Blog Católico, para os Católicos

BLOG CATÓLICO, PARA OS CATÓLICOS.

"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

domingo, 29 de abril de 2018

LAMPEJOS DE SABEDORIA.



Perigos e Efeitos Funestos do Desânimo

O desânimo é a tentação mais perigosa que o Inimigo da salvação dos homens possa colocar por obra. Nas outras tentações, ele só ataca uma virtude em particular e mostra-se a descoberto; no desânimo, ataca-as todas, e esconde-se.

Nas outras tentações, vê-se facilmente a cilada: na Religião, não raro na própria razão, e numa educação cristã, achamos sentimentos que as condenam: a vista do mal que não podemos disfarçar, a consciência, os princípios da Religião que despertam, servem de apoio para nos sustentarmos. No desânimo não achamos socorro algum; sentimos que a razão não basta para praticar todo o bem que Deus pede; por outro lado, não esperamos achar junto a Deus a proteção de que havemos necessidade para resistirmos às paixões. Achamo-nos, pois, sem coragem, prontos a tudo abandonar; e é até aí que o Demônio quer conduzir a alma desanimada.

Nas outras tentações, vemos claramente que seria mal aderirmos a elas por um sentimento refletido: no desânimo, disfarçado sob mil formas, acreditamos ter razões as mais sólidas para nos deixarmos guiar por esse sentimento, que não consideramos como uma tentação. Entretanto, esse sentimento faz considerar como impossível a prática constante das virtudes, e expõe a alma a se deixar vencer por todas as paixões. É, pois, importante evitar essa cilada.

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Fonte: “Tratado do Desânimo nas Vias da Piedade”, obra Póstuma do Padre J. Michel, S.J., Cap. I, pp. 5-6; Editora Vozes Ltda, Petrópolis/RJ, 1952.

Obs: Recomendo vivamente a leitura de todo o “Tratado”.




As Tentações não são uma Prova de Abandono
da Parte de Deus, se as Vezes são uma Prova
da sua Cólera, é de uma Cólera
Dirigida pela sua Misericórdia.

As tentações perturbam as almas piedosas: arrastam ao precipício as almas dissipadas. Para prevenir o mal que delas pode resultar, é a propósito fazer-vos saber as razões que tendes de não as temer demasiado, os princípios sobre os quais podeis decidir-vos em muitas ocasiões, a maneira de vos comportardes no tempo em que elas vos atacam, e de vos premunirdes contra os efeitos delas; e mostrar-vos as vantagens que delas podeis tirar.

As tentações são ideias, sentimentos, inclinações, pendores que nos induzem a violar a Lei de Deus, para nos satisfazermos. Essas tentações não devem nem perturbar nem desanimar uma alma cristã. O Demônio declara guerra principalmente às almas que detestam o império dele, que combatem as suas próprias paixões, que são discípulas de Jesus Cristo tanto pela pureza dos seus costumes como pelo cunho inefável da sua regeneração; ou àquelas que pensam seriamente em sacudir o jugo sob o qual o Demônio as mantém. Pelas molas que faz funcionar contra elas, o Demônio só procura concitá-las a renunciar ao amor de Jesus Cristo, desprendê-las de Deus, tornando-as cúmplices da desobediência dele. Esta reflexão deve consolar as almas que são tentadas. É a oposição delas ao Inimigo da salvação, é o seu apego à piedade, à vontade de Deus, que lhes atrai essa perseguição doméstica. Um pouco de constância torná-las-á vitoriosas, firmá-las-á na virtude.

Almas naturalmente tímidas, ou aquelas que o Senhor por longo tempo conduziu na calma das paixões e nas doçuras da paz, imaginam que as tentações que elas às vezes experimentam são sinais da cólera de Deus sobre elas; e com isso chegam até a pensar que Deus as abandonou, quando as tentações são fortes e frequentes. Não podem persuadir-se de que Deus possa deitar olhares favoráveis sobre um coração violentamente agitado por sentimentos contrários à virtude. Esta cilada é o último recurso do Inimigo da salvação para derrubar uma alma que ele não pode vencer pelas vãs satisfações do vício. Rouba-lhe essa preciosa confiança que pode sustentá-la contra todos os esforços do Inferno.

