Blog Católico, para os Católicos

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"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Pe. Ascânio Brandão adverte sobre as Modas


Pe. Ascânio Brandão


Reveladoras Homilias 30ª à 35ª

“Queridos paroquianos: Depois de vos mostrar como deve o noivo preparar-se para rece­ber dignamente o Sacramento do Matrimônio, venho hoje falar-vos da prepa­ração da noiva.

Essa preparação, semelhante ao que se disse a respeito do noivo, devemos con­siderá-la em 3 graus: preparação remota, próxima e imediata.

Vejamos em que consiste cada uma delas.

Para fazer convenientemente a sua preparação remota em ordem ao Casamen­to, é indispensá­vel que a noiva eduque a sua castidade e estude a sua vocação. São importantíssimas estas duas condi­ções, de cuja realização pode depender a sua felicidade futura.

Estudemo-las separadamente.

Educação da Castidade

É a castidade flor de peregrina beleza que toda a noiva deve cultivar com esmero no jar­dim do seu coração, porque os bens que dela derivam são inapreciáveis. A castida­de, numa noi­va, real­ça a sua formosura física, avulta a sua beleza moral, enobrece o seu sonho de ventura, perfuma o ambiente que se respira, encanta os olhos de Deus e atrai a simpatia de todos.

Por isso, à castidade deve a noiva votar o seu amor de predileção.

Mas esta flor de maravilha, esta virtude angélica está sujeita a mil riscos de per­der-se. São inúmeros os seus inimigos e é preciso defendê-la dos seus ataques traiçoei­ros.

Numa formosa Alocução dirigida há dois meses, em Dezembro do ano findo, aos novos casais que em grande número o foram cumprimentar, o atual Pontífice, o Papa Pio XII, apresenta em síntese os principais inimigos da castidade e insinua claramente o grande dever que nesta matéria aos pais incumbe.

Ouçamos a palavra luminosa e apostólica do grande Papa:

'Cabe às mães o cuidado de preservar na alma dos seus filhos e filhas o sentimen­to do pu­dor no seu vestuário, nas suas relações, nas suas leituras e nos espetáculos que lhes deixam pre­senciar. É aos pais que impele o dever de esclarecer certas pergun­tas que os filhos lhe fize­rem.

É a uns e outros que cabe o dever de ajudar os filhos e filhas a levantar com cui­dado e delicadeza o véu da verdade, sobre as misteriosas e admiráveis leis da vida.

Tende como terrível crime da vossa preguiça ou do vosso desleixo o deixardes os peri­gos dessa iniciação à aventura ou à intervenção de companheiros duvidosos, de con­versas ocul­tas, de livros que lhes incendeiam a imaginação e os sentidos com cha­mas verdadeiramente do Inferno'.


Estas palavras de Pio XII encerram um admirável programa de educação da cas­tidade. Nelas se indicam não só os meios negativos, isto é, os perigos a evitar para que esta virtude não se perca, mas os processos a empregar para que a castidade seja uma virtude amada, uma vir­tude pela qual as raparigas se apaixonem.

Consideremos primeiramente os perigos a evitar. 

O Sumo Pontífice enumera quatro: o vestuário, as companhias, as leituras, os espetácu­los − e apresenta-os como os grandes inimigos da castidade.

Vejamos as razões que tem Pio XII para assim falar. Comecemos pelo primeiro inimigo apontado − o vestuário.

Um dos melhores guardas da modéstia e do pudor cristão na mulher, é o seu vesti­do.

Mas, em nossos tempos, é tão grande a falta de senso na confecção do vestuá­rio femini­no, que este, de amigo do pudor se torna seu inimigo, de defensor se con­verte em corrup­tor.
E isto nota-se já desde as primeiras idades. A cada passo assistimos a este espetác­ulo que é mesmo uma dor de alma contemplar: grande número de crianças, anjos de candura e ino­cência, que deviam ser tratadas com tanto cuidado, são muitas vezes sa­crificadas à leviandade e à falta de senso das mães.

Vêem-se para aí essas crianças vestidas duma maneira indecorosa, sem ne­nhum respeito pelas leis da decência e do pudor. As mães parece que andam a pôr em leilão a candura e a ino­cência das suas filhinhas, pois trazem-nas cá por fora quase nu­as. E ficam todas envaidecidas se alguém repara nas crianças e elogia a sua forma es­belta, a sua gra­ciosidade.


Oh! Que mães sem coração!

Nas filhas, só tratam de leiloar e expor ao público as graças do corpo, e não se im­portam de lhes fazerem perder a graça da alma, tirando-lhes o véu da modéstia!

Mais tarde, essas mães hão de pagar bem caro esta sua falta.

Aquelas inocentes crianças não sabem como andam nem o perigo que correm, ha­bituam-se àqueles vestidos curtíssimos, que mais parecem verdadeiras tangas, e vão per­dendo aquele sentimento de pudor que é inato na mulher. Quando crescidas, quando já donzelas, continuam a usar aquele vestuário, continuam a expor em público a sua nu­dez, acham aquilo muito natural, pela força do hábito.

E então as mães, alarmadas, começam em certa altura a notar nas suas filhas uma perver­são de sentimentos, uma leviandade incorrigível, uma falta de recato e de dignida­de, que as deixa muito expostas aos perigos de sedução.

E como não há de ser assim, se as mães as educaram desde pequeninas na es­cola da de­sonestidade e do impudor? Pobres crianças, anjos tão lindos
que bem depressa perderam as suas asas brancas, aquelas asas de luz e de  candura em que os seus corações inocentes se elevavam até Deus!

E quem teve a culpa disso?

Foram principalmente as mães, essas mães levianas e insensatas, que neste mun­do hão de chorar lágrimas bem amargas e no outro hão de dar a Deus contas bem estrei­tas, pela inocên­cia que tão cedo deixaram perder às suas filhas.

Talvez algumas das senhoras presentes me queiram perguntar:

− Mas, então, as crianças devem andar de vestidos compridos, como qualquer avozinha?

− Não, minhas senhoras − respondo eu − ninguém pretende semelhante coisa. As crian­ças po­dem e devem andar de vestidos curtos, mas não tão curtos que deixem a escorrer sangue as leis da de­cência, da honestidade e do pudor.

Perguntareis ainda:

− E que comprimento devem ter esses vestidos?

Esta pergunta, minhas senhoras, não deveis fazê-la a mim. Consultai neste pon­to a vos­sa cons­ciência cristã iluminada pelo resplendor do sacrário, perguntai isso à vos­sa piedade es­clarecida e tereis a resposta condigna.

Só vos digo, minhas senhoras, só vos afirmo, mães cristãs, que o vestido é um dos melho­res guardas, é talvez o melhor protetor de candura e inocência das vossas fi­lhas, e é desde peque­ninas que vós deveis ensiná-las, que vós deveis habituá-las a se­rem modes­tas, recatadas, pudi­cas.

