“Nenhum outro pecado é maior nem mais pernicioso na
Igreja de Deus” Papa Paulo IV
“In domum domini ibimus”(1)
CUM EX APOSTOLATUS OFFICIO
PAULO IV
Bula sobre a perda de jurisdição dos hereges e dos
cismáticos.
De 15 de fevereiro de 1.559.
EXÓRDIO
O Papa tem o dever de impedir o magistério do erro.
Dado
que por nosso Ofício Apostólico, divinamente confiado a Nós, ainda que sem
mérito algum de nossa parte, Nos compete um cuidado sem limites do rebanho do
Senhor; e consequentemente, a maneira de Pastor que vela, em benefício de sua
grei e de sua salutar condução, estamos obrigados a uma assídua vigilância e a
procurar com particular atenção que sejam excluídos do rebanho de Cristo
aqueles que em nossos tempos, seja já pelo número predominante de seus pecados
ou por confiar com excessiva liberalidade em sua própria capacidade, se
levantam contra a disciplina e a verdadeira Fé de um modo realmente perverso, e
transtornam com malévolos recursos e totalmente inadequados a compreensão das
Sagradas Escrituras, com o propósito de atingir a unidade da Igreja Católica e
a túnica inconsútil do Senhor, e para que não prossigam no ensino do erro, os
que desprezam ser discípulos da Verdade.
1. Quanto mais alto está o desviado de Fé, mais grave
é o perigo.
Considerando
a gravidade particular desta situação e seus perigos a ponto que o mesmo Romano
Pontífice, que como Vigário de Deus e de Nosso Senhor tem o pleno poder na
terra, e a todos julga e não pode ser julgado por ninguém, se fosse encontrado
desviado da Fé, poderia ser acusado e dado que donde surge um perigo maior, ali
mais decidida deve ser a providência para impedir que falsos profetas e outras
pessoas que detenham jurisdições seculares não tenham lamentáveis laços com as
almas simples e arrastem consigo para a perdição inumeráveis povos confiados a
seu cuidado e a seu governo nas coisas espirituais ou nas temporais; e para que
não aconteça algum dia que vejamos no Lugar Santo a abominação da desolação,
predita pelo profeta Daniel; com a ajuda de Deus para Nosso empenho pastoral,
não seja que pareçamos cães mudos, nem mercenários, ou amaldiçoados maus
vinicultores, queremos capturar as raposas que tentam desolar a Vinha do Senhor
e rechaçar os lobos para longe do rebanho.
2. Confirmação de toda providencia anterior contra
todos os desviados.
Depois
de madura deliberação com os Cardeais da Santa Igreja Romana, nossos irmãos,
com o conselho e o unânime assentimento de todos eles, com Nossa Autoridade
Apostólica, aprovamos e renovamos todas e cada uma das sentenças, censuras e
castigos de excomunhão, suspensão, interdição e privação, e outras, de qualquer
modo adotadas e promulgadas contra os hereges e cismáticos, pelos Pontífices Romanos,
nossos Predecessores, ou em nome deles, incluso as disposições informais, dos
Santos Concílios admitidos pela Igreja, os decretos e estatutos dos Santos
Padres, os Cânones Sagrados, ou por Constituições e Resoluções Apostólicas. E
queremos e decretamos que ditas sentenças, censuras e castigos, sejam
observadas perpetuamente e seja restituída a sua total vigência se estiveram em
desuso, e devem permanecer com todo seu vigor. E queremos e decretamos que
todos aqueles que até agora tenham sido encontrados, ou tenham confessado, ou
sejam convictos de terem-se desviado da Fé Católica, ou de haverem incorrido em
alguma heresia ou cisma, ou de terem suscitado ou cometido; ou bem os que no
futuro se apartarem da Fé (o que Deus se digne impedir segundo sua clemência e
sua bondade para com todos), ou incorrerem em heresia, ou cisma, ou os
suscitarem ou cometerem; ou bem os que houverem de ser surpreendidos de ter
caído, incorrido, suscitado ou cometido, ou o confessarem, ou o admitirem, de
qualquer grau, condição e preeminência, inclusive Bispos, Arcebispos,
Patriarcas, Primazes, ou de qualquer outra dignidade eclesiástica superior; ou
bem Cardeais, ou Legados perpétuos ou temporais da Sé Apostólica, com qualquer
destino; ou os que sobressaiam por qualquer autoridade ou dignidade temporal,
de conde, barão, marquês, duque, rei, imperador, enfim queremos e decretamos
que qualquer um deles incorram nas sobreditas sentenças, censuras e castigos.
3. Privação ipso facto de todo oficio eclesiástico por
heresia ou cisma.
