Desde o momento em que o Anjo do Senhor revelou a José o Mistério da Encarnação do Verbo no seio de Maria, começou para ele uma era nova, uma nova vida, a sua verdadeira missão, que lhe fora confiada por Deus, missão da qual suas núpcias com Maria eram apenas uma preparação, e a própria Maria apenas um elo de união com Cristo Salvador, a quem devia servir de pai.
Esta era justamente a sua missão, confiada por Deus, o objetivo de sua existência: servir de pai a Jesus, verdadeiro Filho de Maria e Filho também de sua virgindade matrimonial. E de tal forma cumpriu essa missão, que seus concidadãos chegaram a julgar fosse ele o verdadeiro pai de Jesus. De fato, com este nome de pai, chamam-no os quatro Evangelistas e a própria Maria em diversas circunstâncias.
Não é, portanto, de admirar, que vejamos São José tomar imediatamente o seu lugar de pai junto ao recém-nascido Menino e de desempenhar amorosamente para com Ele todas as incumbências.
Ao nascer o Salvador, enquanto José e Maria, prostrados em humilde e santa adoração ao redor do presépio, desafogavam o Coração em atos de amor, desceram os Anjos sobre a cabana, cantando: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade”. Espalhando resplendores de vivíssima luz, anunciaram o Nascimento do Menino aos pastores que velavam nas cercanias, guardando o próprio rebanho. A tal acontecimento, os pastores se assustaram, mas foram logo tranquilizados.
Não temais, disse um Anjo; eis que vos anuncio uma grande alegria: hoje, na cidade de Belém, nasceu o Salvador que é Cristo Senhor. Por este sinal O reconhecerei: achareis um menino envolto em pobres panos, reclinado em uma manjedoura.*
* A manjedoura de madeira, o verdadeiro Presépio, onde a Virgem Santíssima depositou Jesus apenas nascido, foi levada para Roma no tempo da invasão muçulmana, em 648. As cinco tábuas que a formavam foram montadas e ligadas entre si; são de madeira delgada e enegrecidas pelo tempo; as maiores mediam 120 cm. de comprimento por 60 cm. de largura. Conservam-se na Basílica de Santa Maria Maior, encerradas em uma magnífica urna de cristal, ligada a uma moldura de prata com ornatos de ouro e pedras preciosas, oferta de Felipe IV, rei da Espanha. Essa preciosa relíquia constitui a glória, não só da Basílica, mas até de Roma. É exposta ao público, todos os anos, na festa do Santo Natal, sobre um altar diante do qual se queima continuamente incenso. Numerosíssimos, acorrem os fiéis para venerá-la e contemplar com os próprios olhos a pobre manjedoura que serviu de berço ao Filho de Deus.
Ao ouvirem o aviso do Nascimento do Divino Salvador, disseram entre si: “Vamos vê-Lo”. Foram, e encontraram na gruta onde Ele nascera, encontrando José, Maria e Menino. Prostraram-se também diante do presépio, adoraram o Sagrado Menino e Lhe apresentaram suas ofertas. Após receberem de José as respostas a todas as suas interrogações, regressaram cheios de alegria. Mas ainda maior, foi de certo a alegria experimentada pelo Coração de José, ao ver o Menino adorado e reconhecido como o verdadeiro Messias.
Os pastores foram os primeiros chamados ao berço do Redentor, e os primeiros apóstolos, pois, tendo referido a todos quantos lhes era possível o que tinham ouvido e visto, muitas outras criaturas acorreram àquela gruta, mais santa que o Templo de Jerusalém, para adorar o Deus-Menino e oferecer a seus pais todo o necessário.
Aproximava-se agora o oitavo dia do Nascimento do Divino Infante e, em tal dia os meninos do povo de Israel deviam, segundo a Lei, ser circuncidados. A Circuncisão de Jesus Menino é narrada incidentalmente no Evangelho de São Lucas, para descrever a imposição do nome JESUS, com as seguinte palavras: “Depois que se completaram os oito dias para ser circuncidado o Menino, foi-Lhe posto o nome de Jesus, como Lhe tinha chamado o Anjo, antes que fosse concebido no seio materno”.
São José e a Santíssima Virgem, não haviam recebido do Céu nenhuma ordem a tal respeito; portanto, não sendo o seu Menino como os outros, mas Filho de Deus e o próprio Autor da Lei, achavam-se na incerteza quanto ao que se havia de fazer.
Mas Jesus, embora não obrigado ao doloroso corte, quis dar exemplo de humildade e de obediência, sujeitar-se à Lei para confirmá-la, dar-lhe a plenitude e tomar sobre Si o castigo de nossas faltas aos Mandamentos de Deus. Por isso, oito dias após o Nascimento, foi circuncidado.
O ministro desta cerimônia não era o sacerdote, mas o pai do recém-nascido, que circuncidava o menino, na própria casa, com uma faca de pedra e lhe impunha o nome.
