São Pedro de Alcântara foi o primeiro cooperador da ilustre Madre na Reforma do Carmelo. Tendo, certa vez, a Religiosa consultado o Santo sobre se as casas da reforma deveriam ter rendas, ele declarou que, o Carmelo fosse fundado sem rendimento, segundo as regras da pobreza completa. A Santa carmelita encontrou, porém, tenaz oposição para realizar tal coisa. Inquieta com essas contradições, dirigiu-se novamente a São Pedro, que lhe escreveu em resposta esta carta magnífica:
“Reverenda Madre, que encha o Espírito Santo a vossa alma.
Recebi a carta que me mandastes por intermédio de Dom González de Aranda. Estou mesmo admirado com a vossa atitude, chamando doutos para resolver uma questão que não é de sua competência. As controvérsias e os casos de consciência podem ser da alçada dos canonistas e dos teólogos; mas, as questões com relação à vida perfeita não são tratadas senão por aqueles que professam este gênero de vida.
Para tratar-se de uma matéria é preciso conhecê-la. Não cabe a um sábio decidir se eu, ou se vós, devemos observar, ou não, os Conselhos Evangélicos. Questionar sobre este assunto seria já um princípio de infidelidade. O conselho de Nosso Senhor é sempre bom, e só parece irrealizável à incredulidade ou à prudência humana.
Quem deu o conselho dará também os meios. Os homens, se dão um conselho, querem ser atendidos.
A Suma Sabedoria teria dado aos seus Discípulos conselhos irrealizáveis?
Se estiverdes resolvida a seguir a via mais perfeita, nada vo-lo impedirá. O conselho de Jesus Cristo é para as mulheres como para os homens, e dará bom resultado em vós como em todos aqueles que vos precederam.
Os abusos nos Mosteiros que renunciaram às rendas dependem do seguinte: a pobreza aí é suportada, em vez de ser desejada por amor de Jesus Crucificado. Nisto, como em tudo, creio firmemente e constantemente na palavra do Mestre; considero os Conselhos Evangélicos excelentes, porque são divinos, e, embora reconheça que não obrigam sob pena de pecado, acho mais perfeito e mais agradável a Deus observá-los.
Apoiado na palavra do Salvador, considero felizes os pobres de espírito e os pobres voluntários. Poderia alegar nesta matéria a minha experiência pessoal, se não tivesse mais fé na palavra de Deus que na minha vã experiência.
Que o Senhor vos ilumine, vos faça compreender esta verdade e vos dê a coragem de segui-la. Os que não praticam os Conselhos Evangélicos se salvam, é certo, com a observância dos Mandamentos, mas em geral não têm bastante entendimento e julgam mal das coisas elevadas. Será, portanto, sabedoria preferir aos conselhos deles os de Nosso Senhor, que com o conselho dá o meio de pô-lo em prática e recompensa eternamente aquele que, renunciando às coisas terrenas, pôs Nele toda a sua esperança”.
Esta carta produziu profunda impressão no espírito da Santa Reformadora, que seguiu os sábios conselhos do seu venerável cooperador, e nada foi capaz de demovê-la.
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Fonte: Pe. Leone, ex-provincial franciscano [4º volume, 1900], “Auréola Seráfica”. Cfr. São Pedro de Alcântara, “Tratado da Oração e Meditação”, Notícias Biográficas, de Edite Machado, pp. 32-35. Editora Vozes Ltda., Petrópolis/RJ, 1951.