Blog Católico, para os Católicos

BLOG CATÓLICO, PARA OS CATÓLICOS.

"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

DA ILÍCITA E PERIGOSA ATITUDE DE INQUIRIR, OS MISTERIOSOS DESÍGNIOS DE DEUS.

 


Santo Agostinho em cem lugares ensina esta mesma prática. Diz ele: “Ninguém vem ao Salvador senão sendo atraído. Quem é que Ele atrai, e quem é que Ele não atrai, por que é que Ele atrai este e não aquele, não queiras ajuizar disto, se não queres errar. Escuta uma vez e ouve. Não és atraído? Reza a fim de seres atraído. De certo, ao cristão que ainda vive da Fé e que não vê o que é perfeito, mas sabe apenas em parte, basta saber e crer que Deus não livra ninguém da condenação senão por misericórdia gratuita, por Jesus Cristo Nosso Senhor, e que Ele não condena ninguém senão pela Sua justíssima verdade, pelo mesmo Jesus Cristo Nosso Senhor. Mas saber por que é que Ele livra este de preferência àquele, sonde quem puder tamanha profundeza dos Seus juízos, mas resguarde-se do precipício, pois os Seus decretos não são por isso injustos, ainda que sejam secretos.1 Mas, por que então livra Ele estes de preferência àqueles?2 Dizemos outra vez: Ó homem! Quem és tu para responderes a Deus?3 Incompreensíveis são os Seus juízos.4 E acrescentemos isto: Não inquiras das coisas que estão acima de ti,5 e não investigues o que está além de tuas forças.6 Ora, Ele não faz misericórdia àqueles a quem, por uma verdade mui secreta e muito afastada dos pensamentos humanos, julga não dever conceder Seu favor ou misericórdia (Quaest. II, ad Simplic.).7

Vemos às vezes crianças gêmeas das quais uma nasce cheia de vida, e recebe o Batismo; a outra, nascendo, perde a vida temporal antes de renascer para a eterna; uma, por conseguinte, é herdeira do Céu, a outra é privada da herança. Ora, por que será que a Divina Providência dá desfechos tão diversos a tão semelhante nascimento? De certo, pode-se dizer que a Providência de Deus ordinariamente não viola as Leis da Natureza; de tal sorte que, sendo um desses gêmeos vigoroso e o outro demasiado fraco para suportar o esforço da saída do seio materno, este morreu antes de poder ser batizado, e o outro viveu; não havendo assim a Providência querido impedir o curso das causas naturais, que, nessa ocorrência, terão sido a razão da privação do Batismo naquele que o não teve. E certamente esta resposta é bem sólida”.


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Fonte: São Francisco de Sales, “Tratado do Amor de Deus”, Liv. IV, Cap. VII, pp. 226-227. 2ª Edição, Ed. Vozes, Petrópolis, 1996.

1.  I Tract. XXVI in Joan.

2.  Ep. 105.

3.  De bono persever., c. XII.

4.  Rom. XI, 20.

5.  Rom. XI, 33.

6.  Ecli., III, 22.

7.  Quaest., II ad Simplic.


SÃO JOSÉ, O PAI PUTATIVO DE JESUS CRISTO E SUAS GRANDEZAS.

 


De Maria a José a transição é natural e fácil. Os mistérios de São José procedem da Santa Infância e elevam-se como uma nuvem de incenso. Ele pertence inteiramente a esta época. Fora daí não sabemos nada dele. Parece que foi só para este fim que Deus o criou e ornou de santidade maravilhosa, a única obra que lhe foi ordenada. Ele nenhuma relação tem com a Paixão, que, aliás, não projeta sobre ele as sombras que antecipadamente se estendem sobre a Mãe das Dores. Mais: antes que Jesus tivesse deixado a casa de Nazaré para ir desempenhar o seu Santo Ministério, José foi juntar-se a seu pai no túmulo. Consumido de divino amor, ele morreu em suave êxtase, a cabeça apoiada no seio de Jesus, tendo Maria ao seu lado, numa palavra, na presença do que havia de mais belo, de mais santo, de mais celeste sobre a terra. Nenhum pensamento de violência passou entre as lembranças dos seus pacíficos deveres, posto que não fossem isentas de inquietações. O sangue da sua circuncisão foi o seu Getsêmani e o seu Gólgota. Sua infância perdeu-se na obscuridade e dela não podemos formar nenhuma ideia, além do que se revelou numa visão da Irmã Emmerich. Mas quem pode duvidar que tudo não tivesse sido preparado para o grande ofício de que Deus haveria de entregá-lo? Quem pode duvidar que tudo estava disposto para formá-lo e lhe dar a consagração que lhe convinha como pai de criação do Verbo feito carne?

