Caríssimo,
No anexo abaixo, tomo a liberdade de lhe enviar um artigo
meu sobre o momento atual, que espero lhe possa ser útil. Abraço fraterno.
+ Dom Fernando Arêas Rifan
CONSIDERAÇÕES SOBRE O
MOMENTO ATUAL
“Ficai bem atentos a vossa
maneira de proceder. Procedei não como insensatos, mas como pessoas
esclarecidas... porque estes dias são maus” (Ef 5, 16). “Não vos conformeis com
este mundo” (Rm 12, 2).
PROPAGANDA DA IMORALIDADE – ATAQUES À FAMÍLIA:
Junto com a divulgação da
imoralidade, fantasiada de arte, e a propaganda maciça do homossexualismo,
travestido de respeito à diversidade, reaparece a doutrinação da Ideologia de
Gênero, também com ares de liberdade e de orientação sexual.
Configura-se, visando sua
destruição, um verdadeiro ataque à família, santuário da vida, que vai perdendo
seus direitos na educação dos seus filhos, os quais se tornam alvo fácil dessa
onda destruidora da moral. Os bons ficam acuados. E os meios de comunicação,
através de novelas e entrevistas direcionadas, vão divulgando essa mentalidade
de modo bem orquestrado.
Se a crise social, política e
familiar por que passamos é, sobretudo, moral, essa propaganda em nada a faz
diminuir, mas, pelo contrário, aumenta-a rompendo todas as barreiras éticas que
deveriam pautar o comportamento humano.
Ao repetir o Mandamento divino
“Não pecar contra a castidade”, a Igreja nos ensina a vencer a luxúria e evitar
tudo o que a ela conduz, como a pornografia e a indecência no vestir. A
castidade faz parte da temperança, conduz ao domínio de si, que exige um
esforço constante em todas as idades da vida, especialmente quando se forma a
personalidade, durante a infância e a adolescência (cf. Catecismo da Igreja
Católica – CIC - 2331-2356).
São Paulo já advertia: “Fostes
chamados à liberdade. Porém, não façais da liberdade um pretexto para servirdes
à carne” (Gl 5, 13).
Sobre a propaganda da
imoralidade, recordo as graves palavras do saudoso Cardeal Dom Lucas Moreira
Neves, acusando a Televisão, o que poderíamos aplicar também a certos sites da
Internet, devido à onda de impureza que traz para dentro dos lares: “Acuso-a de
ministrar copiosamente a violência e a pornografia. A primeira é servida em
filmes para todas as idades. A segunda impera, solta, em qualquer gênero
televisivo: telenovelas, entrevistas, programas ditos humorísticos, spots
publicitários e clips de propaganda. A TV brasileira está formando uma geração
de voyeurs, uma geração de debilóides. Acuso-a de ser corruptora de
menores”.
E não é só contra essa
imoralidade que a Igreja levanta a sua voz. Ela também repudia o assassinato de
crianças e adolescentes, a prostituição infantil, a morte de crianças para o
roubo de órgãos, a mortalidade das crianças nos hospitais públicos, a violência
doméstica, o estupro e o feminicídio.
PROFANAÇÃO DOS SÍMBOLOS CRISTÃOS:
Quanto à profanação dos
símbolos cristãos, como o crucifixo, a hóstia, a imagem da Padroeira
do Brasil, fazendo eco às palavras dos Bispos do Regional Nordeste 1 da CNBB,
manifesto a minha indignação e repúdio diante do escárnio público desses nossos
símbolos, crime de vilipêndio, condenados também pelo Código penal (Artigo
208).
E essa indignação e repúdio deve
ser a de todos os católicos e pessoas de bom senso e respeito.
PROPAGANDA DO
HOMOSSEXUALISMO:
Sobre a homossexualidade,
observamos primeiramente que se deve fazer a distinção entre pessoas e atos,
entre a tendência e a prática.
Na linha do pensamento de Santo
Agostinho, que dizia que Deus odeia o pecado, mas ama o pecador, e em
seguimento do Papa Francisco, que pastoralmente nos ensina a aplicar sempre a
misericórdia, as pessoas que apresentam essa inclinação, objetivamente
desordenada, cuja gênese psíquica continua em grande parte por explicar, devem
ser acolhidas com respeito, delicadeza e compaixão, pois, para a maioria, isso
constitui uma provação. Evitar-se-á para com elas todo sinal de discriminação
injusta. Estas pessoas são chamadas a realizar a vontade de Deus em sua vida e,
se forem cristãs, a unir ao sacrifício da cruz do Senhor as dificuldades que
podem encontrar por causa de sua condição. As pessoas homossexuais são chamadas
à castidade. Pelas virtudes de autodomínio, educadoras da liberdade interior,
às vezes pelo apoio de uma amizade desinteressada, pela oração e pela graça
sacramental, podem e devem se aproximar, gradual e resolutamente, da perfeição
cristã (cf. CIC nn. 2357-2358).