Grosseiramente se enganam essas almas. As que são instruídas, as que conhecem melhor os caminhos de Deus, não se surpreendem com essa guerra que têm de sustentar. Pelos oráculos do Espírito Santo aprenderam que a vida do homem é um combate contínuo; que temos de nos defender incessantemente, por dentro contra os nossos gostos, as nossas inclinações, o nosso amor-próprio, esses inimigos domésticos tão capazes de nos seduzir pelas suas artimanhas e pretextos; por fora, contra a sedução dos maus exemplos, contra o respeito humano, contra as potências do Inferno, invejosas da felicidade do homem e conjuradas contra ele desde o começo do mundo; e aprenderam que só pelas vitórias que alcançamos com o socorro da graça é que abrimos caminho para chegarmos ao Céu; que, enfim, consoante o Apóstolo (2 Tim., 2, 5), só haverá coroa para aqueles que houverem fielmente combatido até o fim.

São Paulo não considerou como efeito da cólera e do abandono de Deus as tentações que continuou a experimentar, embora tivesse pedido ser livrado delas. Os Santos, por tanto tempo e tão vivamente atacados pelo Demônio até nos desertos e nos exercícios da mais austera penitência, não tiveram das tentações a mesma ideia que vós. Pelo contrário, consideraram-nas sempre como o objeto dos seus combates e a matéria dos seus méritos. Não ignoravam o que é dito nos Livros Sagrados: “Por isso, que éreis agradável a Deus, necessário se fazia fosseis provado pela tentação” (Tob., 2, 13). É esta a ideia que deveis fazer da tentação; é a única que seja justa nos princípios da Religião; e, destarte, não ficareis nem perturbada nem desanimada com ela.

Contudo, embora as tentações não sejam um sinal do abandono de Deus, porque Deus nunca abandona inteiramente o homem enquanto este estiver na terra; e embora essas tentações sejam, ordinariamente, provações para as almas justas, às vezes são também efeitos da Justiça divina, que pune certas fraquezas a que se deixam levar almas desaplicadas e presunçosas, certas aplicações naturais que dividem o coração. Mas, seja punição ou provação, a submissão em recebê-las, a fidelidade em lhes resistir devem ser as mesmas. Da parte do mais terno dos pais, a justiça é sempre acompanhada de misericórdia. A sua graça está sempre ligada à oração e à confiança. Ele não quer perder-nos, não quer punir-nos senão para nos reconduzir a Ele. Esta circunstância, bem longe de desanimar e de perturbar uma alma, deve, pelo contrário, animá-la ao combate pela vista do perdão que lhe é oferecido, se com coração contrito e humilhado, e com fidelidade inviolável, cumprir a penitência que Deus lhe impõe.

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Fonte: “Tratado das Tentações”, obra póstuma do Padre Michel, S.J., Cap. I, pp. 5-9; Editora Vozes Ltda. Petrópolis/RJ, 1952.

Obs: Recomendo vivamente a leitura de todo o “Tratado”.




O Amor é um Fundamento Seguro

Estamos numa época em que todos têm a preocupação de endireitar o mundo, mas poucos querem começar consigo mesmos, pelo aniquilamento completo e doação a Deus.

É a santidade que endireita o mundo e o salva. Enquanto os Apóstolos não estiveram no ponto da perfeição requerida pelo Espírito Santo, não se mexeram do Cenáculo, nem saíram pelos caminhos da terra para empreender a gigantesca obra da salvação e reforma dos homens.

Quantos apóstolos vemos iludidos através da história e estamos contemplando ainda hoje. Quiseram abrasar o mundo com um carvão apagado. É mais pelo sofrimento, pelo sacrifício, pela penitência e pela oração, que se salvam os homens, do que por muito ativismo exterior.

Para saturar-te de seu Espírito, o bom Deus te servirá bons pratos de sofrimento. Podes esperar mesmo todo gênero de tormentos. Sobretudo o exílio do coração, o isolamento, o abandono, a incapacidade, a incompreensão, as trevas e amarguras sem conta e sem medida.

Tirar-te-á o bom Deus toda alegria sobre a terra. As vezes, nem mesmo as alegrias da Bem-aventurança conseguirão consolar tua pobre alma.

