Introdução
A
festa de Todos os Santos anda inteiramente ligada à lembrança das
almas santas detidas ainda no Purgatório para expiar as faltas
veniais e se purificarem da pena temporal que mereceram pelos
pecados, mas que no entanto estão confirmadas em graça e hão de
entrar um dia no Céu. Depois de celebrar com alegria a Igreja
triunfante do Céu, a Igreja da terra (militante) estende a sua
solicitude maternal ao lugar de tormentos indizíveis, onde vivem as
almas em estado de purificação, as quais pertencem igualmente à
Igreja e à Comunhão dos Justos. “Hoje,
diz o Martirológio romano, comemoração de todos os Féis
Defuntos. A nossa comum e piedosa Mãe, a Igreja, depois de celebrar
condignamente a memória daqueles seus filhos que já entraram na
glória, procura auxiliar pela sua poderosa intercessão junto de
Jesus Cristo, seu Esposo e Senhor, todos aqueles que gemem ainda nas
penas do Purgatório, para que se lhes abreviem os dias de exílio e
se vão reunir à sociedade dos Santos”.
Em nenhum outro lugar da Liturgia se afirma, de modo tão realmente
belo, o misterioso vínculo que une num só Corpo a Igreja Militante,
Padecente e Triunfante. Nunca de certo se cumpriu de modo tão
palpável o duplo dever de caridade que deriva para todo o cristão,
do fato da sua mesma incorporação no Corpo Místico de Cristo. Em
virtude do Dogma tão consolador da Comunhão dos Santos, podem os
merecimentos e sufrágios de qualquer um de nós circular nas veias
deste Corpo santíssimo e afluir em ondas de vida nova e de
consolador auxílio aos membros mais distantes e precisados. De
maneira que, sem lesar os direitos imprescritíveis da justiça
divina que será aplicada em todo o rigor após esta vida, a Santa
Igreja pode conjugar as preces da terra e do Céu e suprir com elas o
que falta às Almas do Purgatório, aplicando a estas almas
santíssimas os merecimentos de Jesus Cristo por meio do Santo
Sacrifício da Missa, das indulgências, da esmola e demais obras de
piedade cristã. A liturgia, que tem como centro o Sacrifício do
Calvário continuado sobre os nossos altares, foi em todos os tempos
o meio principal de que a Santa Igreja se serviu no cumprimento deste
dever de caridade para com os que nos precederam. Começamos a
encontrar Missas de Defuntos já a partir do século V. A Santo
Odilão, IV Abade do célebre mosteiro de Cluny, se deve no entanto a
comemoração geral de todos os defuntos que ele instituiu em 978 e
mandou celebrar no dia seguinte à festa de Todos os Santos. A
influência desta ilustre Congregação francesa estendeu em breve
este louvável costume a todo o mundo cristão. Por concessão de
Bento XIV, todos os Padres de Portugal, Espanha e Conquistas podem
celebrar três Missas no dia 2 de Novembro. Este privilégio foi
estendido por Bento XV em 1915 a toda a Igreja. “As Almas
do Purgatório, diz o Concílio
de Trento, podem ser socorridas com os sufrágios dos fiéis
e de modo particularmente eficaz com o Santo Sacrifício do Altar”.
E a razão disto reside no fato de que o Sacerdote oferece a Deus
oficialmente o resgate das almas, quer dizer, o Sangue de Jesus
Cristo, e em que o mesmo Senhor Jesus Cristo se oferece ao Pai
debaixo das espécies do pão e do vinho no ato mesmo do Sacrifício
Redentor. Todos os dias, mesmo no coração do Cânon, o Sacerdote
recorda, em memento especial, a memória dos que adormeceram no
Senhor e pede para eles o refrigério da luz e da paz. Não há pois
dia, não há Missa em que a Santa Igreja não ore pelos mortos. Hoje
porém, lembra-se particularmente de todos, preocupada com não
deixar nenhum sem o seu maternal socorro (S. Agostinho – Matinas).
Assistamos todos à Missa no
dia 2 de Novembro e peçamos a Deus para os nossos mortos, que nada
podem por si só, a remissão dos pecados e o repouso eterno.
Visitemos também os cemitérios onde repousam, até que se complete
para eles a vitória de Jesus Cristo sobre o pecado e ressurjam
revestidos de glória imortal para cantar os louvores de Deus para
sempre.