Considerando
que os que não se abstém de fazer mal por amor da virtude devem ser reprimidos
por temor dos castigos, e que Bispos, Arcebispos, Patriarcas, Primazes, ou de
qualquer outra dignidade eclesiástica superior; sejam Cardeais, Legados,
condes, barões, marqueses, duques, reis, imperadores, que devem ensinar aos
demais e servir-lhes de bom exemplo, a fim de que perseverem na Fé Católica,
com sua prevaricação pecam mais gravemente que os outros, pois que não só se
perdem eles, senão que também arrastam consigo para a perdição os povos que
lhes foram confiados; pela mesma deliberação e assentimento dos Cardeais, com
esta Nossa Constituição, válida perpetuamente, contra tão grande crime – que
não pode haver outro maior nem mais pernicioso na Igreja de Deus – na plenitude
de Nossa autoridade Apostólica, sancionamos, estabelecemos, decretamos e
definimos que pelas sentenças, censuras e castigos mencionados (que permanecem
em seu vigor e eficácia e que produzem seu efeito), todos e cada um dos Bispos,
Arcebispos, Patriarcas, Primazes, ou de qualquer outra dignidade eclesiástica
superior; sejam Cardeais, Legados, condes, barões, marqueses, duques, reis,
imperadores, que até agora (tal como se declara precedentemente) tiverem sido
surpreendidos, ou houverem confessado, ou estejam convictos de se terem
desviado (da Fé católica), ou de haver caído em heresia, ou de haver incorrido
em cisma, ou de ter suscitado ou cometido; ou também os que no futuro se
apartarem da Fé católica, ou caírem em heresia, ou incorrerem em cisma, ou os
provocarem, ou os cometerem, ou os que forem surpreendidos ou confessarem ou
admitirem haver se desviado da Fé Católica, ou haver caído em heresia, ou haver
incorrido em cisma, ou tê-los provocado ou cometido, dado que nisto resultam muito
mais culpáveis que os demais, fora das sentenças, censuras e castigos,
enumerados, (que permanecem em seu vigor e eficácia e que produzem seus
efeitos), todos e cada um dos Bispos, Arcebispos, Patriarcas, Primazes, ou de
qualquer outra dignidade eclesiástica superior; sejam Cardeais, Legados,
condes, barões, marqueses, duques, reis, imperadores, caíram privados também
por essa mesma causa, sem necessidade de nenhuma instrução de direito ou de
fato, de suas hierarquias, e de suas igrejas catedrais, inclusive
metropolitanas, patriarcais e primazes; do título de Cardeal, e da dignidade de
qualquer classe de Legado, e ademais de toda voz ativa e passiva, de toda
autoridade, dos mosteiros, benefícios e funções eclesiásticas, com qualquer
Ordem que for que tenham obtido por qualquer concessão e dispensação
Apostólica, seja como titulares, ou como encarregados ou administradores, e nas
quais, seja diretamente ou de alguma outra maneira houverem tido algum direito,
ou os houverem adquirido de qualquer outro modo; caem assim mesmo privados de
qualquer beneficio, rendido ou produzido, reservados ou assinados para eles. E
do mesmo modo serão privados completamente, e em cada caso, de seus condados,
baronias, marquesado, ducado, reino e império, e de forma perpétua, e de modo
absoluto. E por outro lado sendo de todo contrários e incapacitados para tais
funções, serão tidos ademais como relapsos e exonerados em tudo e para tudo,
inclusive se antes houvessem abjurado publicamente em juízo tais heresias. E
não poderão ser restituídos, repostos, reintegrados ou reabilitados, em nenhum
momento, a primeira dignidade que tiveram, a suas Igrejas Catedrais,
metropolitanas, patriarcais, primazes; ao cardinalato, ou a qualquer outra
dignidade, maior ou menor, ou a sua voz ativa ou passiva, a sua autoridade,
mosteiro, beneficio, ou condado, baronia, marquesado, ducado, reino o império,
antes bem haverão de cair no arbítrio daquele poder que tenha a devida intenção
de castigá-los, a menos que tendo em conta neles os sinais de verdadeiro
arrependimento e aqueles frutos de uma congruente penitência, por benignidade
da mesma Sé Apostólica ou por clemência houverem de ser relegados a algum
mosteiro, ou em algum outro lugar dotado de um caráter disciplinário para fazer
ali perpétua penitência com o pão da dor e a água da compunção. E assim serão
tidos por todos, de qualquer dignidade, grau, ordem, ou condição que seja, e
incluso, arcebispo, patriarca, primado, cardeal, ou de qualquer autoridade
temporal, conde, barão, marquês, duque, rei o imperador, ou de qualquer outra
hierarquia, e assim serão tratados e estimados, e ademais evitados como
relapsos e exonerados, de tal modo que haverão de estar excluídos de todo
consolo humano.
