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"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

sábado, 16 de agosto de 2014

Alegrai-Vos, Virgem Maria, Alegrai-Vos Mil Vezes.




Sermão de Santo Agostinho sobre
Assunção da Santíssima e Sempre Virgem Maria1


Antes de falar do Santíssimo Corpo da Perpétua Virgem e da Assunção de Sua Alma Sagrada, digamos primeiro que a Escritura não se refere a Ela depois que o Senhor na Cruz recomendou-A ao Discípulo, a não ser aquilo que Lucas relata nos Atos dos Apóstolos: “Todos perseveravam, unanimemente, na prece com Maria, Mãe de Jesus”2. Que dizer, então, de Sua morte? Que dizer de Sua Assunção? Já que a Escritura se cala, deve-se pedir à razão que nos guie para a verdade. Portanto, que a verdade seja nossa autoridade, pois sem ela sequer há autoridade. Baseados no conhecimento da condição humana é que não hesitamos em dizer que Ela sofreu morte temporal, mas se dizemos que Ela alimento da podridão, dos vermes e da cinza, devemos considerar se esse estado convém à Sua santidade e às prerrogativas desta Casa de Deus. Sabemos que foi dito ao nosso primeiro pai: “Você é pó e ao pó voltará”3. A carne de Cristo escapou dessa condição pois não foi submetida à corrupção, foi poupada da sentença geral da natureza que foi tomada da Virgem. O Senhor disse também à mulher: “Multiplicarei suas misérias e você dará à luz com dor”4. Maria teve sofrimentos, uma espada transpassou Sua Alma, contudo, deu à luz sem dor. Assim, embora partilhando as tribulações de Eva, Maria não partilhou as do parto com dor. Ela foi uma exceção da regra geral, gozou de uma grande prerrogativa, sofreu a morte sem ser aprisionada por ela. Não seria, então, uma impiedade dizer que Deus não tenha querido poupar o Corpo de Sua Mãe da podridão, da mesma forma que quis conservar intacto o pudor de Sua virgindade? Não cabia à bondade do Senhor conservar a honra de Sua Mãe, pois Ele viera não para destruir a Lei, mas para cumpri-la? Se Ele a honrou durante a Sua vida mais que a qualquer outra pessoa, pela graça que lhe fez de O conceber, é ato piedoso crer que A honrou também em Sua morte com uma preservação particular e uma graça especial. A podridão e os vermes são a vergonha da condição humana, e se Jesus esteve isento desse opróbrio, Maria também, já que Jesus nasceu d'Ela. A carne de Jesus é a carne de Maria, que Ele elevou acima dos astros, honrando com isso toda a natureza humana, mas sobretudo a de Sua Mãe. Se o Filho tem a natureza da Mãe, é conveniente que a Mãe possua a natureza do Filho, não quanto à unidade da pessoa, mas quanto à unidade da natureza corporal. Se a graça pode fazer que haja unidade sem que haja comunidade de natureza, com mais razão quando há unidade na graça e no nascimento corporal. Há unidade de graça, como a dos Discípulos com Cristo. Ele mesmo diz: “A fim de que eles sejam um como Nós somos Um”, ou, em outro lugar: “Meu Pai, quero que eles estejam coMigo em todo lugar que Eu estiver”. Se Ele quer ter consigo aqueles que, reunidos pela fé, formam com Ele uma mesma pessoa, que dizer em relação à Sua Mãe, cujo lugar digno para estar só pode ser em presença de Seu Filho? Tanto quanto posso compreender, tanto quanto posso crer, a Alma de Maria é honrada por Seu Filho com uma prerrogativa ainda superior, já que Ela possui em Cristo o Corpo desse Filho que Ela gerou com os caracteres da glória. E por que esse Corpo não seria Seu, já que Ela O concebeu? Se uma autoridade maior não o negar, creio que foi por Ele que Ela gerou, pois tão grande santidade é mais digna do Céu que da Terra. O Trono de Deus, o Leito do esposo, a Casa do Senhor e o Tabernáculo de Cristo tem o direito de estar onde Ele próprio está. O Céu é mais digno que a Terra de conservar tão precioso Tesouro. Como a incorruptibilidade, a dissolução causada pela podridão é consequência direta de tanta integridade, não imagino que esse Santíssimo Corpo poderia ser abandonado como alimento dos vermes. Mas as graças incomparáveis que lhe foram concedidas permitem-me rejeitar esse pensamento, baseado em várias passagens da Escritura. A Verdade disse a Seus Ministros: “Onde estou, ali estará também Meu Ministro”. Se essa sentença geral refere-se a todos os que servem a Cristo por sua crença ou por suas obras, aplica-se especialmente, sem a menor dúvida, a Maria, que O ajudou por todas Suas obras: carregou-O em Seu útero, colocou-O no mundo, alimentou-O, aqueceu-O, deitou-O na manjedoura, ocultou-O na fuga para o Egito, guiou Seus passos na infância, seguiu-O até à Cruz. Ela não podia duvidar de que Ele fosse Deus, pois sabia tê-Lo concebido não por sêmen viril, mas pela aspiração Divina. Ela não duvida que Seu Filho tem poder de Deus, daí ter-lhe dito: “Eles não tem vinho”, sabendo que Ele poderia, com um milagre, produzi-lo. Portanto, Maria foi, por Sua fé e Suas obras, servidora de Cristo. Mas se Ela não está onde Cristo quer que estejam Seus Ministros, onde então estaria? E se está ali, é com a mesma graça que os outros? E se é com a mesma graça, como fica a igualdade diante de Deus que dá a cada um conforme seus méritos? Se foi por mérito que Maria recebeu em vida tanta graça, esta poderia ser menor quando morta? Certamente não! Se a morte de todos os Santos é preciosa, a de Maria é preciosíssima. Assim, penso que Maria, elevada às alegrias da eternidade pela bondade de Cristo, foi ali recebida com mais honras que os outros, porque Ele a honrou com Sua graça mais que aos outros, e Ela não teve de sofrer depois da morte o mesmo que os outros homens, podridão, vermes e pó, pois Ela gerou o Salvador de Si mesma e de todos os homens. Se a Divina Vontade escolheu manter intactas no meio das chamas as vestes das crianças, por que não preservaria as de Sua própria Mãe? A misericórdia que quis manter Jonas vivo no ventre da baleia não concederia a Maria a graça da incorrupção? Daniel foi preservado apesar da grande fome dos leões, e Maria não teria sido conservada pelos tantos méritos que a dignificavam? Portanto, reconhecendo que tudo quanto dissemos ocorreu contra as Leis da Natureza, não podemos duvidar de que a integridade de Maria deveu-se mais à graça que à natureza. Cristo, como Filho de Maria, fez com que a alegria dela decorresse da Alma e do Corpo de Seu próprio Filho, que não A submeteu ao suplício da corrupção para dar à luz íntegra, sempre incorrupta, cheia de graça, e vivendo integralmente porque gerou aquEle que é a Vida íntegra de todos. Se não falei a verdade, peço que você e os seus me perdoem.
 
1Beato Jacopo de Varazze, O.P., “Legendae Sanctorum, Vulgo Historia Lombardica Dicta – Legenda Áurea, Vida de Santos”, Cap. “Modo da Assunção da Bem-Aventurada Maria”, pp. 678-681; Tradução do Latim, apresentação, notas e seleção iconográfica feita por Hilário Franco Júnior, Companhia das Letras, São Paulo, 2003.
2At. 1, 14.
3Gên. 3, 19.
4Gên. 3, 16.

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