O
Filho de Deus aparecera na terra, revestido de nossa mísera
humanidade, ocultando sob as feições de um menino comum os
esplendores da Divindade, de modo a ninguém poder suspeitar que
naquele menino chamado Jesus, se ocultasse um Deus. Mas havia quem
pensasse em manifestar-Lhe a glória, a dignidade e a Divindade.
De
fato, houvera já uma primeira manifestação de Sua Divindade na
ocasião do Nascimento, quando os Anjos festejaram a Deus feito
menino. Os pastores, avisados pelos Anjos, naquela mesma noite
reconheceram e adoraram o recém-nascido Salvador do mundo.
Uma
segunda manifestação da Divindade de Jesus teve lugar 40 dias após
o Nascimento, em Sua Apresentação no Templo. Uma terceira, ainda
mais clamorosa e solene, não devia tardar a realizar-se, por meio de
ilustres personagens, provenientes de longínquas terras: é a
terceira Epifania de Jesus.
Enquanto
os Anjos, com seus cânticos, anunciavam nas cercanias de Belém o
Nascimento de Jesus Menino, anunciava-O no Oriente o surgir de uma
nova estrela.
Os
pastores de Belém, primeiros adoradores do Messias, representavam o
povo hebreu, o povo do Senhor. Os representantes dos pagãos foram os
Magos; homens que se ocupavam das ciências, especialmente da
astronomia, da medicina e da matemática.
Naquele
tempo, o mundo inteiro, mas em particular o mundo oriental, esperava
uma nova era para toda as nações e julgava-se que essa era tivesse
origem na Palestina. Os Magos meditavam talvez nessa crença, quando
viram resplandecer no Céu uma estrela maravilhosa, que nunca se vira
antes, a mover-se em direção à Palestina. Pensando existir relação
entre o astro e o esperado Redentor, puseram-se a caminho da Judeia,
para irem a Jerusalém em busca de notícias mais seguras. A estrela
milagrosa, servindo-lhes de guia, conduziu-os até a Cidade Santa e
desapareceu.
A
tal desaparecimento, pensaram os Magos que o Menino tivesse nascido
nessa cidade, razão pela qual perguntaram: “Onde nasceu o Rei
dos Judeus? Porque vimos
a sua estrela no Oriente (vinham talvez da Arábia) e viemos para
adorá-Lo”.
Herodes,
sabendo do acontecido, pensando que o Menino recém-nascido pudesse
tornar-se usurpador de seu trono, convocou o conselho dos Doutores da
lei e interrogou-os a respeito do lugar onde deveria nascer o
Messias. Responderam estes que, segundo a profecia, devia nascer em
Belém. Herodes, soberbo e cruel tirano, rei sanguinário que fizera
incluir no testamento a ordem de serem mortos, por ocasião de sua
morte, todos os chefes de famílias, para constranger a nação a
chorá-la, querendo desembaraçar-se de Jesus, disse aos Magos, com
intenções secretamente malignas: “O Menino que
procurais, deve nascer em Belém: ide, procurai-O e, quando O
tiverdes encontrado, avisai-me, para que eu também O vá adorar”.
Os
Magos concordaram com a proposta, e, saindo da cidade, foram
novamente guiados pela estrela até o lugar onde se encontravam José,
Maria e o Menino. Segundo o uso oriental, detiveram-se na hospedaria
pública, com os seus camelos, e foram perguntar ao chefe da Sagrada
Família, São José, se lhes permitia obsequiar o Menino, pois que
um aviso celeste até ali os conduzira para tal fim. E, recebendo
naturalmente de São José uma resposta afirmativa, compareceram
aqueles príncipes com um séquito de servos, que, extraindo muitos
vasos cheios de dons, trouxeram-nos para diante deles, segundo o uso
oriental de jamais comparecer sem dons diante dos monarcas.
