(Preparação
para a Santa Comunhão)
Deixai-me
já, criaturas todas, que a nenhuma de vós busco nesta hora. Outra é
a origem dos meus cuidados, e mais alto o motivo dos meus desvelos.
Ao meu Deus busco; e, até O não lograr, não terá sossego o meu
coração.
Oh!
Onde estais, meu amoroso Deus? Onde Vos escondeis, desejado centro da
minha alma?
Assim
como o cervo deseja com ardor a fonte, assim a minha alma Vos deseja.
Quando
será, ó meu Deus, que vireis ao meu coração, e me tirareis fora
de mim num santo transporte que me faça esquecer todos os meus
males, para não me lembrar senão de Vós, e para me unir só a Vós,
como o meu único Bem!
Que
tenho eu, Senhor, fora de Vós, ou seja, no Céu ou na terra? Ou, que
posso desejar mais que a Vós, que Sois
a minha ditosa herança?
Ó
Deus meu, quanto me enternecem as Vossas memórias, quando Vos
considero Sacramentado, por amor dos homens!
Ó
Sabedoria infinita, que todas as coisas dispondes com suavidade,
vinde a ensinar-me o caminho da vida eterna.
Ó
Divino Esposo, se Sois todo para ser desejado, que assim Vos chamou a
Vossa Esposa, como não Vos desejará muito a minha alma?
Ó
Alegria dos que verdadeiramente Vos amam, para que me deixais estar
tão triste e solitário sem a Vossa presença? Para que me
prolongais tanto esta vinda? Se a esperança que se difere aflige a
alma, para que me causais tanta aflição com tão dilatada demora?
Ó
Fogo incriado, quando me abrasareis nos incêndios do Vosso amor?
Quando consumireis em mim o que tenho de mim mesmo? Quando me unireis
e transformareis em Vós perfeitamente?
Ó
Jesus dulcíssimo, Jesus amabilíssimo, bem vedes a minha pobreza e
desnudez de todas as virtudes: revesti-me de Vós mesmo, que Sois a
virtude do Altíssimo.
Ó
Luz de meu coração, ó Doce refrigério, não Vos demoreis mais;
vinde a toda pressa, e enchei piedoso com a Vossa presença os seios
da minha alma, que ansiosa suspira, e sem cessar Vos chama para Vos
gozar.
Eia,
Senhor, não Vos detenhais; vinde ao meu coração, que qualquer
instante de demora são séculos para o meu desejo.
Oh!
Quando Vos lograrei, Deus meu; e quando chegará aquele feliz ponto,
em que, vendo-Vos meus olhos, Vos toque a minha língua, e Vos
entesoure no meu peito!
Mas
basta, alma minha, basta; respira nessas vivas ânsias; suspende
estas sentidas saudades; que, se desejas o Esposo dado para ti,
brevemente O terás dentro da tua morada.
Vinde
já, Amor da minha vida, que a minha alma Vos espera, e com
inexplicável
prazer Vos deseja receber. Fazei nela morada, para que, purificada de
culpas, abrasada em chamas do Vosso amor, Vos sirva na vida, e Vos
louve na Glória. Assim seja.
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Fonte:
“Pequeno Livro da Missa e da Confissão e outras Devoções”,
Edição feita sobre a do Prior d’Abrantes, pp. 112-116; LaPlace,
Sanchez e Cª Editores, Paris, 1885.