Blog Católico, para os Católicos

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"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

terça-feira, 26 de janeiro de 2021

SOBRE O CULTO E RESPEITO, QUE SE DEVE A DEUS NAS SUAS IGREJAS.

 

Desolatione desolata est omnis terra,

quia nullus est, qui recogitet corde”.


Está todo mundo cheio de pecados,

porque não há quem atenda aos seus deveres,

e observe, como deve, a Lei do Senhor.1


Não pode o amor estar encoberto dentro do coração humano; mas havendo verdadeiro amor, se deixa ver: com muita razão disse um Santo Padre, que o amor não pode estar ocioso, obra grandes coisas, se é verdadeiro amor, e se deixa de obrar, deixa de ser amor; assim como a mina de materiais combustíveis, que abafada no interior da terra, apenas a choca o fogo logo estala; ainda melhor o fogo do amor de Deus, escondido por algum tempo dentro do coração humano, quando aparece ocasião rebenta em chamas, e em toda a parte dá ao mesmo Deus e ao próximo provas de quanto ama o seu Criador, rendendo-Lhe respeitoso culto que Lhe é devido. Em nossas casas, nos campos, nos montes e vales podemos e devemos dar testemunho deste amor e respeito ao nosso Deus; mas, nas suas igrejas em primeiro lugar.

Muitos são os atos da nossa Religião, pelos quais podemos amar e adorar a Deus em diversos lugares, porém, mais que tudo na sua Santa Casa; por muitos modos se pode dar culto ao nosso Criador e Benfeitor, dos quais vos falarei ainda em diferentes práticas; mas, o seu templo é o lugar mais singular por Ele destinado para que aí com maior respeito lhe darmos sinais de quanto O amamos, tributando o respeito devido a tão Soberana Majestade no seu Divino Palácio; mas o mundo está cheio de maus cristãos, de falsos adoradores que não dão culto a Deus, nem ainda nas Suas igrejas, nem aí Lhe mostram estes sinais de amor, porque não pensam no que fazem, nem no que devem – Desolatione desolata est omnis terra, quia nullus est, qui recogitet corde. O respeito com que se deve estar nas igrejas, é o que vou tratar. – Eu principio.

Se eu abro a Sagrada Escritura, aí encontro lições as mais importantes sobre o culto, e reverência que devemos a Deus nas suas igrejas; no livro do Gênesis2 nos diz o Espírito Santo: Terribilis est locus iste, hic domus Dei est, et porta Coeli: quer dizer, a igreja é lugar terrível, ela é a Casa de Deus e a Porta do Céu. Sim, irmãos meus, a igreja é lugar terrível, é a Casa de Deus; porque nela está realmente, ainda que encoberto, o mesmo Deus, que criou os Céus e a terra, e que nos criou também a nós; nela está o mesmo Deus, que no excesso da sua ira lançou fora do Paraíso Adão e Eva, porque O ofenderam, que fez chover um Dilúvio de água e outro de fogo sobre os pecadores que O injuriaram; nela está O mesmo Deus, que falava com Moisés no Monte Sinai entre relâmpagos e trovões, que tem castigado com severidade a quem O tem ofendido, e que ainda conserva na sua mão a espada da sua justiça para nos castigar quando quiser, se O ofendermos; sobre o que diz também São Bernardo: “O lugar da terra é verdadeiramente terrível, ninguém deve entrar nela senão penetrado do mais profundo respeito; é um lugar que Deus honra com a sua Real Presença, e onde os mesmos Anjos Lhe assistem cheios de reverência”. Finalmente, a igreja é lugar digno de respeito e temor santo, porque ela é a Porta do Céu; quem nela está com respeito, quem nela ora com verdadeira devoção se avizinha a Deus, se encaminha para o Céu, e por este meio alcança com mais facilidade, imensas graças para a salvação.

Oh! Quão bem conhecia isto mesmo, o mais sábio de todos os monarcas, o grande Salomão! Depois de ter concluído o respeitável templo de Jerusalém, depondo sua grandeza e majestade, misturado com seus vassalos; lançado por terra, levantando suas mãos ao Céu, louvava o mesmo Deus, que se dignava presidir nessa sua Casa, e cheio de respeito exclamava: “É crível, Deus meu, que Vos digneis habitar com os homens de uma maneira tal! Se os Céus, dizia ele mais, são pequeno espaço para conter Vossa imensidade, como é possível que Vos digneis habitar nesta pobre casa que Vos edifiquei!” Mas se tal era o respeito e reverência com que o maior monarca do mundo com o seu povo guardava nesse antigo templo de Jerusalém, qual deverá ser o nosso nas igrejas de Jesus Cristo!



