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Foto de D. Vital |
(Que serviria a todos os Sacerdotes
desviados,
ou, para aqueles, que ainda hão de
desviar-se)
Mas voltemos ao
Sr. Bispo D. Vital. Um rasgo muito para notar em sua fisionomia moral, tão
desfigurada pelo sr. Barão de Penedo, e que vamos agora fazer sobressair, é a
caridade terna, afetuosíssima deste virtuoso Prelado, para os mesmos que tanto
o amarguravam e perseguiam. Era um coração que nunca se azedou contra ninguém,
e que as mais desvairadas ovelhas tratou com mimos e afetos que lembram o Bom
Pastor. Como este, soube repreender áspero a hipocrisia dos fariseus, enxotar a
látego os profanadores do Templo; mas todo se desfazia em doçura e misericórdia
com os pobres pecadores, para os reconduzir à penitência.
Eis aqui uma
carta que ele escreveu de sua prisão a um Sacerdote caído. Não sabemos que haja
nas vidas dos grandes Bispos nada mais comovente:
De minha
prisão, a 16 de Maio de 1875.
Meu caro
Padre e Irmão, com o coração dilacerado de mágoa, dirijo a V. Revma. do fundo de
minha prisão um conselho de amigo, uma súplica de irmão, uma afetuosa
advertência de pai estremecido. Não bastavam já tantas e tão dolorosas
angústias que torturam o coração terníssimo de nossa caridosa Mãe, a Santa
Igreja de Deus? Não bastava que Ela fosse injustamente perseguida em todas as
nações pelo poder das trevas? Não bastava a imensa dor de ver o seu Patrimônio
Temporal usurpado, seu Augusto Chefe prisioneiro, suas Ordens Religiosas
abolidas ou proscritas, seus Pastores encarcerados ou desterrados, seus filhos
atormentados e oprimidos?
Ah! Como se
fosse ainda pouco tudo isto, um novo golpe vem feri-lA, desfechado não por mão
estranha ou inimiga, mas pela de um de seus filhos mais caros, pela de um de
seus Ministros, pela sua!
Meu caro
Irmão, que fez? Porque se revoltou contra a Autoridade da Igreja? Se se julga
injustamente suspenso pelo governador do Bispado, porque em lugar de
resistir-lhe em face, não se dirigiu ao seu humilde Prelado? Porque, se queria
desconhecer a jurisdição de seu Bispo, não recorreu, como sempre é lícito, ao
Sumo Pontífice, nosso Superior espiritual e Chefe supremo da Igreja Católica?
Ah! Nada
tinha-me ainda tanto afligido, nem as injúrias e as calúnias da impiedade, nem
a injusta sentença dos homens, nem os sofrimentos da prisão, nem a iniquidade
cometida contra os heroicos governadores de minha Diocese, nem a violenta
deportação dos inocentes Padres Jesuítas, nem a perseguição de meus Sacerdotes
e leigos fiéis!
Não, nada
disto abalou-me a coragem, pelo contrário, tudo me alegrava no Senhor. Eu lhe
dava mil ações de graças; eu derramava doces lágrimas de consolação à vista da
inabalável constância do rebanho fiel, cometido a minha ternura e vigilância; à
vista da firmeza apostólica e união admirável do Clero de Olinda, que se
serrava em torno de seu humilde Pastor, como as cordas estão unidas a lira,
segundo a bela expressão de Santo Inácio, Mártir.
Mas, oh dor!
O ato de V. Revma. meu filho, é sem dúvida, efeito da humana fragilidade, fruto
de um momento de irreflexão e de cólera. O dardo atirado justo e, vindo direto
ao meu coração, enterrou-se em minha alma, feriu-me dolorosamente, fez-me mais
profunda ferida que a rebeldia de um filho querido pode abrir no peito de um
pai amante.
V. Revma. saiu
do caminho da verdade, para seguir o declive vertiginoso do erro! Vejo bem
agora a gravidade de sua triste e perigosa posição!
Oh! Meu caro
filho, do mais íntimo de minha alma, rogo a V. Revma. com toda a veemência de que
é capaz o coração de um Bispo, não fique neste declive escorregadio! Ah! Não vá
mais longe, não desça até o fundo do abismo! Por piedade, poupe este golpe ao
peito já tão aflito de nossa querida Mãe, a Igreja Católica! Poupe esta dor ao
Vigário de Jesus Cristo, já saciado de tantas amarguras! Poupe esta angústia à
infeliz Diocese de Olinda! Poupe este escândalo ao Brasil, nossa Pátria
entristecida! Não aumente a aflição ao aflito, traspassando o coração de vosso
Pai e Pastor.
Meu Irmão, é
tempo, não vá mais longe; pare, volte a casa paterna. Lance-se contrito nos
braços de nossa terna Mãe, que será indulgente e terá entranhas de misericórdia
para o arrependido.
Oh! Pelo
precioso Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, pelo amor da Imaculada Virgem
Maria, pela salvação eterna de sua alma, não vá mais longe, eu lhe peço com as
lágrimas nos olhos!
Sim, eu, seu
Pastor, seu Pai, seu Bispo, rogo-lhe por quanto há de mais sagrado, não resista
à vontade de Deus, não dispense o chamado do Céu, não feche os ouvidos à voz do
Senhor que o exorta por minha boca. – Vinctus Christi Jesu.
† Fr. Vital. Bispo
de Olinda.
Quanto isto é belo! Quanto é sublime!
Nada aqui de concertado. É uma ingênua expressão. É um grito eloquente, como o
que escapa do peito da mãe ao ver o filho precipitar-se em medonha voragem!
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Brasão de D. Vital |
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Fonte: D. Antônio de Macedo Costa, Bispo do Pará, “A Questão Religiosa – Perante
a Santa Sé, ou, A Missão Especial a Roma em 1873, a Luz de Documentos
Publicados e Inéditos”, Cap. VIII, pp. 139-141; Imp. na Tipografia da
“Civilização”, Maranhão, 1886.