Blog Católico, para os Católicos

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"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

terça-feira, 24 de dezembro de 2019

A NATIVIDADE DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO.


25 DE DEZEMBRO1


Em 749, ano da fundação de Roma, gozando todo o universo de uma profunda paz, Jesus Cristo, Deus Eterno, e Filho do Eterno Pai, querendo santificar o mundo com seu Santo Advento, tendo sido concebido por obra do Espírito Santo, e tendo-se passado nove meses depois de sua Conceição, nasceu em Belém, cidade de Judá, da gloriosa Virgem Maria. Hoje é este dia tão solene no mundo, no qual se celebra a Natividade de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo a carne.

Deste modo anuncia a Igreja hoje a todos os fiéis o dia célebre do Nascimento do Salvador do mundo, dia tão desejado, por tanto tempo esperado, pedido com tantas instâncias pelos Patriarcas e Profetas, e por quantos esperavam a Redenção de Israel; e este é o Nascimento ditoso, cuja história vamos dar.

Nunca tinha havido no mundo uma paz mais universal, do que a que então reinava. Aproveitando-se o imperador Augusto desta tranquilidade geral, teve a curiosidade de fazer o recenseamento das forças do império, fazendo-se para isso uma descrição exata de todos os seus súditos. Cirino teve a comissão de fazer o da Síria, da Palestina e da Judeia; para melhor execução, ordenou que cada um fosse inscrever-se na cidade, donde era originária sua família.

Logo que se publicou o edito do imperador, São José partiu de Nazaré, pequena cidade da Galileia, onde tinha seu domicílio, e dirigiu-se à Judeia, à cidade de Davi, chamada Belém, porque era da casa e da família de Davi, para se fazer inscrever com Maria, sua esposa, que estava nas proximidades do parto. Belém não passava então de um lugar ou aldeia da tribo de Judá a duas léguas de Jerusalém. Não foi pequeno trabalho para a Santíssima Virgem e para São José terem de fazer quatro dias de marcha para irem da baixa Galileia até Belém, primeira residência da tribo de Davi, da qual derivavam a sua origem um e outro. Mas como ambos estavam perfeitamente ao fato do Mistério, e sabiam que o Messias, segundo a profecia de Miqueias, devia nascer em Belém, sofreram com gosto os incômodos da viagem.

Tendo chegado a Belém, foram mal recebidos; não houve a menor consideração nem por sua qualidade, nem pelo estado, em que ia a Santíssima Virgem. A pobreza atraiu-lhes o desprezo e o abandono; estando além do mais, as estalagens todas repletas de hóspedes, que tinham concorrido de todas as partes, e entrando já de noite na povoação, Maria e José, as duas pessoas mais santas e respeitáveis do universo, a quem todos os homens deveriam render homenagem, viram-se obrigados a retirar-se para uma espécie de curral ou estábulo fora do povoado, onde então estavam um boi e um jumento, tendo-o assim disposto a Providência divina em cumprimento das profecias de Habacuc e de Isaías.

Uma pousada tão abjeta não deixou de contristar a Mãe de Deus e São José; mas era conveniente para Aquele que vinha ensinar a humildade aos homens, e cuja grandeza e majestade são independentes de todos os artifícios exteriores. Não ignorando a Santíssima Virgem a hora, em que o Salvador devia nascer, passou com São José todo o tempo que precedeu este nascimento em uma suave e amorosa contemplação do Mistério que ia ter lugar. À meia-noite, sentindo que o termo era chegado, deu à luz sem dor e sem lesão alguma de sua pureza virginal a seu Filho Primogênito, e também Único Filho, ao qual adorou prostrada por terra com aqueles transportes de amor, de admiração e de respeito, de que só Deus pode conhecer o ardor o preço e a medida. Tomando-O depois em seus braços, envolveu-O nos panos que tinha trazido, e reclinou-O no presépio, onde se dava de comer aos animais. Tal foi o berço que escolheu Jesus Cristo para começar a confundir o nosso orgulho, e ensinar-nos a desprezar as grandezas, as comodidades e todos os falsos bens do mundo. Fácil será compreender que impressão produzira em São José à vista deste divino Salvador, que por uma predileção particular havia escolhido, para que fizesse para com Ele as vezes de Pai; quais seriam os seus atos de adoração, amor e humildade aos pés de um Deus feito Menino! Aos pés do Verbo Encarnado, Filho Único de Deus Vivo, igual em tudo ao Pai! Aquele vil lugar, aquela abjeta gruta foi então o lugar mais respeitável do universo. Nenhum Anjo deixou de vir adorá-lO a este lugar; não houve um só que no primeiro momento, em que este divino Infante veio à luz, não se desse pressa de vir render-lhe suas homenagens.