Por conseguinte, São José empunhou a faca de pedra e operou o talhe da circuncisão no Menino, estreitado entre os braços maternos, na presença das dez testemunhas prescritas. A fórmula ritual era: “Seja bendito o Senhor nosso, que nos santificou com seus Preceitos e nos deu a circuncisão!” A mãe respondia então: “Que nos concebeu introduzir o nosso menino na Aliança de nosso pai Abraão”. E as testemunhas aclamavam: “Viva aquele a quem escolheu por filho”, augúrio que perfeitamente se aplicava a Jesus.
Cerimônia dolorosa para o Menino Jesus, e não menos dolorosa para o terno Coração de José, ao dever ele próprio derramar, daquela Carne imaculada, as primeiras gotas de Sangue em remissão dos pecados dos homens. Mas consolador é o pensamento de que, no regaço de Maria, derrama Jesus as primeiras gotas de seu Sangue, como que chamando-A a tomar parte na grande Obra de Redenção do gênero humano; e, pelas mãos de José, seu pai adotivo, começou Jesus a lavar com seu Sangue os pecados da humanidade.
São José, como aparece na cerimônia da Circuncisão, não é somente o pai que executa a Lei sobre Jesus, mas ainda, o Sacerdote que inicia o Redentor em sua Obra messiânica, o primeiro Sacerdote da Nova Aliança, que pronunciou o venerado Nome de Jesus.
Com que respeito não terá São José chegado o cutelo às delicadas Carnes de Jesus!
Que alegria não terá inundado o seu Coração, ao pronunciar pela primeira vez aquele Nome, mais Sagrado e mais Santo que qualquer outro nome! Que admiração não o terá assaltado, quando, ao som daquele poderoso nome, terá visto dobrarem reverentes o joelho e adorarem-No os Anjos, exultarem de esperança os homens, estremecer de terror o Inferno! Que doçura não lhe terá enchido os lábios, ao proferí-Lo, que melodia para os seus ouvidos, que júbilo para o Coração! Ó Jesus, ó Jesus, terá ele exclamado, como é Santo, adorável, poderoso, suave, consolador o teu Nome!
Com razão o comparou a Esposa dos Cânticos ao óleo esparso que ilumina as mentes, cura as feridas do espírito, abrasa de santo amor os corações!
Davi chamara ao Nome do Senhor de Santo e Terrível; Zacarias predisse que o Messias seria chamado Justo; Jeremias, contemplando de longe o esplendor de verdade que traria a sua vinda, chama-O Oriente; Isaías, considerando as suas conquistas espirituais, chama-O Admirável, Forte, Pai do futuro século, Príncipe da paz. São José, ao contrário, teve a missão de reunir em um só Nome tudo quanto os Profetas haviam predito de belo e de grande a respeito do Messias. Com as mãos ainda salpicadas de Sangue Santíssimo, derramado para apagar os nossos pecados, pode dizer aos homens: Homens, invocai a Jesus, vosso Salvador.
O Nome Santíssimo de Jesus, desde aquele dia unido pelo Céu aos doces Nomes de Maria e de José, tornou-se para todos os crentes fonte de esperança e de consolação. Invocando José, nossa alma se aproxima de Maria: chamando Maria, encontra, em seus braços, Jesus, nosso Advogado e Mediador junto ao Pai celeste.
Escreve o Pe. Ventura: “Tudo é grande, extraordinário, sublime nas três personagens que compõem, na terra, a Sagrada Família do Salvador do mundo! Após a Trindade celeste; Pai, Filho e Espírito Santo, nada existe de mais Misterioso e Augusto, que a trindade terrestre: Jesus Cristo, Maria e José. Jesus Cristo é homem sem deixar de ser Deus; Maria, Mãe sem deixar de ser Virgem; José, esposo, sem deixar de ser puro. Jesus Cristo é Filho sem nunca ter tido pai na terra; Maria, Mãe sem nunca ter tido relação humana; José, pai sem nunca ter tido filhos. Todavia, Jesus Cristo, sem ter tido um homem por pai, é verdadeiro Filho do homem; Maria, sem haver jamais conhecido homem, torna-se fecunda; José, sem geração carnal, tem um Deus por Filho”.
O hábito de invocar, com Jesus, também José e Maria, é muito louvável. Esses três nomes deveriam descerrar nossos lábios pela manhã e cerrá-los de noite, antes do repouso; deveriam ser-nos escudo e defesa nos perigos da vida, conforto na hora da morte.
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Fonte: Rev. Pe. Tarcísio M. Ravina, da Pia Sociedade de São Paulo, São José – na Vida de Jesus Cristo, na Vida da Igreja, no Antigo Testamento, no Ensino dos Papas, na Devoção dos Fiéis e nas Manifestações Milagrosas; 1ª Parte, pp. 58-63. Edições Paulinas, Recife, 1954.