No reino glorioso do Céu não há um só Santo, que não houvesse sido devoto do Sagrado Coração. Este amor era tão ardente em São Francisco que o transformou num Serafim abrasado, e fê-lo digno de trazer em seu corpo, as Chagas de Jesus Cristo, Senhor nosso.
Este amor seráfico, para com o Divino Coração, é característico de Santo Antônio.
Deus mesmo acendeu as belas chamas do amor sobrenatural e divino no santuário do seu coração inocente e puro.
Fazer que jamais se apagassem, era a solicitude contínua, nutri-las e aumentá-las, o supremo desejo da sua pura alma. Para consegui-lo contemplava, de preferência a outros Mistérios, os do Nascimento de Jesus, da Dolorosa Paixão e Morte, e em particular, do Sacramento Augustíssimo do Altar.
Não se contentava, porém, com isso. Nos seus Sermões enaltecia as perfeições e celebrava os louvores do Sagrado Coração, a fim de abrasar de amor para com Ele todos os corações.
Mais ainda! As poucas obras de Santo Antônio, que chegaram até nós são provas irrefutáveis, de que se salientou, visivelmente, na devoção de Jesus, sob a terno culto do seu amabilíssimo Coração. A cada passo, exalam ativamente os perfumes deste amantíssimo Coração.
“A alma piedosa, assim escreve ele, a alma piedosa encontrará no Coração de Jesus um delicioso retiro, um asilo seguro contra todas as tentações do mundo; no mais íntimo do Coração de Jesus, ela encontrará a paz, as consolações, a luz e inefáveis delícias. O Coração de Jesus é como que o princípio da vida sobrenatural, é como que o altar de ouro, onde, de noite e de dia um incenso odorífero se evola até aos Céus e perfumes suavíssimos embalsamam a terra.
A meditação dos sofrimentos exteriores de Jesus Cristo é santa e meritória, sem dúvida, mas, se queremos encontrar ouro puro, necessitamos de ir ao altar interior, ao Coração mesmo de Jesus, e ali estudar as riquezas do seu amor”.
Palavras belíssimas que só podiam sair de um coração angélico e seráfico, como o de Santo Antônio”1.
Em outro lugar, diz: “Assim como no ano há quatro estações: o Inverno, a Primavera, o Verão e o Outono, também na vida de Cristo houve o inverno da perseguição de Herodes, por causa da qual fugiu para o Egito; a primavera da pregação, e então apareceram as flores2, isto é, as promessas da vida eterna3, e a voz da rola, isto é, do Filho de Deus, se ouviu na nossa terra: Fazei penitência, pois que está próximo o Reino dos Céus4; o estio da Paixão, de que escreve Isaías: Meditou no seu espírito austero num dia de ardência5. Cristo, num dia de ardência, isto é, da Sua Paixão6, meditou no Seu Espírito austero, inflexível para suportar a Paixão, enquanto pendia na Cruz, como condenaria o Diabo, livraria o gênero humano do seu poder e infligiria aos pecadores obstinados a pena eterna. Isto dizia noutro lugar o mesmo Profeta: O dia da vingança está no Meu Coração7...8
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1. “A Vida e o Culto de Santo Antônio”, por Fr. Luiz, O.F.M., 1ª Parte, Cap. XXIII, pp. 238-245; 3ª Edição, Kevelaer Butzon e Bercker Editores Pontifícios, 1907.
2. Cânt. 2, 12 (Vg. Muda).
3. Glos. Int., ibidem.
4. Mat. 4, 17.
5. Is. 27, 8.
6. Glos. Int. Ibidem.
7. Is. 63, 4 (Vg. Dies enim.,).
8. Santo Antônio de Lisboa, Doutor Evangélico, “Obras Completas – Sermões Dominicais e Festivos”, Vol. I, “Domingo da Sexagésima”, p. 40; Lello & Irmão – Editores, Porto, 1987.