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"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

domingo, 5 de novembro de 2017

As Profundezas do Mistério Pascal


O Mistério do Cordeiro Pascal[1]

Foi lida a Escritura a respeito do êxodo hebreu, foram explicadas as palavras do Mistério: como a ovelha foi imolada e o povo foi salvo.

Compreendei, pois, caríssimos! É assim:
novo e antigo,
eterno e temporal,
corruptível e incorruptível
mortal e imortal,
o Mistério da Páscoa:
antigo segundo a Lei,
novo segundo o Verbo;
temporal na figura,
eterno na graça;
corruptível pela imolação da ovelha,
incorruptível pela vida do Senhor;
mortal pela sepultura, na terra,
imortal pela ressurreição dentre os mortos.
Antiga a Lei, novo o Verbo;
temporal a figura, eterna a dádiva;
corruptível a ovelha, incorruptível o Senhor,
o qual, imolado como Cordeiro, ressurgiu como Deus.
Pois, como a ovelha, foi levado ao matadouro,
mas não era ovelha;
como o cordeiro, não abriu a boca,
mas não era cordeiro.
Passou a figura, persiste a realidade.
Em vez do cordeiro, Deus presente,
em vez da ovelha, um homem,
e neste homem, Cristo, Aquele que sustém todas as coisas.
Assim, o sacrifício da ovelha,
e a solenidade da Páscoa,
e a letra da Lei,
cederam lugar ao Cristo Jesus,
por causa do qual tudo sucedera na Antiga Lei,
e muito mais sucede na nova disposição.
Pois a Lei se converteu em Verbo, o antigo em novo,
ambos saídos de Sião, e de Jerusalém.
O Mandamento se converteu em dádiva,
a figura em realidade,
o cordeiro em Filho,
a ovelha em homem,
o homem em Deus.
Com efeito, Aquele que nascera como Filho,
e fora conduzido como cordeiro,
sacrificado como ovelha,
sepultado como homem,
ressuscitou dentre os mortos como Deus,
sendo por natureza Deus e homem.
Ele é tudo:
enquanto julga, é lei;
enquanto ensina, Verbo;
enquanto gera, pai;
enquanto sepultado, homem;
enquanto ressurge, Deus;
enquanto gerado, Filho;
enquanto padece, ovelha;
Ele, Jesus Cristo, a quem seja dada a glória pelos séculos. Amém.

Tal é o Mistério da Páscoa, como foi descrito na Lei e como o acabamos de ler.


Da Figura para a Realidade

A salvação do Senhor e a realidade
foram prefigurada no povo (judeu),
as prescrições do Evangelho prenunciadas pela Lei.
O povo era como o esboço de um plano,
a Lei como a letra de uma parábola;
mas o Evangelho é a explicação da Lei e seu cumprimento,
e a Igreja o lugar onde isso se realiza.
O que existia como figura era valioso
antes que ocorresse a realidade,
maravilhosa a parábola antes que viesse a explicação.
O povo tinha seu valor antes que se estabelecesse a Igreja,
a Lei era admirável antes que refulgisse o Evangelho.
Mas quando surgiu a Igreja e se apresentou o Evangelho,
esvaziou-se a figura, sua força passou para a realidade,
a Lei se cumpriu, transfundiu-se no Evangelho…
O povo perdeu razão de ser quando veio a Igreja,
a imagem se fez abolida quando apareceu o Senhor.
O que antes era valioso perdeu seu valor,
frente a manifestação do que era realmente valioso por natureza.
Valioso era antes o sacrifício da ovelha,
agora perdeu o valor, por causa da vida do Senhor.
Valiosa era a morte da ovelha,
agora perdeu o valor, por causa da salvação do Senhor.
Valioso era o sangue da ovelha,
mas perdeu o valor, por causa do Espírito do Senhor.
Valioso era o cordeiro que não abria a boca,
mas perdeu o valor, por causa do Filho sem mácula.
Valioso era o templo terreno,
mas perdeu o valor, por causa do Cristo celeste.
Valiosa era a Jerusalém de baixo,
mas perdeu o valor, por causa da Jerusalém do alto.
Valiosa era a pequena herança,
mas perdeu o valor por causa da amplitude do dom.
Porque não foi em parte alguma da terra,
em nenhuma faixa estreita da terra
que se estabeleceu a glória de Deus,
e sim por todos os confins se derramou seu dom,
em toda parte armou sua tenda o Deus Onipotente.
Por Jesus Cristo, a quem seja dada glória pelos séculos. Amém.