4. Pronta solução das vacâncias dos ofícios
eclesiásticos.
Quem
pretender ter um direito de patrono, ou de nomear pessoas idôneas para as Sedes
Eclesiásticas vacantes por estas cercanias, a fim de que tais cargos, depois de
haver sido livrados da servidão dos heréticos, não estejam expostos aos
inconvenientes de uma longa vacância, mas sejam outorgados a pessoas capazes de
dirigir os povos pelas vias da justiça, estão obrigados a apresentar ao Romano
Pontífice os nomes de tais pessoas idôneas, dentro do tempo fixado por direito,
de outra maneira, transcorrido o tempo previsto, a disponibilidade de tais
Sedes retorna ao Pontífice Romano.
5. Excomunhão ipso facto para os que favorecerem a
hereges ou cismáticos.
Incorrem
em excomunhão ipso facto todos os que conscientemente ousam acolher,
defender ou favorecer aos desviados ou lhes dêem crédito, ou divulguem suas
doutrinas; sejam considerados infames, e não sejam admitidos a funções públicas
ou privadas, nem nos Conselhos ou Sínodos, nem nos Concílios Gerais ou
Provinciais, nem ao Conclave de Cardeais, ou em qualquer reunião de fiéis ou em
qualquer outra eleição. Serão também impedidos e não poderão participar de
nenhuma sucessão hereditária, e ninguém estará ademais obrigado a
responder-lhes acerca de nenhum assunto. Se tiver algum a condição de juiz,
suas sentencias carecerão de toda validez, e não se poderá submeter nenhuma
outra causa a sua audiência; ou se for advogado, sua defesa será tida por nula,
e se for escrivão seus papéis carecerão por completo de eficácia e vigor.
Ademais os clérigos serão privados também pela mesma razão, de todas e cada uma
de suas igrejas, inclusive catedrais, metropolitanas, patriarcais e primazes;
de suas dignidades, mosteiros, benefícios e ofícios eclesiásticos inclusive
como já se disse, qualquer que seja o grau e o modo de sua obtenção. Tanto
Clérigos como leigos, inclusive os que obtiveram normalmente e que estiverem
investidos das dignidades mencionadas, serão privados sem maiores trâmites de
seus reinos, ducados, domínios, feudos e de todos os bens temporais que
possuam, seus reinos, ducados, domínios, feudos e bens serão propriedade
pública, e como bens públicos haverão de produzir um efeito de direito, em
propriedade daqueles que os ocupem pela primeira vez, sempre que estes
estiverem sob nossa obediência, ou de nossos sucessores os Romanos Pontífices,
eleitos canonicamente, na sinceridade da Fé e em união com a Santa Igreja
Romana.
6. Nulidade de todas as promoções ou elevações de
desviados na Fé.
Agregamos
que se em algum tempo acontecer que um Bispo, inclusive na função de Arcebispo,
ou de Patriarca, ou Primaz; ou um Cardeal, inclusive na função de Legado, ou
eleito Pontífice Romano que antes de sua promoção ao Cardinalato ou assunção ao
Pontificado, tivesse se desviado da Fé Católica, ou houvesse caído na heresia
ou incorrido em cisma, ou o houvesse suscitado ou cometido, a promoção ou a
assunção, inclusive se esta houver ocorrido com o acordo unânime de todos os
Cardeais, é nula, inválida e sem nenhum efeito; e de nenhum modo pode
considerar-se que tal assunção haja adquirido validez, por aceitação do cargo e
por sua consagração, ou pela subsequente possessão ou quase possessão de
governo e administração, ou pela mesma entronização ou adoração do Pontífice
Romano, ou pela obediência que todos lhe tenham prestado, qualquer que seja o
tempo transcorrido depois dos supostos sobreditos. Tal assunção não será tida
por legítima em nenhuma de suas partes, e não será possível considerar que se
tenha outorgado ou se outorga alguma faculdade de administrar nas coisas
temporais ou espirituais aos que são promovidos, em tais circunstancias, a
dignidade de bispo, arcebispo, patriarca ou primaz, ou aos que tenham assumido
a função de Cardeais, ou de Pontífice Romano, senão que pelo contrário todos e
cada um desses pronunciamentos, feitos, atos e resoluções e seus consequentes
efeitos carecem de força, e não outorgam nenhuma validez, e nenhum direito a
nada.
7. Os fieis não devem obedecer, senão evitar aos
desviados na Fé.