A Igreja, e nós com ela,
condenamos e repudiamos, pois, todas as ofensas e, mais ainda, os assassinatos
e espancamentos de LGBTIs por conta da intolerância.
Mas não podemos deixar de dizer
que a prática do homossexualismo é condenável. Apoiando-se na
Sagrada Escritura, que os apresenta como depravações graves (cf. Gn 19,1-29; Rm
1, 24-27; I Cor 6, 9-10; I Tim 1, 10), a tradição sempre declarou que ‘os atos
de homossexualidade são intrinsecamente desordenados’ (Congregação para a
Doutrina da Fé, declaração Persona Humana, 8). São contrários à lei
natural. Fecham o ato sexual ao dom da vida. Não procedem de uma
complementaridade afetiva e sexual verdadeira. Em caso algum podem ser
aprovados (CIC n. 2357).
Por isso, a propaganda do
homossexualismo como sendo algo natural é maléfica e, por isso mesmo,
condenável.
São Paulo, apóstolo, fala “com
lágrimas”, que muitos “se gloriam daquilo de que se deveriam envergonhar” (Fl
3,19). E, referindo-se aos pecados e perversidade dos pagãos, o mesmo apóstolo
nos recorda a moral natural: “Por isso, Deus os abandonou aos desejos dos seus
corações, à imundície, de modo que desonraram entre si os próprios corpos.
Trocaram a verdade de Deus pela mentira, e adoraram e serviram à criatura em
vez do Criador... Por isso, Deus os entregou a paixões vergonhosas: as suas
mulheres mudaram as relações naturais em relações contra a natureza. Do mesmo
modo também os homens, deixando o uso natural da mulher, arderam em desejos uns
para com os outros, cometendo homens com homens a torpeza, e recebendo em seus
corpos a paga devida ao seu desvario” (Rm 1, 24-27).
Aliás, já no Antigo Testamento,
Deus já havia condenado os atos homossexuais: “Se um homem dormir com outro
homem, como se fosse mulher, ambos cometerão uma coisa abominável” (Lv 20, 13).
Por isso, São Paulo, desejoso de
nossa salvação, nos adverte: “Não vos enganeis: nem os impuros, nem os
idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados (em latim, molles),
nem os homossexuais (em latim ‘masculorum concubitores’), nem os
ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os difamadores, nem os
assaltantes hão de possuir o Reino de Deus” (1Cor 6, 9-10).
IDEOLOGIA DE GÊNERO:
A ideologia de gênero quer
eliminar a ideia de que os seres humanos se dividem em dois sexos, afirmando
que as diferenças entre homem e mulher não correspondem a uma natureza fixa,
mas são produtos da cultura de um país, de uma época. Algo convencional, não
natural, atribuído pela sociedade, de modo que cada um pode inventar-se a si
mesmo e o seu sexo.
O feminismo do gênero, que
promove essa ideologia, procede do movimento feminista para a igualdade dos
sexos. A ideologia de gênero, própria das associações LGBT, baseia-se na
análise marxista da história como luta de classes, dos opressores contra os
oprimidos, sendo o primeiro antagonismo aquele que existe entre o homem e a
mulher no casamento monogâmico. Daí que essa ideologia procura desconstruir a
família e o matrimônio como algo natural. Em consequência, promovem a “livre
escolha na reprodução”, eufemismo usado por eles para se referir ao aborto
provocado. Como “estilo de vida”, promovem a homossexualidade, o lesbianismo e
todas as outras formas de sexualidade fora do matrimônio. Entre nós, querem
introduzir essa ideologia, usando o termo “saúde reprodutiva”. E usam a artimanha
de palavras, especialmente “discriminação” e "luta contra o preconceito”. Sob
esse nome sedutor – pois todos somos contra a discriminação injusta e o
preconceito – querem fazer passar a ideologia do gênero, a ditadura do
relativismo moral, estabelecendo uma nova antropologia anticristã, sob o nome
de democracia.
