Blog Católico, para os Católicos

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"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

A EUCARISTIA – BOSSUET. 6

 

6ª Meditação


A Instituição da Eucaristia.

Explicação dos Textos Evangélicos.

Crer com Simplicidade.


Enquanto eles ceavam, como comecem ainda (segundo o grego), Jesus tomou o pão, benzeu-o e, depois de dar graças, partiu-o, e deu-o aos Discípulos, dizendo-lhes: Tomai e comei; isto é O meu Corpo, dado por vós: fazei isto em memória de mim. E, tomando o cálice, depois da ceia, deu graças, e deu-o aos Discípulos, dizendo-lhes: Bebei dele todos; é meu Sangue, o Sangue da Nova Aliança, que é derramado por muitos em remissão dos seus pecados; todas as vezes que O beberdes, fazei-o em memória de mim”.1 Eis tudo o que diz respeito à Instituição. Apenas, em vez de São Lucas fazer o Salvador dizer: Isto é meu Corpo dado por vós, São Paulo fá-lO dizer: Isto é meu Corpo rompido por vós, sempre no mesmo sentido; ele é entregue à morte, é machucado de golpes, furado de chagas, violentamente suspenso a uma Cruz, neste sentido partido e dilacerado. Eis aí o Corpo que Judas nos dá, o mesmo Corpo que ia em breve sofrer essas coisas, que agora as sofreu. Uma palavra mais sobre o texto. Ao passo que a Vulgata traduz: o Sangue que será derramado por vós, o original traz: que é derramado, que se derrama; em tempo presente, em São Mateus e em São Marcos; e sobre o Corpo, o mesmo original traz em São Paulo: o Corpo que é partido, que se parte, igualmente em tempo presente. E, efetivamente, em São Lucas, a versão traz, tal como o original: que é dado, que se dá: quod datur, e não um futuro, será dado; no mesmo sentido que Jesus dizia: A Páscoa será dentro de dois dias, e o Filho do homem será entregue, é entregue segundo o grego: vai sê-lo; a obra está iniciada, já está reunido o conselho para achar o meio de prendê-lO e de fazê-lO morrer. “E o Filho do homem vai ser entregue, como foi escrito dele, mas ai daquele por quem o Filho do homem for entregue! É entregue”, segundo o grego. Ele fala sempre em tempo presente, porque a sua perda estava resolvida, tramada para o dia seguinte, e porque iam, dentro de duas horas, começar a proceder à execução; e a fim também de que em qualquer tempo que recebêssemos seu Corpo e seu Sangue, considerássemos a sua Morte como presente.

Cristão, eis-te instruído; viste todas as palavras que concernem ao estabelecimento desse Mistério. Que simplicidade! Que nitidez nessas palavras! Ele não deixa nada a adivinhar, a glosar; e se alguma glosa se faz necessária a isso, é somente notando que, segundo a força do original, cumpriria traduzir: Isto é meu Corpo, meu próprio Corpo, o mesmo Corpo que é dado por vós. Isto é meu Sangue, meu próprio Sangue, o Sangue da Nova Aliança, o Sangue derramado por vós em remissão dos vossos pecados. Porque é também por esta razão que o siríaco, tão antigo quanto o grego, e feito no tempo dos Apóstolos, diz: Isto é meu próprio Corpo; e que a liturgia dos Gregos traduz que o que nos dão, o que fazem desse pão e desse vinho, é o próprio Corpo de Jesus, seu próprio Sangue. Eis a glosa, se preciso.

Que simplicidade, repito! Que nitidez! Que força nessas palavras! Se Ele tivesse querido dar um sinal uma semelhança pura, bem saberia dizê-lo: Ele bem sabia que Deus disse ao Instituir a Circuncisão: Circuncidareis vossa carne: será o sinal da Aliança entre vós e Mim”.2 Quando propôs símiles, bem soube tornear a sua linguagem de maneira a se fazer entender, de sorte que ninguém jamais duvidasse: “Eu sou a porta: aquele que entra por mim será salvo. Eu sou a vinha, e vós sois os galhos: e como o galho não dá fruto senão pegado à cepa, assim também não podeis dar frutos se não permanecerdes em mim”.3 Quando Ele faz comparações, símiles, os evangelistas bem souberam dizer: Jesus diz esta parábola; fez esta comparação.

Aqui, sem nada preparar, sem temperar nada, sem nada explicar, nem antes, nem depois, dizem-nos pura e simplesmente: Jesus diz: Isto é meu Corpo; isto é meu Sangue, meu Corpo dado, meu Sangue derramado: eis o que eu Vos dou. E vós, que fareis recebendo-O? Lembrai-vos eternamente do presente que Eu vos faço esta noite: lembrai-vos de que fui Eu que vo-lo deixei, e que fiz este testamento; que vos deixei esta Páscoa, e que a comi convosco antes de padecer. Se Eu vos dou o meu Corpo como devendo ser, como tendo sido entregue por vós, e meu Sangue como derramado por vossos pecados; numa palavra, se vo-lo dou como uma vítima, comei-O como uma vítima; e lembrai-vos de que é esse um penhor de que ela foi imolada por vós.

Ó meu Salvador, pela terceira vez, que nitidez! Que precisão! Que força! Mas ao mesmo tempo, que autoridade e que poder nas vossas palavras! Mulher, estás curada4: e ela é curada imediatamente. Isto é meu Corpo; e é seu Corpo. Isto é meu Sangue; e é seu Sangue. Quem é que pode falar deste modo, senão Aquele que tem tudo em mãos? Quem é que pode fazer-se crer, senão Aquele para quem fazer e falar, é a mesma coisa?

Minha alma, para aqui, sem discorrer: crê tão simplesmente, tão fortemente quanto teu Salvador falou, com tanta submissão quanta autoridade e poder Ele faz aparecer.

Uma vez mais, Ele quer, na tua fé, a mesma simplicidade que pôs nessas palavras. Isto é meu Corpo; é, portanto, o seu Corpo. Isto é meu Sangue; é, portanto, seu Sangue. No antigo modo de comungar, o Sacerdote dizia: O Corpo de Jesus Cristo, e o fiel respondia: Amém: Assim é. Tudo era feito, tudo era dito, tudo era explicado por essas três palavras. Calo-me, creio, adoro: tudo está feito, tudo está dito.


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Fonte: Jacques-Bénigne Bossuet, Bispo de Meaux, Meditações sobre o Evangelho” – Opúsculo Eucaristia”, Cap. VI, pp. 35-39. Coleção Boa Imprensa, Livraria Boa Imprensa, Rio de Janeiro/RJ, 1942.

1.  Evangelho, passim; São Paulo.

2.  Gên., 17, 10-11.

3.  Jo., 10, 9.

4.  Luc., 13, 12


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