Pertencendo ele, como pertence, à Santa Infância, não nos surpreende saber que o espírito de devoção a ele é o espírito de devoção à Santa Infância, mas com circunstâncias que o fazem ainda mais tocante. Primeiro que tudo, ele parece representar-nos no estábulo de Belém, na estada no Egito e na casa de Nazaré. Toda esta intimidade e familiaridade, à qual o Infante Salvador se digna de nos dar direito e título por sua Encarnação; todos os minuciosos serviços que ele condescende em receber do nosso amor e devoção; toda esta alegria e esta serenidade que a vista da fraqueza infantil misturada com o temor que a presença da sua Divindade nos expõem; todas estas coisas José aí está para as receber ou restituir, sentir ou mostrar, como em nosso nome. Ele aí está como o representante de todos os fiéis, e sobretudo daqueles, cujos corações, em razão de um atrativo especial, são impelidos para estes primeiros Mistérios de Jesus.

Mas, em segundo lugar, São José está em Belém, no Egito, no deserto e em Nazaré, como sombra do Pai Eterno. Aí está o imenso da sua dignidade. A incomensurável e para sempre bendita paternidade de Deus lhe é comunicada de um modo figurado; ele é o pai de criação de Jesus; aos olhos do mundo exterior passa por ser o verdadeiro pai. Ele exerce a autoridade de pai e dispensa ao Filho de Deus os deveres e solicitude paternais. Além disso, em sua natureza humana, Nosso Senhor está subordinado a José, ele que, em sua natureza divina, não poderia jamais ser subordinado ao Pai Eterno. Os inefáveis tesouros de Deus, Jesus e Maria, são confiados à guarda de José; ele mesmo é um tesouro e, ao mesmo tempo, guarda dos tesouros; tem parte nos planos da Redenção. Como Jesus ou Maria, tem ele os seus tipos, seus precursores e sua profecia no Antigo Testamento. Assiste a Deus em manter oculto o Mistério da Encarnação e, como representante do Pai Eterno, ele, em seu ministério junto ao Santo Infante, está sempre a nos lembrar a sua Divindade. Pelas funções de que dispunha, obsta a que nos esqueçamos que Jesus é verdadeiro Deus e Filho de Deus; e assim, ensinando-nos a maior familiaridade com Jesus, ensina-nos também a ter-lhe maior respeito. Se ele nos anima a aproximar-nos e ir beijar os pés de Jesus, ao mesmo tempo nos ordena que nos ajoelhemos e adoremos profundamente o Eterno recém-nascido. Assim, no Céu e na terra, se veem reunidas nele as duplas funções de representante do Pai Eterno e de representante dos fiéis cristãos. Que há de admirar de que os Teólogos nos falam das graças sem número e dos dons preciosos dos quais é ele ornado? Há de que surpreender que os fiéis creiam que por ele foi antecipada a ressurreição dos justos, que ele foi um dos que percorreram as ruas de Jerusalém no dia de páscoa com seu corpo ressuscitado e que ele também subiu aos Céus, no dia da Ascensão, no séquito de Nosso Senhor?

Que tesouro deu Jesus à Igreja nesta sublime e terna devoção! Já toda a doutrina tocante a Nosso Senhor estava estabelecida e fixada. Haurindo nos tesouros da Tradição Apostólica, a Igreja tinha achado os meios de vencer a heresia e, em virtude da Infalibilidade da Cátedra de Pedro, sancionara Ela os atos dos Concílios e definira a verdadeira doutrina sobre a Pessoa e a realidade da sua Sagrada Humanidade, a Unidade da sua Pessoa, a separação distinta das suas Naturezas e dupla vontade, mas tinham-se também exposto sublimes verdades a respeito de sua Alma, suas Faculdades, o modo de União Hipostática, sendo dado aos fiéis saciarem-se livremente nas fontes fecundas da pura teologia. Mas uma verdade sobressaia a todas as outras. As alturas inacessíveis da sua Divindade elevavam-se acima de toda a dúvida aos olhos dos homens. O professor em sua cadeira ou o menino na escola de catecismo não podiam duvidar do dogma sem saber que havia deixado de ser católico. Mas, ao passo que estas verdades eram patenteadas, as tradições da Tradição Apostólica eram resolvidas frequentemente, a respeito da dignidade da Mãe de Deus. Para assegurar a honra do Filho, consultaram-se as antigas Igrejas; e as vozes de Pedro, Paulo, Tiago e João emitiram oráculos que envolviam o Filho na honra de sua Mãe. E, uma vez extinto este tumulto de conflitos com a heresia, e desaparecida a oposição que tinham levantado, então, visível a todos os olhos e tal qual João a tinha enxergado na ilha de Patmos, apareceu a visão magnífica da Mulher, da Mãe do Menino-Rei, com a cabeça coroada de Doze Estrelas e o crescente da lua sob os pés. Assim, a adoração de Jesus e a devoção a Maria tinham tomado os seus lugares irrevogavelmente no coração dos fiéis e no sistema prático da Igreja, ambos instruindo, iluminando, nutrindo e santificando o povo cristão.

