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Mons. Fulton J. Sheen |
Um
dos principais pretextos que alegam os homens, para dispensar-se da
Santa Missa, é o trabalho. Dia e noite a ele se entregam, lastimam a
perda de tempo, se devem consagrar-se uma hora ao serviço de Deus, e
qualificam de preguiçosos aqueles que encaram, de modo sobrenatural,
o emprego de sua vida. Que erro grosseiro o destes insensatos!
Se,
indo para o trabalho, encontram um amigo, param de bom grado para
ouvir novidades, conversam disto ou daquilo; tratando-se, porém, de
ouvir a Santa Missa, a lembrança do trabalho os atormenta. Não vês
que é o Demônio que os torna tão apressados para as coisas da
terra e que tem grande interesse de os afastar da Santa Missa?
Crê-nos, longe de prejudicar o trabalho, o Santo Sacrifício o
adianta e o torna mais lucrativo.
Nosso
divino Mestre nos recomenda a procurar, antes de tudo, o reino de
Deus e sua justiça e todo o mais nos será dado por acréscimo.
Estas palavras se podem interpretar assim: Não te inquietes do
alimento corporal, porém, antes de principiar o trabalho, procura
ouvir a Santa Missa, ou pelo menos, que um membro da família a
assista em nome da família toda. Assim prestas a Deus, o culto que
Lhe é devido, e Deus em troca, te dará o pão de cada dia.
Se
prestares um serviço importante e agradável a um príncipe deste
mundo, não serás recompensado? Ora, assistindo à Santa Missa,
rendes a Deus uma homenagem relevante, uma glória infinita, uma
incomparável satisfação; Lhe ofereces um presente mais precioso
que o próprio Céu. O Senhor, riquíssimo e bondosíssimo, deixaria
este ato sem recompensa? Jamais! Se todo e qualquer bem é
recompensado por Ele, quanto mais o maior de todos os bens!
No
tempo de São João, o Esmoler, viviam na cidade de Alexandria dois
artistas, um sobrecarregado de família e outro que vivia só com sua
mulher. O primeiro sustentava sua numerosa família e, ao fim de cada
ano, realizava algumas economias. O outro, apesar de estar só e
trabalhar muito, morria quase de fome. Nunca, porém, assistia à
Santa Missa. Um dia, dirigiu-se, confidencialmente, ao seu vizinho
feliz, pedindo que o esclarecesse sobre a diversidade de sorte.
“Dir-se-ia, disse, que,
em tua casa, Deus faz cair todos os bens, ao passo que a mim,
infortunado, todas as desgraças acabrunham” . – “Ensinar-te-ei,
de bom grado, o meu recurso,
respondeu o outro, amanhã de manhã passarei por tua casa
e iremos juntos ao lugar, onde acho a fortuna”.
No
dia seguinte, o piedoso operário foi buscar o colega e conduziu-o à
igreja, onde ouviram a Santa Missa e, depois, voltou com ele para a
oficina. O mesmo fez no segundo e no terceiro dia. “Se é
somente isto, disse então o
outro operário contrariado, posso dispensar-lhe o serviço,
pois o caminho para a igreja já conheço”. – “É precisamente
isto que faço, respondeu o
piedoso operário, e não conheço outra coisa senão
assistir, frequentemente, ao Santo Sacrifício da Missa. Se quiseres
imitar meu exemplo, Deus te abençoará os trabalhos e nada te
faltará. Para confirmar a minha palavra, apelo para Nosso Senhor,
que disse: Buscai, primeiro, o reino de Deus e a sua justiça, e todo
o mais vos será dado por acréscimo. Desde os primeiros dias de meu
casamento, tenho procurado assistir, todo dia, à Santa Missa, e como
sabes, nada me faltou. E tu, pelo contrário, sob pretexto de
trabalho, negligenciaste a assistência à Santa Missa e
experimentaste, à própria custa, que o Senhor é fiel em suas
promessas”. Esta
exortação tocou o coração do operário. Desde então e sem
prejuízo do trabalho, procurou assistir, cada manhã, ao Santo
Sacrifício e a bênção de Deus repousou visivelmente sobre sua
família.
Ah,
como este bom artista tinha razão de chamar a Santa Missa um
tesouro! Sim, é o tesouro de que fala o livro da Sabedoria: É
um tesouro inestimável para os homens; os que nele tem parte gozam
da amizade de Deus. É
uma mina donde se extrai o ouro terrestre e o ouro celeste. Aquele
que assiste a este Sacrifício, sai enriquecido dos méritos de Jesus
Cristo, cumulado das bênçãos do Pai celeste: bênçãos mais
eficazes que as de Isaac a cumular Jacó, dizendo: Que Deus
te dê a abundância do trigo e do vinho, do orvalho do Céu e da
gordura da terra.
