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"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

sábado, 3 de dezembro de 2016

Dos Artifícios que Emprega o Espírito das Trevas para nos fazer Abandonar o Caminho da Virtude


Dom Lorenzo Scupoli, C.R.

Um artifício usado habitualmente pelo Demônio, para nos dificultar a marcha pelo caminho da perfeição, é inspirar-nos, fora de tempo, vários bons projetos, a fim de que deixemos os exercícios de virtude que praticávamos e pouco a pouco nos demos à prática do vício.

Por exemplo: se um doente sofre com paciência sua enfermidade, o Inimigo da nossa salvação, temendo que ele assim adquira o hábito da paciência, lhe propõe muitos trabalhos santos, que noutro estado físico lhe seriam possíveis; convence-o de que, com saúde, renderia grandes homenagens a Deus e seria mais útil a si mesmo e ao próximo. E, uma vez excitados esses vãos desejos de recuperar a saúde, o Inimigo os estimula a ponto de causar ao doente grande aflição por não conseguir o que deseja. Crescem os desejos e cresce a inquietação. Mas, o Demônio vai avante: consegue, pois, que o doente se impaciente com a sua enfermidade, que ele começa a considerar não tanto como enfermidade, mas, como obstáculo aos planos quiméricos, que apaixonadamente deseja realizar, sob o pretexto de fazer grande bem.

Quando o Inimigo consegue chegar a esse ponto, cancela pouco a pouco do espírito do enfermo toda a ideia das boas obras projetadas e só lhe deixa o anseio de ficar livre da doença. E, se esta se prolonga além do que esperava, enche-se de pesar e perde a calma.

É assim que a pobre alma afrouxa da virtude que praticava até o vício oposto.

O meio para te defenderes desta ilusão é o seguinte: seja qual for o sofrimento que te crucia, toma cuidado para nada desejares fora da possibilidade, porque, estando essa boa obra fora de teu alcance, só te pode causar inquietação e desprazer. Convence-te, portanto, com grande humildade e resignação, de que, saindo desse estado por bondade divina, todos os bons desejos que agora tens ficarão talvez sem efeito, porque não terás mais quiçá a coragem para realizá-los; pensa ao menos que o Senhor, por disposição secreta da Sua Providência ou em castigo de teus pecados, não quererá que tenhas o prazer de realizar essa boa obra, mas que preferirá ver-te submisso aos seus desejos e humilhado sob Sua mão todo-poderosa.

Assim também, deves proceder quando fores obrigado, por ordem do teu diretor espiritual, ou por qualquer outra razão, a interromper tuas devoções ordinárias ou a ausentar-te por algum tempo da Mesa Eucarística.

Não te deixes abater pelo pesar; mas, renuncia interiormente à tua vontade e conforma-te com a de Deus, dizendo:

se Deus, que conhece minha alma até o fundo, não tivesse encontrado nela nem faltas, nem ingratidão, eu não teria sido privado da Santa Comunhão.

Seja seu Nome eternamente bendito, pois, assim me fez reconhecer a minha indignidade. Eu creio, firmemente, Senhor, que, enviando-me aflições, de mim não desejais senão que eu as suporte com paciência e para Vos agradecer, oferecendo-Vos meu coração sempre submisso a Vossa vontade, sempre pronto a Vos receber, a fim de que nele entrando possais enchê-lo de consolações espirituais e defendê-lo contra as potências infernais que vo-lo querem roubar. Fazei, meu Criador e Salvador, fazei de mim o que for mais agradável aos Vossos olhos. Que Vossa divina vontade seja agora e sempre meu apoio e meu alimento. Eu só Vos peço uma coisa: é que minh’alma, purificada de tudo quanto Vos desagrada e ornada de todas as virtudes, fique em estado de Vos poder receber como também de fazer tudo que Vos aprouver ordenar-lhe”.

Os que se sentem levados a empreender obras que ultrapassem suas forças – seja esse desejo puramente natural, seja de proveniência diabólica (pois o Demônio pode tentar assim desgostá-los da virtude), seja inspiração de Deus para experimentar-lhes a obediência, se eles praticarem o que expusemos, podem esperar que se lhes oferece a oportunidade de progredir no caminho da salvação e de servir a Nosso Senhor da maneira mais agradável, e nisto está a verdadeira devoção.

Nota também que, no emprego de meios inocentes e de que se serviram os mesmos Santos, quando procuras livrar-te de uma doença e de qualquer aborrecimento deves sempre evitar o demasiado empenho, não desejes com excessivo ardor que tudo corra à medida de tuas aspirações. Sê resignado em tudo e não busques senão a vontade de Deus. Co efeito, quem te garante que é por este meio e não por aquele que Ele deliberou livrar-te de teus males? Se não fores conformado, o prejuízo é teu: talvez não consigas o que ardentemente almejas e então não conseguirás fugir à impaciência: ou, se o conseguires, não evitarás que muitos defeitos prejudiquem tua paciência, pelo que ela será menos agradável a Deus e teu merecimento ficará notavelmente reduzido. Desejo, enfim, descobrir-te um artifício secreto do nosso amor próprio, que sempre acha meio de nos esconder nossos defeitos, por mais grosseiros e evidentes que sejam. Um doente, por exemplo, que se aflige em demasia com sua doença, quer que se tome sua impaciência por manifestação de zelo por um bem aparente. Se lhe dermos crédito, não se trata propriamente de impaciência, mas de um justo pesar por ver que sua enfermidade é um castigo de seus pecados ou que dá muito incomodo aos que lhe prestam serviço. No mesmo caso está o ambicioso que se queixa de não ter conseguido determinada honra ou dignidade a que aspirava. Ele não quer atribuir seu pesar à vaidade; mas a atribui a outras causas que, entretanto, se sabe não lhe despertam interesse, sob outros aspectos. Assim é que o doente, que tanto se comove pelos que lhe prestam serviço, pouco se incomoda, depois de são, quando os vê sofrendo as mesmas canseiras no serviço de outros doentes. Aí está um sinal bem certo de que a impaciência não lhe advém do incomodo que ele causa aos outros, mas de um secreto horror que ele tem pelas coisas contrárias à sua vontade.

Quem quiser, portanto, evitar tais escolhos deve resolver-se a sofrer pacientemente, como dissemos, todas as cruzes que encontrar neste mundo, venham elas donde vierem.


Fonte: D. Antônio de Almeida Lustosa, Arcebispo do Pará, “Meu Livro Inseparável”, pp. 148-152; Rio de Janeiro, 1940.

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