E em
consequência, os que assim houvessem sido promovidos e houvessem assumido suas
funções, por essa mesma razão e sem necessidade de se fazer nenhuma declaração
posterior, estão privados de toda dignidade, lugar, honra, título, autoridade,
função e poder; e seja lícito, em consequência, a todas e a cada uma das pessoas
subordinadas aos assim promovidos e assumidos, se não se tivessem apartado da
Fé, nem houvessem sido heréticos, nem houvessem incorrido em cisma, ou o
houvessem suscitado ou cometido, tanto os clérigos seculares e regulares, ou
mesmo que os leigos; e aos Cardeais, inclusive aos que tenham participado na
eleição desse Pontífice Romano, que com anterioridade se apartou da Fé, e era
ou herético ou cismático, ou que tivesse consentido em outros pormenores e os
tenham prestado obediência, e se tivessem ajoelhado ante ele; aos chefes,
prefeitos, capitães, oficiais, inclusive de nossa materna Urbe e de todo o
Estado Pontifício; assim mesmo aos que por acatamento ou juramento, ou caução
se tenham obrigado e comprometido com os que nessas condições foram promovidos
ou assumiram suas funções, (seja-lhes licito) subtrair-se a qualquer momento e
impunemente da obediência e devoção de quem foi assim promovido ou entraram em
funções, e evitá-los como se fossem feiticeiros, pagãos, publicanos ou
heresiarcas, o que não obsta que estas mesmas pessoas tenham que prestar sem
embargo estrita fidelidade e obediência aos futuros bispos, arcebispos,
patriarcas, primazes, cardeais ou ao Romano Pontífice, canonicamente eleito. E
ademais para maior confusão desses mesmos assim promovidos e assumidos, se
pretenderem prolongar seu governo e administração, contra os mesmos assim
promovidos e assumidos (seja-lhes lícito) requerer o auxilio do braço secular,
e não por isso os que se subtraem desse modo à fidelidade e obediência para com
os promovidos e titulares, já ditos, estarão submetidos ao rigor de algum
castigo ou censura, como se o exigissem pelo contrário os que cortam a túnica
do Senhor.
8. Validez dos documentos antigos e derrogação somente
dos contrários.
Não
tem nenhum efeito para estas disposições as Constituições e Ordenanças
Apostólicas, assim como os privilégios e letras apostólicas, dirigidas a
bispos, arcebispos, patriarcas, primazes e cardeais, nem qualquer outra
resolução, de qualquer teor ou forma, e com qualquer cláusula, nem os decretos,
também os de motu próprio e de ciência certa do Romano Pontífice, ou concedidos
em razão da plenitude apostólica, ou promulgados em consistórios, ou de
qualquer outra maneira; nem tão pouco os aprovados em reiteradas ocasiões, ou renovados
e incluídos no corpo do direito, ou como capítulos de conclave, ou confirmados
por juramento, ou por confirmação apostólica, ou por qualquer outro modo de
confirmação, inclusive os jurados por Nós mesmos. Considerando, pois essas
resoluções de modo expresso e tendo-as como inseridas, palavra por palavra,
inclusive aquelas que haveriam de perdurar por outras disposições, e enfim
todas as demais que se oponham, por sua vez e de um modo absolutamente
especial, derrogamos expressamente suas cláusulas dispositivas.
9. Decreto de publicação solene
A
fim de que cheguem noticias certas das presentes letras a quem interessa,
queremos que elas, ou uma cópia (referendada por um notário público, com o selo
de alguma pessoa dotada de dignidade eclesiástica) sejam publicadas e fixadas
na Basílica do Príncipe dos Apóstolos, e nas portas da Chancelaria apostólica,
e no extremo da Praça de Flora por algum de nossos oficiais; e que é suficiente
a ordem de fixar nesses lugares a cópia mencionada, e que a dita fixação ou
publicação, ou a ordem de exibir a cópia sobredita, deve ser tida com caráter
solene e legitimo, e que não se requer nem se deve esperar outra publicação.
10. Ilicitude das ações contrárias e sanção divina.
Portanto,
a homem algum seja lícito infringir esta página de Nossa Aprovação, Inovação,
Sanção, Estatuto, Derrogação, Vontade, Decreto, ou por temerária ousadia
contradizer-lhes. Porém se alguém pretender atentar, saiba que haverá de
incorrer na indignação do Deus Onipotente e de seus Santos Apóstolos Pedro e
Paulo.
Dado em Roma, junto a São Pedro,
aos 15 de fevereiro do ano da Encarnação do Senhor de 1559,
4º ano de nosso Pontificado.
Paulo IV