Patrocinadora do Porta dos Fundos,
respondendo à pressão cristã,
reprova vídeo com sátira de Jesus.
O Grupo Petrópolis, patrocinador do Porta dos Fundos, reprova o Especial de Natal que satiriza o nascimento de Jesus Cristo.
Em comunicado divulgado à
imprensa nesta sexta (10), o grupo que fabrica a cerveja Itaipava afirma
respeitar “os princípios de fé” das pessoas e que não apoia ”qualquer
manifestação que venha a atingir esses valores religiosos que se tem
como sagrados”. Embora repudie a sátira, a cervejaria não deixará de
patrocinar o Porta dos Fundos.
A resposta da cervejaria vem após
a pressão de fiéis e líderes da Igreja Católica para que a empresa deixe
de patrocinar o grupo de humor.
No último domingo (5), o Arcebispo
Metropolitano de São Paulo, dom Odilo Scherer questionou em seu perfil
no Twitter o caráter humorístico do vídeo. ”Será que isso é humor? Ou é
intolerância religiosa travestida de humor? Péssimo mau gosto!”,
escreveu dom Odilo Scherer, que recomendou aos fiéis que assinem uma
petição online para que a cerveja Itaipiava deixe de patrocinar o Porta
dos Fundos.
No vídeo, José (Antonio Tabet) diz que
Maria (Julia Rabello) não é mais virgem e tem ciúme de Deus (Rafael
Infante), se recusa a deixar os dois sozinhos. Jesus (Gregorio Duvivier)
cresce e aparece com uma namorada que trabalha “na esquina”, dá uma
“carteirada” para entrar numa taberna e fazer a última ceia e, ao ser
crucifixado, reclama que a cruz não é de mogno, tem cheiro de MDF.
Leia o comunicado do Grupo Petrópolis sobre o Especial de Natal do Porta dos Fundos:
“Nossa Constituição Federal fixa a
liberdade de expressão, impondo limites ao se atingir liberdades e
direitos alheios, respondendo cada um por seus atos. O Grupo Petrópolis
respeita esses direitos, assim como respeita os princípios de fé de
manifestação religiosa de todos.
Dessa forma, o Grupo
Petrópolis não endossa e não apoia qualquer manifestação que venha a
atingir esses valores religiosos que se tem como sagrados. Portanto, na
recente veiculação do programa “Especial de Natal”, do humorístico
“Porta dos Fundos”, o Grupo Petrópolis, além de não ter previamente
mantido qualquer tipo de contato com seu conteúdo, ainda, não admite que suas marcas sejam relacionadas com tais manifestações, pois não representa o pensamento de seus Diretores.
O Grupo Petrópolis aproveita a oportunidade para manifestar o seu mais profundo respeito por todas as manifestações religiosas.”
Associação católica vai ao Ministério Público
contra Porta dos Fundos
Folha de São Paulo
– A Associação Nacional Pró-Vida e Pró-Família protocolou no Ministério
Público Estadual do Rio de Janeiro, na tarde desta segunda-feira (13),
uma representação criminal contra o grupo Porta dos Fundos. Para a
entidade católica, o vídeo especial de Natal do grupo, postado no
YouTube em 23 de dezembro de 2013, ofende “garantias e princípios
constitucionais, mormente o princípio de tolerância e respeito à
diversidade”.
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Rodolpho Loreto e Hermes Rodrigues Nery no Ministério Público do Rio. |
O vídeo –um compilado de pequenas
histórias sobre Adão e Eva, o nascimento e a crucificação de Jesus
Cristo– ganhou a ira de religiosos, tanto católicos como evangélicos.
“O sentimento religioso deve ser
respeitado. Não só católicos, mas nossos irmãos protestantes se sentiram
aviltados”, diz Paulo Fernando Melo, advogado e integrante da
Associação Pró-Vida e Pró-Família.
O arcebispo metropolitano de São Paulo,
cardeal dom Odilo Scherer, já havia publicado, em 5 de janeiro, crítica
ao grupo em sua conta no Twitter. “Será que isso é humor? Ou é
intolerância religiosa travestida de humor? Péssimo mau gosto!”,
escreveu.
Em nota, o Grupo Petrópolis informou que
“não admite que suas marcas sejam relacionadas com tais manifestações,
pois não representa o pensamento de seus diretores” e que “não endossa e
não apoia qualquer manifestação que venha a atingir esses valores
religiosos que se tem como sagrados”. O grupo afirmou, porém, que
respeita a liberdade de expressão garantida pela Constituição, bem como
os princípios de fé de manifestação religiosa de todos.
Na representação encaminhada ao
Ministério Público, a Associação Pró-Vida e Pró-Família defende que a
liberdade de expressão “não pode ser utilizada como um escudo para
atividades ilícitas e nitidamente tipificadas em nosso Código Penal, in
casu, o vilipêndio público de ato ou objeto de culto religioso”. E
sustenta que, no vídeo de Natal, o grupo ridiculariza dogmas cristãos.
“Qual a intenção do grupo de fazer tal
vídeo e publicá-lo na antevéspera do Natal? Não está clara a intenção de
tripudio e escárnio? Cada segundo do vídeo é uma afronta das mais
comezinhas à fé cristã e a todos aqueles que são fiéis ao Cristianismo,
perfazendo em cada um dos seus dezesseis minutos e quarenta e dois
segundos, uma sucessão de escárnios, zombarias, tripudios e
vilipêndios”, diz trecho da representação assinada por Hermes Nery,
diretor de imprensa da associação.
A entidade enquadra o vídeo no artigo do Código Penal que trata do crime contra o sentimento religioso.
Outros vídeos do grupo com temáticas
semelhantes —como “Adão”, “Moda”, “Michelangelo”— são classificados, na
representação, como outros exemplo de tentativas de escárnio da fé
cristã.
Segundo Melo, a pena prevista é pequena, e
costuma ser transformada em prestação de serviços à comunidade ou
pagamento de cestas básicas. Ele defende, no entanto, que a ação pode
ter caráter educativo, para que o grupo “seja mais comedido” nos
próximos vídeos.
A assessoria do Porta dos Fundos informou
que o grupo já se manifestou sobre o tema. Na semana passada, ao falar
da polêmica criada em torno do vídeo, Antonio Tabet, um dos integrantes
do grupo, declarou que jamais houve intenção de difamar nenhuma
religião. “A prova está em nossa equipe, na qual trabalham católicos,
evangélicos, espíritas e até ateus.”
Em texto publicado na “Ilustrada” nesta
segunda, Gregório Duvivier, integrante do Porta e colunista da Folha,
ironizou a crítica de dom Odilo.
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Os leitores de Fratres in Unum.com podem baixar a íntegra da denúncia da Associação Nacional Pró-Vida e Pró-Família aqui.