Blog Católico, para os Católicos

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"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

O PRIMEIRO PRESÉPIO MONTADO.


A Devoção
ao Presépio Natalino

S. Francisco de Assis prepara um Presépio no dia de Natal.1 Sua maior intenção, seu desejo principal e plano supremo era observar o Evangelho em tudo e por tudo, imitando com perfeição, atenção, esforço, dedicação e fervor os “passos de Nosso Senhor Jesus Cristo no seguimento de sua doutrina”. Estava sempre meditando em suas palavras e recordava seus atos com muita inteligência. Gostava tanto de lembrar a humildade de sua Encarnação e o amor de sua paixão, que nem queria pensar em outras coisas.


Precisamos recordar com todo respeito e admiração o que fez no dia de Natal, no povoado de Greccio, três anos antes de sua gloriosa morte. Havia nesse lugar um homem chamado João, de boa fama e vida ainda melhor, a quem São Francisco tinha especial amizade porque, sendo muito nobre e honrado em sua terra, desprezava a nobreza humana para seguir a nobreza de espírito. Uns quinze dias antes do Natal, São Francisco mandou chamá-lo, como costumava, e disse: “Se você quiser que nós celebremos o Natal de Greccio, é bom começar a preparar diligentemente e desde já o que eu vou dizer. Quero lembrar o Menino que nasceu em Belém, os apertos que passou, como foi posto num Presépio, e ver com os próprios olhos como ficou em cima da palha, entre o boi e o burro”. Ouvindo isso, o homem bom e fiel correu imediatamente e preparou o que o Santo tinha dito, no lugar indicado.

Aproximou-se o dia da alegria e chegou o tempo da exultação. De muitos lugares foram chamados os irmãos: homens e mulheres do lugar, de acordo com suas posses, prepararam cheios de alegria tochas e archotes para iluminar a noite que tinha iluminado todos os dias e anos com sua brilhante estrela. Por fim, chegou o Santo e, vendo tudo preparado, ficou satisfeito. Fizeram um Presépio, trouxeram palha, um boi e um burro. Greccio tornou-se uma nova Belém, honrando a simplicidade, louvando a pobreza e recomendando a humildade. A noite ficou iluminada como o dia e estava deliciosa para os homens e para os animais. O povo foi chegando e se alegrou com o Mistério renovado em uma alegria toda nova. Os frades cantavam, dando os devidos louvores ao Senhor e a noite inteira se rejubilava. O Santo parou diante do Presépio e suspirou, cheio de piedade e de alegria. A Missa foi celebrada ali mesmo no Presépio, e o Sacerdote que a celebrou sentiu uma piedade que jamais experimentara até então.


O Santo vestiu dalmática, porque era Diácono, e cantou com voz sonora o Santo Evangelho. De fato, era “uma voz forte, doce, clara e sonora”, convidando a todos às alegrias eternas. Depois pregou ao povo presente, dizendo coisas maravilhosas sobre o Nascimento do Rei pobre e sobre a pequena cidade de Belém. Muitas vezes, quando queria chamar o Cristo de Jesus, chamava-O também com muito amor de “menino de Belém”, e pronunciava a palavra “Belém” como o balido de uma ovelha, enchendo a boca com a voz e mais ainda com a doce afeição. Também estalava a língua quando falava “menino de Belém” ou “Jesus”, saboreando a doçura dessas palavras.

Multiplicaram-se nesse lugar os favores do Todo-poderoso, e um homem de virtude teve uma visão admirável. Pareceu-lhe ver deitado no Presépio um bebê dormindo, que acordou quando o Santo chegou perto. E essa visão veio muito a propósito, porque o Menino Jesus estava de fato dormindo no esquecimento de muitos corações, nos quais, por sua graça e por intermédio de São Francisco, Ele ressuscitou e deixou a marca de sua lembrança. Quando terminou a vigília solene, todos voltaram contentes para casa.

Guardaram a palha usada no Presépio para que o Senhor curasse os animais, da mesma maneira que tinha multiplicado sua Santa Misericórdia. De fato, muitos animais que, padeciam das mais diversas doenças naquela região comeram daquela palha e tiveram um resultado feliz. Da mesma sorte, homens e mulheres conseguiram a cura das mais variadas doenças.

O lugar do Presépio foi consagrado a um templo do Senhor e no próprio lugar da manjedoura construíram um altar em honra de nosso pai Francisco e dedicaram uma igreja, para que, onde os animais já tinham comido o feno, passassem os homens a se alimentar, para salvação do corpo e da alma, com a Carne do Cordeiro Imaculado e incontaminado, Jesus Cristo Nosso Senhor, que se ofereceu por nós com todo o seu inefável amor e vive com o Pai e o Espírito Santo eternamente glorioso por todos os séculos dos séculos. Amém. Aleluia, Aleluia.