Mas fica sabendo, Pusilóteo, que as almas pequeninas, aparentemente fracas e sem forças, estão na verdade, fundadas na rocha onde se adestram para o combate, ou antes, Deus as tem escondidas e Ele mesmo combate por elas.


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Fonte: Rev. Pe. Ângelo R. Lucena, “Infância Espiritual Segundo o Espírito de Santa Teresa de Lisieux”, Nº 12, pp. 21-22; Edições Paulinas, Caxias do Sul/RS, 1972.

sexta-feira, 13 de abril de 2018

CREIO NA IGREJA CATÓLICA


                                                          Dom Fernando Arêas Rifan*
           
A fé é a convicção das realidades que não se veem (Hb 11, 1), baseada na Palavra de Deus, que nos revela a sua verdade.  Um dia, no Céu, a fé será substituída pela visão. Se vejo, não é preciso mais fé. Quando digo no Credo, nossa profissão de Fé, “Creio na Santa Igreja Católica”, não quero dizer “creio na existência do Papa, dos Bispos, da estrutura da Igreja etc”, porque essas coisas são visíveis, portanto não são objeto da fé. “Creio na Santa Igreja Católica” significa que eu creio na sua origem divina, na sua santidade, na presença contínua do Divino Espírito Santo nela, na garantia que lhe deu o seu Divino Fundador de que as portas do inferno jamais prevaleceriam sobre ela etc. São coisas que não se veem, por isso são objeto da nossa fé.

Depois que Jesus anunciou aos Apóstolos que iria sofrer a sua Paixão e Morte, ele, na Transfiguração, mostrou-se a eles como Deus, para que, na hora da tragédia da cruz, se recordassem da sua divindade, que eles contemplaram no monte Tabor, e não perdessem a fé na hora da tribulação. Assim também agora, quando vemos a Santa Igreja desfigurada na sua paixão, vilipendiada por seus inimigos externos e, pior ainda, internos, desfigurada por eles na sua doutrina, chicoteada na sua liturgia, conspurcada pelo mal comportamento dos seus membros, sentimos também uma grande tentação em nossa fé na divindade da Igreja. Mas não nos deixemos vencer por essas tentações! Essa é a hora de dizermos com mais força ainda: eu creio na Santa Igreja Católica!

Não é porque tal ou tal membro da Igreja, seja ele quem for, ou tal comissão ou grupo, em nome deles próprios e não da Igreja, tomou atitudes ou defendeu posições não condizentes com a sua doutrina, já claramente exposta no seu Magistério, no seu Catecismo, nas suas leis litúrgicas e disciplinares, que devemos ficar escandalizados a ponto de perdermos a nossa fé na Igreja. Não! Pelo contrário, é hora de reagirmos com coragem contra todos esses erros e defendermos a Igreja, distinguindo entre os erros pessoais e a Igreja com suas instituições. Tais pessoas, com suas atitudes equivocadas e erros adotados, não nos representam como católicos.

Oportunamente, vale sempre lembrar o que ensinou o Papa São João Paulo II aos Bispos do Brasil, do Regional Sul l da CNBB, na visita “ad limina” em 21 de Março de 1995: “Os ministros sagrados, bem como os religiosos e religiosas consagrados, devem evitar cuidadosamente qualquer envolvimento pessoal no campo da política ou do poder temporal, como ainda recentemente recordava o “Diretório para o Ministério e a Vida dos Presbíteros”: “O sacerdote, servidor da Igreja que em virtude da sua universalidade e catolicidade não pode ligar-se a nenhuma contingência histórica, estará acima de qualquer fação política. Ele não pode tomar parte ativa em partidos políticos ou na condução de associações sindicais, e isso para poder “permanecer o homem de todos num plano de fraternidade espiritual” (n. 33).