Encontraram
e viram o Criador feito
Menino, no regaço de Maria, que em sua simplicidade se preparara
para receber a singular visita, e, humildemente prostrados
a Seus pés, cheios de fé e veneração, adoraram-No e se ofereceram
a si mesmos, juntamente, com as suas nações.
Sua
régia fé não se abalou nem com a pobreza do ambiente, nem com a
aparente humildade da condição de José e de Maria, mas deixaram
que Deus lhes governasse os corações. Tomaram, portanto, os vasos
preciosos, expostos pelos servos em cima dos tapetes, e, abrindo-os,
ofereceram ao Menino ouro, incenso e mirra: misteriosa oblação em
sinal dos profundos sentimentos de fé, amor e veneração que lhes
enchiam a alma, e símbolo da Divindade do Menino, de Sua Majestade e
de Sua missão redentora*.
*
Diz Santo Anselmo, que as moedas oferecidas pelos Magos a Jesus
Menino seriam as mesmas com que tantos séculos antes o casto José
egípcio fora comprado pelos ismaelitas, ao ser-lhes vendido por seus
irmãos; as mesmas que, tendo chegado depois às mãos dos Sacerdotes
do Templo, serviram para dar a Judas o preço da traição.
E
a Criancinha tudo guardou e conheceu o significado dos presentes,
abençoando aquelas primícias dos gentios, chamados a participarem
de Seu Reino, com um cúmulo de graças para as nações que lhes
estavam submetidas.
É
provável que, depois disso, os Magos**
se entretivessem por algum tempo em santa conversação com a Mãe de
Deus e com São José, sabendo assim os detalhes mais importantes do
Nascimento do Senhor. Após os mais vivos agradecimentos,
regressaram, e, avisados em sonho pelo Anjo do Senhor para não
tornarem a Herodes, por outro caminho voltaram à sua pátria. Estava
cumprida a sua missão.
**
Os Magos puseram verdadeiramente em prática tudo quanto haviam
aprendido na gruta sagrada; de fato, regressando aos seus países,
com palavra e o exemplo exortaram uma infinidade de pessoas. Narra
depois uma piedosa tradição que, mais tarde, tendo-se já difundido
os Apóstolos para a pregação do Santo Evangelho, chegou àquelas
regiões São Tomé, batizou-os, confirmou-os, consagrou-os
Sacerdotes e Bispos e, por fim, padeceram na Arábia o martírio pela
fé. Suas relíquias foram transportadas a Constantinopla, no século
IV, por Santa Helena; dali, foram transferidas para Milão, na Igreja
de S. Eustórgio. E, em 1162, tendo Frederico Barbarroxa devastado
Milão, foram transportadas para Colônia (Alemanha), onde são
atualmente muito veneradas.
A
visita dos Magos devia ser muito agradável e causar grande
satisfação a São José, não
só por ter a felicidade de entreter-se com pessoas tão semelhantes
nas ideias e afetos, mas também por ver honradas as duas pessoas que
constituíam a vida de Seu Coração. A ciência do Oriente viera
render homenagem à Divina Sabedoria da Criancinha, cuja dignidade
régia transparecia em todo o Seu esplendor, embora fosse tão débil
na aparência.
Apenas
nascido, começa imediatamente a governar o Seu poderoso império:
pobre, cria ouro e as riquezas, chama de mui longínquas regiões os
monarcas, como Seus servos, para adorá-Lo; o Céu e a terra se
curvam diante d’Ele e Seus inimigos tremem à Sua chegada.
São
José tinha pois razão para exclamar com São Pedro: “Ó,
como se está bem aqui!”
Não se enganaria quem reconhecesse no mistério da vocação dos
gentios, predita e simbolizada, a de São José como Padroeiro das
Missões entre os infiéis.