Devoção ao Natal do Senhor.2 Celebrava com incrível alegria, mais que todas as outras solenidades, o Natal do Menino Jesus, pois afirmava que era a Festa das festas, em que Deus, feito um menino pobrezinho, dependeu de peitos humanos. Beijava como um esfomeado as imagens dessa criança, e a derretida compaixão que tinha no coração pelo Menino, fazia até com que balbuciasse doces palavras como uma criancinha. Para ele, esse Nome era como um favo de mel na boca. Certa vez em que discutiam os frades, se era permitido comer carne porque era uma sexta-feira, disse a Frei Morico: “Irmão, cometes um pecado chamando de sexta-feira o dia em que o Menino nasceu para nós. Quero que nesse dia até as paredes comam carne. Se não podem, pelo menos sejam esfregadas com carne!”

Queria que, nesse dia, os pobres e os esfomeados fossem saciados pelos ricos, e que se concedesse uma ração maior e mais feno para os bois e os burros. Até disse: “Se eu pudesse falar com o imperador, pediria que promulgasse esta lei geral: que todos que puderem joguem pelas ruas trigo e outros grãos, para que nesse dia tão solene tenham abundância até os passarinhos, e principalmente as irmãs cotovias”.

Não podia recordar sem chorar toda a penúria de que esteve cercada nesse dia a pobrezinha da Virgem. Num dia em que estava sentado a almoçar, um dos frades lembrou a pobreza da Virgem Bem-aventurada e a miséria de Cristo seu Filho. Ele se levantou imediatamente da mesa, soltou dolorosos soluços e comeu o resto de pão no chão nu, banhado em lágrimas. Dizia que essa virtude era real, pois brilhava de maneira tão significativa no Rei e na Rainha. Quando os frades lhe perguntaram em uma reunião qual a virtude que mais nos fazia amigos de Cristo, respondeu, como quem contava um segredo de seu coração: “Ficai sabendo, filhos, que a pobreza é o caminho especial da salvação, que seu fruto é enorme mas são muito poucos os que o conhecem”.

Um bando de cotovias saúda, cantando, Francisco moribundo.3 Sábado à tarde4, depois de Vésperas, antes do cair da noite, em que o Bem-aventurado Francisco morreu, um bando de cotovias volteava em círculos, cantando, pouco acima do teto da casa onde ele jazia moribundo.


Nós, que estivemos com o Bem-aventurado Francisco, e estamos a redigir estas memórias, damos testemunho de que, muitas vezes, ouvimo-lo dizer: Se eu puder falar ao imperador, suplicar-lhe-ei que, por amor de Deus atenda o meu pedido para que publique um edito em que seja proibido apanhar as irmãs cotovias, ou fazer-lhes qualquer mal. Do mesmo modo, quero que todos os governadores das cidades, os senhores dos castelos e vilas ordenem a seus súditos que, em cada ano, pelo Natal, mandem pessoas espalhar trigo ou outros cereais pelos caminhos, para que as aves, e sobretudo as nossas irmãs cotovias, tenham que comer nesta grande solenidade. Gostava também, em homenagem ao Filho de Deus reclinado no Presépio pela Virgem Maria, entre o boi e o burro, que toda a gente fosse obrigada a dar uma farta ração de feno aos irmãos bois e aos irmãos burros, naquela santa noite. Enfim, no dia de Natal deviam todos os pobres saciar-se à mesa dos ricos”.

O Bem-aventurado Francisco festejava com mais solenidade o Natal do que as outras festas do Senhor, porque, dizia, embora nas outras solenidades o Senhor tenha operado a nossa salvação, no dia em que Ele nasceu tivemos a certeza de que íamos ser salvos. Por isso, queria que no dia de Natal, todos os cristãos exultassem no Senhor; por amor d’Aquele que se deu por nós, todo homem devia dar com generosidade do que lhe pertence, não só aos pobres, como também aos animais e aves do Céu.

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1.  “Escritos e Biografias de São Francisco de Assis, Crônicas e outros testemunhos do primeiro século franciscano”, Tomás de Celano, Vida I, Cap. 30, Arts. 84-87, pp. 238-240. 7ª Edição, Editora Vozes Ltda, Petrópolis/RJ, 1996.

2.  Ob. cit. Tomás de Celano, Vida II, Cap. 151, Arts. 199-200, pp. 427-428.

3.  Ob. cit. Legenda Perusina, Art. 110, p. 841. Cfr. ob. cit. O Espelho da Perfeição, Cap. 114, p. 974.

4.  “Durante a noite”. Frei Elias, na Carta Encíclica De transitu beati Francisci, diz com mais precisão: prima hora noctis, isto é, ao anoitecer, logo depois do pôr-do-sol. Era o dia 3 de outubro, mas, a partir daquela hora, já se considerava o dia 4, segundo os costumes de então.

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