Blog Católico, para os Católicos

BLOG CATÓLICO, PARA OS CATÓLICOS.

"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

sexta-feira, 12 de junho de 2015

As Inesgotáveis Riquezas do Sagrado Coração de Jesus (XIII Parte)



O Sagrado Coração de Jesus
nos diz, que o Amor não é amado1

A famosa imagem infame de um grupo de comunistas espanhóis a fuzilar

a imagem do Santíssimo Sagrado Coração de Jesus em agosto de 1936.

Consolemos ao Santíssimo Coração de Jesus: Almas piedosas, sinceras amantes de Jesus, em união com a dileta Vítima, entrai confiantes neste divino Santuário do Sagrado Coração de Jesus, para lhe ouvir os dolorosos queixumes, queixumes longos, dilacerantes; Jesus se queixa porque depois de nos ter feito tantos benefícios, seu amor não é correspondido. Jesus não é amado, e não só não é amado, mas desprezado! E isto pelas almas mesmo a Ele consagradas. Escutemos, ó almas amantes de Jesus, estas queixas e depois de as termos bem meditado, tais quais nô-las apresenta, por meio de uma sua vítima de expiação, nós seremos impulsionados a reparar-lhe as feridas, dando-lhe amor por amor, sacrifício por sacrifício.

Sim, coragem e constância, ó almas piedosas; Jesus, Sumo Bem, ouve todos os corações, mas especialmente atende a vós, que lhe avaliais a bondade. E enquanto fazemos uma resenha dos lamentos de Jesus pensemos que estes gemidos são dirigidos não somente aos grandes pecadores, aos que esqueceram e negam a existência de Deus, mas principalmente a nós, que passamos por almas a Ele consagradas e que, contudo, O ofendemos tão ingratamente. Sim, Jesus, como fruto desta obrinha, espera de nós grande conforto, amor, reparação, expiação!...

Oh! Quão felizes se deverão sentir aquelas almas que conseguirem reparar e assim fazer com que cessem, de uma vez para sempre, as queixas de nosso querido Jesus! Oh! Pudera seu Sacratíssimo Coração voltar-se para nós e deixar brotar de sua caridade uma palavra de louvor pelo grande amor que havemos de lhe demonstrar!

Sim, sim, unânimes, demos nosso amor reconhecido a Jesus. Tudo o que fizermos e sofrermos, tudo seja por seu amor. Amemo-lO em união com sua eleita Vítima, por aqueles também que O não amam e, ao menos em parte, cessarão seus lamentos dolorosos.

As muitas causas das queixas do Santíssimo Coração de Jesus: Antes de anunciar as queixas do Ss. Coração de Jesus, como as patenteou à querida Vítima, para que as tornasse conhecidas a todos os fiéis, a fim de que Jesus tivesse conforto, reparação e mais amor, é bom formar delas um tríplice quadro: o primeiro é para os simples fiéis, o segundo toca às almas religiosas, e aos Sacerdotes se refere o terceiro. De seu diário me é lícito tirar só o quanto é necessário para secundar a divina intenção de Jesus, prestando atenção especialmente às vezes em que disse a sua vítima de expiação: Escreve, filha minha, porque gostaria que se tornasse útil também a tantas almas sedentas das Minhas exortações, tudo o que Te ensino; teu Padre espiritual propagará tudo pela imprensa... Dentre os lamentos de Jesus, seja no tocante aos simples fiéis, às almas Religiosas ou aos Sacerdotes, transcrevi as breves, mas, substanciosas instruções que Ele deu até agora e que poderão ser de grande vantagem às almas de boa vontade.

Noto ainda que, dentre as queixas de Jesus, algumas há, principalmente quando se mostra desgostoso por certas culpas, a que ajunta ameaças de castigos terríveis se os homens não se repuserem no caminho do bem... e alguma vez lhes une ainda a data... e que, se não se realizam, como já aconteceu mais vezes em outras aparições e sinais milagrosos, é porque esparsas providencialmente pelo mundo há dessas almas vítimas expiatórias, que aplacam a cólera divina... Mas certamente, se o homem não cair em si, Deus recorrerá à sua divina justiça para o atingir e assim, se o Amor não consegue corrigi-lo, se converta pelo medo de seus castigos.

