Os
Pais Perante Deus
Os
pais que se ocupam em educar bem seus filhos não serão confundidos,
no juízo particular e no juízo universal. Triste, porém, será o
juízo de pais empenhados em apenas gozar a vida e despreocupados da
educação de sua prole.
Neste
sentido, é notório o conflito entre duas categorias de pessoas: os
que desejam bem formar suas famílias de acordo com esses
ensinamentos tradicionais; e aqueles que, devido às influências do neo-paganismo atual -- como as provenientes da televisão, que invade
incontáveis lares com suas telenovelas e programas de teor
anticatólico -- procuram se adaptar às máximas da mentalidade
moderna.
Como
poderoso auxílio aos pais de família, transcrevemos alguns
princípios que o grande Doutor da Igreja, Santo Afonso Maria de
Ligório, fundador dos Redentoristas, proclamou em seus Sermões.
"Quando
Deus abençoa os pais dando-lhes filhos, o que Ele tem em vista não
é a vantagem da casa; mas que os filhos sejam educados no santo
temor e formados para a salvação eterna. Daí estas palavras de São
João Crisóstomo: 'Olhemos
os filhos como precioso depósito, velemos por eles com toda a
solicitude possível'. Se os filhos
fossem um dom oferecido apenas aos pais, estes poderiam dispor deles
como quisessem; mas como são um simples depósito, os pais deverão
prestar contas a Deus por cada filho que se perca por sua
negligência”.
Consequências
de uma Boa
ou Má
Formação
"Para
nos fazer compreender que os pais, vivendo segundo a vontade de Deus,
atraem as bênçãos celestes sobre eles e sobre toda a casa, a
Sagrada Escritura diz: 'Para
que suceda bem a ti e aos teus filhos depois de ti, tendo feito o que
é agradável aos olhos do Senhor' (Deut. 12, 25). Quem
quiser saber se a conduta de um pai de família é boa ou má,
examine a conduta do filho. 'Pelo
fruto conhecereis a árvore' (Mt 12, 33), diz
Nosso Senhor. Quando um pai de família morre, mas deixa um filho, é
como se ele não tivesse morrido, pois este filho o perpetua, o
continuará. 'Este
homem morre, mas é como se não tivesse morrido, pois ele deixa em
seu filho um outro ele mesmo depois dele' (Ecl. 30, 4). Pelos
filhos que blasfemam, que dizem palavras impuras ou roubam, pode-se
perceber os vícios do pai. Pois, diz o Eclesiástico,
'Um homem
conhecesse
pelos filhos que deixa' (Ecl. 11, 30).
Responsabilidade
dos Pais
"Tranquila
e feliz será a morte dos pais e mães de família que formam seus
filhos na vida cristã. 'Aquele
que se ocupa em bem educar seus filhos, no dia da morte não será
consternado nem confundido' (Ecl. 30, 5). E
diz São Paulo: 'Elas
serão salvas por causa de seus filhos' (1Tim. 2, 15). Graças
à boa educação que lhes terão dado. Ao contrário, bem triste, e
mesmo desesperada, será a morte desses pais que unicamente cuidam em
aumentar a fortuna e o brilho de sua casa, para gozar a vida, sem se
preocupar nem um pouco em educar seus filhos. 'Se
alguém – diz ainda São Paulo --
não tem cuidado com os seus, e principalmente com os de sua casa,
negou a fé, e é pior do que um infiel' (1Tim. 5, 8).…
"Se
ao menos certos pais cuidassem de seus filhos tanto quanto por seus
animais! Quanta solicitude para que nada falte a estes! Que atenção
para que a comida seja dada no tempo certo! E, com a atenção
inteiramente posta nisso, não se preocupam se seus filhos conhecem
ou não o catecismo, se assistem à missa e se confessam. 'Sim
-- lamenta São João Crisóstomo –
cavalos e animais de carga lhes tomam mais o coração que os
próprios filhos!'.
Consequências
da Negligência
dos Pais
"É
uma grande desgraça para os filhos terem maus pais, não somente
incapazes de educá-los, mas, pior ainda, indiferentes às suas
condutas: que veem
seus filhos em más companhias, discutindo, divertindo-se em
relacionamentos ruins, e, em vez de repreendê-los e puni-los, os
escusam dizendo: 'Não
se pode fazer nada, são coisas da juventude'. Bela
máxima... bela educação!.…
"Assim
como é fácil aos filhos, ainda crianças, adquirirem bons hábitos,
é difícil ao homem maduro corrigir-se dos maus hábitos contraídos
na mocidade”.
