Blog Católico, para os Católicos

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"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

terça-feira, 23 de março de 2021

A Eucaristia – Bossuet. 10

 

Ainda a Fé.

Duas Verdades que Cumpre Crer:

A Segunda, que é Preciso

Comer Carne para Viver.


A obra de Deus é que creiais naquele que Ele enviou. Eu sou o pão de vida: Aquele que vem a mim nunca terá sede; quem crê em mim tem a vida eterna”. É, portanto, constante que é pela fé que devemos aproveitar desse celeste alimento, para recebermos dele a vida eterna; e não se trata mais senão de saber o que ele nos ensina hoje: que devemos crer para isso. Ora, ele nos ensina claramente que é preciso crer duas coisas: a primeira, que o Filho de Deus desceu do Céu e tomou uma carne humana, na qual veio a nós; a segunda, que, para ter parte na vida que ela contém, há que comê-la.

A primeira dessas verdades é claramente ensinada nestas palavras tantas vezes repetidas: “Eu desci do Céu: não é Moisés quem vos dá o verdadeiro pão descido do Céu, mas é meu Pai quem vos dá o verdadeiro pão descido do Céu; porque o pão de Deus é aquele que desce do Céu, e que dá vida ao mundo”; e ainda: “Desci do Céu para fazer a vontade de meu Pai, e ressuscitar tudo o que Ele me deu”; e ainda: “Está aqui o pão descido do Céu”; e ainda: “Eu sou o pão descido do Céu”; e ainda: “Está aqui o pão descido do Céu”.1

Eis aí, pois, o fundamento de toda a doutrina do Salvador clarissimamente explicado, que é haver Ele descido do Céu, isto é, haver-se incarnado, tomado carne.

Mas a segunda verdade, que é ser preciso comer essa carne para ter parte na vida que ela contém, não é menos explicada nem menos inculcada em todo o discurso do Filho de Deus, a começar por estas palavras: “E o pão que eu der, é minha carne para a vida do mundo”; ou, como traz o original: “O pão que eu der, é minha carne, que darei para a vida do mundo”; o que, tendo dado lugar a que os Judeus dissessem entre si: “Como é que ele nos pode dar a carne dele para comer?”. O Filho de Deus explica-se ainda mais, e insiste cada vez mais em dizer: “Se não comerdes a minha carne e não beberdes o meu sangue, não tereis a vida em vós” (porque a vida está para vós nesta carne que eu tomei); e sem descontinuar: “Quem come minha carne e bebe meu sangue terá a vida eterna”. Não deixa de repeti-lo, visto que acrescenta logo depois: “Porque minha carne é verdadeiramente comida, e meu sangue é verdadeiramente bebida: quem come minha carne e bebe meu sangue fica em mim e eu nele; quem me come viverá por mim; quem come deste pão terá a vida eterna”.

Vê-se como Jesus Cristo se afunda, por assim dizer, sempre e cada vez mais na matéria; Ele introduz o discurso da comida celeste por ocasião do pão material que acabava de dar-lhes, e chega até a dizer que será preciso comer a sua Carne e beber o seu Sangue: o que Ele inculca tão insistentemente quanto fez a sua Encarnação, ensinando-nos claramente por esse modo que devemos tão realmente comer a sua Carne e beber o seu Sangue, quanto os tomou Ele uma e outro; e é essa a nossa salvação, é a nossa vida, porque por esse meio Ele não toma só, em geral, uma carne humana, toma a carne de cada um de nós, quando cada um de nós recebe a d'Ele. Então Ele se faz homem para nós, aplica-nos a sua Encarnação; e, como dizia Santo Hilário, Ele só traz, só toma a carne daquele que toma a d'Ele; Ele não é nosso Salvador, e não foi para nós que se incarnou, se nós próprios não tomamos a Carne que Ele tomou. Assim a obra da nossa salvação consuma-se na Eucaristia, comendo a Carne do Salvador.

Cumpre trazer a fé, pois é por aí que Ele começa; cumpre crer em Jesus Cristo que dá sua Carne a comer, como cumpre crer em Jesus Cristo descido do Céu e revestido dessa Carne. Não é, entretanto, a fé que faz que essa Carne seja dada a comer. Quer creiamos quer não, isso é fato; quer creiamos quer não, Jesus Cristo desceu do Céu em carne humana; quer creiamos quer não Jesus Cristo dá a comer a mesma Carne que tomou; pois é dito absolutamente: “O Verbo se fez carne”, o Verbo desceu do Céu à terra; e não: Ele se faz carne pela vossa fé, e desce do Céu se crerdes nisso.

Ó verdade da Carne comida, creio-Vos, como creio a verdade da Carne tomada pelo Filho de Deus, descido do Céu. Meu Salvador, com que força me confirmais a vossa Encarnação! Ah! Aquele que não crê que se recebe realmente a vossa própria Carne, na sua própria e verdadeira substância, não crê, como é preciso, que Vós a tomastes, e não tem parte no pão de vida.


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Fonte: Jacques-Bénigne Bossuet, Bispo de Meaux, Meditações sobre o Evangelho” – Opúsculo A Eucaristia”, Cap. X, pp. 51-54. Coleção Boa Imprensa, Livraria Boa Imprensa, Rio de Janeiro/RJ, 1942.

1.  Jo. VI, 38 e segs.


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