Que fundo de reflexões, meu Deus, não nos oferecem todas as circunstâncias deste maravilhoso Nascimento! A Santíssima Virgem busca uma pousada na aldeia de Belém; mas o grande concurso de gente que chega a toda hora faz que não a encontre; reservam-se os alojamentos para hóspedes mais ricos. A Santíssima Virgem e São José talvez que houvessem tido um pobre canto, quando o procuravam; mas, sem dúvida, que não havia em Belém lugar bastante pobre para Jesus Cristo. Era necessário uma caverna, um curral, um estábulo para acolher e albergar as duas pessoas mais dignas, mais amadas de Deus, mas repelidas por todos e desprezadas em toda a parte. Ó Salvador meu, como começais cedo a reprovar e a confundir a soberba do mundo! Quem imaginaria que o Supremo Autor do universo havia de nascer em lugar tão vil e desprezível? Que espetáculo tão assombroso! Um Deus Menino, e este Menino-Deus para quem o Céu não tem coisa bastante magnífica, e que firma um trono entre as estrelas, está reclinado em um presépio, é aquecido e confortado pelo hálito de dois animais, está exposto a todas as inclemências da estação, enquanto que tantos reis, que são seus súditos, nascem em palácios magníficos e na abundância de todas as coisas. Ibi aula regia, exclama São Bernardo, ubi curiae regalis frequentia? Onde está o palácio deste Rei recém-nascido? Onde está o seu trono, onde os oficiais de sua numerosa corte? Nunquid aula est estabulum, thronus praesepium; et totius aulae frequentia Joseph et Maria? Seu palácio é o estábulo, seu trono é o presépio; Maria e José compõem toda a sua corte. Queres saber, diz Santo Agostinho, quem é o que nasceu desta sorte? Eu o direi a ti: É o Verbo do Pai Eterno, o Criador do mundo, a Luz do Céu, a Fonte da paz e da Bem-aventurança eterna, a Salvação da linhagem humana, O que traz ao caminho os que se extraviam; enfim, Aquele que é toda a alegria e esperança dos justos.

Não obstante ter querido o Filho de Deus nascer em um estábulo, não deixou de manifestar o seu Nascimento aos Judeus e aos Gentios. Os Anjos anunciam-nO aos pastores, e uma estrela milagrosa aos reis magos. Vigiavam uns pastores nos campos dos arredores, guardando seus gados, porque sendo o inverno temperado e tardio na Judeia, podia muito bem apascentar-se o gado por este tempo de noite. Apareceu-lhes um Anjo mais resplandecente do que o sol; ao princípio ficaram deslumbrados e cheios de temor; mas o mesmo Anjo que ocasionara esse sobressalto tranquilizou-os, dizendo-lhes: Não temais, porque sou portador da Nova mais alegre que podeis esperar, a qual deve ser para vós e para todo o povo motivo de grande gozo: Evangelizo vobis gaudium magnum, quod erit omni populo. Acaba de nascer o Salvador em Belém, que vós chamais de Davi, o qual é o Messias, o Salvador das almas, vosso Senhor e vosso Deus; adorá-lo-eis envolvido em panos e reclinado muito pobremente no presépio de um estábulo; estes são os sinais, por onde O haveis de conhecer, e convencer-vos da verdade do que vos digo. Mal acabara o Anjo de falar, eis que ressoou a música dos concertos angélicos, que entoavam louvores a seu Senhor e seu Deus: Gloria in excelsis Deo, et in terra pax hominibus bonae voluntatis, glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de coração reto. O Salvador que acaba de nascer traz e procura infundir uma e outra.

Notai, dizem os Santos Padres, que Deus não manda anunciar o Nascimento de seu Filho aos sábios, nem aos ricos de Belém, porque a soberba, a avareza, o prazer, são grandes embaraços para ir adorar um Deus pobre e humilde. Os primeiros, a quem se anuncia Jesus Cristo são os pastores, homens pobres, humildes, trabalhadores, porque são os mais capazes de entrar por meio da sinceridade nos Mistérios da Religião. Mas que sinais descrevem a esta pobre gente da Divindade deste Menino e da verdade do Messias? Os panos em que está envolto, o presépio, onde está reclinado e o estábulo. São estes os sinais, por onde se há de chegar ao conhecimento da Suprema Majestade de Deus? Não por certo; mas por estes sinais de pobreza e aniquilamento se chega ao conhecimento de um Deus Salvador, que vem livrar os homens da escravidão do pecado e da tirania das paixões. Mas que glória, a que advém a Deus deste Nascimento! A Encarnação é a obra por excelência de Deus; todas as divinas perfeições, o poder, a sabedoria, a bondade, a justiça, a misericórdia, resplandecem aqui do modo mais excelente. Jesus Cristo vem reconciliar o mundo com seu Pai, destruir o pecado, domar o Demônio, sujeitar a carne ao espírito, unir as vontades dos homens entre si e com a de Deus.

Com razão pois se anuncia hoje paz àqueles que foram dóceis à doutrina e às graças do Salvador.

Os pastores não desprezam o aviso que o Céu lhes enviou, ao contrário disso, exortando-se uns aos outros a irem ver estas maravilhas, partem sem perda de tempo, chegam a Belém depois da meia-noite, e tendo achado o estábulo, entram nele penetrados de uma unção admirável da graça, que em suas almas derramava interiormente aquele divino Menino; prostram-se a seus pés, adoram-nO como a seu Deus e Salvador, e tendo feito seus cumprimentos à Santíssima Virgem e a São José, voltam a seus rebanhos cheios de um gozo inefável; não cessam de glorificar ao Senhor por todas as coisas que viram e ouviram, e contam-nas com sua natural sinceridade a quantos encontram. Todos os que os ouviram, diz o Evangelho, ficaram atônitos das coisas que souberam e aprenderam da boca dos pastores.

