podes tu (disseram eles), mostrar que falas verdade? Respondeu o denunciante: Não há nisso mais dificuldade que vir e ver.

Aquela tarde, pois, se comunicaram uns com os outros; e logo na manhã seguinte: Ut factus est dies convenerunt Seniores plebis, et Principes sacerdotum,6 ajuntaram-se os sacerdotes, e os demais velhos da sinagoga, com outra multidão da mesma canalha; e, levando por guia ao mesmo delator, vão a casa do outro judeu. Entram furiosos, veem a Sagrada Imagem, enchem-se de maior raiva, repreendem coléricos ao culpado em crime, ao seu parecer, mais detestável que muitos sacrilégios, excomungam-no por essa causa, e o ameaçam terrivelmente. E que mais? Saltam ao painel e o despenduram, dizendo: “Façamos-lhe como nossos pais fizeram naquele tempo”.

Começaram, pois, a renovar a Paixão do Salvador naquela sua Imagem, com sanha e irrisão diabólica; e diziam: “Nós ouvimos que, lhe cuspiram no rosto; façamos assim também”. E, à porfia, uns de uma parte, outros da outra, lhe arremessavam asquerosas salivas. “Nós ouvimos que, o esbofetearam e escarneceram; façamos agora o mesmo”. E, logo, davam na Imagem muitas bofetadas e lhe faziam incríveis ludíbrios. “Nós ouvimos que, lhe pregaram mãos e pés; façamos assim também”. E no mesmo instante buscaram pregos e os cravaram na Imagem. Tomaram também uma esponja com fel e vinagre; e disseram: “Esquecia-nos este tormento, que lhe fizeram nossos pais”; e puseram a esponja na boca do Senhor. Nem lhe escapou, dar-lhe com a cana na cabeça. Até que, finalmente, representaram a lançada no lado do Senhor, já defunto; fizeram, pois, vir uma lança grande e disseram a um dos seus, que lha metesse pelo costado. Mas, ó maravilha grande da divina piedade! Assim como aquele pérfido deu a lançada, manou da ferida Sangue e Água verdadeiros, não querendo o Senhor, faltar, da parte que lhe tocava, à perfeição do Mistério, que seus inimigos renovavam. Porém, foram imitando a seus pais na dureza de coração e cegueira de entendimento, assim como no mais os imitavam; não lhes causou milagre, tão notável e manifesto, movimento algum de piedade. Antes, como tolos e insensatos, ou, para melhor dizer, como encarniçados na sua malícia, continuaram a mesma cena trágica, e disseram: “Os que adoram ao Nazareno, dizem que realizou muitos milagres, dando saúde aos enfermos e vista aos cegos; experimentemos se faz o mesmo este Sangue e esta Água, que agora vimos sair, porque sem dúvida tudo é falsidade e fábulas que nos vendem”. E, logo, veio um com uma vasilha, e, aparando à ferida, a encheu; e a levaram para a sinagoga, e convocaram enfermos de vários males, para os ungirem, e voltarem em matéria de escárnio o sucesso, que não esperavam fosse milagroso. O primeiro em que fizeram a experiência, foi um paralítico, que conheciam por tal desde seu nascimento. Vede, almas, e admirai a contenda ou desafio em que se dignou a entrar a divina bondade com a malícia humana, para mais gloriosamente triunfar dela. O mesmo foi ungirem aquele paralítico, que sentir-se de repente com inteira saúde, de sorte que se levantou firme em suas pernas, como se de antes nenhum mal padecesse. Do mesmo modo sucedeu aos cegos; do mesmo modo aos endemoniados.

