São
José predestinado a cooperador de nossa salvação.
Deus
é infinitamente sábio e poderoso, e não é sem razão profunda que
escolhe, para seus fins santíssimos, um meio de preferência a
outro. Não nos cabe julgar a sua obra, mas antes, indagar quais os
motivos que O induziram a tomar um caminho em vez de outro.
Poderemos
agora perguntar: Por que Deus quis que o seu Divino Filho, Nosso
Redentor e Salvador, nascesse de uma Virgem, desposada com São José?
Antes de tudo, porque também ele devia concorrer, de certo modo,
para a obra de nossa Redenção.
Estava
decretado por Deus, que tal obra fosse realizada com o sacrifício
voluntário do Divino Filho. Este devia tomar carne humana e, após
uma vida cheia de padecimentos, morrer em uma Cruz como Vítima
voluntária. Necessário se tornava pois, que a Vítima do sacrifício
fosse gerada, nutrida, guardada e conservada para o solene
sacrifício. Quem será o escolhido para esse nobilíssimo ofício? O
escolhido será São José, que terá a ventura de estreitar ao
coração e beijar o celeste Menino, fruto da Virgem sua Esposa.
Vesti-Lo-á, providenciará o alimento necessário, guarda-Lo-á,
cooperando de tal forma para a nossa salvação.
É
doutrina de São Tomás que, ao escolher e destinar alguém para uma
grande obra, Deus o prepara e dispõe de modo a ser apto para a obra
a que se destina. São José tinha de entrar nessa economia da
Providência. Escolhido para Esposo da Mãe de Deus, para Pai
virginal e legal de Jesus, devia ser enriquecido com tais graças, a
fim de tornar-se digno de sua missão.
Disse
o Papa Leão XIII na Encíclica Quamquam pluries: De ser
José Esposo de Maria e Pai putativo de Jesus, deriva toda a sua
grandeza, graça, santidade e glória. É certo que a dignidade de
Mãe de Deus, tão alto se eleva que nada pode existir de mais
sublime. Mas, pois que, entre a Beatíssima Virgem e José
estreitou-se o vínculo conjugal, não há de duvidar, de que
ele se tenha aproximado, mais que qualquer outro, da altíssima
dignidade pela qual a Mãe de Deus se acha infinitamente elevada
acima de todas as criaturas.
São
José destinado a ocultar, com a sua presença, a Concepção
sobrenatural e o milagroso Nascimento de Jesus. – O Salvador devia
ser isento de toda espécie de culpa, devia ser concebido no seio
puríssimo de Maria por obra do Espírito Santo. Esse Mistério de
amor não devia então ser manifestado aos hebreus, seja para salvar
a honra da Virgem Mãe, seja porque eles, não compreendendo o
Mistério, teriam duvidado da existência da humanidade de Cristo. A
presença de José devia servir para ocultar, aos olhos dos
incrédulos, o parto virginal da Mãe de Deus. Por isso, quis Deus
que Maria, com um Matrimônio totalmente celeste, fosse Esposa do
mais humilde, do mais ilibado, do mais santo dos homens. Assim,
predestinou expressamente um Esposo Virgem a Maria, que fosse ao
mesmo tempo o Pai Virginal e Legal de Jesus. Tal Mistério seria
revelado aos fiéis somente quando preparados pela graça para
compreendê-lo.
Outro
admirável dom que São José recebeu de Deus, é o de ser
predestinado para companheiro de Maria e testemunha de sua
Virgindade. – Maria é, depois de Jesus, o primeiro objeto da
complacência divina. Diz o Padre Suarez: Deus ama a
Bem-aventurada Virgem, por Ela só, mais que a todos os outros
Santos. Pelo amor que Lhe dedicava, escolheu-A entre todas as
mulheres e A elevou à altíssima dignidade de Mãe do Verbo e de
Corredentora dos homens. Mas, pelo próprio amor que Deus tinha por
Maria, devia providenciar ao seu bem e honra. E para isso, serviu-se
de São José, constituindo-se seu Esposo, a fim de Lhe ser
companheiro inseparável, amparo, conforto, defensor, testemunha
verdadeira, fiel custódio e confirmador da Divina Maternidade e
perfeita Virgindade de Maria.
São
José ultrapassou em santidade os Patriarcas e os Profetas, os
Santos, os Apóstolos e todos os Anjos do Céu. – Sendo São José
elevado a mais alta dignidade existente após a da Mãe de Deus, era
justo que Deus O predestinasse também a possuir na terra, tal
abundância de graças que superasse a qualquer outro Santo,
excetuando-se Maria, e a ocupar o primeiro lugar na glória do Céu,
após o de sua Santíssima Esposa.