É verdade, contudo, que por causa dos maus sofrerão os bons, mas seu padecer será uma preciosa e aceitável expiação a Deus, por Ele piedosa e grandemente recompensada com uma glória muito grande no Céu.

Causa dos Lamentos de Jesus: Voltando, portanto, o pensamento aos fiéis em geral, se compreende que a causa primordial dos lamentos do Sagrado Coração de Jesus, é a guerra sacrílega e infernal movida a Deus por diversas nações alucinadas por vícios odiosos e por um orgulho diabólico. Derribam igrejas, destroem santas imagens, profanam os sacrossantos Tabernáculos, aprisionam Sacerdotes, Bispos e maltratam e expulsam dos Institutos de Educação aos Religiosos e Religiosas, para substituí-los por indivíduos ímpios, irreligiosos, imorais, blasfemadores, e vendo que este amor pela religião e pela piedade não se pode desarraigar dos povos cristãos, criaram uma Seita nova, cujo Chefe não pode ser senão um demônio em carne humana, a Seita dos “Sem Deus”; e assim, penetram nas famílias para despedaçar os crucifixos, prender e torturar os fiéis que ocultamente procuram honrar a Deus por ocasião das Solenidades religiosas, especialmente da S. Páscoa e do S. Natal. Seita vergonhosa e perturbadora de toda a paz, de todo o bem, e que já, se ouve dizer, procura infiltrar-se ocultamente também em algumas cidades da Itália, introduzindo, a despeito da grande vigilância das autoridades civis e das graves penas infligidas pela lei, a obstinação nas blasfêmias e desacreditando com falsas afirmações a Religião e as autoridades da Pátria, infiltram a desconfiança na gente simples e ignorante, para melhor abrir o caminho a seus pérfidos intentos... Sequaz da Rússia, é o México, em que cada um pode ver até que excesso chegaram as ímpias facções, ao martírio de tantas pessoas pias e inocentes. E o mesmo se diga de alguma outra nação... Que terrível luta é esta contra Deus!... A quão grande nova Paixão é condenado o Sagrado Coração de Jesus!

Mas não duvidem estes, que não se zomba de Deus, – a seu tempo, se não se converterem, os fulminará o raio da cólera divina e compreenderão o poder invencível contra o qual querem lutar.

Miseráveis rastejantes vermes, contra o Onipotente!... E é por essas culpas obstinadamente cometidas, que Jesus confia a sua Vítima querida, a Sua queixa, o transbordar de Sua cólera, como veremos em lugar oportuno.

E aqui devemos acrescentar, que também nossas culpas, em que obstinadamente caímos, impedem as graças divinas e sobre atraem as vinganças do Céu... Jesus Sacramentado, por exemplo, quanto é desconhecido, profanado! Tantos se aproximam da Santa Comunhão com uma irreverência que penaliza... lábios sujos de um vermelho pegajoso, cara luzente, besuntada como um selvagem... Vestes decotadas, pernas e braços nus... Outros se lhe aproximam como a uma coisa qualquer e, muitas vezes, recebida apenas a Santa Hóstia, saem da igreja sem uma prece ao menos e levam Jesus às praças de suas distrações, de seus pecados. Outras almas, em vez de se aproximarem da Mesa Sagrada com fé viva, amor ardente e esperança de alcançar as graças necessárias, o fazem com fins profanos, para se darem ares de pessoas devotas, ao mesmo tempo que durante o dia, transgridem qualquer um dos Preceitos de Deus e da Igreja: comparecem a visitas e convites com maneiras e vestidos imodestos, organizam recepções e banquetes com iguarias proibidas em dias de abstinência, e não querem ouvir sermões, porque receiam ouvir alguma sentença divina que perturbe e entristeça com remorsos o seu coração. Mais: quando estas pessoas estão em veraneio, nas praias, nos banhos, porque a moda quer assim, (como se a moda fosse um preceito de maior autoridade que os Mandamentos divinos) seguem costumes indecentes, tomam parte nas conversas indecorosas e depois, de manhã, ei-las ajoelhadas à Mesa Eucarística, escandalizando deste modo aos bons fiéis!... Oh, quão grande erro nessa conduta, querendo agradar a Deus e seguir as máximas do mundo!... A estas profanações devemos acrescentar o grande número de sacrilégios que se cometem, secretamente embora, nas mesmas Comunidades Religiosas, por tantas comunhões feitas com Pecado Mortal na consciência, por causa, somente, do terror e pânico de serem observadas, notadas e mal julgadas!... (Não duvidando, em tal suposição, faltar à caridade com o pensar tão mal do próximo; o qual conscientemente não poderia fazer tal juízo temerário e culpável!...)...