A Bondade Divina é Presenteada
com a Ingratidão Humana

Deus, no princípio, tendo criado pelo Verbo o Céu, a terra e tudo o que neles se encerra, modelou do barro o homem e comunicou-lhe Seu sopro. Colocou-o em seguida num jardim voltado para o Oriente, o Éden, para que ali vivesse feliz. E deu-lhe um Mandamento…

Mas o homem, sendo por natureza capaz do bem e do mal, como uma porção de terra capaz de receber sementes boas e más, escutou ao conselheiro hostil e, tomando o fruto da árvore, transgrediu o Mandamento, desobedeceu a Deus.

Por conseguinte, foi deixado neste mundo, como numa prisão de condenados. Após muitos anos e após gerar numerosa prole, voltou à terra, de cuja árvore colhera o fruto, legando a seus filhos esta herança…

não a pureza, mas a luxúria,
não a imortalidade, mas a corrupção,
não a honra, mas a desonra,
não a liberdade, mas a escravidão,
não a realeza, mas a tirania,
não a vida, mas a morte,
não a salvação, mas a perdição.

Nova e terrível tornou-se a ruína dos homens sobre a terra. Eis o que lhes aconteceu: foram tiranizados pelo pecado, e levados a lugares de concupiscência, para viverem assaltados por prazeres insaciáveis, pelo adultério, a fornicação, a impureza, os maus desejos, a cobiça, os homicídios, o derramamento de sangue, a tirania da maldade e da injustiça. Era o pai, o ímpio golpeando a lactante, o irmão ferindo seu irmão, o hospedeiro injuriando o hóspede, o amigo assassinando seu amigo, o homem degolando o semelhante. Todos se transformaram na terra em homicidas, fratricidas, parricidas, infanticidas…

E com isso exultava o Pecado: colaborador da Morte, precedia-a nas almas dos homens e preparava-lhe como alimento os corpos mortos. Imprimia em toda alma sua marca, para fazer morrer os que a traziam.

Toda carne, pois, caiu sob o pecado,
e todo corpo sob a morte.
Toda alma foi arrancada de sua morada de carne
e o que foi tirado da terra se dissolveu na terra,
o que foi dado por Deus se encarcerou no Hades.
Estava destruída a bela harmonia,
desfeito o belo corpo.
O homem dividido sob o poder da morte,
estranha desgraça a aprisioná-lo:
Era arrastado como cativo pelas sombras da morte,
jazia abandonada a Imagem do Pai.
Eis a razão por que se cumpriu o Mistério da Páscoa
no Corpo do Senhor.


A Revelação do Cordeiro de Deus

O Senhor havia ordenado de antemão seus próprios padecimentos nos Patriarcas, nos Profetas e em todo o povo, pondo como seu selo a Lei e os Profetas. Pois o que devia realizar-se de modo inaudito e grandioso estava preparado desde muito, a fim de que ao suceder fosse crido, depois de tão vaticinado (…)

Antigo e novo o Mistério do Senhor:
antigo na figura, novo no dom.
Se vês a figura, verás a realidade ao longo de sua atuação.
Se queres contemplar o Mistério do Senhor verás
Abel, assassinado como Ele,
Isaac, aprisionado como Ele,
José, vendido como Ele,
Moisés, exposto como Ele,
Davi, perseguido como Ele,
os Profetas padecendo como Ele e por causa Dele.

Contempla também o cordeiro degolado na terra egípcia,
que abateu o Egito e salvou a Israel por seu Sangue (…)
Aquele que veio dos Céus à terra por causa do homem que sofria,
e se revestiu do homem nas entranhas de uma Virgem,
aparecendo como homem.
Aquele que assumiu os sofrimentos de quem sofria,
tomando um Corpo capaz de sofrer,
Aquele que anulou os sofrimentos da carne,
destruindo com seu espírito imortal a morte homicida (…)
Aquele que nos tirou da escravidão para a liberdade,
das trevas para a luz,
da morte para a vida,
da tirania para o reino eterno.
Que fez de nós um sacerdócio novo
e um povo escolhido para sempre,
Ele, a Páscoa de nossa salvação…
Ele, que se encarnou numa Virgem,
se deixou suspender na Cruz,
foi sepultado na terra,
ressuscitou dos mortos,
foi arrebatado aos Céus.
Ele, o Cordeiro emudecido,
o Cordeiro imolado,
nascido de Maria, a ovelha bela,
o Cordeiro levado do rebanho ao matadouro,
sacrificado à tarde, sepultado à noite.
Não lhe quebraram os ossos no madeiro,
na terra não sofreu a corrupção,
mas ressurgiu dentre os mortos,
ressuscitou o homem das profundezas do sepulcro.
Ele, entregue à morte. Onde? No meio de Jerusalém.
Por que?
Porque curou os coxos,
purificou os leprosos,
trouxe a luz aos cegos,
despertou os mortos.
Por isto padeceu…

Por que cometeste, ó Israel, tão grande injustiça,
entregando teu Senhor a tais sofrimentos,
Ele, teu amo,
Ele, que te plasmou,
te criou,
te honrou,
te chamou Israel?

