A promessa e colação do Primado a Pedro não é um fato insulado no Evangelho. Toda a narração histórica do Ministério de Cristo conspira em assinalar no Colégio dos Doze um lugar de preeminência ao futuro Chefe da Igreja. Dir-se-ia que os Evangelistas, tão sóbrios em informações sobre os outros Apóstolos, não perdem ensejo de falar de Pedro, de referir-lhe as palavras, de registrar os sinais de predileção com que o distinguia o Salvador.
São Pedro é nomeado no Novo Testamento 171 vezes; depois vem São João, 46 vezes. A observação é de Vladimiro Soloview, o maior filósofo russo do século passado (retrasado), convertido ao Catolicismo.1
Pela primeira vez apresenta-se a Cristo o humilde pescador da Galileia. “Tu és Simão, diz-lhe Jesus, tu te chamarás Cephas, isto é, Pedra”.2 Era a imposição de um nome novo, muito nos estilos de Deus, rica de significados e de promessas.
Três vezes em toda a Escritura mudou Deus o nome das pessoas e em todas três se tratava de elevar um particular à dignidade de Chefe dos Eleitos. Mudou-o a Abraão: “… porque te destinei para pai de muitas gentes”;3 mudou-o a Jacó: “… E chamou-o Israel; e disse-lhe:… nações e multidões de povos nascerão de ti…”.4 Mudou-o, finalmente, a Pedro: “… tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja…”.5
Durante a Sua pregação apostólica, é a barca de Pedro a preferida por Cristo para doutrinar as multidões.6 Se se demora em Cafarnaum, na casa de Pedro é que Se hospeda.7 É Pedro quem, quase sempre, fala em nome dos Apóstolos. É a Pedro, como a principal do grupo, que se dirigem os coletores do didracma para saber se o Mestre solvia o tributo do Templo e Jesus paga a taxa legal por Si e por Pedro.8
… Logo, Pedro é a Autoridade Suprema da Igreja fundada pelo Divino Mestre. Quem está com Pedro está com a Igreja; separa-se da Igreja quem se separa de Pedro. Ubi Petrus, ibi Ecclesia.9 Fora de Pedro não há Igreja de Cristo. Com Pedro a firmeza, a unidade, a força, a vida. Sem Pedro ou contra Pedro a instabilidade, a discórdia, o esfacelamento, a dissolução, a morte...10
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Fonte: Pe. Leonel Franca, S.J., A Igreja, A Reforma e A Civilização, Livro I, Cap. I, § 1, pp. 6-39. Livrarias Católicas de Francisco Gonçalves/RJ e de A. Campos/SP, Rio de Janeiro, 1923.
1. La Russie et l’Eglise universelle, Paris, 1889, p. 154, nota 2.
2. Jo., 1, 42.
3. Gên., 17, 5.
4. Gên., 35, 9-15.
5. Mat. 16, 13-19.
6. Luc. 5, 1-4
7. Mat. 8, 14; Marc. 1, 29; Luc. 4, 38.
8. Mat. 17, 24-27.
9. Santo Ambrósio.
10. Recomendo a leitura de todo este Capítulo, pois, é simplesmente fascinante.