Jesus, portanto, se queixa ainda porque os seus Sacramentos são profanados!... Que diremos do Santo Sacramento do Matrimônio? Em nossos dias principalmente se diria que é recebido, não já com o fim sublime para o qual foi instituído, isto é, para dar ao Céu muitos eleitos e para gozar da doce companhia duma criatura dócil, modesta, prudente; mas antes, para satisfazer paixões brutais, que acabam por ser uma profanação do Sacramento e causa de males gravíssimos no corpo e na alma... Escreveu bem o sábio e religioso médico Dr. Descureth, quando disse que se tantos, que morreram prematuramente ou repentinamente, ressuscitassem por um instante e declarassem a causa de sua morte diriam, na maior parte, ter sido o abuso do sensualismo...

Ah, quão grande aviltamento chegou o Gênero Humano! Quão sacrilegamente se profana este santo Sacramento do Matrimônio, cujo fim é dar santos ao Céu! Que desprezo das graças divinas! E que dolorosas, que terríveis contas deverão prestar a Deus na hora de sua morte aqueles cônjuges que não se corrigiram, respeitando o justo fim deste santo Sacramento! E daqui aprendam os jovens noivos a se preparar para tão escabroso passo, instruindo-se convenientemente e adequadamente comportando-se para não se enlamearem no pecado...

E se nos voltarmos às Mães Cristãs, delas há, sem dúvida, um bom número que zelam pela educação religiosa de sua família; estas mães piedosas, venerandas matronas, tem um santo zelo por este fim delicado, e rezam e choram, se dentre seus filhos descobrem falta de prática da religião ou qualquer outro abuso; Deus as abençoa generosamente, a estas almas tão preocupadas com a salvação de sua família e com a maior glória de Deus... Mas, há um número muito maior de mães, que em nada praticam a religião; e de cristãs só o nome conservam e a este o desonram com o descuido da prática dos deveres religiosos, dos santos Preceitos, e com educar tão mal sua prole, pessimamente influenciada por seus maus exemplos. Ah! Quantas culpas cometem essas, culpas que transpassam o Sagrado Coração de Jesus e o constrangem a queixas amargurosíssimas! Ah! Causa repugnância ver estas mães, estes pais, favorecer a imodéstia da juventude, desde a infância!

De fato, se observe em que revoltante nudismo estes progenitores desgraçados criam seus filhos! É uma coisa que repugna, a indecência com que andam vestidos!... Então, as belas palavras pureza, modéstia, pudor, verecúndia serão condenadas ao arcaísmo, proscritas do vocabulário?... Seria este um doloroso, pérfido indício de total corrupção, que acabará provocando os castigos divinos.

Reflitam bem sobre isto aqueles cuja consciência lhes incrimina uma tal desordem uma tal profanação do Sacramento. O mesmo afirmou em sua célebre Encíclica o Sumo Pontífice Pio XI, de santa memória. Jesus está dolorosamente sentido também porque os progenitores, ligados por este Sacramento, não correspondem a seu fim, educando seus filhos cristãmente, dando-lhes bom exemplo. Quantos pais de família não mostram costumes tão degradados que deixam a oração, esquecem a Santa Missa dominical, não ouvem a Palavra de Deus, de que tanta necessidade teriam; são intemperados no beber, maltratam a mulher, batem desumanamente nos filhos, blasfemam impiamente, zombam da religião e dos que a praticam! Que horror!