            Dom Prosper Guérranger (L’Année Liturgique), sobre o episódio em que um leigo, Eusébio, se levantou contra a impiedade de Nestório, salvando assim a fé de Bizâncio, comenta: “Há no tesouro da Revelação pontos essenciais, cujo conhecimento necessário e guarda vigilante todo cristão deve possuir, em virtude de seu título de cristão. O princípio não muda, quer se trate de crença ou procedimento, de moral ou de dogma... Os verdadeiros fiéis são homens que extraem de seu Batismo, em tais circunstâncias, a inspiração de uma linha de conduta; não os pusilânimes que, sob pretexto especioso de submissão aos poderes estabelecidos, esperam, para afugentar o inimigo ou para se opor a suas empresas, um programa que não é necessário, que não lhes deve ser dado”.

Estamos no ano do laicato. É hora, portanto, principalmente de os leigos agirem. “Vocês também são a Igreja!” Como diz o Papa Francisco, a Igreja é mãe, mas não é babá. As ovelhas têm o direito de se defenderem dos lobos que as atacam, mas sempre dentro dos limites do respeito e da caridade, especialmente para com os membros da hierarquia.

O bom e verdadeiro católico sabe distinguir entre erros pessoais e a Igreja, a Santa Madre Igreja, nossa mãe. Quando se trata de membros da hierarquia eclesiástica, o nosso dever de resistência e até de crítica não pode suplantar o nosso respeito e consideração pelo cargo que ocupa. Se não, destruímos mais do que construímos. Não se deve atribuir à Igreja e às suas instituições os erros pessoais de seus membros. Jesus escolheu seus Apóstolos. Nem todos eram perfeitos. Só ficaram santos depois da vinda do Espírito Santo. E, mesmo assim, ainda conservaram sua natureza humana frágil. Quem ousaria atacar Jesus por ter escolhido Pedro e, mesmo Judas Iscariotes, ladrão e futuro traidor, e, ainda por cima, lhe confiar a bolsa do colégio apostólico? Seria também insensato atribuir os erros de Judas a todo o colégio apostólico!

Eu creio na Santa Igreja Católica, que vai continuar sendo santa, apesar de nós, pecadores!


*Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney

domingo, 1 de abril de 2018

O TRIUNFO DE SÃO JOSÉ.



Lê-se no Evangelho de São Mateus: “Na ocasião da morte de Jesus, o véu do Templo se rasgou em duas partes de alto a baixo; a terra tremeu, partiram-se as pedras; muitos corpos de santos, adormecidos no sono da morte, ressuscitaram e, saindo das sepulturas depois da Ressurreição de Jesus, entraram na Cidade Santa e apareceram a muitos”.

Santo Tomás de Aquino, comentando essa passagem, diz que os corpos daqueles “Santos”, ressuscitados à morte do Redentor e aparecidos em Jerusalém para conforto dos bons e consternação dos maus, não morreram mais, mas, no dia da Ascensão, subiram com Jesus em alma e corpo ao Paraíso. Entre esses Santos ressuscitados, muitos Doutores, como S. Bernardo, S. Jerônimo, S. Remígio, contam também São José. Jesus, como filho bem-educado e reconhecido, devia honrar o pai também depois da morte; e teria Ele, ressuscitando tantos outros, esquecido o seu pai adotivo São José?

O mesmo Santo Tomás diz ainda: “Quanto mais um objeto se aproxima de seu princípio, tanto mais participa dos efeitos de tal princípio: a água é tanto mais pura, quanto mais próxima da fonte; a luz mais vivida, quanto mais se chega ao sol; o calor mais ardente, quanto mais se aproxima do foco: assim, a Bem-aventurada Virgem, a mais próxima de Jesus Cristo, quanto à humanidade, devia de preferência a todos os outros, alcançar de Jesus Cristo a plenitude da graça. Também São José, muito próximo de Jesus Cristo depois de Maria, devia alcançar uma plenitude maior de graça”.

Escreveu São Francisco de Sales, tão devoto do grande Patriarca, no Tratado sobre as virtudes de São José: “Se acreditamos que, em virtude do Santíssimo Sacramento por nós recebido, nossos corpos ressurgirão no dia do Juízo, como poderemos duvidar de que Jesus tenha feito subir ao Céu com Ele, em alma e corpo, o glorioso São José, que tivera a honra e graça de levá-Lo tantas vezes nos braços e de achegá-Lo ao próprio coração? Tenho por certíssimo que São José está no Paraíso em alma e corpo.