São
José predestinado acima dos Patriarcas e Profetas. – Tendo São
José ultrapassado em santidade o antigo José, o mais santo dos
Patriarcas, é, por conseguinte, o maior de todos os Profetas, maior
que os Patriarcas e superior também a São João Batista.
Foi
maior que o antigo José, por ser este apenas uma figura profética,
e a figura é sempre inferior ao objeto figurado. Foi superior a
todos os Profetas, pois nenhum teve uma vida tão íntima com Deus,
como ele com o Verbo encarnado.
Desta
divina predestinação, logo se compreende a excelsa dignidade de São
José. Com efeito, na vida sobrenatural, podem considerar-se três
ordens: a ordem dos Anjos, a dos Santos e a ordem da Encarnação. A
ordem da Encarnação é superior às duas primeiras, pois tem por
Autor, princípio e fim Jesus. E de Jesus, como Príncipe soberano,
depende toda hierarquia, todo principado no Céu e na terra. E São
José, por divina predestinação, acha-se justamente nesta ordem
soberana. Ordem constituída somente por três pessoas: Jesus, José
e Maria. Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem; José, verdadeiro
Esposo de Maria e pai virginal e legal de Jesus; Maria, verdadeira
Mãe de Deus e dos homens. Ora, quando se pensa que o último grau de
uma ordem superior é sempre maior, em dignidade, que o primeiro grau
de uma ordem inferior, compreende-se imediatamente que São José,
embora o último em sua ordem, é todavia, superior em dignidade, a
todos os Anjos e a todos os Santos do Paraíso.
São
José predestinado acima de todos os Santos e acima dos Apóstolos. –
O Novo Testamento é a Lei da graça por excelência. Aos primeiros
promulgadores desta Lei, Deus concedeu graças especiais, em maior
abundância que aos outros homens. Por isso, acredita-se na Igreja,
que os Apóstolos tenham recebido graças mais abundantes que todos
os outros. Com exceção, porém, de Maria e de seu castíssimo
Esposo, o qual, tendo na obra da Redenção um encargo superior ao
dos Apóstolos, devia certamente receber de Deus maiores graças, e
um lugar mais distinto na glória. Era pois conveniente, que o
glorioso Santo superasse tanto os outros predestinados, quanto sua
dignidade de Pai de Jesus, de Esposo de Maria, de Padroeiro da Igreja
universal, o constituía acima de todos os Santos e dos Apóstolos.
São
José, predestinado acima dos Anjos do Céu. – No Céu não estão
apenas os que entram após a prova desta vida, mas também a imensa
multidão de Anjos, que se conservaram fiéis na grande prova. Os
Anjos que não perseveraram no amor de Deus mas, unindo-se a Lúcifer,
príncipe dos Anjos rebeldes, envaideceram-se de si mesmos, pereceram
miseravelmente, deixando os lugares de glória dos quais se haviam
tornado indignos.
E
qual o afortunado a quem caberá o lugar vazio de Lúcifer, recebendo
assim no Céu, o primado sobre todos os Anjos? Será São José. Ele,
realmente, com seu admirável exemplo, convidou o mundo para seguir a
Cristo com maior êxito que Lúcifer, excitando seus sequazes à
rebelião.
O
Papa Pio XI, de s. m., no Decreto de virtudes heroicas de um
Venerável, no dia do Patrocínio de São José, disse: Entre São
José e Deus, não vemos e não devemos ver senão Maria, por sua
divina Maternidade. Portanto, São José, depois de Maria, é
superior a todas as naturezas criadas, sem excluir os Anjos. Em 1928,
a 19 de março, disse também estas palavras: São José teve a
missão de guardar o Filho de Deus, o Rei do mundo, a missão de
guardar a Virgem, a santidade de Maria, a missão de cooperar na
Encarnação divina e na salvação do gênero humano.
E,
na tarde do mesmo dia, recebendo os paroquianos da Igreja de Todos os
Santos, disse-lhes: São José, depois de Maria, é o maior de
todos os Santos.
Ó
insigne santidade do Pai adotivo de Jesus! Não podemos deixar de
admirar os altíssimos decretos da divina Providência, dispondo que
os Mistérios sejam ocultos aos soberbos e revelados aos humildes e
simples.
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Fonte:
Rev. Pe. Tarcísio M. Ravina, da Pia Sociedade de São Paulo, São
José – na Vida de Jesus Cristo, na Vida da Igreja, no Antigo
Testamento, no Ensino dos Papas, na Devoção dos Fiéis e nas
Manifestações Milagrosas;
3ª Parte, pp. 139-144. Edições Paulinas, Recife, 1954.