Oh! Neste antigo templo só se percebia a Glória e Majestade do Senhor por figuras, mas agora nas nossas igrejas preside realmente em Corpo e Alma o mesmo Senhor de Soberana Majestade; naquele templo sacrificavam-se bois e rezes ao mesmo Deus, mas nas nossas igrejas se sacrifica, verdadeiramente, todos os dias o Cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo; naquele templo se guardavam as tábuas da Lei, a misteriosa vara de Moisés, e uma porção do Maná que chovera do Céu, mas, nas nossas igrejas há muito mais, nelas se conserva sempre vivo o nosso Deus e Divino Salvador no Sacramento do Altar, para O adorarmos e recebermos, e para nos encher de bens e graças; quanta maior reverência, pois, quanto mais respeito Lhe devemos nesta sua Casa! Oh! Todos, sem exceção de pessoa, Lhe devemos tributar o mais respeitoso culto; todos O devemos adorar com reverência da alma e do corpo; com reverência da alma, estando com toda a atenção a meditar nas suas verdades eternas; com reverência do corpo, estando com toda a modéstia, como pede um lugar tão santo e a presença da Divina Majestade, que nas suas igrejas preside como no seu Palácio.

Peca, pois, mais ou menos quem nas igrejas falta na reverência a Deus. Peca, quem na igreja está sem a devida atenção e devoção para com o mesmo Deus e seus Santos, e que não obstante ter o corpo na igreja, tem o coração e pensamento em casa, ou em coisas do mundo, alheias de Deus. Peca, quem se está rindo, mostrando assim o pouco respeito na Casa do Senhor. Peca, quem come ou bebe na igreja, fazendo dela estalagem ou taberna. Peca, quem nela escarra, porque a suja, e a faz indecente a seu Dono. Peca, quem nela está sem causa, com um joelho no chão, outro no ar, ou sentado com um joelho sobre outro (de pernas trançadas), ou sobre os altares, ou encostado como se estivessem em suas casas; e as mulheres que se sentam ou ajoelham no altar, onde o Sacerdote põe os pés quando diz Missa, além do pecado tem contra elas fulminada uma antiga excomunhão, a qual ainda que dizem alguns não está em uso, devem temê-la e evitar este abuso. Peca, quem entra na igreja com vaidade, com modas, com vestidos indecentes. Peca, toda a mulher que leva a cabeça descoberta ou quase descoberta, e até às vezes com enfeites no cabeça. Peca, todo o homem ou mulher, que na igreja está olhando com afeto para o diferente sexo, e até fazendo algum sinal para quem ama. E ainda mais, peca mortalmente, contra a santidade do lugar, se o chega a profanar com alguma brincadeira ou obra desonesta. Enfim, peca-se, toda a vez e hora que se falta ao respeito a Nosso Senhor na sua Casa, de qualquer modo que seja, ora mais, ora menos, conforme for a falta de reverência.

Porém, que se observa à vista desta explicação? Observa-se a mais escandalosa profanação da Casa do Senhor; vê-se ainda muita gente nas igrejas, principalmente nos dias festivos, mas muito poucas pessoas que nelas estejam como devem; estão na igreja com o corpo, mas o pensamento em casa e em outras coisas que não são de Deus. Porém, ó homem ou mulher, digo eu com Santo Agostinho: tu, que estás na igreja imaginando noutra coisa que não é Deus, sabe que não adoras a Deus, mas só adoras o que imaginas; se estás considerando na tua casa, nos teus filhos, nos teus animais, nos teus negócios, nos teus bens, nos teus luxos e enfeites, nos teus namoros, não adoras a Deus no seu templo, adoras a tua casa, os teus filhos ou parentes, os teus animais, os teus negócios, as tuas modas, os teus amores, finalmente, adoras o que lembra, mas não a Deus, em quem não cuidas.

Quantas pessoas estão também na igreja rindo e falando, sem urgente necessidade, e até algumas vezes murmurando, notando os defeitos do próximo, e outras vezes cumprimentando-se, como se estivessem em sua casa! Quantas pessoas estão na igreja, sentadas indecentemente, encostadas, e até às vezes dormindo! Quantos já comem e bebem na igreja! Quantos (Céus, que horror!), quantos estão namorando com os olhos, com o pensamento e até com sinais, e ainda pior, com brincadeiras, se há ocasião para isso! E que direi dessas mulheres vaidosas em toda a parte, e até nas igrejas, as quais nelas entram e nelas estão todas ufanas, procurando até o lugar do altar como mais limpo, e talvez para melhor serem vistas, vestidas a moda, e moda muitas vezes indecente e desonesta, como são vestidos decotados, vestidos de balão, cabeça de todo descoberta ou meia descoberta, e até com enfeites no cabelo! Direi que vão para a igreja cheias de pecados, e ainda com muitos mais saem para fora; com razão diz São João Crisóstomo, destas e de outras pessoas que profanam com irreverências a Casa do Senhor: “Seria melhor, diz ele, seria melhor muitas pessoas nunca entrarem na igreja, pois cometem assim mais pecados do que se nunca lá entrassem”. Non tam crimen fuisset non venire ad templum, quam sic venire.

Ah! Irmãos meus, as Casas de Deus estão convertidas em feiras; porque nelas se fala como no meio de uma praça, e se fazem cumprimentos como no meio da rua; as Casas de Deus estão convertidas em casas de namoros, porque nelas se namora, como nessas casas escandalosas; as Casas de Deus estão convertidas em casas de divertimento, porque nelas se vê tanta vaidade no vestir, tanta moda, tanta loucura, tanta imodéstia como nessas assembleias e nesses teatros; que cegueira, que maldade a de semelhantes cristãos! Ide falar, e conversar lá fora, pecadores; ides cumprimentar-vos na rua, ou em vossas casas; a Casa de Deus não é para falar, é para rezar, cantar os louvores Divinos, ou meditar em coisas santas; a Casa de Deus não é para fazerdes cumprimentos uns aos outros, é para cumprimentardes o Senhor e seus Santos; a Casa de Deus não é para namorar, é para adorar e louvar o mesmo Deus com todo o respeito.

Oh! Dizem alguns autores, que os turcos, quando se acham na presença do sepulcro de Mafoma, não falam, nem cospem, nem tossem, nem voltam os olhos para alguém; e quando saem para fora, não viram as costas para cima; e muitos cristãos que fazem nas igrejas? Falam, riem, cumprimentam-se, murmuram, namoram, empregam os olhos e pensamento no que não devem, perdem finalmente o respeito e temor ao Juiz dos Vivos e dos Mortos, que está no Santíssimo Sacramento. Ó meu Deus, como não se arrasam tantas igrejas por tantas irreverências para sepultar em suas ruínas tantos maus cristãos! Como não nos desampara Jesus Cristo à vista de tantos pecados cometidos até na sua Casa e na sua Real Presença!



Mas ainda isto não é tudo; muitas Casas do Deus Vivo estão hoje sendo as mais pobres e desprezíveis, que se veem na terra; tão mal telhadas e forradas, tão mal caiadas, tão mal varridas e tão sujas, que ninguém que goza alguns meios assim tem a sua; com verdade tem muitas pessoas as suas casas mais caiadas, varridas, lavadas e até às vezes alcatifadas, do que tem a Casa do Senhor dos Céus e da terra; tratam com mais cuidado das suas moradas, do que das igrejas, onde habita a Divina Majestade; dormem em lençóis mais lavados, e travesseiros mais engomados, do que os corporais, onde o nosso Divino Salvador reclina a sua Face; limpam-se as tolhas mais finas e mais brancas, do que aquelas que servem nos altares para o culto de Deus, e do que os mesmos sanguíneos com que se limpam algumas relíquias do Sangue de Jesus Cristo; trazeis os vossos vestidos mais compostos e asseados do que as alvas e vestimentas da vossa igreja.

Ai de quem deve tratar da decência e ornato da Casa do Senhor para o seu culto, e não o faz! Ai de tantos Párocos e Sacerdotes, que devendo ser os primeiros zeladores da Casa de Deus, não cuidam no que devem! Ai de tanto povo, que devendo esmerar-se em ter as suas igrejas limpas e ornadas, as tem tão desprezíveis e tão pobres, que causa escrúpulo dizer nelas o Santo Sacrifício da Missa, e celebrar aí os Divinos Ofícios, e tem os paramentos sagrados tão sujos, que causam nojo e até às vezes rotos e caindo em pedaços; tem mais cuidado em que não chova num palheiro, do que na igreja; iluminam os teatros, assembleias, ou sociedades com luzes e mais luzes, e deixam estar a Jesus Sacramentado com uma luz insignificante, e muitas vezes as escuras; tem para tudo, e até para muita coisa que devia escusar-se, e pouco ou nada tem para o culto de Deus na sua Casa; tem até muitas pessoas a sua cozinha mais varrida, do que a sua igreja.

