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"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

domingo, 3 de janeiro de 2021

A EUCARISTIA – BOSSUET. 7

 

Promessa da Eucaristia. O que Nosso

Senhor nos dá, o fruto que devemos tirar,

e o meio de tirar esse fruto. Sua Carne

e seu Sangue, fontes de vida.


Para compreender todo o desígnio do Filho de Deus na Eucaristia, cumpre escutar o que Ele diz dela em São João. Acharemos que Ele faz aí três coisas. Primeiramente explicamos o que nos dá; segundo, o fruto que devemos tirar dela; terceiro, o meio de tirar dela esse fruto.

O que Ele nos dá é a Si próprio, e é sua Carne e seu Sangue; e mal Ele fala disso, os homens exclamam: – “Como é que este homem pode dar-nos sua carne a comer?” O homem argumenta sempre contra si próprio e contra as bondades de Deus. Quando Jesus, para preparar-nos para o Mistério que Ele devia deixar à sua Igreja no dia da ceia, disse que nos daria sua Carne a comer e seu Sangue a beber, os Judeus caíram em três erros. Acreditaram que Ele lhes falava da carne de um puro homem, do filho de José, eis o seu primeiro erro; de uma carne semelhante àquela com que os homens alimentam o corpo, eis o segundo; de uma carne, enfim, que eles consumiriam comendo-a, eis o terceiro.

Contra o primeiro: – “Eu sou, diz Ele, o pão vivo descido do céu”. A carne que comemos não é, pois, a carne do filho de José; é a Carne do Filho de Deus, uma carne concebida do Espírito Santo, e formada do Sangue de uma Virgem. “O Espírito Santo virá sobre vós, e a virtude do Altíssimo vos cobrirá com sua sombra; e a criança santa que nascerá de vós terá o nome do Filho de Deus”.1

QUOD NASCETUR EX TE SANCTUM. SANCTUM, no substantivo, para os que sabem um pouco de gramática, e que entendem a força desse neutro, quer dizer uma coisa substancialmente santa: modo de falar que faz ver que a santidade é substancial em Jesus Cristo. Por quê? Porque sua Pessoa é Santa por Si mesma, pela santidade essencial e substancial do Filho de Deus.

E eis porque, continua o Anjo, ele será chamado Filho de Deus”. Que quer dizer Ele será chamado? É que Ele não o será essencialmente, e que lhe darão esse nome por alguma figura? Livre-nos Deus! Pelo contrário, Ele o será chamado por excelência. O Pai, que O gera na eternidade, gera-lo-á no seio de Maria, a virtude do Altíssimo cobri-la-á da sua sombra, insinuar-se-lhe-á no seio, e a Carne que o Filho de Deus tomará no seio dessa Virgem será formada pelo Espírito Santo. Será, pois, uma Carne santa, da santidade do Filho de Deus, que a une a Si; será cheia de vida, fonte de vida, viva e vivificante por Si mesma. Assim, o primeiro erro é destruído.

Para refutar o segundo, que consistia em imaginar que a vida, que Jesus Cristo prometia por sua Carne seria essa vida comum e mortal, Ele repete, inculca, em todo o seu discurso, que é a vida eterna, tanto da alma quanto do corpo, que Ele nos quer dar: “A vontade de meu Pai, é que não perca nenhum daqueles que Ele me deu, e que os ressuscite no último dia… Quem comer deste pão, desta vianda celeste, da minha carne, que eu darei pela vida do mundo, viverá eternamente”.2

Para destruir o terceiro erro dos Judeus, que imaginavam uma carne que consumiríamos comendo-a, diz-lhes Ele: “Isto vos escandaliza? Muito mais admirados ficareis então quando virdes o Filho do homem subir ao lugar donde veio”. Como se dissesse: Comerão a minha carne, disse-o Eu; mas nem por isto ficarei menos vivo e menos inteiro. Donde Ele conclui: Não imagineis, pois, que Eu vos fale de uma carne humana comum, ou da carne do filho de José; nem que vos fale de uma carne que vos deva ser dada para manter essa vida mortal, nem por conseguinte, de uma carne que deva ser posta em pedaços e consumida comendo-a: “A carne, nesses sentidos, de nada serve; é o espírito que vivifica; as palavras que eu vos digo são espírito e vida”. Posto que só tenha falado, por assim dizer, da sua carne, do seu sangue, de comer aquela, de beber este, tudo o que Ele disse é espírito; quer dizer manifestamente que na sua Carne, no seu Sangue, tudo é espírito, tudo é vida, tudo está unido à vida e ao espírito; porque sua Carne e seu Sangue são a Carne e o Sangue do Filho de Deus.

Tanto, pois, quanto desejamos a vida, devemos desejar essa Carne que no-la dá, que a contém, que é a própria vida. “Saiu de mim uma virtude; senti-a sair”. Era uma virtude para curar os corpos: quantas mais sairão para vivificar as almas? Aproximemo-nos, pois, dessa carne, toquemo-la, comamo-la: sairá dela uma virtude que trará a vida às nossas almas, e que a seu tempo a dará aos nossos corpos.

O mesmo sucede com o Sangue de Jesus; esse Sangue é cheio de virtude para nos vivificar; pois, é o Sangue do Filho de Deus, o Sangue do Novo Testamento, como o chama Ele próprio; e quer dizer, como o interpreta São Paulo, “o sangue do Testamento eterno, pelo qual o grande Pastor das ovelhas foi torado da morte”. Ele próprio ressuscitou, pois, dos mortos pela virtude de seu Sangue, porque devia entrar na glória pelos seus sofrimentos. É por esse mesmo Sangue, por esse Sangue do Testamento e da Aliança eterna, que devemos também herdar o seu reino e ter a vida eterna. Comamos, bebamos, vivamos, alimentemo-nos, unamo-nos à vida por essa Carne, por esse Sangue vivificador. Ele os tomou para se aproximar de nós. “Não foi aos anjos que ele quis unir-se; foi a natureza humana que ele quis tomar. E por isto, que os homens são compostos de carne e de sangue, ele quis também ser composto de uma e de outro”,3 é desse modo que Ele se une a nós, e é por essa forma que nos salva.

Temo-lo dito muitas vezes, e não nos devemos cansar de dizer: essa Carne e esse Sangue tornaram-se o vínculo da nossa união com Ele, o instrumento da nossa salvação, a fonte da nossa vida, porque Ele os tomou para nós, porque os ofereceu pela nossa salvação, porque no-los dá ainda para nos vivificar. Vamos com santa avidez a essa vianda celeste; tudo nela é espírito e vida.


_______________________

Fonte: Jacques-Bénigne Bossuet, Bispo de Meaux, Meditações sobre o Evangelho” – Opúsculo Eucaristia”, Cap. VII, pp. 40-44. Coleção Boa Imprensa, Livraria Boa Imprensa, Rio de Janeiro/RJ, 1942.

1.  Luc., 1, 25.

2.  Jo., 6, 30 segs.

3.  Heb., 2, 14.16.


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