Ainda não é tudo; quantas mães, por seu mau exemplo, não são causa de escândalo para a família? Estas mulheres desgraçadas, em vez de acostumar os filhos à prática da religião, à frequência dos Sacramentos, à fidelidade em ouvir a Palavra divina que consola e ilumina, ao invés de os levar consigo às funções religiosas, para habituá-los à observância dos deveres cristãos, os conduzem aos cinemas, aos teatros, aos bailes; em vez de cuidar da boa ordem da casa e fazer dela um ninho de agradável descanso e paz, cuidam unicamente em se enfeitar com ambição, em se arrebicar, em se perfumar, em se espelhar e tornar a espelhar; e quando o marido chega, é obrigado a praguejar, porque não há nada de pronto, falta até o mais necessário!!... Daí discórdias, trocas de palavras contínuas, com que ficam os filhos escandalizados. Que responsabilidade diante de Deus!

Mas, então, que dolorosa degradação é esta do Sacramento do Matrimônio! Quão justamente o bom Deus deverá se sentir indignado!... E não se deixem depois estes pais infelizes, se tiverem algum dia que se sujeitar a dolorosos e humilhantes sofrimentos.

E, agora, falemos daquelas senhoras que se prezam do honroso nome de católicas. Um bom número destas, é verdade, se mostram verdadeiramente dignas de tal nome e das bênçãos que o bom Deus prodigaliza àquelas que tão bem trabalham para a glória do Senhor e salvação das almas. Mas, dentre elas, quantas não há, que em suas reuniões não sabem apresentar senão nobres propostas e depois, na prática, não são capazes de as fazer executar nem mesmo em sua família; e não se esforçam, na medida do possível, para impedir certos escândalos, o imodesto nudismo, avisando caridosamente às pessoas que não tem bastante discernimento moral, religioso, sacrificando o respeito humano, inimigo acérrimo de todo o bem. O mesmo se poderia dizer também de tantas almas agregadas a Pias Associações, Ordens Terceiras, Filhas de Maria, etc., pois muitas nem sempre edificam, com seu porte, suas palavras, e acabam por cair no vício abominável da hipocrisia. Oh! Que sobejos motivos de queixa dão essas almas ao Sagrado Coração de Jesus, que é honrado somente à flor dos lábios, mas seus corações bem longe estão dEle, como o testemunha seu comportamento repreensível.


Os Últimos Papas e o Coração de Jesus

Depois das revelações de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque, o primeiro Papa a pronunciar-se sobre esta devoção foi Clemente XIII, que declara que ao Coração de Jesus trespassado pela lança do soldado, é tributada adoração, aprovando assim o respectivo culto.
O Papa Pio VI na sua Constituição Apostólica “Auctorem fidei”, de 28 de Agosto de 1794, dá um novo contributo, voltando a declarar que a esta devoção é algo de essencial e que “ a doutrina que rejeita o Sacratíssimo Coração de Jesus, é falsa, temerária, nociva, ofensiva para os ouvidos piedosos e ofensiva para a Sé Apostólica.

O Papa Pio IX, grande devoto do Sagrado Coração de Jesus, estendeu a Festa a toda a Igreja Universal. A este Papa deve-se a aprovação da prática do mês de Junho em honra do Coração de Jesus, bem como a divulgação do uso da imagem segundo as revelações de Santa Margarida Maria.
Leão XIII, em 11 de Junho de 1899 consagra todo o gênero humano ao Coração de Jesus, anunciada na Carta Encíclica Annum Sacrum, de 25 de Maio de 1899. A 21 de Junho, o mesmo Papa aprova as ladainhas do Coração de Jesus, e no mesmo texto da Congregação dos Ritos, com essa data, aparece a exortação para os fiéis viverem as Primeiras Sextas-Feiras, prática que Jesus tinha pedido a Santa Margarida Maria Alacoque.

Mais tarde, S. Pio X dispôs que a consagração ao Coração de Jesus se renovasse todos os anos, e Bento XV aprovou o culto ao Coração de Jesus, com Missa e Ofício próprio, num decreto datado de 1921. Foi também célebre a Encíclica de Pio XI, Miserentissimus Redemptor, datada de 8 de Maio de 1928.