Não
está assinalado, nas Sagradas Escrituras, o número e o nome desses
sábios que vieram do Oriente para adorar o Menino, mas diz a
Tradição que foram três e se chamavam, Gaspar, Melquior e
Baltazar. Significa o primeiro: “Vai
com amor”,
o segundo: “Permanece
conforme à vontade de Deus”,
e o terceiro: “Vai
acariciando-o”.
A
Igreja celebra uma festa particular e solene a 6 de Janeiro, para
recordar a adoração dos Magos, e chama-a de Epifania, que quer
dizer “Manifestação”, porque naquele dia, Jesus, depois de
reconhecido pelos homens do povo eleito, manifestou-Se também aos
gentios.***
***
Tertuliano, São João Crisóstomo, São Jerônimo, São Beda e
outros, dizem que os Magos eram reis. E Santo Agostinho, São Leão
Magno, São João Crisóstomo, a Tradição e a Igreja no Ofício da
Epifania, nos dizem que eram três. O autor da “Obra
Imperfeita”
(na Hom. II in Matth., atribuída a Santo Agostinho), acrescenta que
os sucessores de Balaão, em todas as gerações seguintes, escolhiam
alguns para contemplar continuamente o Céu; e que a estrela apareceu
aos Magos como encerrando em si a figura de um menino encimado por
uma cruz.
Se
com o manto dos esponsais com Maria Santíssima, São José Lhe
salvara a honra e a vida, e portanto, também a vida de Jesus antes
de nascer; pela segunda vez, salvou Jesus da morte com a sua
obediência pronta e cega à vontade de Deus.
Quando
Herodes dissera aos Magos: “Ide
a Belém, onde deve ter nascido Aquele que procurais”,
acrescenta que, ao encontrarem-No, dessem-lhe informações a tal
respeito, porque queria também ir adorá-Lo. Sabemos, porém, que
era bem diverso o motivo pelo qual queria conhecer onde se achava o
Menino. Ouvira os Magos e os sacerdotes chamarem-No “Rei
dos Judeus”
e temia que, com o tempo, o recém-nascido o despojasse do trono, por
isso, procurava matá-Lo.
O
Senhor, porém, que tudo conhece e vê, conheceu também a pérfida,
maligna e diabólica intenção do rei Herodes; e, para impedir-lhe
as funestas consequências, enviou um Anjo para dizer aos Magos que
não tornassem a passar por Jerusalém, mas voltassem às suas
cidades por outro caminho.
Herodes
esperou por alguns dias o seu regresso, mas, vendo que não
apareciam, perdeu a esperança de encontrar o Menino. Não perdeu,
porém, a esperança e o desejo de matá-Lo, e, para conseguir o seu
intento, tomou a bárbara resolução de mandar matar, em Belém e
nas proximidades, todas as crianças de dois anos para baixo.
Sua
ordem foi cumprida. Muitas crianças passaram pelo fio da espada, mas
não Aquela que procuravam, Jesus.
Quando
Herodes ordenou a matança dos meninos, a Sagrada Família morava em
Belém, Jesus achava-se, portanto, em verdadeiro perigo de cair nas
mãos dos desumanos satélites e de ser trucidado.
José
e Maria, de nada sabendo, achavam-se tranquilos e faziam talvez os
preparativos para o regresso à casinha de Nazaré.
Chegou,
no entanto, a noite precedente à matança dos meninos, e eis que um
Anjo aparece a José, no plácido sono do justo, e lhe diz:
“Levanta-te,
toma o Menino e sua Mãe, foge para o Egito, e fica lá até que eu
te avise; porque Herodes procura o Menino para O matar”.
Cada
palavra dessa mensagem encerra uma dificuldade e um sacrifício.
Quantos caminhos não percorrera o pobre José desde que o Salvador
estava com ele! Parecia, contudo, que não teria mais repouso.