"Passaremos
ao segundo ponto, e eu vos suplico, pais e mães de família, de
reterdes bem isto que vos direi sobre a maneira de bem educar vossos
filhos".
A
Disciplina
Compreende
o Ensinamento
da Religião
e da Moral
"No
que consiste precisamente a boa educação dos filhos? São Paulo nos
diz claramente em duas palavras: 'Educai
vossos filhos na disciplina e na correção do Senhor' (Ef. 6, 4).
"Em
primeiro lugar, por disciplina, é preciso compreender tudo que os
pais devem fazer para formar os filhos nos bons costumes. Consiste em
instruí-los e dar-lhes o bom exemplo.
"Que
os pais tenham antes de tudo o dever de ensinar aos filhos o temor de
Deus e a fuga do pecado. Assim fazia o justo Tobias em relação a
seu filho. Com efeito, lemos na Sagrada Escritura:
'Ao
qual ensinou desde a infância a temer a Deus e abster-se de todo o
pecado' (Tob. 1,10).
"Que
consolações e que alegrias o Céu reserva em recompensa pela
solicitude dos pais cristãos! Sim, diz o Sábio: 'Educa
bem o teu filho, e ele consolar-te-á e será as delícias da tua
alma' (Prov. 29, 17). Mas, se o filho
bem instruído é a alegria de seus pais, os filhos ignorantes os
enchem de tristezas; pois, ignorar as regras da vida cristã e se
conduzir mal, é uma só coisa.
"Conta
Thomas de Cantimpré que, em 1248, um sacerdote foi encarregado de
fazer um discurso ao clero de Paris reunido em Sínodo. Este
sacerdote era muito ignorante e, estando na presença de seu
auditório, se confundiu completamente. Então o demônio veio em sua
ajuda e lhe sugeriu que pronunciasse as seguintes palavras: 'Os
príncipes das trevas saúdam os príncipes da igreja, e nós lhes
agradecemos vivamente pela negligência em instruir ao povo. Pois, as
almas estagnadas na ignorância, seguem o caminho do mal e chegam ao
inferno'. Linguagem semelhante bem se
poderia dirigir a certo pais". (Sermons de S. Alphonse de
Liguori, Analyses, commentaires, exposé du système de sa
prédication, par le R.P. Basile
Braeckman, de la Congrégation du T. S. Rédempteur, Tome Second.
Jules de Meester-Imrimeur-Éditeur, Roulers, pp. 464-472).
Os
Deveres dos Filhos em Relação
aos Pais
"Honra
teu pai e tua mãe, para que vivas longamente e te suceda tudo de bom
nesta terra"
Do
insigne Doutor da Igreja Santo Afonso Maria de Ligório (1696-1787):
Honrar
pai e mãe -- Este Mandamento tem como principal objeto os deveres
dos filhos para com os pais; mas ele compreende também os deveres
dos pais para com os filhos, bem como os deveres recíprocos de
senhores e servidores, de marido e mulher.
Um
filho deve a seus pais Amor, Respeito e Obediência. Portanto, em
primeiro lugar ele é obrigado a amá-los.
Como
se Peca
Contra
o Amor que se Deve
aos Pais
1.
Comete pecado grave quem deseja o mal a seu pai ou a sua mãe em
matéria grave. Peca até duplamente: contra a caridade e contra a
piedade filial.
2.
Peca quem fala mal dos pais. Comete então três pecados: um contra a
caridade, outro contra a piedade filial e outro contra a justiça.
3.
Peca quem não socorre os pais em suas necessidades, sejam temporais,
sejam espirituais. Assim, quando um pai está perigosamente doente, o
filho é obrigado a adverti-lo e induzi-lo a receber os Sacramentos.
Quando
o pai ou a mãe se encontram numa grave necessidade, o filho é
obrigado a sustentá-los a suas expensas. Ajudai vosso pai em sua
velhice, nos diz o Espírito Santo: Fili,
suscipe senectam patris tui (Ecli.
III, 14). Nossos pais nos alimentaram em nossa infância; é justo
que nós os alimentemos em sua velhice.
Santo
Ambrósio (Exam. L. 5, C. 16) diz das cegonhas que, quando veem seu
pai e sua mãe na velhice e sem condição de procurar alimento, elas
têm o cuidado de lho trazer. Que ingratidão num filho, beber e
comer copiosamente, enquanto sua mãe morre de fome!
Exemplo
de Piedade
Filial
Escutai
a narração de um admirável exemplo de piedade filial.
Havia
no Japão, em 1604, três irmãos ocupados em obter um meio de
sustentar sua mãe. Não conseguindo, o que fizeram eles? O imperador
tinha ordenado que quem entregasse um ladrão nas mãos da justiça,
receberia como recompensa uma soma considerável.
Os
três irmãos combinaram que um dentre eles, designado à sorte,
consentiria em passar por ladrão, e seria entregue pelos dois
outros. Desse modo obteriam a recompensa prometida e poderiam
socorrer sua mãe.
A
sorte caiu sobre o mais jovem que, fazendo-se passar por ladrão,
teve que se resignar a morrer, pois o roubo era punido com a morte.
Foi então atado e conduzido à prisão. Mas os circunstantes notaram
que os acusadores e o acusado, ao se despedirem, abraçavam-se
vertendo lágrimas.
O
juiz foi logo avisado e ordenou que se vigiassem os dois jovens, para
saber aonde iam. Tão logo chegaram à casa, a mãe, tendo sabido o
que se passara, declarou que preferiria morrer ela mesma a permitir
que seu filho morresse por sua causa. "Devolvei
o dinheiro, dizia ela, e
restituam-me meu filho".
O
juiz, inteirado do fato, deu conhecimento do mesmo ao imperador. Este
ficou de tal modo tocado, que concedeu uma larga pensão aos três
generosos irmãos. Foi assim que Deus os recompensou pelo amor que
tinham testemunhado à sua mãe.
Deus
Castiga
os Maus
Filhos
Ouvi,
pelo contrário, como Deus quis punir um filho ingrato. O bispo
Abelly (Vérités princ. instr. 28) cita um fato contado por outro
autor, Thomas de Cantimpré, como acontecido em seu tempo na França.
Um
homem rico, tendo um filho único, desejava casá-lo com uma moça de
posição bem mais elevada. Mas os pais desta impuseram como condição
para o casamento, que esse homem e sua esposa cedessem tudo o que
possuíam ao filho, do qual receberiam depois a subsistência; o que
foi aceito.
O
filho começou por tratar bastante bem o pai e a mãe. Mas ao fim de
algum tempo, para agradar à mulher, obrigou-os a se retirarem de
casa e passou a lhes conceder um parco auxílio.
Certo
dia convidou amigos para um banquete em sua casa. Tendo seu pai
vindo-lhe pedir alguma assistência, despediu-o com palavras duras.
Mas escutai o que lhe aconteceu.
Quando
se sentou à mesa, apareceu um sapo hediondo que, de um salto, se
fixou no seu rosto de tal maneira que foi impossível retirá-lo. Não
se podia tocar nesse sapo, sem causar ao infeliz uma dor
insuportável.
Arrependeu-se
então de sua ingratidão e foi confessar-se ao Bispo. Este lhe
impôs, como penitência, percorrer todas as províncias do reino com
a face descoberta, contando por toda a parte o que atraíra sobre si
este castigo, a fim de que servisse de exemplo aos outros.
Thomas
de Cantimpré diz ter tomado conhecimento desse fato por um religioso
da Ordem de São Domingos, o qual, estando em Paris, tinha visto ele
próprio o culpado com o sapo colado ao rosto e o tinha ouvido narrar
estas coisas.
Vossos
Filhos
vos Tratarão
como Tiverdes
Tratado
vossos Pais
Sede,
pois, zelosos em amar vossos pais e, se eles são pobres, ou
prisioneiros, ou doentes, tende cuidado em ajudá-los. Senão,
preparai-vos para os justos castigos de Deus, que permitirá, pelo
menos, que vossos filhos vos tratem como tiverdes tratado vossos
pais.
Verme
narra, em sua Instrução, que um pai, tendo sido expulso de casa por
seu próprio filho, e encontrando-se doente, entrou num hospital, de
onde mandou pedir a este mesmo filho dois lençóis. Este encarregou
seu jovem filho de os levar, mas a criança não entregou senão um
dos lençóis ao seu avô. Tendo seu pai lhe perguntado a razão
disto, respondeu: "Guardei o
outro para ti, quando fores para o hospital".
-- Compreendeis o que isto significa: como os filhos tratam os pais,
do mesmo modo serão tratados por seus filhos.
Como
se Peca
Contra
o Respeito
Devido
aos Pais
Deus
quer que cada um honre seu pai e sua mãe, não lhes faltando jamais
ao respeito, seja por atos, seja por palavras, e suportando seus
defeitos com paciência inalterável: In
opere et sermone, et omni patientia, honora patrem tuum (Ecli.
III, 9).
É
pois pecado falar a seus pais com aspereza ou com tom elevado. Pecado
ainda maior é zombar deles, opor-se à sua vontade, amaldiçoá-los,
ou proferir contra eles termos injuriosos, como os de louco, imbecil,
ladrão, bêbado, bruxo, celerado, e outros deste gênero. Se
palavras dessas são proferidas em sua presença, o pecado é mortal.
Sob
a Antiga Lei, aquele que injuriava o pai ou a mãe era condenado à
morte: "Qui maledixerit patri
suo vel matri, morte moriatur"
(Ex. XXI, 17). Agora, se não é mais condenado à morte, é contudo
amaldiçoado por Deus, que o condena à morte eterna: "Et
est maledictus a Deo, qui exasperat matrem"
(Ecli. III, 18).
O
pecado seria ainda mais grave se erguesse a mão contra seu pai ou
sua mãe, ou se ameaçasse agredi-los. Aquele que ousou pôr as mãos
sobre seu pai ou sua mãe, deve esperar morrer logo; pois a Escritura
promete uma vida longa e feliz para aquele que honra os pais: "Honora
patrem tuum et matrem..., ut longo vivas tempore, et bene sit tibi in
terra" (Deut. 5, 16).
Assim,
quem maltrata os pais viverá pouco tempo e será infeliz na terra.
São
Bernardino de Siena (T. 2, s. 17, a. 3, c. 1) narra que um rapaz,
tendo sido enforcado, ficou com a face coberta por uma longa barba
branca, como a de um velho. Foi revelado ao Bispo, que rezava por
aquele infeliz, que ele teria vivido até a velhice se não tivesse
merecido, por respeitar pouco seus pais, ser abandonado por Deus a
ponto de ser levado a cometer os crimes que lhe causaram a morte.
Mas
escutai um fato ainda mais horrível, citado por Santo Agostinho (De
Civ. D. l. 22, c. 8).
Na
província de Capadócia, uma mãe tinha vários filhos. Um dia, o
mais velho, após havê-la injuriado, começou a agredi-la, sem que
os outros o impedissem como deviam. Então a mãe, irritada por este
tratamento indigno, cometeu outro pecado: correu à igreja, e diante
do batistério em que seus filhos tinham sido batizados,
amaldiçoou-os
a todos, pedindo a Deus que lhes infligisse um castigo que espantasse
o mundo inteiro.
Imediatamente
os filhos sentiram um grande tremor em seus membros e se dispersaram
por todos os lados, levando consigo os sinais da maldição pela qual
estavam atingidos. À vista desse castigo, a mãe foi tomada de tal
dor que, entregando-se ao desespero, enforcou-se.
Santo
Agostinho acrescenta que, encontrando-se numa igreja onde se
veneravam as relíquias de Santo Estêvão, viu chegar dois destes
filhos amaldiçoados, que todos viam tremer. Porém, em presença das
relíquias do glorioso Mártir, obtiveram por sua intercessão serem
libertados do mal que os afligia.
Como
se Peca
Contra
a Obediência
que se Deve
aos Pais
Deve-se
obedecer aos pais em tudo que é justo, segundo diz São Paulo:
"Filii, obedite parentibus
vestris in Domino" (Eph. VI,1):
Filhos, obedecei a vossos pais no Senhor.
Portanto,
há obrigação de obedecer-lhes naquilo que diz respeito ao bem da
família e sobretudo aos bons costumes. Assim, peca o filho que não
obedece aos pais quando eles o proíbem de se entregar ao jogo, ou de
frequentar
certa má companhia, ou de ir a uma casa suspeita. (Santo AFONSO MARIA
DE LIGÓRIO, Oeuvres Complètes --
Oeuvres Ascétiques, Casterman,
Tournai, 1877, 2ª ed., t. XVI, pp. 463 a 470).
“A
natureza do Matrimônio
fica absolutamente subtraída à liberdade
humana.
Quem
se casa fica, por conseguinte,
preso às leis e propriedades
essenciais
desta
Instituição divina”
(Rev.
Pe. Geraldo Pires de Souza, C.Ss.R., “As Três Chamas do Lar”,
Cap.
II, 9, p. 23, 2ª Edição, Ed. Vozes, 1939).
"O
cristão que não é apóstolo é apóstata"
(Papa
Pio XI).