Essa campanha é internacional. Na
Itália, por exemplo, os folhetos distribuídos nas escolas pretendem ensinar a
todos os alunos que “a família pai-mãe-filho é apenas um ‘estereótipo de
publicidade’; que os gêneros masculino e feminino são uma abstração; que a
leitura de romances em que os protagonistas são heterossexuais é uma violência;
que a religiosidade é um valor negativo; chega-se ao ridículo de censurar os
contos de fadas por só apresentarem dois sexos em vez de seis gêneros, além de
se proporem problemas de matemática baseados em situações protagonizadas por
famílias homossexuais”.
O Papa Francisco, alarmado,
fala que estamos diante de uma “colonização ideológica”, de uma maldade ao
ensinar a ideologia de gênero (Filipinas, janeiro de 2015). E nos alerta: “Na
Europa, nos Estados Unidos, na América Latina, na África, em alguns países da
Ásia, existem verdadeiras colonizações ideológicas. E uma delas – digo-a
claramente por ‘nome e sobrenome’ - é a ideologia de gênero (gender)! Hoje às
crianças – às crianças! –, na escola, ensina-se isto: o sexo, cada um pode
escolhê-lo... São as colonizações ideológicas, apoiadas mesmo por países muito
influentes. E isto é terrível” (Encontro com os Bispos poloneses, 27/7/2016).
A Igreja nos ensina: “Deus criou
o ser humano como homem e mulher, com igual dignidade pessoal, e inscreveu nele
a vocação ao amor e à comunhão. Compete a cada um aceitar a sua
identidade sexual, reconhecendo a sua importância para a pessoa toda,
bem como o valor da especificidade e da complementaridade” (Compêndio do C.I.C.
n. 487).
FOGO! SOCORRO! ACUDAM!
É HORA DO PROTESTO DE
TODOS:
É preciso dar um basta! É preciso
que as forças morais de toda a humanidade se levantem e deem o seu brado de
inconformidade com tudo isso. É hora de gritar com São Luiz Maria Grignion de
Montfort: “Fogo! fogo! fogo! Socorro! socorro! Socorro!... Socorro, que
assassinam nosso irmão! Socorro, que degolam nossos filhos!...”.
A Igreja levanta a sua voz de
repúdio a tudo isso: sua doutrina clara já condena esses erros. É preciso que
os católicos sejam lógicos e coerentes com o que a Igreja lhes ensina.
É hora, principalmente de os
leigos agirem. Não fiquem se perguntando: o que a Igreja vai falar ou fazer
sobre isso? Vocês também são a Igreja. A pergunta deve ser: o que nós estamos
fazendo contra tudo isso? Não fiquem esperando pelos pastores. As ovelhas têm o
direito de se defenderem dos lobos que as atacam. Falem, protestem, escrevam,
alertem os filhos, os amigos. Gritem nas redes sociais! Pais de família,
reajam! É preciso que o mundo escute a voz dos bons e saiba que ainda existem
famílias corretas, pessoas de bem e de coragem que não concordam com a
imposição dessas ideologias.
“Unindo suas forças, os
leigos purifiquem as instituições e as condições do mundo, caso estas incitem
ao pecado. Isto de tal modo que todas essas coisas se conformem com as
normas da justiça e, em vez de a elas se oporem, antes favoreçam o exercício
das virtudes. Agindo dessa forma, impregnarão de valor moral a cultura e as
obras humanas” (LG 36).
Dom Prosper Guérranger (L’Année
Liturgique), sobre o episódio em que um leigo, Eusébio, levantou-se em meio
à multidão contra a impiedade de Nestório, salvando assim a fé de Bizâncio,
comenta: “Há no tesouro da Revelação pontos essenciais, cujo conhecimento
necessário e guarda vigilante todo cristão deve possuir, em virtude de seu
título de cristão. O princípio não muda, quer se trate de crença ou
procedimento, de moral ou de dogma. Traições como a de Nestório são raras na
Igreja; não assim o silêncio de certos Pastores que, por uma ou outra causa,
não ousam falar, quando a Religião está engajada. Os verdadeiros fiéis
são homens que extraem de seu Batismo, em tais circunstâncias, a inspiração de
uma linha de conduta; não os pusilânimes que, sob pretexto especioso de
submissão aos poderes estabelecidos, esperam, pra afugentar o inimigo, ou para
se opor a suas empresas, um programa que não é necessário, que não lhes deve
ser dado”.
Campos dos Goytacazes, 26 de
outubro de 2017.
Dom Fernando Arêas Rifan
Bispo
da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney