Blog Católico, para os Católicos

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"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

SÃO MATIAS, APÓSTOLO.

(24 ou 25, segundo o ano,

se é comum ou bissexto)


São Matias, que foi escolhido para substituir o traidor Judas, era da tribo de Judá, e nasceu em Belém de família que se distinguia pela nobreza, pelos grandes haveres que possuía, e especialmente pelo zelo que professava à religião de Moisés. Seus pais criaram-no com grande cuidado, instruindo-o nos bons costumes e na ciência da Escritura e da religião.

A inocência de vida com que Matias passou a mocidade, foi uma bela disposição para que se aplicasse a ouvir a doutrina de Cristo, logo que o Salvador começou a manifestar-se depois do seu sagrado Batismo. Teve a felicidade de O seguir em companhia dos Apóstolos, desde o princípio da sua pregação até à sua gloriosa Ascensão ao Céu.

Judas, um dos Doze Apóstolos que Jesus Cristo com particular amor tinha escolhido para confidentes Seus, atraiçoou o seu divino Mestre, e com torpíssima ingratidão O vendeu a Seus inimigos. De Apóstolo passou a ser apóstata; e acrescentando a desesperação à perfídia, ele mesmo vingou o seu delito, e acabou a desgraçada vida com a mais horrível das mortes.

Depois de ressuscitado, o Salvador quis dar sensíveis provas da Sua Ressurreição, por espaço de quarenta dias, e também instruir ainda mais particularmente os Seus Apóstolos e os Seus amados discípulos. Aparecia-lhes de quando em quando, conversava familiarmente com eles, e com maravilhosa bondade lhes explicava os Mistérios mais secretos da religião, descobrindo-lhes todo o plano e toda a economia da Santa Igreja.

Fazia sempre na presença deles algum milagre, para lhes mostrar que o Seu poder não tinha diminuído com a morte.

Não eram muito contínuas, nem muito frequentes as Suas aparições, e algumas vezes deixava passar muitos dias sem lhes aparecer, para os ir desacostumando pouco a pouco, e para que eles se acostumassem a viver sem a consolação da Sua presença corporal.

Em todas estas visitas instruiu-os no que deviam fazer para desempenharem dignamente os cargos e empregos a que os destinava na Sua Igreja. Ensinava-lhes particularmente o modo de administrarem os Sacramentos, de governarem os povos, e de se comportarem entre si. Declarava-lhes muitas coisas, que em outras ocasiões não fizera mais que apontar, reservando a sua individual e clara explicação para aquele tempo.

Enfim, estando prestes a voltar para o Seu Eterno Pai, entre outras muitas instruções, mandou-lhes que depois da Sua Ascensão ao Céu se retirassem juntos para Jerusalém, e não saíssem dali sem nova ordem; e que esperassem o cumprimento da promessa, que Seu Pai lhes tinha feito pela Sua boca, de que lhes comunicaria o maior de todos os dons, enviando-lhes o Espírito Santo.

Depois que o Salvador subiu do Monte das Oliveiras para o Céu, na presença de todos, os Apóstolos voltaram a Jerusalém com a Santíssima Virgem e encerraram-se na casa que tinham escolhido para seu retiro. Esta casa era santificada pelas orações fervorosas e contínuas que todos faziam com um mesmo espírito, tendo à sua frente Maria, Mãe de Jesus, com alguns dos seus próximos parentes, que segundo o costume dos judeus, se chamavam irmãos, e algumas devotas mulheres, companheiras ordinárias da Santíssima Virgem.

O lugar mais Santo da casa era o Cenáculo, que foi a primeira Igreja dos Cristãos. Voltando pois do Monte das Oliveiras, subiram todos ao Cenáculo, por ser o lugar onde celebravam as suas reuniões e numa delas resolveram preencher o lugar vago no Colégio Apostólico pela apostasia e cruel morte do infelicíssimo Judas.

Ainda não tinham recebido visivelmente o Espírito Santo; mas Pedro, como Príncipe dos Apóstolos, Vigário de Jesus Cristo e Cabeça visível da Sua Igreja, operava já inspirado pelo mesmo Espírito divino; e como a quem tocava regular todas as coisas e dar providência a tudo, levantou-se no meio dos discípulos reunidos, em número de quase cento e vinte, que já tinham o costume de se chamarem irmãos entre si, pela estreitíssima e santíssima união da caridade fraternal que os enlaçavam, e falou-lhes deste modo:

Varões irmãos, é necessário que se cumpra a Escritura, que predisse o Espírito Santo por boca de Davi, acerca de Judas, o qual foi condutor dos que prenderam a Jesus. O qual era contado conosco, e a quem coube a sorte deste Ministério. E este de fato possuiu um campo do preço da iniquidade, e tendo-se enforcado rebentou pelo meio e todas as suas entranhas se derramaram. E tão notório se fez isto a todos os habitantes de Jerusalém, que se ficou chamando aquele campo na língua deles, Haceldama, isto é, campo de sangue. Por que está escrito no livro dos Salmos: ‘Fique deserta a habitação deles, e não haja quem habite neles, e receba outro o seu bispado’.1

Convém pois que destes varões que têm estado juntos conosco todo o tempo em que entrou e saiu dentre nós o Senhor Jesus, começando do Batismo de João até ao dia em que foi Assunto do meio de nós, haja um destes que se faça testemunha conosco da Sua Ressurreição”.2

Deliberou-se na reunião sobre quem havia de ser o escolhido; e tendo feito oração, passaram todos a votar.