Esta
bênção era toda terrestre, ao passo que a da Santa Missa é, ao
mesmo tempo, temporal e espiritual, assim como vemos pela oração
que se segue à Consagração: … para que todos,
participando deste altar, recebendo o Sacrossanto Corpo e Sangue de
teu Filho, fiquemos cheios de toda a graça e bênção celestial.
Em
virtude desta oração e do Santo Sacrifício és abençoado em teu
corpo e em tua alma, em tuas empresas e em teus trabalhos.
Todos
reconhecem a verdade do velho provérbio: “Tudo depende
da bênção de Deus”. Por
maiores que sejam o zelo e a habilidade do homem ao trabalho, sem a
mão de Deus, ele não frutificará. Ora, não há meio mais eficaz,
neste mundo, de atrair os favores celestes do que a piedosa audição
da Santa Missa. Numa visão, Santa Brígida viu o divino Salvador
que, depois da elevação da Sagrada Hóstia, traçava com a mão
direita o Sinal da Cruz sobre o povo, dizendo: “Eu vos
abençoo, a vós todos que credes em Mim”.
– Avalia, pois, o prejuízo, mesmo no teu trabalho, se, podendo
assistir à Santa Missa, por descuido lhe perderes as graças
abundantes.
Não
digas, caro leitor, que a Santa Missa de pouco serve, materialmente
falando. Pois, só a ignorância pode afirmar isto e não duvidamos
que a leitura deste livro te iluminará a inteligência e te fará
apreciar o valor e eficácia do Santo Sacrifício dos nossos altares.
“No dia em que ouvires a Santa Missa,
diz Fornero, Bispo de Hebron, teu trabalho andará melhor,
tuas penas serão mais aliviadas, tua cruz menos pesada”. “O
Senhor te fortificará no corpo e na alma, acrescenta
outro autor de vida espiritual, os Anjos te cercarão mais
afetuosamente e, se vieres, neste dia, a morrer, Jesus te assistirá
no último momento, como O assististe de manhã na Santa Missa”.
A
audição da Santa Missa favorece o trabalho; nossa própria
experiência no-lo testemunha.
Lemos
na vida de São Isidoro, que cultivava as terras de um rico senhor.
Entregava-se ao trabalho com todo o zelo possível, sem todavia
faltar à Santa Missa um só dia. Sua devoção agradou de tal modo
ao Bom Deus, que mandou os Anjos ajudarem-no nos trabalhos
campestres. Quando sua esposa lhe levava a refeição, via, não
raras vezes, dois Anjos trabalhando ao lado de Isidoro. Este não os
via e a piedosa mulher nada dizia, com receio de incitá-lo ao
orgulho.
Entretanto,
alguns companheiros de trabalho, caluniaram-no, dizendo ao
fazendeiro: “Senhor, ignorais, sem dúvida, que Isidoro
passa o tempo nas igrejas a ouvir Missa e trabalha menos que os
outros. Advertimo-vos, porque isto vai de encontro aos vossos
interesses”.
O
fazendeiro, encolerizado, dirigiu-se então ao campo para repreender
o acusado de sua negligência em servi-lo. Este, porém, respondeu
com doçura: “Reconheço que dependo de vossa senhoria,
mas dependo também do Rei dos reis, e não devo descuidar-me dos
meus deveres para com Ele. Se temeis que vos prejudique, começando o
trabalho um pouco mais tarde que os outros, vos indenizarei no tempo
da ceifa”. A humilde resposta
do Santo acalmou o fazendeiro, que não foi mais de encontro aos seus
exercícios de piedade, quis, porém, observar a que hora Isidoro
principiava o trabalho. Num dia, foi ao campo muito cedo e lá se
ocultou. Com efeito, viu que o Santo começou o trabalho mais tarde
que os outros. Irritado de novo, aproximou-se dele, para
repreendê-lo; indo, porém, observou ao lado de Santo Isidoro dois
outros lavradores, conduzindo bois brancos. A surpresa lhe foi
grande, e, novo prodígio: chegando perto do Santo desapareceram os
bois alvos e seus condutores. Perguntou então amigavelmente: “Pelo
amor de Deus, dize-me quem são os homens que te ajudam a trabalhar?”
Isidoro sorriu, não sabendo que responder. O fazendeiro insistiu:
“Asseguro-te que vi contigo outros lavradores que
desapareceram com a minha chegada”. – “Tomo a Deus por
testemunha, respondeu Isidoro,
que não tive ajudante e que não chamo em meu socorro
outro senão Ele mesmo”. Então
o fazendeiro compreendeu que vira Anjos, e regozijou-se de possuir um
tão piedoso operário.
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Fonte:
“Explicação
da Santa Missa”, pelo Venerável Martinho de Cochem,
O.F.M.Cap., Cap. XXIV,
pp. 278-284.
2ª Edição, Typ. de S. Francisco, Bahia, 1914.