De fato, fala-se em relíquias e objetos que pertenceram a São José (uma parte de seu manto se conserva na Igreja de Santa Anastásia em Roma, seu anel nupcial em Perúgia e seu bastão em um cilindro de ouro na Igreja dos Anjos em Florença), mas relíquias de seu corpo, não existem em lugar algum, porque já estão no Céu em alma e corpo. Parece-me, portanto, que ninguém pode duvidar de tal verdade”.

Também o Pe. Suarez, em seu Tratado da Encarnação, sustenta que o Esposo de Maria se acha no Céu, também, com o corpo ressuscitado e glorioso.

Escreveu o Pe. Isidoro Isolano: “A São José foi concedida uma dupla estola, isto é, aproximou-se de Jesus em Sua Ascensão ao Céu em alma e corpo, e no Céu, acha-se assentado no primeiro lugar, após Jesus e Maria”.

Mas, ainda querendo supor que os corpos ressurgidos à morte de Jesus tenham voltado a morrer, o de São José, sendo ele de grau e condição bem mais sublime em relação a Jesus e Maria, não devia voltar ao sepulcro; especialmente depois que Jesus, como diz Isolano, assistindo ao seu feliz trânsito e ao sepultamento de seu corpo, lhe dera uma bênção particular, a fim de que seu corpo não estivesse sujeito, em absoluto, à putrefação.

São Bernardino de Sena, pregando um dia em Pádua, disse a seu numerosíssimo auditório: “Asseguro-vos, irmãos, que São José está no Céu em alma e corpo, e que goza lá em cima de uma glória imensa”. E, a confirmar tal asserção, todo o auditório viu, naquele momento, brilhar sobre a cabeça do santo pregador uma prodigiosa e luminosa cruz.

E, se a figura de São José em sua vida humilde, retirada e escondida aparece tão bela, se as sombras de sua morte, iluminadas pelas luzes de Jesus e de Maria, com que luz não devia resplandecer no dia de sua ressurreição, acompanhando o Autor da vida, livre então da sepultura, vencedor da morte à qual trazia acorrentada em seu carro de triunfo!

Entre todos os Santos que formavam o cortejo do Triunfador, nenhum possuía, mais que São José, o direito de aproximar-se de sua Sagrada Pessoa. Os Anjos de certo contemplavam com admiração o Santo Patriarca, cujo corpo glorioso resplandecia mais do que o sol.

O douto e piedoso João Cartagena (in Sacr. Arc. M. I. 1. IV, hom. 8 e 9), após uma longa dissertação sobre a santidade de São José e a sublimidade de seu Ministério, assim conclui: “Creio ser mais lógico que temerário, ao dizer que, após a Santíssima Virgem, São José se acha colocado no Céu em primeira ordem; porque, tendo possuído a preeminência da santidade na Igreja Militante, deve possuir a da glória na Igreja Triunfante; tendo sido associado, durante a vida, aos cuidados maternos, às fadigas, às dores de Maria, não seria justo que d’Ela o afastassem na glória”.

De muita importância é ainda o testemunho do Cardeal Lépicer. Diz ele: “Deus, cuja misericórdia é infinita, não se contentou em recompensar a fidelidade de São José concedendo-lhe o privilégio da morte mais invejável que se possa imaginar. Quis que o corpo não permanecesse por longo tempo no sepulcro, mas ressurgisse para a vida imorredoura. Na manhã de Páscoa, ao ressurgirem com Jesus muitas pessoas, ressurgiu também o Pai adotivo de Jesus; ressurgiu não mais para morrer, mas para subir com Jesus glorioso e triunfante ao Céu no dia da Ascensão.

“Devia-se esta graça ao Santo Patriarca, em prêmio da singular fidelidade com que em vida continuamente assistira e protegera Jesus e Maria. Era a justa recompensa do especial cuidado que sempre tivera em conservar o corpo livre de toda mácula de impureza. Antes, se ha Santo no Céu a quem convenha a auréola da Virgindade, é de certo São José. Coroado por Jesus mesmo, deve presidir à Bem-aventurada multidão daqueles que, desprezando os prazeres sensuais, após uma vida angélica seguem o Cordeiro para onde quer que Ele vá”.

