Centelhas
Ardentes de Graves Autores
sobre
o Sagrado Coração de Jesus
São
Paulo VI
fala
aos Sacerdotes da
Congregação
dos Sagrados Corações
Caros
filhos,... Por duas vezes depois de Nossa elevação ao Soberano
Pontificado – que se realizou, temos o prazer de relembrá-lo em
vossa presença, na festa litúrgica do Sagrado Coração –
julgamos dever Nosso lembrar a atualidade e a urgência
desta devoção na Igreja, a necessidade de não deixá-la
enfraquecer-se na alma dos fiéis.
Foi
primeiro, vós vos recordais, nas Letras Apostólicas Investigabiles
Divitias Christi, de 6
de fevereiro de 1965, na qual deplorávamos que “o culto
do Sagrado Coração houvesse diminuído em alguns” e desejávamos
que ele fosse “considerado por todos como uma forma nobre e digna
desta piedade autêntica que hoje
– dizíamos Nós – sobretudo em virtude das prescrições do
Concílio Ecumênico Vaticano II, é especialmente
requerido para com Jesus Cristo,
Cabeça do Corpo da Igreja”.
Tendo-Nos
disto sido pedidas precisões pelos Superiores dos Institutos, mais
especialmente dedicados ao Sagrado Coração – e notadamente o
vosso – Nós lhes dirigimos alguns meses mais tarde um documento
complementar, insistindo no fato de que o Mistério da
Igreja, posto sob luz tão viva no Concílio, não podia “ser
compreendido como é devido, se as almas não derem atenção a esse
amor eterno do Verbo encarnado, de que o Coração ferido de Jesus é
fulgente símbolo”.
Beato Columba Marmion
dirigi-nos
ao
Sagrado
Coração de Jesus
Carta
de 17 de Maio de 1903:
“Agradeço,
do fundo da minha alma, a Nosso Senhor por vos unir tão
estreitamente ao Seu Sagrado Coração e por vos fazer compreender
cada vez mais a necessidade que tendes de viver junto d'Ele.
Com efeito, minha filha, a vida interior torna-se muito simples,
desde que compreendamos que toda ela consiste em nos perdermos em
Jesus Cristo, fazendo, com
o Seu, um só coração,
uma só vontade. Uma vez dado este passo, se nos conservarmos firmes,
'mergulhamos cada vez mais nesta Santíssima Vontade', como muito bem
dizia Santa Chantal; fora disso, nada fazemos”.
Carta
de 21 de Dezembro de 1900: “...
Mas onde encontrar este amor puro? Não o temos de nós mesmos, nem
em nós. Encontra-lo-eis no Sagrado Coração de Jesus, que
é fornalha infinita de amor; e, como recebeis este Sagrado Coração,
tantas vezes, na Sagrada Comunhão, nada mais tendes a fazer do que
depor o vosso coração no centro deste Coração Divino, para
amardes com o Seu Amor. Oh!
Sim, minha filha, o Sagrado Coração é um tesouro
infinito de amor divino, e este Coração é nosso, vive sempre em
nós. 'Aquele que como a Minha
Carne e bebe o Meu Sangue, vive em Mim e Eu vivo nele'.
Uni-vos pois, frequentemente, a este Sagrado Coração, e
amai com Ele e por Ele.
Aí
é que está o grande segredo. Eis as palavras de Santo Ambrósio: 'A
boca de Jesus crucificado tornou-se nossa boca, e, por ela, falamos
ao Pai, para aplacar a Sua ira; o Seu Coração
transpassado tornou-se nosso coração, e, por ele, amamos o Pai'.
Sim, Jesus veio à terra só para isto: 'Vim para espalhar o fogo (do
amor), e que mais quero Eu senão vê-lo ateado?'”
Carta
de 28 de Março de 1904:
Programa de Amor: “Ao
levantar, em união com o Sagrado Coração de Jesus, cujo
primeiro movimento foi um impulso de amor pelo qual se ofereceu sem
reserva ao Pai, dizei: 'Eis-me
aqui, meu Deus, para cumprir a Vossa Vontade'.
No
princípio do dia, ao entrar no
oratório, uni estreitamente o vosso coração ao Coração
de Jesus. Este Coração foi uma fornalha de amor,
pois Jesus amava o Pai com todo o Coração.
