Pátria Amada
 
 quarta-feira, 5 de setembro de 2012
 
Depois de amanhã, dia 7, Independência do Brasil, é o dia da 
Pátria, da nossa Pátria amada. Jesus, nosso divino modelo, amava tanto 
sua pátria, que chorou sobre sua capital, Jerusalém, ao prever os 
castigos que sobre ela viriam, consequência da sua resistência à graça 
divina. É tempo oportuno para refletirmos sobre nossa nação, na qual 
vivemos e da qual esperamos o nosso bem comum. Será que também não 
devemos chorar sobre nossa pátria, ao vermos tanta falta de ética em 
nossa política, ao sentirmos e pressentirmos a aprovação de leis 
iníquas, contra a Lei Divina, natural e positiva?
Segundo Aristóteles, “o homem é por natureza um animal 
político, destinado a viver em sociedade” (Política, I, 1,9). Política 
vem do grego pólis, que significa cidade. E,
 continua Aristóteles, “toda a cidade é evidentemente uma associação, e 
toda a associação só se forma para algum bem, dado que os homens, sejam 
eles quais forem, tudo fazem para o fim do que lhes parece ser bom”. E 
Santo Tomás de Aquino cunhou o termo bem comum,
 ou bem público, que é o bem de toda a sociedade, dando-o como 
finalidade do Estado. “A comunidade política existe... em vista do bem 
comum; nele encontra a sua completa justificação e significado e dele 
deriva o seu direito natural e próprio. Quanto ao bem comum, ele 
compreende o conjunto das condições de vida social que permitem aos 
indivíduos, famílias e associações alcançar mais plena e facilmente a 
própria perfeição” (Gaudium et Spes, 74).
 Daí se conclui que a cidade – o Estado - exige um governo que a dirija 
para o bem comum. Por isso não se pode separar a política da direção 
para o bem comum.
              Parecia estar falando da política atual o notável Eça de Queirós, que, em 1871, escrevera com sua verve inconfundível: “Estamos
 perdidos há muito tempo... O país perdeu a inteligência e a consciência
 moral. Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada. Os caracteres
 corrompidos. A prática da vida tem por única direção a conveniência. 
Não há princípio que não seja desmentido. Não há instituição que não 
seja escarnecida. Ninguém se respeita... Ninguém crê na honestidade dos 
homens públicos... A classe média abate-se progressivamente na 
imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos 
são abandonados a uma rotina dormente. O Estado é considerado na sua 
ação fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo. A certeza deste 
rebaixamento invadiu todas as consciências. Diz-se por toda a parte, o 
país está perdido! Algum opositor do atual governo? Não!”. 
            Como
 cristãos, nós sabemos que a base da moral e da ética é a lei de Deus, 
natural e positiva, traduzida na conduta pelo que se chama o santo temor
 de Deus ou a consciência reta e timorata. Uma vez perdido o santo temor
 de Deus, perde-se a retidão da consciência, que passa a ser regida 
pelas paixões. Uma vez perdidos os valores morais e os limites éticos, a
 política fica ao sabor das paixões desordenadas do egoísmo, da ambição e
 da cobiça.
Dom Fernando Arêas Rifan*
Bispo da Administração Apostólica Pessoal 
São João Maria Vianney