Brevíssima
Explicação do Dogma
A
Igreja Católica definiu a existência do Purgatório em dois
Concílios Ecumênicos: no de Florença em 1439 e mais tarde no de
Trento,
que diz: “A Igreja Católica, instituída pelo Espírito
Santo, baseada nas Escrituras Sagradas e nas antigas Tradições dos
Padres, declarou nos Santos Concílios e ainda muito recentemente
neste Sínodo Ecumênico.
Que existe um Purgatório, e que as almas nele detidas podem ser
auxiliadas pelos sufrágios dos fiéis, mas principalmente pelo
aceitável Sacrifício do altar”.
O
mesmo Concílio declarou,
de conformidade com as Escrituras,
que Deus nem sempre perdoa neste mundo a pena temporal devida aos
pecados.
Por
outro lado, as mesmas Escrituras Sagradas dizem que nada pode entrar
no Céu manchado,
e que os cristãos morrem muitas vezes com pecados veniais.
Portanto,
todos os que morrem com faltas veniais, ou com penas temporais não
remitidas, têm de as expiar no Purgatório.
A
doutrina do Antigo Testamento sobre o Purgatório funda-se no Segundo
Livro dos Macabeus.
Judas
Macabeus vencera Górgias numa batalha.
Indo
sepultar os seus mortos e encontrado em suas túnicas algumas moedas
tomadas das ofertas feitas aos ídolos de Jâmnia, o que era contra a
Lei,
fez uma coleta, recolheu 12
mil dracmas de prata e enviou-as a Jerusalém, para que se oferecesse
um sacrifício pelos pecados dos mortos.
Não
julgou que eles tivessem pecado mortalmente, “pois
considerou que, tendo morrido piedosamente, tinham assegurado uma
grande paz”.
O
Escritor sagrado acrescenta: “É um santo e salutar
pensamento orar pelos defuntos, a fim de que, sejam livres dos seus
pecados”.
É
verdade que os Protestantes consideram apócrifos os Livros do
Macabeus, mas eles têm a mesma autoridade que Isaías ou São João:
têm por si o divino e infalível testemunho da Igreja Católica.
Mas,
prescindindo mesmo de terem sido divinamente inspirados, podemos
citá-los como testemunho histórico da crença dos Judeus no
“Purgatório” muitos séculos antes de Cristo.
Jesus
Cristo fala de perdão de pecados “no outro mundo”,
o que se refere, segundo Santo Agostinho
e São Gregório Magno,
ao Purgatório.
São
Paulo, falando de pecados leves que serão queimados pelo fogo, “mas
a alma será salva como que por intervenção do fogo”,
refere-se igualmente ao
Purgatório, segundo Orígenes,
São Jerônimo,
Santo Ambrósio
e Santo Agostinho.
Todos
os Santos Padres, do Oriente como do Ocidente, mencionam o costume de
orar pelos defuntos.
Tertuliano
(160-240) fala de Missas de aniversário de defuntos em dois passos
diferentes: “Consagramos um dia por ano a oblações
pelos mortos, como se fosse dia de seu nascimento”.
“A viúva fiel ora pela alma de seu falecido esposo,
pedindo primeiro para ele refrigério, e depois a união e companhia
com ela após a ressurreição: e com este fim faz oblações no dia
do aniversário de sua morte”.
São
Cipriano (200-250) decretou que não se fizesse oblação nem
oferecesse sacrifício pelo Sacerdote que tivesse sido
“testamenteiro”.
Santo
Ambrósio (340-397) disse na “Oração fúnebre”
do Imperador Teodósio: “Dá, Senhor, repouso perfeito ao
Teu servo Teodósio, esse repouso que preparaste para os Teus santos…
Eu
amei-o, e por isso, quero estar com ele na terra dos vivos; nem
descansarei até que minhas lágrimas e orações o levem para onde
os seus méritos o chamam, para o monte santo do Senhor”.
Santo
Agostinho (354-430) escreve que sua mãe, Santa Mônica, lhe disse já
moribunda: “Enterra este meu corpo onde quiseres, e não
te incomodes mais com ele.
Uma
coisa te peço: onde quer que estiveres, lembra-te de mim ao altar do
Senhor”.
São
Cirilo de Jerusalém (315-386) escreve: “Rogamos pelos
santos Sacerdotes e Bispos que nos precederam, bem como por todos os
que faleceram em comunhão conosco, pois cremos que suas almas
recebem grande auxílio, quando oramos por elas, e principalmente
quando por elas oferecemos o Santo Sacrifício”.
São
João Crisóstomo (344-407): “Não são vãs as oblações
que fazemos pelos defuntos: não são vãs as súplicas; não são
vãs as esmolas”.