Vai nisso a sua felicidade futura; portanto, deveis pôr nisso o vosso maior cuida­do, o vos­so melhor interesse.


► Neste mundo revolto em que vivemos − tão revolto que os tronos desabam, os reis se­guem para o exílio, os povos digladiam-se ferozmente e todas as instituições vêem abalados os seus funda­mentos − no meio desta pavorosa convulsão social como outra igual jamais se viu, há uma rainha que governa com toda a segurança e na maior serenidade, tão certa está ela de que as suas or­dens serão cumpridas.

Essa rainha tem muitos milhões de escravas que a seguem por toda a parte e lhe obede­cem cegamente. As leis que promulga não são infringidas, as ordens que dá não se discutem.

Podemos dizer que ela domina no mundo com império absoluto.

E apesar de ser uma rainha despótica, que governa com verdadeira tirania, as suas escra­vas amam-na estremecidamente, chegando a fazer por ela, para lhe agradar, os maio­res sacrifíci­os, mesmo o da própria vida.


Quem será essa rainha?

Vou dizer-vos o seu nome: chama-se sua majestade a Moda Feminina.

Posso afirmar que é rainha única no mundo. O seu império é tão grande, que mui­tas vezes se sobrepõe ao domínio do próprio Deus.

Sim, do próprio Deus.


Se o Senhor pedir a certas escravas da moda o sacrifício de alguns dias de jejum duran­te o ano por motivos superiores de ordem espiritual, recusam-se terminantemente alegando ra­zões de saúde.

Mas exija delas a sua Soberana um jejum rigoroso, diário, prolongado, para poderem atin­gir a linha da elegância, e veremos que a lei tirânica será escrupulosamente cumpri­da, mesmo com prejuízo da saúde e até com sacrifício da própria vida. Quem não conhece casos lancinantes de ra­parigas robustas, sadias, que se tuberculizaram por be­berem vina­gre e fazerem rigorosa abstinên­cia, para adquirir ou não perder a linha esguia da moda?

Se a certas raparigas Jesus Cristo pedir a assistência a um ato de culto na igreja em ma­nhã fria de inverno ou qualquer donativo para alguma obra social católica, serão aduzidas, para recusa, as gran­des dificuldades econômicas da época e a delicadeza da saúde que não pode apanhar o frio da manhã nem sacrificar o repouso da noite.

Mas convide-as alguém para uma festa mundana de requintada elegância, e to­dos os obstáculos alegados desaparecem como por encanto: arranja-se logo dinheiro para comprar um vestido caro, embo­ra para isso seja preciso comprometer a consciên­cia, e já se pode ir à festa, apesar do frio e até com ris­co de apanhar uma pneumonia com aquele vestido tão leve e decota­díssimo, e já não há perigo de sacri­ficar o repouso, mesmo que seja preciso usar por travesseiro uma forquilha ou passar a noite encostada a qualquer móvel, para não desmanchar nem prejudi­car o penteado. Não pode negar-se que a moda é a grande rainha do mundo, sobretudo, do mundo feminino, rainha de poder soberano indiscutível em todos os climas e atitu­des. Ao seu carro de triunfo vão presas voluntariamente milhões e milhões de mu­lheres que a aclamam com delí­rio e lhe sacrificam alegremente corpo e alma, se ela as­sim o exigir.

Mas, porque razão e a propósito venho hoje aqui falar da moda?

Parece-me ler no pensamento de muitas das minhas ouvintes este aviso carido­so que me que­rem fazer:

'Meu padre, não perca tempo a falar das nossas modas. Encontrará ouvidos e corações fechados a semelhante assunto e nada conseguirá, a não ser enfadar e indis­por todo ou parte do auditório que o escuta'.

Talvez tenham razão as minhas ouvintes e quero agradecer-lhes a caridade do seu avi­so. Devo confessar que este assunto não é nada da minha simpatia. Direi mais: é matéria da mi­nha solene embir­ração.

Todavia, embora contrariado, tenho de falar nisso aqui, porque assim me o im­põe um im­perioso dever do meu cargo, indicado pelos dois grandes Pontífices Pio XI e Pio XII.

Já aqui vos disse, no domingo passado, que Pio XII considera certo vestuário fe­minino do nosso tempo como um dos grandes inimigos do pudor cristão na mulher. Ora, como estou a tratar da prepara­ção da noiva para o casamento, e da educação da casti­dade como condição in­dispensável dessa prepa­ração, tenho obrigação de acautelar a noiva daquele vestuário ofensivo do pudor, para que nela possa brilhar a honestidade, que é a mais linda flor da sua coroa nupci­al.

E Pio XI, o imortal Pontífice há poucos anos falecido, falando aos pregadores da Quares­ma em 1929, recomendou-lhes que nas suas pregações não deixassem de se ocupar da falta de modéstia das modas femininas. Ouvi atentamente as suas palavras tão apostólicas como enérgi­cas:

'Uma coisa penosa continua a afligir-nos sobremaneira, apesar de tanto sobre ela se haver pregado em toda a parte e escrito na imprensa católica; uma coisa nos faz enver­gonhar como Vi­gário de Jesus Cristo: é a imodéstia de tantas mulheres desgraça­das, de tantas infelizes donzelas que a cada passo se dizem e desejam ser ti­das como cristãs.

Procurai vós, persuadir com paternal bondade, com paciência e com insistência, tantas pobrezi­nhas que se tornam escravas de uma moda tão indigna de países civiliza­dos, e mais ain­da de países cris­tãos; tantas pobres escravas que se sentem e envergo­nham da escravidão, mas não têm força para se revoltarem contra uma tirania que abusa da sua vergonha, como o negreiro abusa do sangue dos escra­vos, nesta verdadeira for­ma de tráfico das brancas. Depois, fustigai com o ardor da vossa palavra apostólica tan­tas desavergonhadas que não só não sentem a indignidade do seu trajar, mas disso ain­da se gloriam e fazem motivo de orgu­lho'.

Senhoras que me Escutais:

As palavras que acabo de vos ler são a voz magoada e dolorida do próprio Jesus Cristo, pois o Pontífice Romano é o seu Vigário na terra, é o Cristo visível no mundo. São palavras can­dentes que bem mostram a dor e a santa indignação daquele Coração Divi­no, que à sombra do seu Amor e à custa do seu Sangue libertou a mulher da escravidão material e moral em que se encontrava no paganismo, e vê agora que ela, esquecida do benefício recebido e cometendo a mais condenável ingratidão, regressa voluntariamente à escravidão do passado, ostentando nos seus membros despu­dorados os vestidos e as insígnias do mundo pagão.