Por sua vez, Pio XII, na encíclica Haurietis Aquas de 15 de Maio de 1956, toda dedicada ao Coração de Jesus, afirmou o seguinte:

- “O Coração de Cristo é o Coração da Pessoa divina, isto é, do Verbo incarnado, e portanto representa e quase põe diante dos nossos olhos todo o amor que Ele teve e tem ainda por nós. Precisamente por esta razão, o culto ao Coração Sacratíssimo de Jesus deve merecer tanto a nossa estima, que o consideremos a profissão mais completa de toda a religião cristã… Por conseguinte, é fácil concluir que, afinal, o culto ao Coração Sacratíssimo de Jesus é o culto do amor com o qual Deus nos amou, por meio de cristo, e é também a prática do nosso amor a Deus e aos outros”.
O Papa Paulo VI, na carta apostólica, Investigabiles Divitias Christi, de 6 de Fevereiro de 1965, escreveu:

- “É absolutamente necessário que os fiéis prestem homenagem do culto, com práticas de piedade privadas e manifestações públicas, ao Coração de cuja plenitude todos nós recebemos, e d’Ele aprendam a maneira perfeita de ordenar a sua vida, para que esta corresponda plenamente às exigências dos nossos tempos…”.
Estes e muitos outros textos colocam diante de nós o pensamento da Igreja. É urgente intensificar e renovar a devoção ao Coração de Jesus. Precisamos de falar dela, de exortar a vivê-la, de a dar a conhecer. É esta uma das grandes missões do Apostolado da Oração, e também de todos os pastores e de todos os fiéis. Urge cumpri-la. Daqui virá a “civilização do amor”.

O Papa João Paulo II ao longo do seu pontificado falou e escreveu muito sobre o Coração de Jesus. Parecia ser uma das suas devoções, uma das suas “paixões”. Na grande encíclica “Dives in misericórdia”, (Deus rico em misericórdia) escreveu que “a Igreja parece professar de modo particular a misericórdia de Deus e venerá-la, voltando-se para o Coração de Cristo. De fato, a aproximação de Cristo, no mistério do seu Coração, permite-nos deter-nos neste ponto da revelação do amor misericordioso do Pai, que constitui, em certo sentido, o núcleo central – e, ao mesmo tempo, o mais acessível no plano humano – da missão messiânica do Filho do Homem”.

Mais tarde, a 19 de Outubro de 1985, o Papa afirmou que “do Coração trespassado de Cristo crucificado, brota a civilização do amor: No santuário daquele Coração, Deus inclinou-Se sobre o homem e fez-lhe o dom da sua misericórdia, capacitando-o a abrir-se, por sua vez, em misericórdia e em perdão para com os outros”.

Posteriormente, em 11 de Junho de 1999, no centenário da Consagração do gênero humano ao Coração de Jesus, João Paulo II, voltou a manifestar-se a propósito deste tema: “Por ocasião da solenidade do Sagrado Coração e do mês de Junho, exortei muitas vezes os fiéis a perseverarem na prática deste culto, que contem uma mensagem especial que é, no nossos dias, de extraordinária atualidade”, porque do Coração do Filho de Deus morto na cruz surgiu a fonte perene de vida que dá esperança a cada homem. Do Coração de Cristo crucificado nasce a humanidade, redimida do pecado. Diante da tarefa da nova evangelização, o cristão olhando para o Coração de Cristo, Senhor do tempo e da história, a Ele se consagra e, ao mesmo tempo, consagra os próprios irmãos, redescobre-se portador da sua luz”. Como afirmou João Paulo II, a nova civilização e a nova evangelização nascem do Coração de Cristo trespassado.

O Papa Bento XVI, que no cinquentenário da encíclica de Pio XII, “Haurietis Aquas”, escreveu ao P. Geral da Companhia de Jesus, responsável pela devoção ao Coração de Jesus, retoma o tema desta devoção e impulsiona a que não se afrouxe no desejo de dar a conhecer o Coração de Cristo. Apóstolos destemidos deste Divino Coração pois n’Ele estão todos os tesouros da sabedoria e da ciência. E na sua primeira encíclica afirma:

- “O olhar fixo no lado trespassado de Cristo”, de que fala S. João (cf. 19,17), compreende o que serviu de ponto de partida a esta carta Encíclica: “Deus é Amor. É lá que esta verdade pode ser contemplada. E começando de lá, pretende-se agora definir em que consiste o amor. A partir daquele olhar, o cristão encontra o caminho do seu viver e amar (nº 12)”.