Mas havia ainda uma pessoa da “terrestre trindade” que estava fora destas honras. A devoção a São José existia de algum modo latente na Igreja. Não era que se esperassem novas revelações em acréscimo ao que dele já era conhecido: ele pertencia exclusivamente à Santa Infância e lia-se o seu nome no começo do Evangelho segundo São Mateus. Dois evangelistas tinham guardado silêncio absoluto sobre ele e um terceiro apenas mencionou seu nome na genealogia. A Tradição conservava algumas fracas lembranças dele, e não havia outra luz senão a que era tomada do Evangelho de São Mateus. Tudo quanto sabemos agora de São José existia então; só o sentimento dos fiéis não ia de par com a plenitude do saber que os Apóstolos possuíam: longe disso; tal sentimento tinha de crescer pouco a pouco para ficar ao nível do saber que os Apóstolos possuíam; era mister que o sobrepujasse, que o enchesse de devoção, o animasse com instituições e o submetesse a uma hierarquia perfeitamente administrada. Mas a final foi chegado o tempo prefixado por Deus para ser instituída tão amável devoção; e, como todos os dons, veio quando os tempos estavam sombrios e calamitosos.

Ó bela Provença! Esta terna devoção elevou-se da Igreja do Ocidente, do teu solo perfumoso, semelhante a uma ligeira nuvem de flores de amendoeira, que parecem flutuar entre o Céu e a terra e suspender suas brancas cores por sobre os teus cantos perfumados, nas primeiras horas da primavera. A nova devoção nasceu no seio de uma Confraria, na branca cidade de Avinhão,1 e foi embalada pela corrente do Ródano, esse rio sobre o qual flutua a memória de tantos martírios; que banha Lion, Orange, Viena e Arles e se lança no mar que banha as praias da Palestina. A terra que a contemplativa Madalena consagrou por sua vida solitária, e onde Marta e sua escola de virgens tinham entoado louvores a Deus; onde Lázaro usou a mitra em vez da mortalha, foi também aí que surgiu o início da tão gloriosa devoção, espalhando-se depois por toda a Igreja universal.

Gérson foi o designado para ser o teólogo e doutor desta devoção e Santa Teresa para ser a santa; e São Francisco de Sales para ser o mestre que haveria de a divulgar. As casas do Carmelo foram-lhe como a santa casa de Nazaré; e os colégios dos Jesuítas o local pacífico de sua residência no sombrio Egito.

As almas contemplativas receberam-na e dela se nutriram; as que preferiam a vida ativa dela se apossaram e foram em seu nome cuidar dos doentes e dar sustento aos que tinham fome. O povo dos trabalhadores acorreu a ele, pois o Santo e seu culto pertenciam-lhes a títulos iguais. Os jovens deixaram-se arrastar pelo seu atrativo e, por efeito dela, se tornaram puros; os velhos descansaram nela e nela encontraram paz. São Sulpício adotou-a. Formou-se ainda o espírito do Clero Secular. E quando a grande Comunidade dos Jesuítas procurou refúgio no Sagrado Coração, e seus membros, dispersos, conservaram suas lâmpadas acesas, prontas para o dia da restauração da Companhia, a devoção a São José foi seu arrimo e consolo.

É assim que a bela devoção a São José atraiu a si as Ordens Religiosas e as Congregações, os grandes e os pequenos, os eclesiásticos e os leigos, as escolas e as confrarias, os hospitais, as salas de asilo e as penitenciárias; é assim que o vemos muitas vezes voltando-se para Jesus, caminhando junto de Maria e projetando por toda parte a doce imagem do Pai Eterno. E, depois de encher de seus suaves perfumes toda a Europa, atravessou o Atlântico, embrenhou-se nas florestas virgens, abraçou todo o Canadá, tornou-se para os Missionários auxiliar poderoso e milhares de selvagens entoaram, ao por do sol, nos bosques e prados do Novo Mundo, hinos em honra de São José ou louvores ao pai de criação de Nosso Senhor.