Muito enojado e indignado deve estar Jesus Cristo com os desmandos da moda fe­minina, para ordenar aos seus pregadores, como há pouco ouvistes, que fustiguem em pa­lavras ardentes e com zelo apostólico a desvergonha daquelas mulheres que a essa moda sacrificam o seu pudor e a sua dignidade de cristãs.


Dize-me, senhoras minhas:

Hei de eu então ficar calado, num silêncio fácil e cômodo, quando a voz do Mes­tre Divi­no, na pessoa do seu representante, me manda falar às almas a mostrar-lhes o precipício moral que as espreita, para que dele se acautelem, para que nele não venham a cair?

Se algumas de vós têm razões de peso que justifiquem o meu silêncio neste pon­to, por favor vos peço que me as apresenteis pessoalmente ou por escrito e eu não direi mais uma pala­vra sobre o assun­to. Se, porém, vos faltam essas razões, não leveis a mal que eu aqui vos fale da inconsciência e do male­fício de certos trajes femininos.

Pensareis e direis certamente que nada consigo com isso, mas quero mostrar-vos que in­teiramente vos enganais.

Há uma coisa que conseguirei pela certa e me interessa acima de tudo: é que, fa­lando, cumpro o meu dever de pároco, de pastor das vossas almas. O resto não é co­migo: é convosco e com Deus.

A mim compete ensinar a doutrina, espalhar a semente. Fazê-la germinar e frutific­ar per­tence ao Dono da seara, que é Deus. Aproveitar o fruto bendito da sementeira incu­be, sobretudo, à vossa boa vontade e à vossa consciência de católicas.


Continuarei, pois, no próximo domingo, se antes não receber de alguma de vós qualquer docu­mentada dispensa, que me liberte do cumprimento desta tão difícil, como desagradável obri­gação.

► Conforme anunciei no domingo passado, venho hoje falar dos desmandos e malefíci­os da moda feminina, ou melhor, de certa moda feminina.

Esperei que alguma das minhas ilustres e ilustradas ouvintes, com razões sólidas e argu­mentos convincentes, me viesse dispensar de tão inglória tarefa. Mas esperei em vão: ninguém apareceu a de­fender a causa do vestuário indecoroso de tantas mulheres, origem muitas vezes dos mais perniciosos efeitos.

Por isso, continua a impender sobre mim o grave e imperioso dever de vos falar em tal assunto: dever que me é imposto pelas responsabilidades do meu cargo, assunto que só poderei tratar com uma grande repugnância. Podeis crer, que se o cumprimento daquele dever pudesse ser satisfeito por dinhei­ro, eu sacrificar-me-ia de bom grado a dar uma quantia importante, só para não ter de falar aqui em mo­das femininas.

Mas, como isso não é possível, tomemos a cruz às costas e sigamos para o Calvário; sim, para o Calvário, onde sei que vou ser crucificado por muitas das minhas ouvintes.

Senhoras que me Escutais:

Tenho por todas vós o maior respeito e uma grande veneração, mas isso não impede, bem ao contrário, impõe-me que vos fale com inteira franqueza, mesmo com rude sinceridade.

Declaro-vos que não sei falar de outro modo. Não sei, nem quero, nem devo. Aqui não sou nem posso ser um lisonjeador de ninguém. Sou apenas o ministro da Igreja e por Ela encarregado de vos falar com clareza mostrando-vos a verdade sem sombras nem dis­farces.

Notai senhoras minhas: linguagem artificiosa e postiça que mostra o sorriso so­mente para ocultar o veneno, linguagem que serve apenas para encobrir e dissimular o pensamento ten­des vós ocasião de ouvi-la aí por fora, a cada passo.

É preciso que ao menos no templo, na Casa de Deus, chegue aos vos­sos ouvidos a pala­vra sem artifícios, entre na vossa alma a verdade sem re­servas.


E vós, minhas senhoras, podeis encontrar − e encontrais facilmente − quem vos fale com mais eloquência, com maior brilho oratório, com mais beleza de frase, mas certamente não en­contrareis quem vos fale com maior sinceridade.

Possa ao menos este pensamento conquistar para mim a vossa indulgência, e para o as­sunto que vou tratar o vosso melhor interesse.

Já aqui vos mostrei a forma como o Papa Pio XII se referia aos desmandos da moda fe­minina, em palavras candentes que deixavam transparecer uma grande dor de alma, uma santa indignação.

E quereis saber a razão daquela linguagem enérgica, cáustica, contundente, em que ele verberava os exageros da moda?

O imortal Pontífice falava assim por vós, minhas senhoras, para defender a vossa dignida­de; e pelos outros, minhas senhoras, para os defender dos vossos malefícios.


Primeiramente, para defender a vossa dignidade.

Pio XI sabia muito bem quanto a mulher cristã deve ao Divino Fundador da Igreja, a Jesus Cristo, que livrou a mulher da abjeção do paganismo, e não queria que o seu ves­tuário a tornasse novamente pagã.

Pio XI sabia muito bem quanto a Igreja deve à mulher cristã, que através dos sécu­los tem defendido a doutrina e os direito de Cristo com desassombro e abnegação invul­gares, e não que­ria ver esta criatura de graça e de amor, digna de um pedestal, onde pos­sam resplandecer as suas virtudes, sujeita, pelo seu vestuário, a uma escravidão humi­lhante.

E muita razão tinha Pio XI em querer defender a vossa dignidade de mulheres cris­tãs, por­que os vestidos da moda, de certa moda feminina, são puro paganis­mo e autêntica escravidão, como vou provar.

Puro paganismo, porque são uma imitação perfeita dos antigos costumes pagãos, são uma ressurreição completa daqueles vestuários obscenos que se usavam nos tempos de grande corrupção do império romano. E sabemos isso pelas descobertas arqueológi­cas que ultimamente se têm feito.

Quando foi da primeira erupção do Vesúvio que historicamente se conhece, as la­vas da­quele grande vulcão invadiram rapidamente as regiões circunvizinhas e a cidade de Pompéia, uma das mais corrompidas daquele tempo, ficou sepultada naquela onda de fo­go.

Como a erupção foi inesperada, os habitantes não tiveram tempo de fugir e foram surpre­endidos nas suas ocupações, nos seus bailes, nos seus divertimentos.

Ora, modernamente, fizeram-se em Pompéia escavações cuidadosas, que permiti­ram re­construir em grande parte a vida dissoluta daquela cidade. E lá se encontraram os cadáveres dos seus habitantes, calcinados mas ainda inteiros: muitos soldados com as armas na mão, muitos sa­lões de festim com numerosos convidados, jardins públicos com grande concorrência.

E naqueles cadáveres puderam estudar-se bem os costumes, os trajes daquela época. Lá se viam os mesmos vestidos decotados e curtos que hoje se vêem, o mesmo impudor, a mes­ma imoralidade no vestuário feminino.

Portanto, certos vestidos da moda atual que muitas senhoras trazem, são puro paganis­mo.  E são também autêntica escravidão.                     

Ah! Minhas senhoras, se vós soubésseis quem é que, por meio do vestuário, vos pretende escravizar, certamente não hesitaríeis um momento em revoltar-vos contra tão humilhante escra­vatura.


Pois eu vou dizer-vos-lo. Será para vós talvez uma novidade, mas ficareis a saber uma verdade proveitosa. Ora atendei:

O centro da moda, como não ignorais, é Paris. E as mais notáveis cria­ções e invenções da moda sabeis onde são feitas? Em estabelecimentos per­tencentes a judeus e a maçons ou por eles dirigidos.

Isto não é uma fantasia, é antes um fato autenticamente averiguado.

O Escritor francês Eduardo Drumont, no seu livro La France juive, e ou­tro escritor Lannoy, numa conferência há anos realizada em Paris, demons­tram com fatos e documentos irrefutáveis a influência decisiva das seitas ju­daico-maçônicas nas modas femininas.

E apontam também o fim que essas seitas têm em vista: é paganizar a sociedade e des­truir o Cristianismo.

Para realizar esse plano verdadeiramente diabólico, as seitas escolhe­ram como principal instrumento a mulher, por saberem a grande influência que ela exerce na sociedade e na família.


Mas não lhes servia qualquer mulher: precisavam da mulher sem pudor, da mulher pervertida nos sentimentos, da mulher corrompida no coração. E para isso, para melhor corromperem e perverterem a mulher, serviram-se do vestuário.

E foram inteligentes, não há dúvida. Porque, na mulher, há uma grande bar­reira que a se­para do mal: é o sentimento do pudor. E quem melhor guarda esse pudor é o vestido.

Conhecendo isso, que fizeram as seitas judaicas e maçônicas?

Apoderaram-se dos grandes centros da criação da moda e começaram a cortar os vesti­dos da mulher. À medida que cortavam o vestido, ia desapa­recendo o pudor, até que conseguiram o que desejavam: a mulher pervertida e corrompida.

Nem admira que assim sucedesse, pois quando perde o sentimento do pu­dor, a mulher desce muito depressa toda a escada que a separa da lama.


E agora, minhas senhoras, estamos assistindo a este espetáculo degradante: uma onda de pa­ganismo alastrou por toda a sociedade, e neste século de feminismo em que a mulher procura libertar-se da influência do homem, neste século em que a mulher aspira a ocupar os lu­gares e empregos que ao homem são destinados, vemos afinal esta contradição flagrante e in­compreensível − milhões e milhões de mulheres escravas de um homem!

E de que homem? Do modista judeu de Paris, do alfaiate maçom da capital da França!!!

Minhas senhoras: isto não repugnará à vossa dignidade, não será uma vergonha para a delicade­za dos vossos sentimentos?

Ser escrava de um alfaiate, ser escrava de um judeu, ser escrava de um maçom!

Haverá alguma senhora digna que hesite um só momento em soltar o grito de revolta contra esta escravidão tão humilhante?

Mas Pio XI, conhecendo que certo vestuário da moda feminina é puro paganismo e autênti­ca escravidão, sabia muito bem que esse vestuário é também uma vergonha e um aviltamento para as senhoras dignas que o usam.

E é aviltamento e vergonha, porque esse traje vai confundi-las, vai nivelá-las com a mulher aventureira, com a mulher perdida.

Quantas vezes tendes visto aí por fora, ao lado de uma donzela ingênua e cristã, uma mu­lher pública vestida com todo o requinte do luxo; ao lado de uma senhora fidalga, distinta, a mu­lher aventureira vestida no último rigor da moda?

Todavia, se as não conhecerdes pessoalmente, não podereis saber qual é a donze­la e qual é a mulher perdida, qual é a senhora fidalga e qual é a descarada aventureira, porque elas pelos trajes não se distinguem.

Ora, para uma senhora séria e digna não será isto a mais afrontosa das vergonhas?


Já vedes, pois, minhas senhoras, que Pio XI, falando com tanta energia e indignação contra cer­tas modas femininas, fê-lo por vós, para defender a vossa dignidade de mulheres cris­tãs, e fê-lo também pelos outros, para os defender dos vossos malefícios, ou melhor, dos malefí­cios de certos vestidos vos­sos.

Ah! Minhas senhoras, que se muitas mulheres pudessem avaliar, ou ao menos presumir, a gran­deza do mal que tantas vezes causam às almas com o seu vestuário indecoroso, ficariam horrorizadas e morreriam talvez de pavor contemplando as tremendas responsabilidades morais em que incorrem peran­te Deus, ou pelo menos deitariam logo ao fogo essas parcelas de vestido que mal cobrem a sua nudez.

Mas este ponto tão importante não podemos hoje tratá-lo por falta de tempo. Fá-lo-emos no próximo domingo.

Os trajes indecorosos da moda feminina, que para aí se ostentam arrogante­mente, não só prejudicam as senhoras que os usam, pois são um aviltamento da sua dig­nidade, mas também causam prejuízo moral a muitas pessoas que os contemplam, expon­do essas pessoas ao perigo mais ou menos grave, à ocasião mais ou menos próxima, de ofender a Deus.

E será realmente grande esse prejuízo moral provocado pelo impudor das modas femini­nas?

Melhor do que eu o pode saber quem frequenta a sociedade. Vou, por isso, dar a palavra a um estudante da nossa Universidade, que me escreveu sobre o assunto em questão.

Dai-me licença de vos ler a sua carta:

'Senhor Abade:

Com muito interesse tenho ouvido as práticas de V. Revª. nessa igreja e venho hoje con­sultá-lo como médico das almas, agradecendo muito que a resposta seja dada por V. Revª. nas suas interessan­tes palestras dominicais.

Como membro da Ação Católica, não posso concordar com o procedimento tão leviano, tão in­consciente, das minhas colegas de ideal, e lamento que o problema não tenha sido ataca­do diretamente.

Depois daquela tremenda e tempestuosa época − já há um bom par de anos − em que a miséria dos tecidos levou as senhoras ao arrojo inaudito de não temerem a queda de um quinto andar, veio, como seria natural, a fartura e a bonança.

Mas agora, fruto talvez da agitação dos últimos tempos, regressamos àquela época e, num desa­foro sem nome, a mulher obriga-nos, queiramos ou não, a presenciar um mostruário pernil variadíssimo (que se calhar não passa de simples reclamo às meias transparentes), para que essa carne impura que se não sabe esconder, tente o homem.