Este
amor do coração deve desabrochar em amor de toda a vossa alma,
aplicando-a, com todas as suas faculdades, à oração e ao louvor
divino. Jesus amava o Pai com toda a Sua Alma.
Durante
o dia, este amor do coração
deve traduzir-se no trabalho da obediência, realizado com todas as
vossas forças. Jesus trabalhava, por amor ao Pai, com todas as Suas
forças.
Finalmente,
e ainda no decorrer do dia, que o amor vos incite a ocupar o espírito
no pensamento de Deus, no estudo das Suas perfeições, em tudo
quanto diz respeito ao Seu serviço. É isto amar a Deus com todo o
espírito. O espírito de Jesus estava sempre engolfado na
contemplação do Pai.
Durante
o dia, sede fiel em 'dirigir' os diversos atos segundo as prescrições
da santa Regra.
Voltai,
muitas vezes, por uma Comunhão Espiritual, a este centro de amor,
que é o Sagrado Coração de Jesus.
Toda a nossa vida se deve passar neste doce entretenimento com Jesus,
Esposo das nossas almas”.
Carta
de 4 de Outubro de 1900: “Tanto
quanto possível, fazei todos os vossos atos por puro amor
de Deus, em união com as disposições perfeitíssimas do Sagrado
Coração de Jesus”.
Carta
de 25 de Fevereiro de 1895:
“Sinto a maior compaixão por vós, no meio da provação, que o
Bom Deus neste momento vos envia. É um martírio. Mas, apesar disso,
conformo-me inteiramente com a Santa Vontade do Nosso amado
Senhor, que, do mais íntimo do Seu Sagrado Coração, vos envia esta
cruz. Podeis crer,
digo-vo-lo da parte de Deus, esta provação foi o amor de
Nosso Senhor que vo-la enviou, e tem a realizar na vossa alma um
trabalho de que nenhuma outra coisa seria capaz. Trata-se da
destruição do amor próprio;
e, quando sairdes desta provação, sereis mil vezes mais
querida do Sagrado Coração do que éreis antes.
E assim, embora tenha muita pena de vós, não quero, por nada deste
mundo, que as coisas sejam diferentes do que são; pois vejo que é
Jesus, que vos ama com um amor mil vezes maior do que o amor com que
vós mesma vos amais, quem permite venha sobre vós esta provação.
Tende a certeza de que, durante todo este tempo, vos encomendo nas
minhas orações e sacrifícios, para que o Bom Deus vos conceda
força para tirar desta graça o maior proveito”.
Carta
de 29 de Maio de 1904: “...
Procurai, pois,
querida filha, unir todos os vossos sofrimentos do corpo e
do coração ao Sagrado Coração de Jesus, pois é desta união que
lhes vem todo o merecimento”.
Carta
de 1 de Dezembro de 1921: “Vejo
que sois muito querida do Coração Divino de Jesus;
pois, ao mesmo tempo que vos confia o encargo de cuidar das Suas
esposas, vos faz participar dos seus sofrimentos e humilhações.
Neste mundo é impossível amar verdadeiramente a Jesus,
sem participar da Sua Cruz, quer dizer, das Suas dores e humilhações,
sem suportar a ingratidão daqueles por quem nos dedicamos.
Aqueles mesmos que no dia de Ramos aclamavam a Jesus (como
triunfador), poucos dias depois gritavam: Crucifige,
crucifige! Todos os dias
de manhã, no momento da Sagrada Comunhão, oferecei-vos a Jesus,
para O servir durante o dia na pessoa das vossas irmãs e ainda para
partilhar dos seus sofrimentos, suportando a ingratidão das
descontentes”.
Suplemento:
“O Preceito da Caridade brotou do fundo do Coração de
Jesus. Depois que instituiu a
Eucaristia, tornou-se um com a Sua Igreja, com os Seus membros; e,
para exprimir esta união, disse: ‘Eu
e os Meus membros somos uma só e a mesma coisa. Tudo quanto fizerdes
ao mais pequenino dos Meus membros, é a Mim que o fazeis’
É a expressão da ‘comunhão’.