Do antigo José se disse que “seus ossos foram visitados e depois da morte profetizaram” (Eccli. XLIX, 18), isto é, foram, como ele predissera, religiosamente transferidos do Egito para a Terra de Canaã. De São José, de quem o antigo José era apenas uma pálida figura, pode crer-se que por virtude de Jesus Cristo foi restituído à vida, para ser transferido ao Céu, no dia da Ascensão, impassível, imortal, sutil e glorioso para reinar com Cristo por toda a eternidade.

Os favores e o gozo com que Deus recompensa na pátria celeste as almas eleitas, são tão grandes que não é possível imaginá-los nem desejá-los quanto merecem. Eis as suas belas e consoladoras promessas: Ao vencedor concederei sentar-se Comigo em Meu trono, como Eu também, Vencedor, sentei-Me com Meu Pai em Seu trono. Aos Meus Santos, darei absoluto poder sobre as nações, como Eu mesmo o recebi de Meu Pai. Preparar-Vos-ei o reino como o Pai o preparou para Mim, a fim de comerdes e beberdes à mesa de Meu reino, e de vos sentardes nos tronos, como juízes das onze tribos de Israel.

E prometeu mais ainda: Prenderá Ele mesmo o Seu vestido à cintura, e, após fazê-los sentar à mesa, Ele, Senhor e Deus, andará a seu redor para servi-los.

Que honra para o homem, sentar-se à mesa de Deus, ser servido por Ele e receber de Sua mão divina e onipotente o celeste alimento da Bem-aventurança! E quem poderá jamais compreender isto?

Quem poderá jamais compreender o amor e a glória concedidos por Deus aos habitantes do Céu? Eis as palavras de São Tomás em seu Opúsculo 63: “Deus onipotente coloca-se à disposição dos Anjos e dos Santos com tanta solicitude, que verdadeiramente se julgaria fosse Ele o servo de cada um deles e reconhecesse em cada um dos Bem-aventurados o seu Deus”.

Feliz daquele que, a exemplo de São José, se torna digno da ressurreição gloriosa! Feliz daquele que sabe provar a suavidade e doçura do Senhor! Feliz daquele que caminha inocentemente em seus caminhos, que passa os dias e as noites a contemplar a beleza de suas santas Leis! É como a árvore plantada à beira das correntes de água, a qual, em seu tempo, não deixará de dar fruto.

Todos ressurgiremos. Nosso corpo, depois da morte, tornar-se-á pó, mas no fim do mundo ressurgirá. O corpo de São José ressuscitou antes do tempo por privilégio do Senhor; nós ressurgiremos no fim do mundo por efeito da Onipotência de Deus.

A Santa Igreja, no dia da Festa de São José, canta a sua morte como o mais belo de todos os triunfos, e festeja a sua feliz entrada no Céu com o belíssimo hino:

Ó José que celebramos
Com acentos de alegria.
E que sobre os Céus alçamos
Pelas glórias que irradia,
Hoje alcança a honra eterna
Onde a vida é sempiterna.


Oh! Feliz e plenamente,
Plenamente venturoso,
Quem ao lado tem presente,
Ao chegar o seu repouso,
A afeição zelosa e pia
De Jesus e de Maria!

Já vencido o negro Inferno,
Já da carne o véu desfeito,
De seu sono o Deus eterno
O recebe contra o peito,
E na fronte lhe encastoa
Formosíssima coroa.

Ah! Roguemos que da glória,
Onde está no Paraíso,
O perdão por nós implore,
E no seu feliz sorriso
A celeste paz dispense
Que os sentidos sempre vence.

Ó Deus Trino e poderoso,
Que Te honrem sem medida!
Pois ao servo piedoso
Dás a graça merecida,
Ao fazê-lo sempre grande,
Nas auréolas que expande.
Amém.





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Fonte: Rev. Pe. Tarcísio M. Ravina, “São José – Na Vida de Jesus Cristo, Na Vida da Igreja, No Antigo Testamento, No Ensino dos Papas, Na Devoção dos Fiéis, Nas Manifestações Milagrosas”, 1ª Parte, Cap. “São José assunto ao Céu”, pp. 103-108; Edições Paulinas, Recife/PE, 1954.

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