Há quem, em nome da arte e da beleza, defenda a perna ao léu; mas, com franqueza, que arte, senão a diabólica arte de tentar as almas terão esses membros que por vezes são apenas autênticas dis­formidades físicas?

Não falando na mulher não católica, eu pergunto a V. Revª. se a que o é, e em especial a militan­te da Ação Católica, deve seguir os ditames da moda sem atender ao bom senso, à disci­plina que a Igreja impõe, e subir a saia até ao joelho, acima dele mesmo. Ao sentar-se, traça a perna e, como não tem com­primento a saia, mostra num à vontade, umas vezes consciente ou­tras inconscientemente, o joelho, aqui­lo que a meia já não cobre. Ao abaixar-se, então, fica por vezes inteiramente descomposta.

Com isto, sinto uma onda de revolta que V. Revª. não imagina.

Eu sei − a experiência me o tem mostrado − que muitas raparigas e senhoras são umas autênti­cas inconscientes nesta matéria. Seguem cegamente a moda mais despudorada porque é moda, sem que saibam o mal que fazem ao homem, e indiretamente a si próprias.

Passa uma rapariga bonita ou feia com os alicerces a descobertos até mais de um terço do edi­fício, e logo o bicho homem se volta para olhar e ver; e vê com olhos pecaminosos e tan­tas vezes lhe sai um gracejo de mau gosto, expressão de um desejo imundo que aquele panora­ma lhe sugeriu. É isto uma regra quase geral.

E eu pergunto a V. Revª.:

Não terá a mulher cristã responsabilidades tremendas nestes vulcões de lama que anda a atear, ainda que inconscientemente? Não representa ela de certo modo o Demônio tentando as almas, e assim não terá foros de verdade a frase do Apóstolo?

A natureza corrompida manifesta-se sempre, e a mulher pelo decote, pela saia curta, pe­los vesti­dos transparentes e colados ao corpo revelando as depressões e altitudes, é muitas ve­zes a causa de quedas fatais do homem. É por vezes necessário um esforço titânico, para se po­der sair incólume das tentações de um dia e de outro.

E que fazem os maridos, os pais, os irmãos que, mais conhecedores do mal, tinham o dever de o remediar? São também inconscientes, faltos de observação, cegos. Pensarão talvez que suas mulheres, suas filhas, suas irmãs, vestindo como as outras, não produzem as mesmas tentações que elas? É des­culpa inadmissível.

Depois deste libelo acusatório, eu ficaria de mal com a minha consciência se não pres­tasse a mais sincera admiração e homenagem a muita rapariga e mulher cristã, medindo-as pela bitola dessa vul­garidade frívola, diabolicamente frívola. Há raparigas e senhoras que vestem mo­destamente não revelan­do ostensivamente as suas formas, não se decotando, não subindo a saia a mais de meia altura do joe­lho.

Contudo, não deixam de ser espíritos cultos, límpidos, mulheres agradavelmente encan­tadoras, distintas, inteiramente emancipadas da tutela escravizante dessa deusa que não con­sente discussões: a moda.

São essas que me dão alegria e me levam a confiar no futuro, pois vejo nelas aquele fer­mento do Evangelho que há de galvanizar todo o exército da Ação Católica. Têm consciência da sua missão, não se atrevem a abeirar-se da comunhão como tantas outras que, até ajoelhadas à Sagrada Mesa, po­dem ser, pela exiguidade dos seus vestidos, motivo de tentação.

Fere-me profundamente esta inconsciência cristã na vida pública e muito mais na Casa de Deus.

Creia V. Revª. que é com o máximo pesar, com a mais vincada tristeza, que aqui exponho o meu pensar.

E peço que nos responda, que nos ensine a verdade, pondo em relevo e causticando a levianda­de feminina, para ver se assim muitas senhoras e raparigas cheguem a acordar, do sono letárgico em que vivem.

Solicitando de V. Revª. o seu perdão para o anonimato em que me escondo, não por co­vardia, mas porque, como não ataco ninguém em particular, o que sobretudo interessa é a dou­trina e não o meu nome, peço também se digne acreditar na grande consideração e estima que por V. Revª. Tem um universitário e militante da Ação Católica'.

Esta carta, queridos ouvintes, não precisa de comentários, porque nos mostra com clare­za o grande mal, o mal imenso que podem causar às almas os vestidos indecorosos da moda fe­minina.

Somente quero e devo lembrar às senhoras que me escutam que o prejuízo moral cau­sado pelo seu vestuário fica sendo da sua responsabilidade e por ele hão de respon­der no Tribu­nal Divi­no. Deus há de pedir contas a essas senhoras não só das suas faltas pessoais, mas tam­bém das faltas alheias que foram cometidas por sua causa.

Esta lembrança, esta verdade deve ser, para uma senhora cristã, motivo de grande inquie­tação e até mesmo de justificado pavor, porque os pecados alheios de que ela for causa ficarão a pesar na sua consciência enquanto não forem perdoados por Deus, e só poderá ficar em paz tendo a certeza desse per­dão.

Mas, como poderá ela saber se foram perdoados, se esse conhecimento é tão difí­cil, por vezes impossível?

Por via de regra, só a confissão pode perdoar esses pecados de impureza, visto que em geral são faltas graves contra o 9º. Mandamento da Lei de Deus.


Quando nós pecamos gravemente, podemos com facilidade obter o perdão de Deus re­correndo com as devidas disposições ao Tribunal da Penitência e ficar com a certeza de que o perdão foi concedi­do.

Porém, quando são outros que pecam por nossa causa, como poderemos saber se já fo­ram perdoados?

Quantas vezes são descrentes, que desprezam e nunca recebem os Sacramentos! Quan­tas vezes são indiferentes ou desleixados, que há muito abandonaram a Confissão!

E deste modo, tantos pecados impuros provocados pela vista dos vestidos imo­destos, fi­cam sem o perdão de Deus.

Mas a Justiça Divina é inexorável: exige a expiação de todo o pecado. Não expia­ram o seu pecado aqueles que culposamente olharam para os vestidos indecorosos? Hão de necessariamen­te expiá-lo, em vez deles, aquelas que levianamente ostentaram esses vestidos provocadores.

Esta lembrança não será de molde a produzir nas almas crentes um arrepio de pa­vor?

Se qualquer senhora de consciência cristã pensasse bem nisto, nas contas tre­mendas que há de dar a Deus pelas desordens morais que os seus vestidos provocam, certamente nunca teria coragem de usar semelhantes vestidos.


Queridos ouvintes: Há ainda um outro mal que devo salientar aqui. Não é só no homem que certos ves­tidos das senhoras exercem uma influência nefasta, é também na mulher de condição hu­milde. O des­potismo da moda não confina nas classes elevadas, chegou já às classes po­pulares e começou a escravizar também a mulher do povo.