Aquele que habitualmente falta à Caridade destrói, no seu coração,
a ‘comunhão’,
e dá tantos passos para trás como para a frente. Ama, e faze o que
queres...”
M.
Hamon nos leva
a Reconhecer e Amar
o Sagrado Coração de Jesus
“Prostremo-nos
diante da Cruz de Nosso Senhor, e tributemos a nossa adoração, o
nosso reconhecimento e amor às duas Chagas dos seus pés, às duas
Chagas das suas mãos e, principalmente, à Chaga do Sagrado Lado.
Oh! Quão veneráveis são estas Chagas; e quão justo é que os
nossos corações se derretam em ternura contemplando-as! Ó Sagradas
Chagas, eu não posso honrar-vos tanto quanto quisera; mas
ofereço-vos os piedosos sentimentos com que vos honraram Maria e S.
João no descendimento da Cruz. Tenho esse direito, pois que, sendo
Maria minha Mãe e S. João meu irmão, os seus méritos são uma
herança de que posso dispor em meu benefício.
Não
se olharia como um homem, mas como um monstro sem coração, um filho
que visse com indiferença, sem o menor sentimento de compaixão, de
reconhecimento e de amor, as chagas que tivesse recebido seu pai para
o salvar da maior das desgraças e para lhe alcançar ao mesmo tempo
os maiores bens? Tal e pior ainda seria o cristão que fosse
indiferente para com as Chagas do Salvador: porque Jesus Cristo
recebeu estas Chagas para nos salvar do Inferno e nos abrir o Céu,
para nos oferecer nelas outras tantas fontes de salvação, de que
podemos tirar graça, força e consolação.
Ó alma cristã, exclama S. Boaventura, como podes tu conter os teus
transportes lembrando-te destas Chagas? O amantíssimo Jesus fez nos
seus pés, nas suas mãos, uma larga ferida para te receber, e não
tens pressa de entrar nelas; abriu por Si mesmo o Lado para te dar
o seu Coração, e não vais unir o teu coração com o Dele! Ah!
Quanto a mim, continua o Santo Doutor, é ali que eu gosto de
habitar;
é ali que quero fazer três estâncias: a primeira aos pés do meu
Jesus, a segunda nas suas mãos, a terceira no seu Sagrado Lado. É
ali que eu quero descansar; é ali que hei de velar, ler, e
conversar. Ó amabilíssimas Chagas, os olhos do meu coração
estarão sempre fitos em vós; de dia, desde o sol nado até ao sol
posto, e de noite, tantas vezes quantas estiver acordado.
Conservar-me-ei, principalmente, na abertura do Sagrado Lado para
ai falar ao Coração de meu Senhor, e obter Dele o que eu quiser.
Ó Jesus, diz no mesmo sentido S. Bernardo, o vosso Lado é
transpassado para nos patentear a entrada do vosso Coração, e nos
revelar por esta Chaga visível a Chaga invisível do vosso amor.
Aplicar-lhe-ei os meus lábios e sugarei o mel do amor e unção das
consolações divinas.
Seríamos nós os filhos dos Santos, se, depois de tais exemplos, não
tivéssemos uma terna devoção às Cinco Chagas?
A
alma acha nestas Chagas tudo o que é necessário ou útil à
salvação.
Em nenhuma parte tenho achado, diz S. Agostinho, remédio tão eficaz
para todos os males da alma.
Sejam quais forem as enfermidades espirituais, acrescenta S.
Bernardo, a meditação assídua das Chagas do Salvador cura-as.
Porão os olhos nas Minhas Chagas, diz o mesmo Jesus Cristo pelo
seu Profeta, e se converterão.