Fugir
é sempre penoso; mas, ainda mais penoso é ter de fugir com uma
jovem e uma criança… para o Egito, região tão longínqua e
infiel. E até quando? Para defender de Faraó o seu povo, Deus
operara grandes prodígios, mas para seu Filho, nada! Que custaria
para deus exterminar um soberbo e poupar à Sagrada Família uma fuga
tão dolorosa e humilhante? Mas Deus, ao contrário, para sua maior
glória, preferiu desviar as cruéis insídias de Herodes e pôr em
segurança a vida de Jesus, utilizando-se da prudência e paciência
de São José.
Que
fez, portanto, São José? Levantou-se, tomou o Menino e fugiu para o
Egito. Não se fala de inquietude, de agitação, de lamentos; é
sempre o mesmo José, o homem da obediência e da confiança no
Senhor, o homem segundo o Coração de Deus, o homem justo.
Quantas
e quais as peripécias da longa viagem, não nos é dado saber pela
história, mas é fácil imaginar os numerosos perigos e transtornos
que Maria e José tiveram de encontrar. Diz São Boaventura: “Ainda
era frio o tempo e a Sagrada Família, para atravessar a Palestina,
devia escolher as passagens mais remotas e desertas. Grandes
extensões de estrada eram desabitadas, e onde terão encontrado
abrigo para a noite? E o alimento para lhes restaurar as forças,
como o terão providenciado?”
Enquanto
José e Maria, com o seu Menino, encaminhavam-se para a terra de
exílio, Herodes, o algoz da própria família, a fera coroada, que
já mandara matar a própria esposa e depois ambos os filhos que dela
tivera, por receio de que um dia vingassem a mãe, mandou matar todos
os meninos de Belém e das cercanias. Mas justamente o que procurava,
fugiu-lhe, oculto nos braços paternos de São José.
Antigas
tradições narram muitos fatos sucedidos na viagem da Sagrada
Família; referiremos alguns. Ao cair de uma tarde, passando São
José com Maria e Jesus por aqueles solitários desertos, um bando de
ladrões, saindo de seus esconderijos, detiveram-no para roubá-los.
Seu chefe, porém, chamado Dimas, surpreendido com a sua suavidade
e a graça da Virgem e com a beleza de Jesus, transformou sua
agressão em ato de caridade. Ordenou a seus homens não
prejudicassem aqueles viajantes e, em vez de pedir a São José a
bolsa ou a vida, rogou-lhe que se refugiasse em sua própria cabana
para passar a noite.
Na
cabana encontrava-se a mulher de Dimas com seus dois filhinhos, um
dos quais coberto de lepra. Ora, aconteceu que, após uma ligeira
refeição em comum, Maria lavou as mãozinhas e o rosto de seu
Menino; e tendo a mulher do ladrão feito o mesmo com o seu filhinho
leproso, aproveitando-se da água em que se lavara Jesus, apenas a
água tocou o rosto do doente, caíram-lhe as crostas da lepra e
ficou perfeitamente curado, são.
Por
tal prodígio, Dimas ficou muito contente e afeiçoado aos
Peregrinos, aos quais demonstrou sua gratidão. E, para sua
segurança, quis acompanhá-Los por longa extensão de caminho. Por
esses obséquios, diz Santo Anselmo, quando Jesus, mais tarde, pendia
da Cruz tendo à direita o ladrão Dimas, recordou-se dele, pois a
sombra do Senhor, caindo sobre ele, o converteu; além do mais,
disse-lhe as consoladoras palavras: “Hoje
estarás comigo no Paraíso”.
Foi a bela recompensa da hospitalidade que prestara à Sagrada
Família.
Finalmente,
após uma fatigante viagem de quase trinta dias, a Sagrada família
pisou a terra do Egito.
O
Egito, cujas fronteiras ultrapassara a Sagrada Família, foi
habitado, após o Dilúvio, por Mesraim, filho de Cam. Os camitas bem
depressa profanaram a terra, oferecendo incenso e vítimas a toda
espécie de bestas e Demônios, cultivando a magia e a astrologia.