A cada passo se encontram por aí raparigas de condição modesta, costureiras, cria­das de servir, que já usam os seus decotes, que já querem as suas saias curtas e as suas blusas transpa­rentes. E ninguém pode avaliar o grande mal que isto representa.

É que a mulher do povo, a mulher de condição humilde, geralmente não tem um certo grau de educação, que até certo ponto é um preservativo do mal. Na mulher do povo, o sentimento do pudor, é o principal guarda da sua honestidade. É o pudor, a modéstia, que muitas vezes a livra de quedas fatais.

Ora, o vestuário, esse vestuário imodesto e desbragado, vai-lhe tirando a vergo­nha, vai-lhe tirando o pudor, e perdido este, a mulher fica abandonada, sem quem a defen­da. É esta a razão porque tantas raparigas do povo, aliás dotadas de bons sentimentos, a cada passo caem na perdi­ção moral.

O amor do luxo e a desonestidade do vestuário que elas procuram copiar das se­nhoras da alta sociedade, foram-nas arrastando de queda em queda até as precipitar no abismo.

E de quem é a culpa principal? É das classes elevadas, é dessas senhoras que lhes deram mau exemplo.

Muitas vezes, uma criada nunca se atreveria a usar um vestuário inconveniente, se o não visse usado pelas senhoras da casa, que são suas superioras e deviam ser o seu modelo.

Meditem, pois, as senhoras na grande responsabilidade que lhes traz a sua elevada posi­ção social.

Há, porém, uma vítima da moda, que deve merecer uma referência especial, é a mu­lher cristã vestida inconvenientemente dentro da igreja.
Estudá-la-emos no próximo domin­go.

► Hoje mais algumas palavras − que serão as últimas − acerca de moda e de vestuário femini­no.

Já aqui vos mostrei que a moda se impõe como um tirano à nossa sociedade e escraviza a mu­lher levando-a muitas vezes a sacrificar as leis da modéstia, da honestidade e do pudor.

Há, porém, uma vítima, uma escrava da moda, que lamento sobre todas as outras: é a mu­lher cristã, a mulher católica e piedosa.

Também ela se deixa prender pelas algemas ignominiosas da moda, também ela paga tri­buto − e não pequeno − a esta divindade ridícula.

Quantas vezes toma parte, a mulher católica que procura cumprir os seus deveres religio­sos, quantas vezes ela se vê nessas reuniões e assembléias do grande mundo, nes­ses passatem­pos e bailes, nesses teatros e diversões, confundindo-se com a mulher levia­na e indiferente que despreza a religião e escarnece a piedade, vestindo-se como ela, os­tentando a mesma falta de re­cato, mostrando a todos o mesmo impudor no seu vestuário!

Que outra mulher fizesse isso, ainda vá. Que fizesse isso, que, sacrificasse a sua dignida­de aos caprichos da moda, por exemplo, aquela mulher sem Fé, que não quer sa­ber da igreja nem da crença religiosa, aquela mulher cujo Deus é o mundo e cuja religião são os seus divertimentos − ainda se explica, embora não se justifique.

Mas que faça isso, que proceda assim a mulher católica, aquela mulher que ama a Deus e a sua Fé, aquela mulher que se honra e enobrece de ser crente e piedosa − é ab­surdo que não se pode compreender.


Bem sei que a mulher católica que assim procede costuma apresentar razões que a justi­fiquem. Mas são tão pobrezinhas essas razões!

Ela diz às vezes:

− Eu visto-me assim por causa das conveniências sociais, sou convidada para certas cer­tas reu­niões que obrigam a vestir desta maneira.

Oh! Que pobreza de argumento!

Para essa mulher, para essa senhora, as tais conveniências sociais devem colocar-se acima de tudo. Para ela, essas conveniências valem mais do que a sua nobreza de senhora, va­lem mais do que os seus princípios de católica, valem mais do que os interesses superiores da sua alma, valem mais do que os direitos sagrados do seu Deus!

E calca tudo isto aos pés: dignidade, nobreza, crença, alma, Deus − calca tudo aos pés unicamente para não ferir, para não beliscar o tal ídolo das conveniências sociais!

Ora, isto será tudo o que quiserem, menos procedimento cristão.

O Grande Dever da Mulher Cristã

Minhas senhoras:

Eu não ignoro que vós tendes de viver em sociedade, tendes de aceitar certos convites e assistir a certas reuniões, sabe Deus à vezes com que vontade, bem contrariadas, por sinal. Mas, enfim, é preci­so condescender e assistir.

Nem eu quero, de modo algum, que vós falteis aos vossos deveres sociais de cortesia, de delica­deza, de amizade.

Se, porém, receberdes convite para alguma reunião, onde se queira exigir de vós um ves­tuário inconveniente e destoante dos vossos sentimentos de católicas, dois cami­nhos tendes uni­camente a seguir: ou rejeitar esse convite, ou então − o que é preferível − apresentar-vos na reu­nião vestidas segundo a vossa posição social, com distinção, com elegância, mas sem ofender as leis da modéstia e da honestidade cristã.

Acima de tudo, minhas senhoras, deveis colocar a vossa dignidade de mulher, a vossa no­breza de sentimentos, a vossa tradição de família, o vosso amor de portuguesas, o vosso exemplo de católicas, os interesses superiores da vossa alma e os direitos sagra­dos do vosso Deus.

E lembrai-vos sempre de que não há nenhuma conveniência social, nenhuma, que tenha o direito de exigir a degradação de uma mulher ou o aviltamento de uma senhora.


Mas ainda não cheguei ao cimo do meu calvário. Porque, como já aqui vos disse, eu es­tou a su­bir um calvário onde conto ser crucificado. Não cheguei ainda ao cimo, mas vou agora subir o último de­grau da encosta.

E quero falar-vos numa outra vítima da moda, que deploro com a mais profunda tristeza: é a mulher católica e piedosa, vestida indecorosamente den­tro da igreja.

A moda, minhas senhoras, não se limita a impôr as suas leis e a fazer as suas es­cravas lá fora, no meio social. A moda entra também arrogantemente dentro do Templo do Senhor e vai in­sultar a Deus na sua própria Casa.

Quantas vezes se vê a mulher católica entrar na igreja, assistir aos atos do culto e receber mesmo os Sacramentos, de braços nus na sua maior extensão, de vestido decota­do, transparente e tão curto, que mal pode ajoelhar-se ou abaixar-se sem que fique des­composta!

E quereis saber o que significa e o mal que causa a mulher cristã que se apresenta na igre­ja assim inconvenientemente vestida?

A Razão e a Fé dizem-nos que ela vai ali cuspir a Deus um verdadeiro insulto.

