Oh! como é belo, meus filhos! O pai é nosso Criador, o Filho é nosso Redentor, e o Espírito Santo é nosso Condutor.
O Homem nada é por si mesmo, mas é muito com o Espírito Santo. O homem é todo terreno e todo animal; só o Espírito Santo é que lhe pode elevar a alma e levá-lo para o alto. Por que é que os Santos eram tão desapegados da terra? Porque se deixavam conduzir pelo Espírito Santo. Os que são conduzidos pelo Espírito Santo têm ideias justas. Aí está porque há tantos ignorantes mais sabidos que os eruditos. Quando alguém é conduzido por um Deus de força e de luz, não se pode enganar.
O Espírito Santo é uma luz e uma força. É Ele que nos faz distinguir o verdadeiro do falso e o bem do mal. Como essas lunetas que aumentam os objetos, o Espírito Santo faz-nos ver o bem e o mal em ponto grande. Com o Espírito Santo, vê-se tudo em ponto grande; vê-se a grandeza das menores ações feitas por Deus, e a grandeza das menores faltas. Assim como um relojoeiro com as suas lunetas distingue as mais pequenas engrenagens de um relógio, com as luzes do Espírito Santo nós distinguimos todas as minúcias da nossa pobre vida. Então as menores imperfeições parecem grandíssimas; os menores pecados causam horror.
Foi por isso que a Santíssima Virgem nunca pecou. O Espírito Santo fazia-lhe compreender a fealdade do mal. Ela tremia de susto à menor falta.
Os que têm o Espírito Santo não podem sentir-se tão bem, conhecem a sua pobre miséria. Os orgulhosos são os que não possuem o Espírito Santo.
As pessoas do mundo não têm o Espírito Santo, ou, se o têm, só o têm de passagem; Ele não se detém nelas. O barulho do mundo fá-lo partir.
Um cristão que é guiado pelo Espírito Santo, não tem dificuldade em deixar os bens deste mundo para correr atrás dos bens do Céu. Sabe fazer a diferença.
O olhar do mundo não vê mais longe que essa parede, quando a porta da igreja está fechada. O olhar do cristão vê até ao fundo da eternidade.
Para o homem que se deixar guiar pelo Espírito Santo, parece que não há mundo; para o mundo, parece que não há Deus… Trata-se pois de saber que é que nos guia. Se não é o Espírito Santo, por mais que façamos, não há substância nem sabor em nada do que fazemos. Se é o Espírito Santo, há uma doçura macia… é de se morrer de prazer…
Os que se deixam guiar pelo Espírito Santo sentem toda sorte de felicidade dentro de si mesmos; ao passo que os maus cristãos rolam-se sobre espinhos e pedregulhos.
Uma alma que tem o Espírito Santo nunca se aborrece na presença de Deus: sai-lhe do coração uma transpiração de amor.
Sem o Espírito Santo, nós somos como uma pedra do caminho… Tomai numa mão uma esponja embebida d’água e noutra um pequeno seixo: apertai-os igualmente. Não sairá nada do seixo, e da esponja fareis sair água em abundância. A esponja é a alma cheia do Espírito, e o seixo é o coração frio e duro em que o Espírito Santo não habita.
Uma alma que possui o Espírito Santo saboreia um gosto na oração que faz que ela ache sempre o tempo demasiado curto; ela nunca perde a santa presença de Deus. O seu coração, diante do nosso bom Salvador, no Santíssimo Sacramento do altar, é como uma uva no lagar.
É o Espírito Santo que forma os pensamentos no coração dos justos e lhes gera as palavras na boca… Os que têm o Espírito Santo não produzem nada de mau; todos os frutos do Espírito Santo são bons.
Sem o Espírito Santo tudo é frio; por isso, quando a gente sente que o fervor se vai perdendo, deve depressa fazer uma novena ao Espírito Santo para pedir a fé e o amor… Vede! Quando se faz um retiro ou um jubileu, fica-se cheio de bons desejos; esses bons desejos são o sopro do Espírito Santo que passou sobre a nossa alma e tudo renovou, qual esse vento quente que derrete o gelo e traz de novo a primavera… Vós que não sois entretanto grandes santos, tendes muitos momentos em que saboreais as doçuras da oração e da presença de Deus; são visitas do Espírito Santo. Quando temos o Espírito Santo, o coração se dilata, banha-se do amor divino. O peixe nunca se queixa de ter água demais; assim também o bom cristão nunca se queixa de estar por demasiado tempo com Deus. Há quem ache a religião fastidiosa, é que esses não têm o Espírito Santo.
Se se dissesse aos condenados: “Por que é que estais no Inferno?” Eles responderiam: “Por termos resistido ao Espírito Santo”. E se disséssemos aos Santos: “Por que é que estais no Céu?” Eles responderiam: “Por termos escutado o Espírito Santo…” Quando nos vêm bons pensamentos, é o Espírito Santo que nos visita.
O Espírito Santo é uma força. Era o Espírito Santo que sustentava São Simeão sobre a coluna; era Ele que sustentava os Mártires. Se não fosse o Espírito Santo, os Mártires teriam caído como a folha das árvores. Quando acendiam contra eles as fogueiras, o Espírito Santo extinguia o calor do fogo pelo calor do amor divino.
Deus, enviando-nos o Espírito Santo, fez a nosso respeito como um grande rei que encarregasse o seu ministro de conduzir um súdito seu, dizendo: “Acompanhareis este homem por toda parte, e mo reconduzireis são e salvo”. Como é belo, meus filhos, ser acompanhado pelo Espírito Santo. É um bom guia esse… E dizer que há quem não O queira seguir!…
O Espírito Santo é como um homem que tivesse um carro com um bom cavalo, e que nos quisesse levar à capital. Teríamos só que dizer sim e pular dentro… É realmente um belo negócio dizer sim!… Pois bem! O Espírito Santo quer levar-nos para o Céu; temos só que dizer sim e deixarmo-nos conduzir.
O Espírito Santo é como um jardineiro que trabalha a nossa alma… O Espírito Santo é nosso criado…
Eis aí uma espingarda: Vós a carregais… mas é preciso alguém para lhe por o fogo e dispará-la… Assim também, há em nós com que fazer o bem… É o Espírito Santo que põe o fogo, e as boas obras partem.
O Santo Espírito repousa nas almas justas, como a pomba no ninho. Acalenta os bons desejos, como a pomba os seus filhotes.
O Espírito Santo nos guia como uma mãe guia o filho de dois anos pela mão… como uma pessoa, que enxerga, guia um cego.
Os Sacramentos que Nosso Senhor instituiu não nos salvariam se não fosse o Espírito Santo. A própria morte de Nosso Senhor ser-nos-ia inútil se não fosse Ele. Foi por isto que Nosso Senhor disse aos seus Apóstolos: “É útil para vós que eu me vá, porque, se eu não me fosse, o Consolador não viria…” Era preciso que a descida do Espírito Santo viesse frutificar essa messe de graças. É como um grão de trigo; vós o lançais em terra; mas é preciso o sol e a chuva para fazê-lo medrar e ascender em espiga.
Dever-se-ia dizer cada manhã: “Meu Deus, enviai-me o vosso Espírito que me faça conhecer o que eu sou e o que sois Vós” (“Noverim te, noverim me! Que eu vos conheça e me conheça!” dizia S. Agostinho).
Fonte: Abbé Alfred Monnin, “O Espírito do Cura D’Ars – Nos Seus Catecismos, Homilias e Conversação”, Parte I, Cap. IV. III Edição, Editora Vozes Ltda, Petrópolis/RJ, 1959.