Ó amor inefável! Exclama aqui Santo Agostinho; ó caridade incompreensível, cujo preço somos incapazes de conhecer! Quem teria jamais podido imaginar que Aquele que está no seio do Pai desde a eternidade, havia de nascer de uma mulher no tempo por nosso amor? Que honra e que glória a tua, ó homem, acrescenta o mesmo Padre, que um Deus se haja dignado fazer-se teu irmão!” “Quis nascer assim, diz São Pedro Crisólogo, porque assim quis ser amado”. “No Nascimento de Jesus Cristo, diz São Bernardo, o presépio grita-nos altamente que devemos fazer penitência; o estábulo, as lágrimas, os pobres panos pregam a mesma virtude. Tudo prega no Nascimento do Salvador, tudo é instrutivo, tudo é lição, e tudo nos diz que em qualquer condição, em que tenhamos nascido, em qualquer estado, em que vivamos, seja vil ou eminente o posto, que ocupamos no mundo, é necessário que o nosso coração esteja desprendido dos bens e prazeres desta vida; é necessário que sejamos humildes, penitentes, mortificados, se queremos que o Nascimento do Salvador nos seja útil, se queremos ter parte na Redenção".

A festa da Natividade do Salvador, que sempre tem sido das mais solenes da Igreja, o Advento que a precede, e que por muitos séculos foi um tempo de jejum, como o é ainda hoje para muitas comunidades religiosas; as orações e a solenidade dos oito últimos dias do Advento, as três Missas que cada Sacerdote diz neste dia; tudo isto está denotando a celebridade da festa. Em todos os tempos se tem celebrado o dia aniversário dos príncipes em todas as cortes e em todos os povos.

E poderia ser menos célebre para os fiéis o dia de Natal do seu Salvador? Esta consideração pesou no juízo da Igreja, quando, vendo-se forçada a abolir todas as vigílias que estavam em uso, deixou a da Natividade por causa da solenidade do dia. A Tradição desde os Apóstolos até nós fixou sempre a célebre época deste Nascimento no dia 25 de Dezembro, e a Igreja conta os anos da Redenção pelos da Natividade, e neste cálculo tem disposto todos os Ofícios, como se conclui da ordem de sua liturgia e dos antigos martirológios, fixando o começo do ano eclesiástico no dia do Nascimento do Salvador do mundo.

Pelo que respeita às três Missas que diz o Sacerdote neste dia, este uso estava já estabelecido na Igreja no tempo do Papa São Gregório, aí pelo ano de 600; pois este doutor adverte que o tempo, que se emprega em dizê-las, devia ser motivo para neste dia se abreviar o tempo destinado à pregação. O sentido místico das três Missas neste dia, tem dado lugar ao estudo dos fundamentos deste rito extraordinário. Uns julgam que era para honrar particularmente cada uma das Pessoas da Santíssima Trindade, que tão notável parte tinham neste Mistério. Outros creem, como o Salvador nasceu à meia-noite, que a Igreja tem o intento de santificar esta primeira manifestação do Salvador com outra Missa, e a terceira é a que se diz solenemente, quando congrega o povo para celebrar as grandes solenidades. Outros dizem que a Missa da meia-noite era para honrar o Nascimento temporal do Salvador; a que se diz ao amanhecer para honrar o tempo da Ressurreição, e a terceira que se diz solenemente perto do meio-dia, era em honra do Nascimento eterno no seio do Pai.

Pelo que diz respeito à gruta sagrada, onde quis nascer o Salvador, sempre foi objeto da maior veneração. É verdade que o imperador Adriano em ódio aos cristãos mandou levantar em cima um templo consagrado a Adônis, esperando apagar com esta sacrílega profanação a memória de um lugar tão respeitável; mas não obstou tudo isto a que os próprios pagãos olhassem este santo lugar com respeito, e dissessem sempre: “este é o lugar onde o Deus dos cristãos quis nascer”. Cessando as perseguições, demoliram o templo dos pagãos e edificou-se em seu lugar uma igreja magnífica, forrada de folha de prata, as paredes embutidas de mármore. Edificaram-se muitos mosteiros ao redor; e o que o tornou mais célebre foi a predileção que São Jerônimo teve por este sítio, que escolheu para morada. O presépio santificado com o contato do Salvador, foi levado depois para Roma, onde se conserva com muita veneração na célebre igreja de Santa Maria Maior, que por isto se chama de Santa Maria ad praesepe.


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1.  Rev. Pe. Croiset, “Ano Cristão”, Vol. XII, 25 de Dezembro, pp. 272-276. Traduzido do Francês pelo Rev. Pe. Matos Soares, Tip. “Porto Médico”, Porto, 1923.


Desejo a Todos
um Santo e Feliz Natal



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