Lê-se no Evangelho que o mundo é um inimigo irreconciliável de Deus. São João, no capí­tulo 17 de seu Evangelho, diz-nos que Jesus Cristo, na última Ceia, quando se des­pedia ternamen­te dos Apóstolos, lhes declarou que detestava o mundo, o mundo com a sua frivolidade, com a sua descrença, com a sua corrupção.


E disse mais Jesus: afirmou que não orava, que não pedia pelo mundo.

Ora, vê-de: dos lábios do Salvador Divino saíram palavras de perdão para todos, perdoou até aos próprios algozes que O mataram, rezou e pediu por eles. Só ao mundo não perdoou, só pelo mundo não rezou nem pediu.

Isto mostra-nos bem o horror e a aversão que Jesus Cristo tinha ao mundo, ao mundo frí­volo, descrente e corrompido.

E o que faz a mulher piedosa, que se apresenta na igreja e recebe talvez a Comu­nhão com o seu vestido escandalosamente decotado e curto?

O que faz? Introduz na igreja o espírito do mundo. Num gesto de provocação a Deus, colo­ca ali diante do altar as divisas do mundo. Nos seus membros descobertos e despudorados, ela leva para o templo e ostenta triunfante a frivolidade, a desvergonha e a desfaçatez do mundo! E re­cebendo a Comunhão, essa mulher, essa senhora vai obrigar Jesus Cristo a dar o mais estreito dos abraços no mundo, que é o seu mais encarniçado inimigo!

Dizei-me, minhas senhoras: não será isto um insulto, uma afronta feita a Deus?

E quereis agora que vos mostre a grandeza desse insulto, quereis que vos faça sentir bem a gravidade dessa afronta? Então ouvi:

Jesus convertido em Leão

Como sabeis muito bem, o nosso Divino Salvador foi sempre um Modelo de paciência, sofreu imenso e sofreu sem se queixar. Maltrataram-no, caluniaram-no com requintes de cruel­dade, e os seus lábios nunca soltaram um queixume, nunca formularam um protesto.

Os seus lábios Divinos apenas se abriram para implorar do Eterno Pai perdão para os seus algo­zes. Era um Cordeiro manso, pacífico, que foi imolado sem soltar um único balido.

Mas houve um dia em que o Divino Salvador perdeu a serenidade; foi a única vez em toda a sua vida.

Nesse dia, os seus olhos tão meigos despendiam relâmpagos de verdadeira ira, os seus lábios tão serenos tremiam e trovejavam palavras de violenta indignação. O Cordeiro manso transformou-se em Leão furioso.

Sabeis quando isso aconteceu? Foi quando Ele entrou no templo e o viu profanado pelos vendilhões. Encontrou ali uns homens que negociavam em pombas e cordeiros, como se o templo fosse uma praça pública.

E então, indignado e ardendo em ira, lançou mão de um azorrague e expulsou-os dali violenta­mente.

Custou-lhe mais aquela profanação do templo do que a própria morte, porque a morte su­portou-a sem se queixar, a profanação não a pode sofrer sem se indignar.

Aqueles negociantes do templo ofenderam-no mais do que os grandes pecadores de que nos fala o Evangelho. Vê-de como Jesus tratou a Madalena, a mulher adúltera, o próprio Ju­das que O vendeu: procurava atraí-los a Si com palavras de carinho, de ternura, de perdão. Pois aos profanadores do templo nem sequer os pode tolerar na sua presença!

Isto mostra-nos bem claramente como é grande a ofensa feita a Deus com a falta de res­peito dentro do templo.

E o que faz minhas senhoras, o que faz aquela mulher cristã que se apresenta na igreja a receber os Sacramentos com decote exagerado e com a saia pelo joelho?

Faz o mesmo que os vendilhões do templo: vai profanar a Casa de Deus. E procede ainda pior do que eles, porque os vendilhões negociavam em pombas e cordeiros, e aque­la senhora de­cotada, de braços nus, de blusa transparente e de saia subida, faz um negó­cio bem mais indigno: vai pôr em leilão a sua modéstia, o seu recato, o seu pudor, vai tal­vez roubar a Deus, ali mesmo no seu templo, muitas almas e muitos corações acendendo neles o fogo impuro da sensualidade!

Aqueles seus membros decotados, descobertos, despudorados, quantos pensa­mentos ig­nóbeis vão despertar nas almas, quantos sentimentos indignos farão nascer nos corações?!


E o pior é que semelhante procedimento não tem razão nenhuma que o justifique. Para an­dar lá por fora decotada e de saia curta, a mulher cristã ainda pode apresentar o tal moti­vo das conveni­ências sociais: ter de assistir a certas reuniões onde se exigem vestidos daquele feitio. Mas para se apre­sentar na igreja assim vestida é que não pode alegar semelhante ra­zão, porque não há ninguém, não há nenhuma conveniência social que a isso a obrigue. Vai assim, unicamente porque quer.

Compreendeis agora bem, minhas senhoras, a grandeza do insulto e da afronta fei­ta a Deus pela mulher católica que se apresenta na igreja com um vestuário inconveniente?

E como é grande também o mal que essa senhora causa com o seu exemplo! Ela vai arras­tar muitas outras senhoras a imitarem-na,
porque dizem assim:

− Este vestido decotado e curto pode usar-se sem escrúpulo, pois Fulana, que é uma se­nhora pie­dosa, também o usa e vai até com ele receber a Comunhão.

E desta maneira vai engrossando a corrente da moda indecorosa, e muitas senho­ras com certeza não se deixariam levar nessa torrente, se não fosse o mau exemplo dado por aquela se­nhora piedosa e leviana.

A Moda na Ação Católica

Aquele universitário, autor da carta que no domingo passado aqui vos li, queixa-se de que tam­bém nas fileiras da Ação Católica há senhoras e raparigas que escandalizam pelo mau exemplo da saia curta, da saia de quinto andar.

A essas especialmente eu quero lembrar em nome de Deus que dizem servir:

− A vossa responsabilidade é enorme, sobretudo se pertenceis aos quadros diri­gentes, como tremendas são as contas que ao Senhor haveis de dar pelo vosso mau ex­emplo. Se não ten­des coragem moral de resistir à tirania da moda para reformar em senti­do cristão o vosso vestuá­rio, sede coerentes e tomai a única atitude nobre e louvável, e que no dia do Julgamento vos pode valer algumas atenuantes diante de Deus: abandonai quanto antes os quadros da Ação Católica e não continueis a representar uma comédia in­digna.

Senhoras que me escutais: Em tudo quanto aqui vos disse, procurei abrir-vos a minha alma de Sacerdote de Cristo e disse-vos o que sentia, com a maior franqueza, com toda a sinceridade.