O Coração de Jesus é um oceano, e as Chagas são os canais por
onde correm as águas da graça e da misericórdia,
diz ainda S. Bernardo. Com efeito, é nestas Chagas que se forma a
viva fé;
é ali que se dilata a confiança em Deus;
é ali, principalmente, que a caridade se abrasa como em seu
verdadeiro foco. À força de considerar o excessivo amor que abriu
estas Chagas para nós, miseráveis criaturas e pecadores, o coração
inflama-se todo, e não se pode já viver senão de amor. Por isso,
Santo Agostinho chamava a estas Sagradas Chagas o seu refúgio nas
aflições, o seu asilo nas tribulações, o seu remédio nas
enfermidades da alma. É ali, que S. Tomás de Aquino bebia toda
a sua ciência; ali que S. Francisco de Assis, à força de
meditá-las, se tornou pelo fervor seráfico da sua caridade um
prodígio de semelhança com Jesus crucificado; ali que S. Boaventura
se encheu desse espírito de piedade que embalsama todos os seus
escritos: este digno discípulo de S. Francisco desgastou os pés do
seu crucifixo à força de os beijar, e nunca deixou de exortar todos
os fiéis que saboreassem por si mesmos os inefáveis gozos e a
deliciosa unção de piedade anexos à devoção destas Sagradas
Chagas.
Se não podeis, diz a Imitação de Jesus Cristo,
contemplar as coisas elevadas e celestes, conservai-vos
humildemente nas Chagas do Salvador, nas quais achareis consolação
e força.
São estas as nossas disposições?”
O
Abade Ambrosio Guillois
responde-nos,
sobre
a Devoção e a
Festa
do
Sagrado Coração de Jesus
– É
muito antiga na Igreja a devoção do Sagrado Coração de Jesus? –
Sim;
e muito antes de se instituir uma festa particular em honra deste
divino Coração, já Ele era objeto da devoção de todas as almas
justas.
Explicação:
A devoção do Sagrado Coração de Jesus tem sido a das pessoas mais
eminentes pelo seu saber e piedade. Leiam-se as suas obras, e
ver-se-á, que elas falam do Coração de Jesus do modo mais afetuoso
e tocante. “Oh! Quão doce, dizia um grande Santo, quão doce é
habitar no Coração de Jesus! Que rico tesouro é o vosso Coração,
ó
meu amado Jesus! É nesse templo, nesse santuário que eu adorarei e
bendirei o Nome do Senhor. Ó dos filhos do homem o mais formoso! Vós
só deixastes transpassar o vosso Lado para nos dardes entrada no
vosso Coração e Nele podermos habitar”. Assim se exprimia São
Bernardo;
e assim pensam e se exprimem também São Boaventura,
São Francisco de Sales,
e muitos outros Santos; o que mostra evidentemente que a Igreja,
autorizando a devoção do Sagrado Coração, nenhuma inovação fez
na Doutrina Católica.
– É
muito antiga na Igreja a Festa do Sagrado Coração?
– Não; só foi instituída no século XVIII.
Explicação:
Ainda que a devoção do Coração de Jesus seja antiquíssima na
Igreja, não remonta todavia senão a Festa ao século último (séc.
XVIII). Na época em que a peste assolava Marselha, em 1720, Mons.
Belzunce, Bispo dessa cidade, vendo a insuficiência dos remédios
humanos, socorreu-se ao Sagrado Coração de Jesus, a fim de obter a
cessação do flagelo. A sua esperança não foi malograda; o Céu
mostrou-se-lhe propício: em breve o flagelo desapareceu. Então o
santo Bispo estabeleceu uma festa particular, e fez uma dedicação
solene e pública de toda a sua diocese e de si próprio ao Sagrado
Coração de Jesus. Quando sucedeu este milagre, já o culto do
Sagrado Coração de Jesus estava estabelecido em algumas dioceses de
França; já existiam altares, capelas sob a invocação deste divino
Coração. Em breve se propagou ainda muito mais. Clemente XIII, por
uma Bula especial, autorizou a festa e o ofício do Sagrado Coração
para o reino da Polônia. Alguns anos depois, o reino de Portugal
obteve o mesmo favor; e em 1765 haviam os Bispos de França adotado
quase geralmente a devoção do Sagrado Coração nas suas dioceses.
Desde
essa época, foi sempre crescendo e acha-se hoje estabelecida em
todas as partes do mundo católico. – A festa do Sagrado Coração
foi fixada na sexta-feira da Oitava do Santíssimo Sacramento. Em
algumas dioceses de França celebram-se no segundo domingo do mês de
julho. – Se
a Missa do Sagrado Coração se celebra com canto, e está exposto o
Santíssimo Sacramento, não se faz a comemoração do mesmo
Santíssimo Sacramento; assim o decidiu a Sagrada Congregação dos
Ritos em data de 6 de setembro de 1834.