Repartiram-se os votos entre dois, ambos varões muito notáveis: o primeiro José, chamado Bársabas, que pelas suas virtudes tinha o sobrenome de Justo; o segundo era Matias. Mas não havendo senão um lugar vago, e não sabendo os discípulos, qual haviam de preferir, porque ambos eram muito dignos, voltaram a orar dizendo:

Tu, Senhor, que conheces os corações de todos, mostra-nos destes dois, um, a quem tiveres escolhido para tomar o lugar deste Ministério e Apostolado, no qual Judas prevaricou, para ir ao seu lugar”.3

Ouviu o Senhor benignamente a oração dos fiéis; e, segundo o costume dos judeus, se lançaram sorte entre os dois concorrentes. Puseram-lhes diante uma urna onde estavam as cédulas, que deviam decidir de tudo; e a Mão de Deus conduziu a sorte de tal modo, que recaiu em Matias, o qual, agregado aos outros Onze Apóstolos, completou o número de Doze.

Elevado assim à dignidade de Apóstolo, recebeu com eles a plenitude do Espírito Santo no dia de Pentecostes. Como era já muito considerado por toda a nação, tanto pela integridade dos seus costumes, como pela nobreza do sangue, serviu-se com maravilhoso fruto dos dons celestes que havia recebido, convertendo à fé grande número de judeus e operando muitos milagres.

Quando os Apóstolos dividiram entre si o mundo, para conduzirem à luz da fé e do Evangelho à todas as nações, tocou a Matias o reino da Judeia. O zelo ardente que desde logo mostrou pela conversão dos seus compatrícios obrigou-o a padecer muitos trabalhos e expor-se a grandes perigos, fê-lo sofrer muitas perseguições, e finalmente levou-o a coroar tão Santa Vida com um glorioso martírio.

Percorreu quase todas as Províncias da Judeia, anunciando Jesus Cristo, confundindo os inimigos da fé e fazendo em todas as partes conversões e conquistas.



Diz São Clemente de Alexandria ser tradição constante, que São Matias foi especialmente grande pregador da penitência, que ensinava não menos com o exemplo da sua vida, que com os discursos aprendidos do seu divino Mestre. Dizia que é necessário que nos mortifiquemos, que combatamos contra a carne, que nos tratemos com rigor, que nos façamos eterna violência, reprimindo os desejos desordenados da sensualidade, levando a nossa cruz e regrando a nossa vida pelas máximas do Evangelho.

Acrescentava que esta mortificação exterior, embora muito necessária, não basta, se não é acompanhada de uma fé viva, de uma esperança superior a todas as perplexidades, e de uma ardente caridade; e que nenhuma pessoa, de qualquer idade ou condição, estava dispensada desta lei; pois não há outra moral. São Matias fez grandes frutos na Judeia, que foi o teatro dos seus trabalhos e o espaçoso campo do seu apostolado.

Muitos anos havia que este grande Apóstolo, que somente desejava a glória de Jesus Cristo e a salvação da sua nação, percorria toda a Judeia, pregando com valor e zelo assombroso, confundindo os judeus e demonstrando-lhes com testemunhos irrefragáveis da Sagrada Escritura, que Jesus Cristo, a quem eles tinham crucificado, e que ressuscitara ao terceiro dia, era o Messias prometido, verdadeiro Filho de Deus, e em tudo igual a Seu Pai.

Não podendo os chefes do povo judaico sofrer o verem-se tantas vezes confundidos, e além disso irritados pela multidão das conversões que São Matias operava e dos milagres que fazia, resolveram acabar com ele.



Refere o Livro dos Condenados, isto é, o livro onde se assentava todos aqueles que eram justiçados na Judeia, depois da Ressurreição do Senhor, por terem violado a Lei de Moisés, como Santo Estêvão, os dois Santos Tiago e São Matias, refere este livro, que o nosso Santo foi preso por ordem do pontífice Ananias, e que tendo confessado a Jesus Cristo em plena assembleia, demonstrando a Sua Divindade e a Sua qualidade de Redentor pelo testemunho das Santas Escrituras e por fatos irrecusáveis a que não puderam responder, foi declarado inimigo da Lei, e como tal sentenciado a ser apedrejado.

Chegando o Santo ao lugar do suplício, pôs-se de joelhos, e levantando os olhos e as mãos ao Céu, deu graças ao Senhor pela mercê que lhe fazia de morrer pela defesa da Sua Santa Religião; orou por todos os presentes e pela sua pátria, sendo logo morto às pedradas.

O mesmo livro acrescenta que os romanos que governavam a Província, não podendo suportar este gênero de suplício, contiveram o furor dos que o apedrejavam, e tendo achado semimorto o Santo Apóstolo, o acabaram de matar, decepando-lhe a cabeça.

O seu sagrado corpo, segundo as mais constantes tradições, foi trazido para Roma por Santa Helena, mãe de Constantino; e ainda hoje se venera na igreja de Santa Maria Maior, grande parte das suas preciosas relíquias. Assegura-se que as restantes foram dadas pela mesma Santa imperatriz a Santo Agrício, Arcebispo de Treves, que as colocou na igreja que ainda hoje tem a invocação de São Matias.


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Fonte: Pe. Croiset, “Ano Cristão – ou Devocionário para Todos os Dias do Ano”, traduzido do Francês, revisto e adaptado às últimas reformas litúrgicas, pelo Pe. Matos Soares, Professor do Seminário do Porto, Vol. II – 24 de Fevereiro, pp. 336-340. A. Campos – Livraria Católica, São Paulo, 1923.

1.  Salm. 68, 26; 108, 8.

2.  At. 1, 15-22.

3.  At. 1, 24-25.


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