Para Bento XVI, até o núcleo central da encíclica nasce do Coração trespassado. E mais adiante volta ao tema ao afirmar: “Ao longo das reflexões anteriores, pudemos fixar o nosso olhar no Trespassado, reconhecendo o desígnio do Pai que, movido pelo amor, enviou o Filho ao mundo para redimir o mundo” (nº19). Com estas palavras somos novamente convidados a olhar Aquele que trespassaram. Aliás, Bento XVI, convidou-nos a passar toda a Quaresma de 2007 a contemplar Aquele que trespassaram, pois só assim nos podemos converter ao amor, só assim amar o amor de Deus, só assim ter um coração que vai amando ao jeito de Jesus.



Cinquenta anos da encíclica Haurietis aquas, do papa Pio XII. Uma meditação do cardeal Carlo Maria Martini.


A Devoção ao Sagrado Coração de Jesus

Em 15 de maio o papa Bento XVI enviou ao superior-geral da Companhia de Jesus uma carta por ocasião dos cinquenta anos da encíclica Haurietis aquas. Pio XII, por sua vez, havia escrito essa encíclica para celebrar e recordar a todos o primeiro centenário da extensão a toda a Igreja da festa do Sagrado Coração de Jesus. Dessa forma, aproveitando a concatenação dos aniversários, o Papa quis religar-se ao fio ininterrupto dessa devoção que há séculos acompanha e conforta tantos cristãos em seu caminho. Nesta ocasião, pedimos algumas reflexões ao cardeal Martini, e ele nos enviou o texto que segue do cardeal Carlo Maria Martini, S.J.

Lembro-me muito bem do tempo em que saiu a encíclica Haurietis aquas in gaudio. Eu era então estudante de Sagrada Escritura e membro da comunidade do Pontifício Instituto Bíblico, onde era professor o ilustre biblista padre Agostino Bea, depois criado cardeal pelo papa João XXIII. Padre Bea era um estreito colaborador do papa Pio XII, e na comunidade se dizia, penso que com boas razões, que ele havia contribuído para preparar esse documento. Certamente impressionava a orientação bíblica de todo o texto, a partir do título, que é uma citação do livro de Isaías (12,3). Por isso, a encíclica (que trazia a data de 15 de maio de 1956) foi lida com muita atenção pela comunidade do Instituto Bíblico, que apreciava em particular o seu embasamento nos textos da Escritura. No passado, essa devoção, que de per si tem uma longa história na Igreja, se desenvolveu entre o povo a partir sobretudo das chamadas “revelações” de tipo particular, como a revelação a Santa Margarida Maria, no século XVII. A percepção de como nessa devoção tradicional estava sintetizada concretamente a mensagem bíblica do amor de Deus era algo que nos reaproximava dela, uma devoção que no passado recente havia sido muito cara sobretudo à Companhia de Jesus, em particular em sua luta contra o rigorismo jansenista.

O fato de o papa Bento ter desejado escrever uma carta para lembrar justamente essa encíclica ao superior-geral da Companhia de Jesus se deve certamente também a que os jesuítas se consideravam particularmente responsáveis pela difusão dessa devoção na Igreja. Isso também era afirmado por Santa Margarida Maria, segundo a qual esse encargo fora desejado pelo próprio Senhor, que se manifestava a ela.

Foi assim que a devoção ao Sagrado Coração me foi apresentada no noviciado dos jesuítas, na década de 1940. Isto me levava a refletir sobre a maneira como era possível viver uma devoção como essa e, ao mesmo tempo, deixar-se inspirar na vida espiritual pela riqueza e pela maravilhosa variedade da palavra de Deus contida nas Escrituras.

