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"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

terça-feira, 31 de março de 2020

PROÍBE-ME A RETA RAZÃO DE ADERIR A MORAL INDEPENDENTE.



A Moral Independente


Os Partidários deste sistema sustentam que não há outra religião senão a moral, que é, segundo eles, separada e independente de dogmas teológicos e até filosóficos. Isto induz a absurdas contradições.

I

Quando o homem se contenta com a moral, e que esta não depende de crença alguma teológica, ou mesmo filosófica, é porque ele pôde prescindir de todos os dogmas, e ser livre pensador, cético ou qualquer das outras situações já estudadas1; porque do princípio que lhe basta a moral, segue-se necessariamente que o seu espírito pode entregar-se a livre carreira para qualquer sistema.

Mas nesse caso recairia nas contradições já indicadas, e seria envolvido nos maiores contrassensos. Primeira contradição.

II

A evidência me obriga a reconhecer que a moral é um conjunto de preceitos, que indicam ao homem o seu dever; que não há prescrição possível sem lei que a imponha; que, por consequência, os deveres da moral não tem razão de ser se não há princípio superior ao homem, e que lhe sirva de base.

Mas, no sistema da moral independente, eu haveria que sustentar que ela é separada de todo o dogma teológico e até filosófico, e por consequência, de Deus; isto é, que a moral é lei sem legislador, efeito sem causa; e portanto, a moral independente é a independência a respeito da moral. Segunda contradição.

III

Não posso abster-me de confessar que a lei privada da sanção não tem eficácia, e lei ineficaz é como se não existisse.

Mas, no sistema da moral independente, eu afirmaria que não há outra sanção senão a consciência, a qual, acomodando-se com o hábito, admite transações; e o código penal, que ataca só os atos exteriores, deixa curso livre às fantasias do homem e aos artifícios do interesse e do crime; esse código castiga o mal, mas não cria o bem, e assim a moral seria uma lei ineficaz, e a um tempo seria e deixaria de ser lei. Terceira contradição.

IV

Diz-me a razão, que o dever é invariável; que o bem por natureza é sempre bem, e o mal sempre mal; que o dever de fazer o bem e de evitar o mal é por consequência princípio essencial, imutável, necessário, absoluto.

Mas, no sistema da moral independente, aos deveres, que a constituem, tiraria eu toda a base absoluta, e fá-los-ia assentar unicamente no juízo arbitrário do homem, que produz o direito e o dever. Não seria, pois, o dever para mim senão o direito reconhecido por mim em outrem; de onde, se o direito cessasse de ser reconhecido em mim, eu poderia legitimamente pagar na mesma moeda; preterir o meu dever como os outros faltam ao seu; enganar quem me enganasse; caluniar quem me calunia; desculpar todos os meus crimes, pelo exemplo alheio. Quarta contradição.

V

Se tenho horror ao ateísmo doutrinal, que eu e tudo quanto me rodeia condena e reprova, como absurdo tão repugnante como palpável, repilo da mesma sorte e com igual e invencível convicção o ateísmo prático, que não se importa com Deus, vive e procede como se Ele não existisse, e não fosse Autor, Conservador e Senhor absoluto das criaturas; ateísmo que faz caminhar o homem, como sucede ao animal, para a morte sem temor e sem esperança.

Mas, no sistema da moral independente, eu admitiria necessariamente esta detestável incoerência, essa desordem abominável do ateísmo teórico. Quinta contradição.

VI

O princípio inconcusso da existência de Deus Criador, sendo estabelecido, deduzo filosoficamente a necessidade para o homem de um culto interior, resultante das faculdades da sua alma e das suas relações essenciais com o seu Autor; a de um culto exterior que manifeste os sentimentos da alma, e sem o qual o culto interior esmorece e definha em breve, como a experiência o prova; a dispensabilidade, enfim, de um culto público, pelo qual os homens reunidos manifestem as suas crenças comuns e suas emoções religiosas, sem o qual o culto interno e externo não podiam manter-se por muito tempo, e que está por tal modo fundado sobre os direitos do Deus Autor, Benfeitor e Senhor Soberano das sociedades como dos indivíduos, que tem a sanção de todos os séculos e o testemunho de todos os povos.

Mas, no sistema da moral independente, eu suprimiria todo o culto, toda a religião, por não haver necessidade alguma destas coisas. Sexta contradição.

VII

É fato da história antiga para os pagãos, e da contemporânea para os povos ainda estranhor ao Cristianismo, que a sua moral tem lacunas, deficiências e manchas, ao passo que a Moral Cristã é perfeita. É, pois, fato incontestável aos nossos olhos que esta deve a sua perfeição às verdades dogmáticas, que lhe servem de base, princípio e origem, com as quais a sua união é indissolúvel.

Mas, no sistema da moral independente, eu seria compelido a negar este fato, esplêndido como o sol. Sétima contradição.2



_________________________

Fonte: Cônego E. Barthe, “Motivos da Minha Fé Religiosa”, 1ª Parte, Cap. IX, pp. 145-150. 2ª Edição, J.J. de Mesquita Pimentel – Editor, Porto, 1882.

1.  Ateísmo, Panteísmo, Materialismo, Darwinismo, Positivismo, Fatalismo, Ceticismo religioso e Livre Pensamento ou Liberalismo em Matéria de religião.

2.  A moral independente é uma dessas teorias, que surgem com o fim de estabelecer a descrença, deixando subsistir aquilo cuja doutrina oposta o senso comum repeliria imediatamente, quando lh’o apresentassem em substituição. A moral independente, tal como o homem a poderia criar por si, seria a antropofagia dos Novos Caledônios, os sacrifícios horrorosos, ainda há pouco mais de um ano descritos, mandados fazer pelo rei de Dahomey: a poligamia e a escravidão da religião e civilização muçulmana. Outra qualquer moral é originária do Cristianismo, e aqueles que a inculcam foram buscar-lhe a inspiração. Querem eles uma moral, revestida à cristã, mas sem sanção alguma. Obedecer ou deixar de obedecer aos preceitos dessa lei moral, é obra do capricho e das conveniências de qualquer um. Enquanto lhe convém seguir essas regras, conforma-se; logo que os seus interesses ou as suas paixões lhe aconselham o desvio, afasta-se sem o mínimo temor. Essa moral acomodatícia é excelente para se passar vida larga neste mundo. É a mais generalizada, e tanto que, para a grande maioria dos publicistas, que dominam a opinião, ou não há sanção possível, ou, havendo-a, ela sempre se torna ineficaz, porque todos morrem santificados, embora tenham toda a vida passado fora do grêmio da Igreja, e mesmo à hora da morte não procurem reentrar no seu seio. Vida livre e folgada, moral relaxada e de conveniências, derramamento de péssimas doutrinas às mãos cheias, atos repreensíveis; e afinal tudo ótimo, excelente e louvável. Eis a moral independente pelo seu lado prático. Será cômodo, mas tem um só contra: consiste em não ser verdadeiro nem justo. (Nota do Tradutor).

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