Vou agora terminar. Mas antes, quero fazer-vos dois pedidos: O primeiro é que me perdoeis alguma palavra mais enérgica que saísse dos meus lábios. Garan­to-vos que, se falei com energia, foi apenas em defesa dos vossos direitos, foi unicamente para no­bilitar o vosso sexo, pois quero ver a mulher livre e não escrava, quero vê-la livre da tira­nia da moda, que­ro vê-la no pedestal da sua grandeza, no trono da sua realeza.

Sim, no trono da realeza, porque a mulher é e deve ser sempre uma rainha: rainha da formosura e da elegância, rainha do sentimento e da bondade e também rainha dos corações. Eu quero ver a mu­lher conquistar os corações prendendo-os pela sua modéstia, pela sua hones­tidade.

Foi somente esta − podeis crer − a razão porque talvez falasse com um pouco de ener­gia.

Estou então desculpado e perdoado, não é verdade?

O segundo pedido é este: organizai minhas senhoras, quanto antes uma cruzada santa contra os excessos e loucuras da moda. Vós neste ponto podeis fazer muito, se quiserdes.

E fazendo isso, combatereis pela honra do vosso sexo, pela dignidade e libertação da mulher portuguesa.

Nunca sejais minhas senhoras, escravas da moda. A moda é que deve ser vossa escrava. À moda deveis ditar as leis da vossa inteligência e do vosso bom senso, deveis impôr-lhe os pre­ceitos do vosso bom gosto e da vossa honestidade.

E é aqui no santuário, em volta de Jesus Sacramentado, que mais deve realçar a modéstia e a compostura da vossa toilette. Aqui, à luz radiosa da Divina Eucaristia e sob o olhar de candura daquela Virgem Mãe, estudareis os modelos, os figurinos dos vossos vestidos. Levareis lá para fora esses modelos e vereis então a distinção e a elegância bri­lhar no vosso vestuário, vereis so­bretudo a pureza e a Graça Divina aureolar a vossa fron­te.

Dai a Jesus Cristo, em toda a parte, com o preito da vossa Fé a homenagem do vosso ves­tuário.

A esta Divina Mãe, que tanto vos quer, mostrai-lhe o vosso amor imitando a sua candura e a sua pureza.

E a candura e pureza da vossa alma, não a manifesteis somente no vosso lindo sorriso, mostrai-a também no recato do vosso elegante vestido.

Pregai com o exemplo e pregai com a palavra. Vós que sois crentes, vós que sois católi­cas, vós que sois piedosas, minhas senhoras, sede também apóstolas. Levai daqui bem gravadas no vosso coração as imagens radiosas de Jesus e de Maria e fazei ressus­citar essas imagens ben­ditas lá fora no mundo, no vestuário feminino. Para que o mundo leviano e corrompido não volte novamente à igreja a insultar Jesus diante do seu sacrário, a insultar a Virgem diante do seu altar.

Trabalhai, senhoras minhas, trabalhai esforçadamente nesta grande obra de apos­tolado católico, fazendo brilhar no vestuário feminino a modéstia, o recato e o pudor cris­tão.

E Nossa Senhora que é a Rainha da modéstia e do pudor, Nossa Senhora que é o Modelo perfeito da mulher cristã, há de agradecer os vossos esforços, há de iluminar a vossa alma com o mais lindo dos seus sorrisos, há de fazer baixar lá do Céu, sobre todas vós, a melhor das suas bênçãos maternais.



► Falei-vos aqui do vestuário indecoroso da moda feminina, que o Papa Pio XII enume­ra em pri­meiro lugar na lista que apresenta dos principais inimigos da castidade − a virtude en­cantadora que deve brilhar na alma e no coração de uma noiva.

Mostrei-vos os malefícios dessa rainha tirana − a moda − que tantas escravas traz acor­rentadas ao seu carro de triunfo. E não resisto ao desejo de citar aqui um caso, cujo conhe­cimento talvez seja pro­veitoso, que li num jornal de Paris − La Croix − e me causou funda im­pressão.

Uma rapariga francesa, das que se vestem ou despem à moderna, foi vítima de um resfria­mento que apanhou num baile. No seu leito de morte, disse ela ao Confessor diante de outras pes­soas:

− Meu Padre, sinto-me feliz por vê-lo nesta hora ao pé de mim... Tenho necessidade de perdão. Sou uma vítima da moda. Os bailes, as corridas de cavalos, o desejo de ser vis­ta perde­ram-me.

Sinceramente me arrependo.

Arrependo-me de ter escandalizado... Tive uma educação cristã, fui piedosa, filha de Maria, mas depois tornei-me escrava da moda. Oh! Foi horrível o meu vestuário e care­ço de perdão!

Sou culpada, muito culpada. A princípio, foi por ingenuidade que me vesti assim. Mais tar­de, não. Sabia que fazia mal, que provocava olhares apaixonados, que era objeto de curiosidades repreensíveis. Agora, quero expiar.

− Sossegue e tenha confiança, Germana
− atalhou o Sacerdote. Está a expiar por meio do seu sofrimento. Aceite tudo com resignação, até a morte, se Deus lha quiser dar.

− Já fiz o sacrifício da minha vida ao Senhor
− disse a doente − mas isso não basta. Pequei publicamente, quero arrepender-me e expiar publicamente também. Peço-lhe, meu Padre, que diga às minhas companheiras,  que diga a todas as raparigas, e em toda a par­te, que Germana Duverse­au morre vítima da moda indecente, e que lhes pede, no momen­to supremo de aparecer diante de Deus, que nunca sejam causa de escândalo, pelos seus vestidos indecorosos.

No dia seguinte, era dado à terra o cadáver da pobre menina. As numerosas pesso­as que o tinham acompanhado, transmitiam comovidamente umas às outras o impressio­nante testa­mento de Germana Duverseau.

Tinha pedido que a envolvessem no véu da sua Primeira Comunhão e que lhe pu­sessem a sua fita de filha de Maria, como protesto contra os seus loucos ornatos munda­nos.


Quase a expirar, disse a sua mãe:

− Oxalá que Deus, ao ver a minha última toilette, esqueça as outras que me perde­ram, e faça que esta seja a minha toilette do paraíso.

Queridos ouvintes:

Vêem-se por aí tantas Germanas Duverseau na fase da sua loucura mundana!

Apraza a Deus que a imitem também no seu arrependimento tão edificante"(R. Pe. Ascânio Brandão, "O Matrimônio Católico", Vol. II, 2ª Part., Homilias 30ª à 35ª, pp. 207-244, 2ª edição, Tip. da Casa Nun'Alvares, Porto, 1944).

Fonte: Acessar o ensaio "Reminiscência sobre a Modéstia no Vestir" no link "Meus Documentos - Lista de Livros".

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