Todas
as antigas Liturgias, do Oriente como do Ocidente,
contém orações pelos mortos.
“Lembra-te,
Senhor, dos Teus servos N. E N., que nos precederam com o sinal da fé
e dormem o sono da paz.
Nós
Te rogamos, Senhor, que lhes concedas um lugar de refrigério, luz e
paz, pelo mesmo Jesus Cristo nosso Senhor”.
Esta
frase: “refrigério, luz e paz”
encontra-se em muitas inscrições das Catacumbas.
A
fórmula “In Pace”
(Em Paz), como a nossa moderna “Requiescat in Pace”
(Descanse em Paz) e outras: “Tenhas luz eterna em
Cristo”; “Deus te dê refrigério”
estavam gravadas nos túmulos cristãos dos três primeiros séculos.
É
estranho que os Protestantes ponham de lado tantos testemunhos, da
Bíblia como da Tradição, a favor dos sufrágios pelos defuntos.
Mas,
o Evangelho de Jesus Cristo forma um corpo de doutrina tão
consistente, que a negação de um dogma central leva logicamente à
negação de muitos outros.
Platão,
apesar de filósofo gentio, escreveu:
“Depois
da morte, os que não são, nem totalmente criminosos, nem
absolutamente inocentes, sofrem penas proporcionadas às suas faltas,
até que, purificados dos seus pecados, recebem a recompensa das boas
ações que fizeram”.
“Quanto
aos vis celerados, réus dos maiores crimes; e por isso incuráveis…
sofrem para sempre em punição dos seus crimes”.
E
Santo Agostinho ensina: “Há tantos que partem desta vida
nem tão maus, que não mereçam ser olhados com misericórdia; nem
tão bons, que mereçam ser considerados imediatamente como
Bem-aventurados.
Esta
doutrina tradicional da Igreja “é tão conforme à
razão, que muitos acatólicos honestos a admitem”.
Mallock
escreve: “É decoroso reconhecer que a doutrina das penas
e recompensas da vida futura nada tem que seja contrário às nossas
noções do que é justo e racional.
Longe
de ser uma superstição supérflua, é uma exigência da razão e da
moralidade”.
Considerações
sobre esta Festa
Motivos
de socorrer as Almas do Purgatório
I
Ponto.
Da
parte de Deus.
Estas
almas são queridíssimas de Deus… Estão mais unidas com Ele pela
graça santificante do que os maiores Santos deste mundo, porque
estes podem perder essa graça e aquelas já não o podem. A
posse do Céu está-lhes absolutamente garantida. Deus quereria
fazê-las entrar no gozo do Céu imediatamente, perdoando-lhes, sem
mais, as dívidas por elas contraídas e ainda não saldadas. Mas há
um decreto, estabelecido por Ele mesmo desde toda a eternidade, que o
proíbe. Em virtude desse decreto, Deus não lhes abrevia os
sofrimentos senão quando a prece dos vivos vai solicitá-Lo na sua
Misericórdia. Por isso, convida-nos a dirigir-lhe preces com este
fim, em nome do amor que tem a essas almas exiladas. Deixaremos nós
de o fazer?
Aplicações:
Do que acabamos de considerar, segue-se que Deus pôs, em certo modo,
a sorte das Almas na nossa mão e que permanecermos indiferentes a
essa sorte seria sermos
indiferentes para com o próprio Deus. Para não sermos um dia
acusados, no tribunal de Deus, desta falta, aproveitemo-nos da
solenidade deste dia para renovarmos e aumentarmos a nossa compaixão
pelas Almas do Purgatório. Temos tantos meios de as aliviar!… Em
primeiro lugar há as indulgências parciais e plenárias tão
numerosas e fáceis de ganhar. Apliquemo-las pelas Almas do
Purgatório.
Afetos:
Admiremos a infinita justiça
de Deus que odeia e castiga as menores manchas do pecado até nos
seus filhos prediletos! Despertemos no nosso coração uma vontade
forte de evitar tudo o que seja pecado e de socorrer eficazmente as
Almas do Purgatório.
Propósitos:
Quando, de manhã, oferecermos a Deus todas as nossas ações e
resoluções, juntemos-lhes a intenção de lucrar, em favor das
almas, todas as indulgências do dia.
II
Ponto.
Motivos
por parte das Almas.