Mas que relação tem tudo isto com o Santíssimo Sacramento? Muito e muito mais do que se pensa; porquanto este sentimento dos fiéis, de acordo com a voz da autoridade, designou esta devoção como especial aos Padres, e isto simplesmente por causa das suas funções para com o Santíssimo Sacramento. No pequeno número das orações a São José, indulgenciadas pela Santa Sé, há duas que são reservadas exclusivamente aos Padres. Uma deve ser dita antes da Missa e fala do Ministério e dos privilégios de São José, que consistiam não só em ver e ouvir a Jesus, mas em levá-Lo, beijá-Lo, vesti-Lo e cuidar d'Ele; e prossegue nestes termos: “Ó Deus, Vós que nos tendes revestido de um Sacerdócio real, concedei-nos que, como o Bem-aventurado José mereceu tocar respeitosamente e levar em seus braços vosso Filho único, nascido da Virgem Maria, possamos também servir aos vossos altares”. E também numa Coleta chamada a Oração eficaz, também indulgenciada por Pio VII, exclusivamente para os Padres, São José é chamado o Guarda dos Virgens Jesus e Maria e modelo de nosso Ministério para com ambos. Mas notai o paralelo existente entre São José e o Sacerdócio Católico. Ele era o intendente da casa de Deus; as mesmas funções são atribuídas aos Padres. Ele era o dispensador dos dons de Deus; os Padres o são também. Ele tocava, levava, elevava e baixava o Corpo de Jesus Cristo; não fazem o mesmo os Padres? Se Jesus foi submetido a São José, Jesus o é ainda, e de um modo mais amável ainda, aos seus Padres. Se foi dado a São José beijar a Jesus, a mesma honra não será dada, sem dúvida, aos Padres, mas beijarão a patena, sobre a qual não tardará muito Ele irá repousar. Se São José lavou e vestiu a Jesus, os Padres hão de, sob esta relação, se contentar com lavar os vasos e corporais sacros, envolver o cibório, velar o tabernáculo e ornar o seu trono coroado de flores. Que é a exposição, a procissão, a bênção, a comunhão, a ação de abrir e fechar o tabernáculo e levar o Santíssimo aos enfermos, senão outras tantas repetições do que São José prestava ao Menino Jesus? Ocorre só esta diferença: o que era prerrogativa dele só, cabe agora a uma multidão de Padres. E o Mistério da Consagração é um imenso e maravilhoso império que se estende infinitamente além do alcance da nossa inteligência, onde a sombra de São José poderia chegar e onde Maria, o Espírito Santo e a grande obra primitiva da criação se apresentam com traços de semelhança. Mas o gênio inventivo da arte cristã, em uma das mais engenhosas e felizes das suas inspirações, não encontrou, para representar o nosso Ministério junto ao Santíssimo Sacramento de modo mais exato, imagem mais expressiva do que os Mistérios de São José. Assim, a devoção ao Santíssimo Sacramento compreende e abrange as grandes devoções, cujo objeto são Maria e José, em suas relações com a Santa Infância, à qual ambos pertenciam. Era de esperar que, pela natureza das coisas, o Santíssimo Sacramento se tornasse a devoção universal da Igreja; e, pois, não há por onde admirar que nela sejam encontrados traços das relações entre a mesma e as diversas devoções. Estas relações evidenciam quanto as devoções especiais estão longe de ser simples ornamentos ao sistema católico e quanto é, ao mesmo tempo, pouco reverente e contrário à teologia tentar estabelecer contraste entre elas e outras formas de piedade, como se aquelas fossem os únicos sólidos e fecundos de seus frutos. No Catolicismo tudo é ligado, coeso. A doutrina ortodoxa está em estreita correspondência com estas devoções: a honra de Jesus está envolta nelas; e quanto à mortificação, para que esteja superior à austeridade de um estoico ou de um faquir, cumpre proceda de uma instituição cheia de amor de Jesus e só deste amor.


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Fonte: Rev. Pe. Frederick William Faber, Oratoriano, “O Santíssimo Sacramento ou As Obras e Vias de Deus”, Livro Segundo, Secção V, pp. 149-156. 2ª Edição, Editora Vozes Ltda., Petrópolis/RJ, 1939.

1. Há outra versão, segundo a qual esta devoção foi trazida ao Ocidente pelos CARMELITAS, que a tomaram da Igreja grega.


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