Blog Católico, para os Católicos

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"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

segunda-feira, 8 de novembro de 2021

A EUCARISTIA – BOSSUET. 18


Comunhão indigna. S. João e Judas.

É um atentado direto à Pessoa de Cristo.

Aos Santos as coisas santas.


Jesus, que tudo faz pela nossa salvação, permitiu que Judas recebesse o dom sagrado com os outros, a fim de que, víssemos os efeitos funestos de uma Comunhão indigna.

Vede o bem-amado discípulo à mesa do Salvador, e repousando no peito deste; eis aí a imagem dos que comungam dignamente. Repousam no peito de Jesus; a exemplo de São João, aprendem nessa fonte os segredos celestes; como ele, são honrados com a familiaridade e com as carícias de seu Mestre, e, fiéis imitadores da sua castidade, da sua bondade, da sua doçura, que são os verdadeiros caracteres de São João, são dignos como ele de ser seus discípulos diletos.

Vede do outro lado um Judas na Comunhão; a disposição em que ele está, em que entra; ó Deus, que oposição! Que tremendo contraste! Quem não tremeria a essa vista?

Os que recebem indignamente o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo, “bebem, diz São Paulo, e comem a sua condenação, porque não discernem o Corpo do Senhor”.1

O Santo Apóstolo fala aqui de maneira terrível, visto como, depois de avivar na memória dos fiéis que Jesus Cristo dissera que aquilo que Ele dava a comer era o seu Corpo, o mesmo que devia ser perfurado e dilacerado na Cruz, e que a taça que lhes dava a beber era, pelo Sangue derramado que ela continha, o instrumento da Aliança e do Testamento que o Salvador fazia para proveito deles. Conclui daí que “aqueles que comem esse pão”, notai, esse pão, quer dizer, esse pão feito corpo, tal como Ele acaba de narrar, “e bebem a taça do Senhor indignamente, são réus do seu Corpo e do seu Sangue”. E que é ser réu desse Corpo e desse Sangue, se não é, não somente profana-los, mas ainda fazer-lhes um ultraje da mesma natureza do que lhes fora feito pelos Judeus, quando dilaceraram um e derramaram o outro? E é por isto, que eles bebem e comem a própria condenação, porque são semelhantes àqueles pérfidos que não tinham posto nenhuma diferença entre o Corpo de Jesus Cristo e o dos ladrões que crucificaram com Ele. E notai que o ultraje que os Judeus haviam feito a Jesus Cristo dizia respeito precisamente ao seu Corpo; porque é só ao corpo que se pode fazer mal, entregando-o à morte, conforme esta palavra: “Não temais os que só podem matar o corpo, e não podem estender mais longe o seu nascimento”.2 Os Judeus, portanto, ultrajaram o próprio Corpo e na sua própria substância, quando O puseram na Cruz; ultrajaram aquele Sangue em si mesmo e na sua própria substância, quando o fizeram correr sobre a terra por um infame suplício, como se fosse o sangue de um réu.



Vós, fazeis sacrilégio semelhante, quando comeis e bebeis indignamente esse Corpo e esse Sangue; vós os profanais e os ultrajais em si mesmos; e esse ultraje que fazeis ao Corpo do Salvador é não discerni-lo, é não lhe conhecer a santidade nem o preço. Ele não diz que esses não O recebem, por falta de fé, como dizem os nossos hereges, mas que não O discernem, supondo-se que O recebem como se diria de uma pedra preciosa que atirásseis à lama como uma outra pedra, depois de recebê-la; não a deixastes de receber, mas não fizestes dela o discernimento e a estima que cumpria.

Também não é o que dizem ainda esses hereges: Sois réu desse Corpo e desse Sangue, como se é réu para com a pessoa do príncipe quando se lhe rasga injuriosamente o quadro. Porquanto não se fala aqui de quadro nem de figura; o Apóstolo coloca na mesma linha: Isto é meu Corpo, réu do Corpo; e: não discernir o Corpo. Não se deve, pois, diminuir o crime daqueles contra quem o Apóstolo se eleva, nem enfraquecer a honra que se deve ter disto. É verdade que, em tratando indignamente a imagem do próprio príncipe, o atacamos, o desonramos, porém, por uma injúria bem inferior à que lhe faríamos atentando contra a sua pessoa sagrada. O atentado dos cristãos que comem indignamente o Corpo do Salvador e lhe bebem indignamente o Sangue, é deste último gênero; é um atentado feito imediatamente à sua Pessoa; numa palavra, há duas coisas a considerar no suplício de Jesus Cristo: o crime dos Judeus e a obediência do Salvador. Os que recebem dignamente o seu Corpo e o seu Sangue participam do mérito da sua obediência; os que, os recebem indignamente, participam do sacrilégio dos seus assassinos e atentam como eles, imediatamente contra a sua Pessoa Sagrada.


 

Senhor, atraí-nos a Vós, inspirai-nos um justo discernimento do Corpo que recebemos; não O tratemos como uma coisa imunda, recebendo-O num corpo impuro e manchado. As coisas santas são para os Santos, como se bradava outrora ao povo fiel, quando se ia distribuir o Corpo de Jesus Cristo. Não O toquemos com mãos sacrílegas, não O recebamos com boca impura, não Lhe demos um ósculo de Judas, um beijo de traidor: seja um ósculo de esposa, um ósculo cheio de ardor, e seja o penhor de um casto e perpétuo amor. (1)

(1) A respeito do título de Esposo místico de nossas almas, reivindicado por Nosso Senhor, de que se fala tantas vezes nos Livros Santos e nos hagiógrafos, eis aqui uma página primorosa de Bossuet, extraída das Elevações sobre os Mistérios. São João Batista, dando testemunho a Cristo, chama-Lhe o Esposo.