E essa pergunta se impunha com ainda maior insistência, na medida em que o meu caminho cristão pessoal também se deparou de certa forma desde a infância com essa devoção. Ela me havia sido infundida por minha mãe, com a prática das primeiras sextas-feiras do mês. Nesse dia, minha mãe nos fazia levantar cedo para ir à missa na igreja paroquial e tomar a comunhão. A promessa era que quem se confessasse e tomasse a comunhão seguidamente nas nove primeiras sextas-feiras do mês (não era permitido pular nenhuma!) podia estar certo de obter a graça da perseverança final. Essa promessa era muito importante para minha mãe. Lembro-me de que, para nós, jovens, havia também um outro motivo para ir tão cedo à missa. De fato, na época tomávamos o café da manhã num bar com um bom brioche.

Depois de tomar a comunhão em nove primeiras sextas-feiras seguidas, era oportuno repetir a série, para ter a certeza de obter a graça desejada. Disso veio depois também o hábito de dedicar esse dia ao Sagrado Coração de Jesus, hábito que depois, de mensal, se tornou semanal: toda sexta-feira do ano era dedicada de certa forma ao Coração de Cristo.

Assim era na minha lembrança a devoção daquela época. Ela estava concentrada sobretudo no louvor e na entrega ao Coração de Jesus, visto um pouco em si mesmo, quase separado do resto do corpo do Senhor. Algumas imagens reproduziam de fato apenas o Coração do Senhor, coroado de espinhos e atravessado pela lança.

Um dos méritos da encíclica Haurietis aquas era justamente ajudar a pôr todos esses elementos em seu contexto bíblico e sobretudo pôr em relevo o significado profundo dessa devoção, ou seja, o amor de Deus, que desde a eternidade ama o mundo e deu por ele o seu Filho (Jo 3, 16; cf. Rm 8,32, etc.).

Assim, o culto do Coração de Jesus cresceu em mim com o passar do tempo. Talvez se tenha atenuado um pouco, no que diz respeito a seu símbolo específico, ou seja, o coração de Jesus. E se tornou, para mim e para muitos outros na Igreja, uma devoção pelo íntimo da pessoa de Jesus, por sua consciência profunda, sua escolha de dedicação total a nós e ao Pai. Nesse sentido, o coração é considerado biblicamente como o centro da pessoa e o lugar das suas decisões. E é assim que vejo como essa devoção nos ajuda ainda hoje a contemplar o que é essencial na vida cristã, ou seja, a caridade. Compreendo também melhor como ela está em estreita relação com a Companhia de Jesus, a qual é gerada espiritualmente pelos Exercícios de Santo Inácio de Loyola. De fato, os Exercícios são o convite a contemplar longamente Jesus nos mistérios da sua vida, morte e ressurreição, para poder conhecê-lo, amá-lo e segui-lo.

Um grande mérito desse devoção foi, portanto, ter chamado a atenção para a centralidade do amor de Deus como chave da história da salvação. Mas, para perceber isso, era necessário aprender a ler as Escrituras, a interpretá-las de maneira unitária, como uma revelação do amor de Deus pela humanidade. A encíclica Haurietis aquas marcou um momento decisivo desse caminho.

Como foi que ocorreu e como ocorrerá ainda no futuro um desenvolvimento positivo das sementes lançadas pela encíclica no terreno da Igreja? Creio que um momento fundamental foi o Concílio Vaticano II, em sua constituição Dei Verbum. Ela exortou todo o povo de Deus a uma familiaridade orante com as Escrituras. Daí também as diversas “devoções” recebem aprofundamento e alimento sólido.

Poderíamos ver o ponto de chegada atual na encíclica do papa Bento XVI Deus caritas est. Ele escreve: “Na história de amor que a Bíblia nos narra, Deus vem ao nosso encontro, procura conquistar-nos - até a Última Ceia, até o Coração trespassado na cruz, até as aparições do Ressuscitado...”; e conclui dizendo: “Cresce então o abandono em Deus, e Deus torna-se a nossa alegria (cf. Sl 73[72],23-28)”. A questão, portanto, é ler com inteligência espiritual cada vez maior as Sagradas Escrituras, tendo desperta a atenção para o que está na raiz de toda a história da salvação, ou seja, o amor de Deus pela humanidade e o mandamento do amor ao próximo, síntese de toda a Lei e dos Profetas (cf. Mt 7,12).