Ai, Deus meus! Que culto Vos dão muitos cristãos nos Vossos templos! Quão pouco Vos respeitam, quão pouco Vos temem! Respeitam-se tanto as casas dos grandes, que nem nelas se escarra para não sujar-lhes-as, mas já não é assim nas Casas de Deus; muitas pessoas aí escarram, como se fosse numa esterqueira, e até nem por isso nelas se pode estar ou ajoelhar sem aborrecimento; escarrai num lenço, irmãos meus, ou num farrapo que leveis convosco para a igreja, e guardai mais limpeza na Casa do Senhor; Santo Ambrósio recomendava muito a sua mãe, que não escarrasse na igreja; São Gregório louvava muito a sua mãe, porque nunca voltava as costas aos altares, nem escarrava na igreja; e Santa Gregoriana é também muito louvada pela mesma razão; porém, muitos cristãos dos nossos dias obram de tal modo, como se nas igrejas não estivesse Deus! E nem sequer tem medo ao Dono da Casa, que tem vingado e, vingará sempre sua honra desacatada.

Ide, cristãos, ide a esses palácios reais, e os vereis mil vezes mais limpos do que o Palácio do Rei dos reis; vereis esses monarcas servidos, respeitados e temidos dos seus vassalos, e que ninguém lhes falta ao respeito com a mais leve ação ou palavra, quando um Deus no seu Santuário é tão desprezado e ofendido; ide a esses templos dos ingleses protestantes, e vereis o silêncio e respeito com que estão nas suas festividades; ide a essas mesquitas dos pagãos, e vereis estes com mais respeito diante dos seus falsos deuses, do que muitos católicos no Santuário do Deus Vivo. Ah! Quem não treme vendo tantas irreverências na Casa do Senhor! Os hebreus deram a morte a Jesus Cristo, mas foi em uma Cruz; porém, muitos católicos procuram dar-Lhe-a no altar, com muitas e diferentes irreverências e desacatos. Isaías viu cobrir a face aos Serafins diante do Santuário; à Moisés, mandou Deus descalçar-se para pisar a terra santa, onde ele estava; os israelitas não podiam chegar-se à Arca do Senhor por espaço de dois mil côvados; e muitos cristãos entram e estão nas igrejas sem respeito, nem temor diante do Senhor dos Céus!

Ainda vos direi mais, os gregos não se atreviam a cuspir ou escarrar, e nem sequer assoar-se enquanto duravam os sacrifícios aos seus simulacros; houve um turco tão fanático, que até arrancou os olhos e a língua depois de ver o corpo do maldito Mafoma, dizendo que não devia falar, nem ver coisa alguma quem teve a dita de ver tal objeto; os católicos, porém, estão na igreja diante do verdadeiro Deus, sem temor, ofendendo-O com pensamentos, palavras e obras, com tantas irreverências! Que cegueira e que maldade! O mesmo Senhor criou o mundo, e o entregou todo à nossa disposição; reservou, porém, para Si pequenos espaços das igrejas para ser aí mais adorado, respeitado, e temido; Ele mesmo parece-me dizer-nos: “Miseráveis criaturas, já que Me ofendeis em vossas casas, nos montes e nos campos, conversando, rindo, divertindo-vos e pecando, ao menos não Me trateis assim na minha igreja: guardai aqui silêncio, modéstia e temor; respeitai-Me e temei-Me ao menos no meu Santuário” – Pavete ad Sanctuarium meum. Ego Dominus;3 porém, muitos cristãos com as suas irreverências e pecados dizem o contrário: eu hei de falar, rir, namorar e pecar até na vossa Casa; hei de ofender-Vos em toda a parte, até nas vossas igrejas, até na vossa Real Presença.

Mas, ó ingratidão! Ó maldade a mais execranda! Deus escolhe lugar para aí ser adorado e mais respeitado, e aqui mesmo há de ser mais injuriado! Deus escolhe as igrejas para nelas melhor nos ouvir e despachar graças; e nas mesmas igrejas hão de muitos provocar mais a sua vingança! Ó pecadores, que fazeis com vossas irreverências nas Casas de Deus, senão desafiar a sua ira? Bem o mostrou Ele já no tempo em que andava no mundo; vivendo e morrendo cheio de paciência, não foi assim quando viu alguns judeus no templo de Jerusalém sem respeito; mas fazendo o mesmo Senhor uns açoites de uma corda, os espancou e lançou fora da igreja, dizendo: “A minha Casa é casa de oração, e vós a fazeis casa de ladrões!” E ainda aqui não parou o seu castigo; mas depois, foi arrasada aquela cidade com o seu templo, não ficando pedra sobre pedra, e morrendo milhares de pessoas.