– Não
interveio a divina Providência na instituição da Festa do Sagrado
Coração de Jesus?
– Sim; a divina Providência interveio na instituição da Festa do
Sagrado Coração Jesus.
Explicação:
A Igreja teve inimigos em todos os tempos; mas também em todos os
tempos a divina Providência lhe subministrou os auxílios, que as
suas diversas provações exigiam. Quando se aproximava a deplorável
época,
em que o erro havia de atacar o Dogma da Presença Real de Jesus
Cristo na Eucaristia, viu-se
aumentar a devoção dos fiéis ao Santíssimo Sacramento;
instituiu-se uma Festa, e esta festa existia ali como um baluarte
inexpugnável contra os artifícios e furores da heresia. Podemos
também considerar a instituição do culto público para com o
Sagrado Coração de Jesus como um benefício da Providência, e como
o efeito das Promessas de Jesus Cristo e da assistência do Espírito
Santo. A devoção ao Sagrado Coração de Jesus reservou-se para
estes últimos tempos, como o último esforço do seu amor para
conjurar a ira celeste, reacender o fogo da caridade, e conservar o
gérmen precioso da antiga piedade. O Coração de Jesus é uma fonte
fecunda de doces e ternos sentimentos, e, segundo os desígnios de
Deus, é nessa fonte que a Igreja, que os verdadeiros fiéis devem
beber para debelar a indiferença
do século,
a insensibilidade dos corações.
Trecho
Histórico: No mosteiro da
Visitação de Paray-Monial em Charollais, vivia, no fim do século
XVII, uma dessas almas puras e santas, que o claustro é digno de
possuir. Chamava-se Margarida Maria. Estando um dia em oração
diante do altar, apareceu-lhe Jesus Cristo, e lhe falou no amor em
que está abrasado pelos homens, e da ingratidão dos homens para com
Ele. Manifestou-lhe ao mesmo tempo o desejo que tinha de que se
instituísse uma festa particular para louvar o seu Coração; e
prometeu-lhe de encher de graças aos que abraçassem esta devoção.
Margarida Maria comunicou as suas revelações a algumas pessoas, que
não duvidaram da sua realidade. Entre elas foi o Padre La
Colombière, célebre pregador, que cooperou muito para propagar a
devoção do Coração de Jesus. No ano de 1696 publicou-se em Dijon
uma obra intitulada: A
devoção do Sagrado Coração de Jesus, com o Ofício, a Missa, a
Ladainha, a Coroa, e algumas orações para honrar o Sagrado Coração
de Jesus. No rosto do
livro vê-se pintado o Pai Eterno no meio dos Anjos, apresentando um
coração rodeado de chamas, e transpassado com um gládio, com estas
palavras: “Eis o Coração de meu Filho bem-amado em quem pus as
minhas complacências”.
Beata Maria do Divino Coração
e
a Consagração do Mundo ao Sagrado Coração de Jesus
A
10 de Junho de 1898, era enviada uma carta da Casa do Bom Pastor ao
Santo Padre Leão XIII. Assinava-a uma religiosa com mão trêmula, e
até a lápis, onde dizia ter recebido ordem do Senhor para lhe
notificar que o Sagrado Coração de Jesus desejava que o seu Vigário
na terra, consagrasse o mundo todo ao mesmo Sagrado Coração, e que
em recompensa, proporcionaria grande cópia de graças.
Qual
o efeito dessa carta? Não se sabe. Apenas sabe-se que seis meses
mais tarde, a mesma zelosa e santa irmã mandava nova carta, mais
particularizada, mais insistente, assinando-se: Maria do Divino
Coração, Droste Zü Vischering, Superiora do Recolhimento do Bom
Pastor, no Porto. Esta carta impressionou deveras o Papa Leão XIII,
que incumbiu um Cardeal de tirar informações acerca da religiosa,
que todos tinham em conta de santa.
A
13 de Abril, dia de Páscoa, a Congregação dos Ritos autorizava as
Ladainhas do Sagrado Coração, e anunciava para breve a consagração
mundial.
A
25 de Maio de 1899, o Papa numa belíssima Encíclica, convidava todo
o povo cristão a uma Consagração ao Coração de Jesus para o dia
11 de Junho, usando a fórmula escrita pelo Pontífice.