Dessa forma serão caladas também hoje as objeções que ao longo dos séculos foram feitas ao culto do Sagrado Coração, que era acusado de intimismo ou de fomentar uma postura passiva, em prejuízo ao serviço ao próximo. Pio XII lembrava e desmentia essas dificuldades, que não desapareceram nem nos nossos tempos, se Bento XVI pode escrever em sua encíclica: “Chegou o momento de reafirmar a importância da oração diante do ativismo e do secularismo que ameaça muitos cristãos empenhados no trabalho caritativo” (nº 37).

Um outro mérito da encíclica Haurietis aquas consistia em sublinhar a importância da humanidade de Jesus. Nisso retomava as reflexões dos Padres da Igreja sobre o mistério da Encarnação, insistindo no fato de que o Coração de Jesus “devia sem dúvida pulsar de amor e de qualquer outro afeto sensível” (cf. nos 21-28). Por isso a encíclica ajuda a nos defendermos de um falso misticismo que tenderia a deixar de lado a humanidade de Cristo para aproximar-se de maneira de certa forma direta do mistério inefável de Deus. Como afirmaram não apenas os Padres da Igreja, mas também grandes santos como Santa Teresa d’Ávila e Santo Inácio de Loyola, a humanidade de Jesus continua a ser uma passagem ineliminável para compreender o mistério de Deus. Não se trata portanto de venerar apenas o Coração de Jesus como símbolo concreto do amor de Deus por nós, mas de contemplar a plenitude cósmica da figura de Cristo: “Ele é antes de tudo e tudo nele subsiste [...], pois nele aprouve a Deus fazer habitar toda a plenitude” (Cl 1,17.19).

A devoção ao Sagrado Coração nos lembra também como Jesus doou a si mesmo “de todo o coração”, ou seja, de bom grado e com entusiasmo. Assim, nos é dito que o bem deve ser feito com alegria, pois “há mais felicidade em dar que em receber” (At 20,35) e “Deus ama a quem dá com alegria” (2Cor 9,7). Isso todavia não deriva de um simples propósito humano, mas é uma graça que o próprio Cristo nos obtém, é um dom do Espírito Santo que torna fáceis todas as coisas e nos sustenta no caminho cotidiano mesmo nas provações e nas dificuldades.

Enfim, eu gostaria de mencionar aquilo que é chamado apostolado da oração, que nasceu no século XIX, por obra de padres jesuítas, em estreita conexão com a devoção ao Sagrado Coração. Considero que ele ponha à disposição de todos os fiéis, com a oferta cotidiana do dia em união com a oferta eucarística que Jesus faz de si, um instrumento muito simples para pôr em prática o que diz São Paulo no início da segunda parte da Carta aos Romanos, dando uma síntese prática da vida cristã: “Exorto-vos, portanto, irmãos, pela misericórdia de Deus, a que ofereçais vossos corpos como hóstia viva, santa e agradável a Deus: este é o vosso culto espiritual” (Rm 12,1).

Muitas pessoas simples podem encontrar no apostolado da oração uma ajuda para viver o cristianismo de maneira autêntica. Ele nos lembra também a importância da vida interior e da oração. Em Jerusalém se sente de maneira particular como a oração, e em particular a intercessão, constitui uma prioridade. Não naturalmente apenas a pobre oração de cada indivíduo, mas uma oração unida à intercessão de toda a Igreja, a qual, por sua vez, nada mais é que um reflexo da intercessão de Jesus por toda a humanidade.

Essa intercessão se eleva sem interrupção por parte de Jesus ao Pai, pela paz entre os homens e pela vitória do amor sobre o ódio e a violência. Precisamos muito disso em nossos dias, sobretudo nesta “cidade da oração” e “cidade do sofrimento” que é Jerusalém.



P.S.: Até aqui, as Postagens em honra do Sagrado Coração de Jesus. Em breve, sairá o "Ensaio", completo, em formato PDF.

"A Ele (seja dada) glória
por todos os séculos. Amém"
(Rom. 11, 36).

1Teol. Giovanni Bonifetti, “Chamas Divinas ou O Amor não é Amado”, pp. 13-16.19-28; Tradução da 3ª Edição Italiana, Escola Tip. “Santo Antônio” – Patronato – Santa Maria, 1939.


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