Quem poderia, exclama Bossuet, entender a suavidade dessas palavras? São João descobre-nos nelas um novo caráter de Jesus Cristo, o mais terno e o mais doce de todos; é que Ele é o Esposo. Esposou a natureza humana que Lhe era estranha; fez dela um mesmo todo Consigo; nela, esposou a sua Santa Igreja, Esposa imortal que não tem nem mácula nem ruga; esposou as almas santas que Ele chama à sociedade, não só do seu reino, porém, do seu tálamo real, cumulando-as de dons, de castas delícias, fruindo delas, dando-Se a elas, dando-lhes não somente tudo o que tem, mas ainda tudo o que é, seu Corpo, sua Alma, sua Divindade, e preparando-lhes na vida futura uma união incomparavelmente maior. Eis aí, pois, como é que Ele é o Esposo, como tem a Esposa. – Desposei-Vos, diz Ele, em fé; dai-Me a vossa fé, recebei a Minha. Nunca Vos repudiarei, Igreja Santa, nem vós, alma que escolhi desde toda a eternidade; nunca Vos repudiarei. Achei-Vos, diz o Senhor, na vossa impureza; lavei-Vos, enfeitei-Vos, estendi Meu manto sobre vós, e Vos tornastes Minha, et facta et mihi. Esposa, tomai cuidado com o seu santo e inexorável ciúme; não partilheis o vosso coração; não sejais infiel; do contrário, se romperdes o sagrado contrato que fizestes com Ele no Batismo, qual não será contra vós o seu justo furor!

Eis aí, pois, o caráter de Jesus: é um Esposo terno, apaixonado, transportado, cujo amor se mostra pelos seus efeitos inauditos”.3

Atraí-nos, Senhor, a esse casto e doce ósculo, atraí-nos, e correremos atrás dos vossos perfumes. Os que são retos Vos amam”.4

São esses os que Vos dão esse santo beijo, esse óculo de paz e de um amor eterno. Porque “ninguém vem a Mim que meu Pai o não atraia”; ninguém vem a Mim que tal não lhe seja dado por meu Pai; ninguém comunga dignamente senão por esse atrativo.


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Fonte: Jacques-Bénigne Bossuet, Bispo de Meaux, “Meditações sobre o Evangelho” – Opúsculo “A Eucaristia”, Cap. XVIII, pp. 86-91. Coleção Boa Imprensa, Livraria Boa Imprensa, Rio de Janeiro/RJ, 1942.

1.  I Cor. XI, 20.

2.  Luc. XII, 4.

3.  XVIª Semana, VIIIª Elevação.

4.  Cânt. 1, 2.


A EUCARISTIA – BOSSUET. 17


A Comunhão.

Deve-se comungar

ao menos em espírito.


Vem-se à comunhão: hora terrível, hora desejável. O Padre comungou: preparai-vos, vossa vez chegará dentro de um momento. Comungai primeiro em espírito; crede, adorai, desejai. É a minha comida; é a minha vida; desejo-a, quero-a. Não estais preparado para comungar? Chorai, gemei. Ai, onde está o tempo em que ninguém assistia, a não serem os comungantes, em que expulsavam, em que repreendiam, ou pelo menos censuravam, os que assistiam ao banquete sagrado sem comer? Efetivamente, assistir a ele sem comer não é desonrar o festim e desprezar-lhe as iguarias? Que desprezo! Que doença! Que desgosto! Mas não é mais o costume. Escutai o que diz a Igreja no Concílio de Trento: O Santo Concílio desejaria que todos os que assistem ao Sacrifício participassem dele. E porque é que o Santo Concílio o deseja, senão porque Jesus Cristo o deseja? Porque Ele não se converte em vianda senão para ser comido. A Igreja deseja, pois, que comungueis, vós todos que assistis ao Sacrifício. O Concílio todavia, não diz que deseja; diz que desejaria: Optaret sancta synodus. Porque? A Igreja não ousa formular desejo absoluto de tão grande bem; desejaria que todos o fizessem, que todos fossem dignos dele.

Ó Sacerdote, desejai também que todos comunguem convosco! E vós todos que assistis, correspondei a esse desejo da Igreja e do seu Ministro. Se não comungais, repito, chorai pelo menos, gemei, reconhecei tremendo que o cristão deveria viver de maneira que pudesse comungar todos os dias. Prometei a Deus preparar-vos para comungar quanto antes: tereis comungado ao menos em espírito. O Sacerdote comunga: o Sacerdote acaba, aflito, de comungar sozinho; não é culpa sua; não se deve deixar de armar a mesa, ainda que nem todos se aproximem dela. Tal é a liberalidade, tal é a bondade do grande Pai de família.

Finalmente, o Sacrifício está consumado: retirai-vos com dor de não terdes tido nele toda a parte que vos era destinada.


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Fonte: Jacques-Bénigne Bossuet, Bispo de Meaux, “Meditações sobre o Evangelho” – Opúsculo “A Eucaristia”, Cap. XVII, pp. 84-85. Coleção Boa Imprensa, Livraria Boa Imprensa, Rio de Janeiro/RJ, 1942.


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