E
foi assim que o País, que mais tarde teria a glória de ver
consagrado em sua língua o mundo ao Coração Imaculado de Maria, a
pedido da Irmã Lúcia, tem agora a glória de ver consagrada a
humanidade ao Sagrado Coração de Jesus, pelo apostolado da Irmã do
Divino Coração.
Sóror
Benigna Consolata
e
a Desconfiança no Sagrado Coração de Jesus
O
Sagrado Coração de Jesus à sua fiel serva Sóror Benigna
Consolata.
“Se
soubessem o quanto desagrada a Deus duvidar da sua Bondade! Por
maiores que sejam os pecados, enormes mesmos os crimes das Minhas
criaturas, Eu estou sempre pronto, não só a perdoá-los, mas a
esquecê-los, desde que os pecadores voltem a Mim... O maior dano que
o Demônio faz às almas, depois de lhes ter feito cometer o pecado é
a desconfiança. Se uma alma tem confiança, tem ainda o caminho
aberto; mas se o Demônio consegue fechar o coração pela
desconfiança, oh! Quanto tenho que lutar para reconquistar essas
almas!
Escreve,
Minha Benigna, escreve para que se saiba. É certo que cem pecados Me
ofendem mais do que um; se este um, porém, for de desconfiança,
fere-Me o Coração mais do que os outros cem;
porque a desconfiança fere Meu Coração no seu íntimo; amo tanto
os homens!”
Estas
palavras concordam com as revelações de Jesus a Santa Catarina de
Sena:
“Os
pecadores que no momento da morte desesperam da Minha misericórdia,
ofendem-Me muito mais gravemente e Me desgostam mais com isto, do que
com todos os outros pecados cometidos... A Minha
misericórdia é infinitamente maior, do que todos os pecados que
possa cometer uma criatura”.
O
Rev. Pe. Teodoro Ratisbonne
salpica-nos
as Migalhas Evangélicas
sobre
o Sagrado Coração de Jesus
“Meus
Olhos e Meu Coração estão no meio de vós”
(3 Rs. 9, 3).
I
– Os
mistérios da religião, todos de amor e caridade, não poderiam ser
simbolizados mais expressivamente do que pelo coração. A
contemplação do Sagrado Coração de Jesus dá-nos luz para
compreendermos os
segredos do Céu; inteligência para entrarmos nos mais íntimos
pensamentos do divino Mestre; força para bem suportarmos as agruras
da presente vida; graças para sermos humildes e dóceis; esperança
para firmemente confiarmos no auxílio do alto. É neste Coração de
amor que encontramos o bálsamo tonificante para as chagas da nossa
alma; só ele sacia os que tem fome e sede de amor.
Abeiremo-nos
desta fonte de água-viva,
cuja plenitude transborda em nossos corações.
II
– Só
o Coração de Jesus sabe responder às invencíveis aspirações de
nossa vida; pois, se sentimos necessidade de sermos amados, é ele
quem nos ama e, se precisarmos amar, é a ele que devemos amar. Ele é
todo nosso quando lhe pertencemos totalmente; e faz em nós suas
delícias quando somente dele constituímos as
nossas. Ele se dá a nós quando nós nos damos a ele; enche-nos de
sua unção quando nós nele buscamos consolo.
Imitemos
São João; descansemos sobre o Coração de Jesus, onde se aprendem
os segredos do amor e da oração. É lá que
a alma verdadeiramente piedosa saboreia as primícias da
Bem-aventurança.
|
Il P. Joseph Schrijvers (al centro) con la Comunità dei Redentoristi |
O
Pe. José Schrijvers
retira-nos
para um encontro com
o
Sagrado Coração de Jesus
“Eu
os atrairei com cadeias de amor”
Foi Jesus quem fez o coração do homem, esse coração tão
assombrosamente vasto que nenhuma criatura pode enchê-lo, nem
contentá-lo as honras humanas, nem satisfazê-lo nenhum amor
terrestre.
Necessário
se faz, pois, voltar ao seu centro, Jesus, ou ser vítima da
perturbação, da inquietação e do desespero.