Àquela terra, São José conduzia agora o Filho de Deus, para
libertá-la e santificá-la, encontrando, porém, com Maria e Jesus
novos sofrimentos.
Segundo
uma antiga tradição, a primeira cidade onde se deteve a Sagrada
Família, foi Heliópolis; mas, para manter mais oculto o Menino,
transferiu sua morada para uma vila algo distante, chamada Matarich.
Ali, recorda-se ainda hoje a gruta que serviu de refúgio à Sagrada
Família; a fonte à qual se dirigia Maria para buscar água e lavar
os panos; o lugar onde, à sombra de um sicômoro, sentava-se toda
absorta em celestes pensamentos, enquanto a Divina criança dormia em
seus braços e São José O adorava em silêncio. Caras memórias de
amor e de dor.
Exclama
Bossuet: “Feliz
quem pode contemplar-Vos, amável Menino, livre das faixas,
desprender os tenros braços e estender as mãozinhas para acariciar
a vossa Santa Mãe e o Homem Justo a quem Vos destes por Filho! Quão
belo terá sido ver-Vos ao dar os primeiros passos, amparado por
Maria e José, e ouvir-Vos balbuciar as primeiras palavras”.
Essas
puríssimas alegrias suavizavam, em José e Maria, as amarguras do
exílio.
No
entanto, Jesus crescia e começava a mover-se por Si mesmo, com passo
incerto. Maria teceu-Lhe, com as próprias mãos, e Lhe fez vestir,
uma túnica inconsútil que Jesus não mudou jamais nem retirou até
o dia da Crucifixão.
Essa
milagrosa veste, feita de uma só peça, sem costura alguma, que,
segundo a Tradição, crescia pouco a pouco e se adaptava à
crescente estatura do Divino Menino, jamais necessitou de reparos ou
de asseio; conservou-se sempre intacta, limpa e sem mancha;****
prodígio semelhante ao que Deus se contentou em operar em favor dos
hebreus, durante os quarenta anos de sua permanência no deserto.
“Deus vos
conduziu pelo deserto durante quarenta anos, diz-lhes
Moisés: vossas vestes não se romperam nem os calçados de vossos
pés se gastaram”.
****
Segundo o costume do povo judaico, diz Shouppe, o Salvador deve ter
usado um tríplice vestido: uma túnica ou veste interior; por cima
outra veste que descia até os pés e se apertava com um cinto a um
manto ou veste superior, fácil de tirar e que se retirava no
interior das casas. A túnica de Jesus, como se lê no Evangelho de
São João, era sem costura e de um só tecido, de alto a baixo,
provavelmente trabalhada em malha.
A
túnica do Salvador, conserva-se em Treviri. Também em Argenteuil,
na França, encontra-se uma túnica; é, provavelmente, a veste
superior, usada pelo Salvador.
É
Tradição constante, autenticada por muitos Padres e Doutores da
Igreja, que ao chegar ao Egito a Sagrada Família, todos os ídolos
se moveram de seus nichos e caíram por terra.
Narra
Ágreda: “Era o
Menino Jesus que, entrando nos lugares habitados e juntando suas
mãozinhas, orava ao Divino Pai pela salvação daqueles idólatras,
e tal oração, à qual se unia a de Maria e de José, os ídolos, os
altares e algumas vezes até os templos, caíam, e os Demônios se
precipitavam no Inferno”.
Eusébio
de Cesaréia, que vivia perto do Egito, e Santo Atanásio e Orígenes
que lá haviam nascidos, narram a queda daqueles ídolos. De resto,
já estava predito por Isaías, ao dizer: “Eis
que o Senhor subirá sobre uma nuvem leve (a
humanidade de Cristo, ou a SS. Virgem que O levava) e
entrará no Egito; e os ídolos do Egito se comoverão diante da Sua
face e cairão”.
Vejamos
agora o proceder de São José na terra de exílio; o que operou e
padeceu pela glória de Deus e pelo bem do próximo.