Não te mostraste “Israel” pois não viste a Deus,
não reconheceste o Senhor,
não soubeste ser Ele o Primogênito de Deus,
Aquele que foi gerado antes da estrela matutina,
Aquele que fez brotar a luz,
fez brilhar o dia,
separou as trevas,
firmou o primeiro fundamento,
suspendeu a terra,
secou o abismo,
estendeu o Céu,
organizou o mundo,
dispôs no alto os astros,
fez resplandecer as estrelas,
fez os Anjos celestiais,
fixou nas alturas os Tronos,
modelou na terra o homem!
Ele, o que te escolheu e te guiou de Adão a Noé,
de Noé a Abraão,
de Abraão a Isaac, a Jacó e aos Patriarcas;
Aquele que te conduziu ao Egito e te protegeu e sustentou,
que iluminou teu caminho com a coluna de fogo,
te ocultou sob a nuvem,
e dividiu o Mar Vermelho para atravessares suas águas.
Que dispersou teu inimigo,
te deu o maná do alto,
e a água da pedra.
Que te deu a Lei em Horeb,
e te fez herdar a terra,
que te enviou os Profetas e suscitou teus reis (…)
Verdadeiramente é amarga para ti esta figura dos ázimos,
conforme está escrito:
“Comereis pães ázimos com ervas amargas”.
Amargos para ti os cravos que afiaste,
amarga a língua que aguçaste,
amargas as falsas testemunhas que propuseste,
amargas as cordas que preparaste,
amargos os açoites que descarregaste,
amargo para ti foi Judas, a quem pagaste,
amargo Herodes a quem obedeceste,
amargo Caifás, em quem confiaste,
amargo o fel que ofereceste,
o vinagre que cultivaste,
amargos os espinhos que ajuntaste,
amargas as Mãos que ensanguentaste.
Entregaste teu Senhor à morte, no meio de Jerusalém…


O Triunfo do Cordeiro Imolado

Ele, o Senhor, revestido do homem,
padecendo pelo homem que sofria,
atado pelo homem prisioneiro,
julgado em prol do culpado,
sepultado pelo que jazia na terra,
ressurgiu dentre os mortos e clamou em alta voz:
“Quem se levantará em juízo contra Mim?
Venha defrontar-se Comigo!
Eu libertei o condenado,
vivifiquei o morto,
reergui o sepultado.
Quem Me irá contradizer?
Eu, o Cristo, destruí a morte,
triunfei do Inimigo,
esmaguei o Inferno,
amarrei o forte,
arrebatei o homem para as alturas dos Céus.
E, o Cristo!
Vinde, pois, famílias dos homens manchadas por pecados,
recebei o perdão dos pecados!
Pois, Sou vosso perdão,
Eu, a Páscoa da salvação,
o Cordeiro imolado por vós,
a vossa redenção,
a vossa vida,
a vossa ressurreição,
a vossa luz,
a vossa salvação,
o vosso Rei.
Eu vos elevarei à sublimidade dos Céus,
e vos mostrarei o Pai que existe desde os séculos,
vos ressuscitarei por Minha Destra”.

A Ele, o Cristo,
o Alfa e o Ômega,
o começo e o fim,
o inenarrável começo, o incompreensível fim,
o Rei,
a Ele, Jesus,
o Chefe,
o Senhor,
 o que ressurgiu dentre os mortos,
o que está assentado à direita do Pai,
o que conduz ao Pai e é conduzido pelo Pai,
a Ele glória e poder pelos séculos. Amém.





[1]     Melitão de Sardes, “Sources Chrétiennes”, Vol. 123. Cfr. Cirilo Folch Gomes, O.S.B., “Antologia dos Santos Padres – Páginas Seletas dos Antigos Escritores Eclesiásticos”, pp. 80-87; 4ª Edição, Edições Paulinas, São Paulo, 1989.

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