Começou, pois, o confuso murmurinho de vozes a crescer; e a fama, voando sobre muitas línguas, divulgou-se que na sinagoga aparecera uma fonte de milagres. Correram grandes multidões de judeus, levando cada qual o enfermo que tinham em casa. Encheu-se a sinagoga, apesar de ser casa espaçosa, de paralíticos, aleijados, tolhidos, leprosos e toda espécie de enfermos e vexados, e de povo, que concorria a ver com seus olhos o que nem na opinião parece que lhes cabia. Tanta era a presteza com que as maravilhas se realizavam, que as mãos dos sacerdotes judeus eram as que tardavam e cansavam de ungir, e não eram elas mais que um instrumento quase inanimado da invisível Mão do Onipotente, porque, sem saber o que faziam, não cessavam de realizar. Entretanto, não se ouvia na casa, e fora dela, mais que vozes, aclamações, lágrimas e louvores divinos. Porém, ó grande Deus! Ó potência inenarrável do Crucificado! Ainda as correntes desta fonte não se espalharam com a franqueza a que seu amor as impelia. Parece que tomou Deus o caso de aposta e que disse entre Si: Vós, vinde entender Comigo, e a pôr-me outra vez presente o sacrifício com que resgatei e salvei o mundo? Não sabeis que há em meu peito, caridade para padecer morte de Cruz tantas vezes quantas são as almas, se assim fosse necessário? Não sabeis que sou o que ensinei a dar benefícios por agravos e favores por injúrias? Ou cuidastes que poderíeis dar fundo ao abismo do meu amor? Rompeu, pois, a fonte em borbulhões maiores; passou a alagar as almas, depois que alagara os corpos. Trocam-se os corações daqueles sacerdotes e anciãos, e do mais povo judaico, que presente estava, até mulheres e meninos; e começa a subir ao Céu uma voz de muitas vozes, clamando todas: “GLÓRIA A TI JESUS CRISTO, FILHO DE DEUS, a quem nossos pais crucificaram, e que por nós foste em tua Imagem de novo crucificado. GLÓRIA A TI, FILHO DE DEUS, realizador de tantas maravilhas. EM TI CREMOS; A TI VIMOS JÁ BUSCAR; RECEBE-NOS PROPÍCIO”. Isto clamavam com ânimo verdadeiramente contrito e devoto; e, continuando as unções, continuavam as maravilhas.

Sarados, pois, todos, e vivificados com os favores do Céu, correu a multidão dos judeus à casa do Bispo, que já estava a par do caso; e clamaram novamente os sacerdotes e mais povo: “Um só Deus Pai; um só Filho seu Unigênito, JESUS CRISTO, que nossos pais crucificaram: Nós O confessamos por Deus. Eis aqui a sua Sagrada Imagem, que escarnecemos e maltratamos; eis aqui a ferida do costado; e eis aqui o Sangue e a Água, que dela vimos sair, e com o que ele foi servido realizar tantos milagres. Pelo que, pedimos o Sagrado Batismo para ser contados entre os fiéis da sua Igreja”. Alegrou-se o Bispo, vendo os exuberantes frutos da divina graça; ele, com o seu clero, catequizaram e batizaram por muitas semanas a copiosa multidão que vinha, como sequioso servo, buscar as fontes de água viva, para nela regenerar-se. Foi também por petição dos mesmos novos cristãos consagrada em igreja aquela grande sinagoga, e outras que na cidade havia, se dedicaram aos Mártires. E foi grande e geral a alegria que houve, porque nem havia corpo enfermo nem alma, que não buscasse a graça de Deus e louvasse Suas magníficas obras.

Acrescenta Sigiberto, que este Bispo se chamava Adeodato, e que repartiu em várias ampulhetas este Sangue, por todas as igrejas, ordenando que aos nove de Novembro, que foi o dia da dita crucifixão do Senhor, se celebrasse comemoração dele. No mesmo dia a manda fazer o Martirológio Romano, e diz que o tesouro daquele Sangue alcançou a todas as igrejas do Oriente e do Ocidente. O nosso Cardeal Barônio conjectura, de leccionários antigos, onde esta narração estava lançada, que aconteceu no tempo da imperatriz Irene, mãe de Constantino, com quem, por ser de menor de idade, reinava. E diz que, sendo esta narração lida aos Padres do Segundo Concílio Niceno, tão longe esteve de lhe pôr dúvida, algum deles que antes todos, banhados em devotas lágrimas, a ouviam como se ouvissem a Paixão por algum dos Sagrados Evangelistas. Mas avisa que, a relação que anda em Súrio, tem misturadas muitas coisas apócrifas, que é necessário rescindi-las. Fica, pois, por este só único caso convencido irrefragavelmente o erro e heresia dos Iconoclastas, aos que hoje teimam em defender os Sectários.


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1.  Côn. Júlio Antônio dos Santos, Diretor Espiritual do Seminário de Coimbra, “O Crucifixo – meu livro de estudos”, Vol. I, composto e impresso nas oficinas da Gráfica de Coimbra, Coimbra – 1942.

2.  I Cor. 1, 23-25.

3.  Pe. A. Monteiro da Cruz, S.J.

4.  Pe. Manuel Bernardes, Oratoriano de Lisboa, “Nova Floresta”, Tomo IV, Título XV – Culto Divino, pp. 229-235. Nova Edição, Livraria Lello & Irmão – Editores, Porto, 1949.

5.  Baronius, anno Christi, 787 a n. 35, ex Athesio juxa versionem Anastasii.

6.  Luc. 22, 66.


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