Muitos
escritores, com Santo Anselmo, São Tomás, São Boaventura, o
Cardeal Barônio e outros afirmam que, a Sagrada Família se dirigiu,
não só a Heliópolis, mas também a Mênfis, a Hermópolis, a
Babilônia e outros lugares, embora em alguns só de passagem.
Santo
Hilário, Bispo de Poitiers, observa que São José, levando Jesus
cristo a vários lugares do Egito, tornando-O conhecido e
convertendo-se assim muitos daqueles idólatras, conquistou a
dignidade de Apóstolo, pois os Apóstolos tiveram por objetivo levar
o Evangelho aos gentios, convertê-los e conduzi-los a Jesus Cristo.
Pelas
bênçãos ali deixadas pela Sagrada Família, grandes solidões
desertas, Tebaidas, puderam produzir depois os Paulos, os Antãos, os
Macários, os Sabás, os Hilários e muitos outros Santos anacoretas.
Assim costuma fazer Deus: valer-se também da perversidade dos homens
para alcançar a salvação das almas.
Durante
todo esse tempo, São José, considerando-se em uma religiosa
solidão, ocupava o dia inteiro na vida contemplativa e ativa,
concedendo pouquíssimo tempo ao repouso. Sua oração era fervorosa
e constante, a meditação dos divinos mistérios profunda e quase
contínua; na Pessoa do Menino tinha sempre e realmente presente o
verdadeiro Deus.
São
José, vendo Jesus, via o Pai e o Espírito Santo, como Jesus mesmo
ensinou depois, ao dizer: “Quem
me vê, vê também o Pai”.
Também a Sua conversação com Maria Santíssima caía muitas vezes
sobre a Onipotência e Sabedoria de Deus, sobre o amor ardente e
infinito de Deus para com as Suas criaturas, até ao ponto de enviar
do Céu o seu Filho Unigênito para restituir-lhes os bens perdidos
por causa do pecado.
Grande
consolação para São José e Maria era ver Jesus que, apenas
chegado à idade de pouco mais de dois anos, punha-Se de joelhos por
terra, com as mãozinhas juntas e os olhos voltados para o Céu, e
orava longa e fervorosamente ao Eterno Pai por todas as criaturas.
Jesus,
desde aquela idade, como nos anos subsequentes, mostrava tal graça
no semblante, nas palavras e na atitude, que, ao vê-O e ouvi-Lo,
todos ficavam admirados.
Dentro
em breve, explica Emmerich, viu-se ao redor da Sagrada Família,
nos dias estabelecidos, uma pequena comunidade composta de hebreus e
de alguns idólatras convertidos, todos ávidos de ouvir e gozar as
palavras de vida eterna. E São José, que de tão boa vontade se
prestava, tornara-se-lhes como pai e mestre; por isso, a conselho de
Jesus Cristo e de Maria Santíssima, ensinava-lhes a conhecer, amar e
orar ao Senhor, e também a cantar os Salmos, pois aqueles hebreus
haviam esquecido, em grande parte, o culto sagrado, praticado por
seus pais.
Quanto
ao tempo de permanência da Sagrada Família no Egito, não concordam
as opiniões dos Santos Padres, oscilam entre cinco e sete anos.
Dizem São Boaventura e Santo Afonso, que o exílio durou cerca de
sete anos. Mas o certo é que a Sagrada Família permaneceu no Egito
até o Anjo do Senhor avisar a São José que regressasse à terra de
Israel.
______________________
Fonte: Rev.
Pe. Tarcísio M. Ravina, da Pia Sociedade de São Paulo, São
José – na Vida de Jesus Cristo, na Vida da Igreja, no Antigo
Testamento, no Ensino dos Papas, na Devoção dos Fiéis e nas
Manifestações Milagrosas; 1ª
Parte, pp. 68-79.
Edições Paulinas, Recife, 1954.