1º)
Os sofrimentos das Almas do Purgatório são superiores a tudo o que
se pode imaginar e exprimir. A menor das penas do Purgatório
ultrapassa, diz São Tomás, tudo o que sofreram os Mártires, e
estes sofrimentos podem prolongar-se por muito tempo. A Igreja
permite que se estabeleçam aniversários por um tempo indeterminado;
2º)
As almas nada podem fazer para seu alívio, porque estão privadas de
liberdade; 3º)
Elas imploram o nosso socorro com gemidos, que nos desgarrariam o
coração se nos fosse dado ouvi-los; 4º)
Imploram esse auxílio a título de caridade e em nome de Jesus, que
sofre de algum modo nelas: “Eu
estive na prisão, e vós viestes visitar-Me”
dirá Ele;
5º)
Muitas delas imploram-no a título de justiça… de gratidão… de
parentesco próximo…
Aplicações:
Consideremos atentamente, uma a uma, estas verdades hauridas no
ensino dos Doutores da Igreja e não poremos mais limites à nossa
caridade. Seremos tentados a imitar a generosidade de alguns fiéis,
que por meio de voto às Almas do Purgatório fazem cedência e
doação em favor delas da parte satisfatória de todas as suas boas
obras que fizeram neste mundo e dos sufrágios que receberam por
ocasião da sua morte. O Papa Bento XIII aprovou este ato, a que
chamam heroico, e animou os fiéis a praticarem-no, concedendo-lhes
três favores singulares: 1º)
Os Sacerdotes que o fizerem gozarão de altar privilegiado onde quer
que celebrem; 2º)
Os simples fiéis podem lucrar indulgência plenária por cada vez
que comunguem e por cada segunda-feira em que ouçam Missa; 3º)
Para eles todas as indulgências são aplicáveis às Almas do
Purgatório.
Afetos:
“Concedei,
Senhor, o descanso eterno a todos os fiéis defuntos: ouvi-nos,
Senhor, nós vo-lo pedimos”
(Ladainha).
Propósitos:
Renovemos o nosso ardor em aliviar as Almas do Purgatório;
incentivemo-lo nos outros quanto possamos.
III
Ponto.
Motivos
por parte de nós mesmos.
Dedicando-nos
a aliviar as Almas do Purgatório: 1º)
Refletimos na rigorosa justiça de Deus, tornamo-nos firmes no ódio
ao pecado e no propósito de expiar as nossas faltas e pecados por
meio de obras satisfatórias; 2º)
Adquirimos amigos e advogados junto de Deus; 3º)
Adquirimos uma garantia segura de que nos serão aliviadas as nossas
próprias penas: “Bem-aventurados os misericordiosos,
porque alcançarão misericórdia”.
Aplicações:
Comecemos por oferecer hoje a Sagrada Comunhão e a respectiva
indulgência plenária pelo alívio das Almas do Purgatório. Depois,
determinemos pormenorizadamente o que queremos fazer por elas no
futuro.
Colóquio:
Com os Santos do Céu, peçamos-lhes que apoiem as nossas piedosas
súplicas em favor das benditas Almas do Purgatório.
APÊNDICE
Soror
Josefa Menéndez,
e
os Ensinamentos do Purgatório.
Josefa
nunca desceu ao Purgatório,
mas viu e ouviu numerosas almas vindo pedir-lhe orações e algumas
dizendo que, graças aos seus sofrimentos, haviam escapado ao
Inferno. Essas almas, em geral, acusavam-se humildemente das causas
de sua estada no Purgatório.
Acrescentamos
aqui alguns pormenores:
“Eu
tinha vocação e perdi-a com uma leitura má. Tinha também
desprezado e arrancado meu escapulário”.
“Estava
eu mergulhada em grande vaidade e prestes a me casar. Nosso Senhor se
serviu de um meio muito duro para me fechar as portas do Inferno”.
“Minha
vida religiosa careceu de fervor!…
Minha
vida religiosa foi longa, mas passei os meus últimos anos a cuidar
de mim e a me satisfazer, mais do que a amar a Nosso Senhor. Graças
aos méritos de um sacrifício que tu fizeste, pude morrer com fervor
e é ainda por causa de ti que não estou no Purgatório por longos
anos como o merecia. O importante não é a entrada na religião,
mas, a entrada na eternidade”.
“Estou
no Purgatório há um ano e três meses. Sem teus pequenos atos, eu
ainda lá ficaria durante longos anos. As pessoas do mundo têm menos
responsabilidades do que as almas religiosas. Quantas graças recebem
estas, e que responsabilidade se não as aproveitarem!… As
religiosas mal sabem como as suas faltas são aqui expiadas!… A
língua horrivelmente atormentada expia faltas ao silêncio; a
garganta ressecada expia faltas contra a caridade; e a sujeição
desta prisão, as repugnâncias em obedecer… Na minha Ordem, há
pouco gozo e pouca comodidade, mas a gente pode sempre chegar a
arranjar alguma suavização… e como é preciso expiar, aqui, a
menor falta de mortificação!… Reter os olhos para evitar uma
pequena curiosidade, custa às vezes grande esforço… e aqui… os
olhos são atormentados com a impossibilidade de ver a Deus!”
