Dom Fernando Arêas Rifan*
Segundo
noticiou a revista O Globo de 4 de novembro último, foi eleita a
melhor cerveja do mundo, por milhares de fãs de mais de 60 países,
a Westvleteren 12. A sua qualidade e raridade são tais que, para se
comprar uma modesta cota de duas caixas de Westvleteren 12, na cidade
do mesmo nome na Bélgica, é preciso telefonar antes para o
fabricante, cadastrar o número de telefone e placa do carro, que
serão usados para que o candidato não tente repetir a compra pelos
dois meses seguintes, e ir buscar pessoalmente as preciosas garrafas.
Os admiradores não têm dúvidas de que tamanho esforço e dedicação
valem a pena. Os importadores de fora, quando a têm, vendem-na a R$
180,00 a garrafa.
A
Westvleteren 12 é produzida unicamente pelos monges trapistas do
Mosteiro Saint Sixtus (www.westvleteren.com). Bem, assim como Jesus
não foi culpado pelos que talvez tenham abusado do excelente vinho
miraculoso das Bodas de Caná, os monges trapistas não são culpados
se alguém bebe sem sobriedade a sua preciosa e especial cerveja.
O
que é interessante, e mostra porque é tão rara essa cerveja,
apesar de tão boa, é que os monges só fazem a quantidade
necessária para sustentar o mosteiro, e nenhuma a mais. Ano passado,
tiveram que produzir mais para consertar o muro da abadia, que estava
ruindo.
Só
produzem o necessário para viver. Não visam o lucro supérfluo.
Isso passa pela cabeça de qualquer pessoa hoje, no mundo atual
consumista, materialista e cobiçoso, que faz do lucro o motivo de
tudo?! As pessoas de hoje, nós mesmos, contentamo-nos com o
necessário e o conveniente, ou queremos sempre mais e mais, até as
coisas mais supérfluas?!
São
Paulo Apóstolo nos adverte: “Nos últimos tempos... os homens
serão egoístas, gananciosos (no original grego: amigos de si mesmo,
amigos do dinheiro)” (2 Tm 3,2); “o amor ao dinheiro é a raiz de
todos os males” (1 Tm 6. 9-10). Sim, do amor desordenado ao
dinheiro vêm a avareza, os roubos, as desavenças, os ódios, as
invejas, as traições, as impurezas, os adultérios, os crimes de
toda espécie: “Nada é mais criminoso do que o avarento, pois
chega a pôr à venda a própria alma” (Eclo 10, 9).
Jesus,
no sermão da montanha, resumo do seu Evangelho, nos ensina: “Não
podeis servir a Deus e ao Dinheiro” (Mt 6, 24). O cristão,
discípulo de Cristo, pode usar do dinheiro, mas não servir ao
dinheiro. Servir a alguém ou algo é considera-lo como seu senhor,
como seu deus, a quem se dedica a vida, a quem se sacrifica tudo o
mais. Por isso, quem serve ao dinheiro, a ele sacrifica a honra, a
moral, o pudor, o corpo, a saúde e a vida.
Santo
Agostinho dizia que o dinheiro é algo tão vil que Deus o dá até
para os maus! Usemos bem do dinheiro, sem servirmos a ele e sem
colocar nele a razão do nosso viver: “Não ajunteis tesouros aqui
na terra, onde a traça e a ferrugem destroem e os ladrões assaltam
e roubam. Ao contrário, ajuntai para vós tesouros no céu... Pois
onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração”
(Mt 6, 19-21).
*Bispo da Administração
Apostólica Pessoal
São João Maria Vianney