O
homem quer a felicidade. Ele a persegue por todos os seus atos, a ela
aspira com todas as potências de seu ser, e essa felicidade
procurada fora de Jesus Cristo, ele jamais a encontra.
Algo,
como uma fatalidade, o impele a abraçar aquilo que ele chama
felicidade e, quando julga tê-la alcançado, verifica que perseguiu
uma quimera...
Oh!
Quão infeliz é o coração que sofre sem ter aprendido na escola de
Jesus o sentido da Cruz. Ele foge da dor e deve sofrê-la, odeia-a e
a maldiz.
O
discípulo de Jesus, ao contrário, compreende o sofrimento, recebe a
dor como uma irmã querida. Mais ainda, vai-lhe ao encalço e
suplica-a a Jesus, ama-a, e encontra nela suas mais puras delícias...
Jesus,
refugio-me em vosso Coração Sagrado!...
Em
Jesus, somente, o homem encontra tudo quanto deseja, a vida, a
felicidade, o amor, e o amor sem limites, pois que Jesus é o Rei
dos corações. Existem, com efeito, entre
o coração do homem e o de Jesus, afinidades profundas e misteriosas
e elas datam da eternidade...
E
nele incrustou aspirações tão profundas, das quais só o seu
divino Coração poderia fazer-se eco e acalmá-las plenamente.
O
Coração de Jesus e o do homem tornaram-se assim como duas cordas de
uma harpa harmoniosamente afinadas para vibrarem juntas, e tão
delicadamente ligadas entre si, que a vibração de uma delas
provocaria no mesmo instante um som correspondente na outra...
A
harmonia estabelecida entre Jesus e o homem é, com efeito, tão
profunda que a infidelidade, mesmo prolongada, não consegue
destruí-la.
Os
preconceitos e as paixões podem abafar, por longo tempo, todo grito,
toda aspiração do coração para Deus; porém, essa divina simpatia
subsiste no fundo da alma. Um dia, quiçá, depois de muitos anos,
ela despertará e a alma há de responder ao apelo de Jesus.
É
a história das conversões
operadas após quarenta, cinquenta anos de vida culpada, por uma
palavra de amigo, por um acontecimento imprevisto, por uma emoção
súbita.
Jesus
é o Rei dos corações. Foi Ele quem o fez, é Ele quem compreende
todas as suas aspirações e também suas fraquezas. É Ele quem
reconduz a Si, mais cedo ou mais tarde, aqueles que não se esquivam
obstinadamente.
Ó
Jesus! Eu não quero fugir de Vós, mas tão somente aproximar-me
ainda mais. Preciso tanto de Vós! Agradeço-vos
ter feito meu coração tão grande que jamais pôde contentar-se com
criatura alguma...
Mas,
Jesus, a não ser Vós, ninguém saberia compreender-me, amar-me como
eu quero ser compreendido e amado.
Assim
tudo me prende a Vós, bom Mestre; meus temores, minhas aspirações,
minhas qualidades, e até mesmo os meus defeitos! Todas as fibras de
meu ser vos enlaçam, todos os ecos de meu coração vos repetem:
Ficai comigo, eu preciso tanto de vosso amor, de vossa bondade, de
vossa condescendência, de vossa paciência sem limites.
Sem
Vós, eu seria infinitamente infeliz...
Criai
em mim um coração puro que se prenda somente a Vós. Dai-me energia
para afastar de minha alma todo outro amor que não seja o vosso.
P.S.
Recomendo a leitura do capítulo inteiro, pois é impressionantemente
bom.
O
Catecismo da Igreja Católica
define-nos
o Coração do Verbo Encarnado
Jesus
conheceu-nos e amou-nos a todos durante a sua Vida, sua Agonia e
Paixão e entregou-se por cada um de nós: “O Filho de Deus amou-me
e entregou-se por mim”.
Amou-nos a todos com um Coração humano. Por esta razão, o
Sagrado Coração de Jesus, transpassado por nossos pecados e para a
nossa salvação,
“praecipuus consideratur index et symbolus... illius amoris, quo
divinus Redemptor aeternum Patrem hominesque universos continenter
adamat – é considerado o principal sinal e símbolo daquele
amor com o qual o divino Redentor ama ininterruptamente o Pai Eterno
e todos os homens”.