“Uma
outra alma religiosa se acusa de faltas de caridade e de murmurações
por ocasião da eleição de uma de suas Superioras”.
“Estive
no Purgatório até agora… porque durante a minha vida religiosa
falei muito e com pouca discrição. Comunicava a miúdo minhas
impressões e minhas queixas e essas comunicações foram, para
várias de minhas Irmãs de hábito, causa de muitas faltas de
caridade.
Aproveite-se
bem desta lição – acrescentava
a Santíssima Virgem, presente à aparição – porque
há muitas almas que caem nesse perigo”.
E,
Nosso Senhor sublinhava ainda esse grave aviso com as seguintes
palavras: “Esta
alma está no Purgatório por causa de faltas de silêncio, pois este
gênero de faltas arrasta muitas outras: primeiramente, falta-se à
Regra; em segundo lugar, há frequentemente, nessas faltas, pecados
contra a caridade ou o espírito religioso, procura de satisfação
pessoal, desabafos de coração que não convêm às almas
religiosas, e isto tudo sem contar que, não somente a própria
pessoa é culpada, mas arrasta consigo uma, ou várias outras. Eis
porque está essa alma no Purgatório e se consome em desejos de se
aproximar de Mim”.
“Estou
no Purgatório, porque não tive bastante cuidado com as almas que
Deus me havia confiado, não sabia bastante o que valem as almas e
que dedicação exige tão precioso depósito”.
“Estive
no Purgatório um pouco menos de hora e meia, para expiar algumas
faltas de confiança em Deus. É verdade que sempre O amei muito, mas
com certo temor. É verdade também que o julgamento de uma alma
religiosa é rigoroso, porque não é nosso Esposo, mas nosso Deus
que nos julga. Entretanto, é preciso, durante a vida, imensa
confiança em sua Misericórdia e crer que Ele é bom para nós…
quantas graças perdem as almas religiosas que não têm bastante
confiança n’Ele”.
“Estou
no Purgatório, porque não soube tratar as almas que Jesus me
confiou com o cuidado que merecem… Deixei-me levar por sentimentos
humanos e naturais, sem ver Deus nas almas que me eram confiadas,
como o devem sempre os Superiores; pois, se é verdade que toda
religiosa deve ver, em sua Superiora, Deus Nosso Senhor, a Superiora
também, deve vê-lO em suas filhas…”.
“Obrigada
a vós que contribuístes para me livrar das penas do Purgatório…”.
Ah!
Se as religiosas soubessem até onde pode conduzir um movimento
desregrado… como trabalhariam para dominar sua natureza e domar
suas paixões”.
“Meu
Purgatório será longo, pois não aceitei a Vontade de Deus, nem fiz
o sacrifício da minha vida com resignação bastante, durante a
doença.
A
doença é uma grande graça de purificação, é verdade, mas se não
nos acautelarmos, pode também ser ocasião de nos afastarmos do
espírito religioso… de esquecermos que fizemos Votos de Pobreza,
Castidade e Obediência, e que fomos consagradas a Deus como vítimas.
Nosso Senhor, é todo Amor, sim, mas também é todo Justiça!”.
Finalizando
“Afastadas
de Deus, separadas dos que amam, essas almas,
diz São Gregório de Nissa, estão
encerradas em uma fornalha onde reparam
suas faltas e concluem a purificação que haviam negligenciado na
terra.
Extrema
seria nossa comoção, se nos fosse possível perceber, no meio
desses inenarráveis tormentos, as almas dos entes amados e
conhecidos. E esse espetáculo nos levaria também a fazer um exame
retrospectivo íntimo e, nesta vida, ainda, ultimar o trabalho da
penitência e da santificação. Imploremos com Santo Agostinho: “Meu
Deus, fazei-me expiar aqui as minhas faltas, a fim de evitar as
chamas do Purgatório!”
Oremos:
Ó Deus, Criador e Redentor de todos os fiéis, concedei às almas
dos Vossos servos e servas a remissão de todos os pecados, a fim de
que, por meio destas piedosas súplicas alcancem de Vós a
misericórdia que sempre desejaram. Vós que viveis e reinais…
Amém.
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