Ai, como Deus castiga os profanadores do seu templo! Por causa de iguais irreverências caiu Constantinopla em poder dos turcos, e outros castigos têm vindo ao mundo; e vós, irmãos meus, não temeis que Deus vos castigue também! Eu vejo também coisas por essas igrejas, que fazem tremer; e vós, pecadores, culpados em tantas faltas na Casa do Senhor, não temeis! Ah! Talvez em castigo já muitas nos nossos dias estejam arrasadas ou demolidas, e outras fechadas, e daqui a alguns anos aquelas outras serão o mesmo. Refere Santo Afonso nas suas Instruções, que em certa igreja, onde se praticavam graves irreverências, aconteceu o seguinte caso: Enquanto o Sacerdote levantava a sagrada Hóstia, esta lhe fugiu das mãos, e se ouviu uma voz, dizendo: “Povo, eu vou-me”; e subindo a mesma Hóstia ao ar, segunda vez se ouviu: “Povo, eu vou-me”; chegando ao teto da igreja, foi repetida a mesma voz: “Povo, eu vou-me”; e logo desapareceu a sagrada Hóstia, e a igreja caiu em cima daquela gente, ficando sepultada debaixo das suas ruínas, em castigo de tantas irreverências e pecados. Ah! E como não temeis vós os mesmos castigos? Muitos cristãos merecem também que Jesus Cristo lhes fuja, e que as igrejas se arrasem em cima deles, pelas irreverências com que nelas estão; e talvez isto aconteça em muitas partes, ou ao menos que estejam inutilizados, fechados, ou destruídos tantos templos.

Ah! Parece-me estar ouvindo agora a Jesus Cristo no Santíssimo Sacramento a dizer do mesmo modo, e todo agoniado por tantas irreverências: Povo, eu vou-me, eu vou-me daqui embora; eu fujo da tua companhia, porque me desprezas, porque me tratas muito mal até na minha Casa, na minha Real Presença; eu vou deixar tomar posse das minhas igrejas aos ímpios, aos protestantes e hereges, aos meus maiores inimigos; eu vou permitir que eles as arrasem, ou fechem, ou entreguem a usos profanos; eles não me consentirão aqui, nem sequer as minhas imagens, nem as de minha Mãe e de meus Santos; eles me lançarão fora deste Sacrário, e talvez pelo chão: tudo isto eu consentirei em castigo dos teus pecados, que até aqui mesmo cometes: tu falas, e até namoras na minha Casa, como se fosse numa praça; tu tratas-me na minha igreja como um rei de teatro, entrando, ou estando nela como se fosse para uma comédia; tu estás na minha Presença sem modéstia alguma, sem algum respeito; tu deixas-me estar muitas vezes às escuras; tu tens o meu Palácio tão pobre, tão sujo, e tão indecente, que não sofres ter assim a tua casa; tu tratas mais dos teus vestidos, do que dos meus ornamentos sagrados, deixando estar estes tão imundos e tão rotos, que causam nojo; tu choras uma esmola ou reclama, que te seja pedida para o meu culto; enfim, tu tratas-me com o maior desprezo até na minha Casa; tu não és meu amigo, e por isso eu vou-me embora daqui; eu deixo-te, eu fujo da tua companhia, e ficarás sozinho, sem teres quem te valha nas tuas aflições, viverás, e morrerás no pecado, e no meu desamparo.

Ó irmãos meus, já em muitas partes isto tem acontecido em castigo de tantas irreverências; já muita gente chora por não ter o Santíssimo Sacramento na sua freguesia, nem Pároco, nem Missas; já muitas igrejas foram destruídas, outras reduzidas a adegas de vinho, a casa de negócio, a teatros e a coisas profanas; e vós não temeis semelhantes castigos? Ai! Quanto eu os temo, e que brevemente venham sobre nós!!! Não tapeis os ouvidos a estes avisos de Deus; tratai-O com mais respeito na sua Casa daqui por diante; vinde dizer-Lhe como Santo Agostinho: “Agora sim, meu Senhor, conheço o mal, que tenho feito; pela dissolução dos meus costumes violei o vosso Santuário; tenho-Vos ofendido tanto na vossa Casa; mas perdoai-me, porque me arrependo, e proponho emendar-me. Maria Santíssima, valei-me e ajudai-me”. Amém.


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Fonte: Pe. Fr. Manoel da Madre de Deus, O.C.D., Práticas Mandamentais ou Reflexões Morais Sobre os Mandamentos da Lei de Deus e os Abusos que lhes são Opostos, Outras Práticas e Missões – Prática 4ª, pp. 28-38. 3ª Edição, Em Casa de Cruz Coutinho – Editor, Porto, 1871.

1.  Jer., 12, 11.

2.  Gên., 28, 17.

3.  Lev., 26, 2.


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