Blog Católico, para os Católicos

BLOG CATÓLICO, PARA OS CATÓLICOS.

"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

sexta-feira, 26 de julho de 2024

SÃO JOSÉ NA VIDA DA IGREJA. 2ª PARTE.


São José, Protetor da Infância de Jesus.


Do trono de Deus Pai, desçamos à terra para considerar o seu Divino Filho, feito homem por nós. Achamo-nos diante do Mistério suave e comovente da Encarnação. Também São José tomou parte nesse Mistério. Concorreu para que se cumprisse a condição estabelecida por Deus para efetuar o prodígio. Como a Conceição e o Nascimento de Jesus deviam ser virginais e santos, São José, com o manto matrimonial, guardou a Virgindade da Esposa.

Não faltaram heréticos, que procurassem ofuscar, com falsas interpretações da Sagrada Escritura, o esplendor da coroa a brilhar na fronte da Mãe de Deus, e não quiseram compreender que a Escritura, segundo o uso daqueles tempos, chama “irmãos” a todos os parentes de uma pessoa. E, quando São Lucas diz que Maria deu à luz o seu Primogênito, não nega fosse Unigênito, pois um filho não cessa de ser primogênito quando único.

Nós, porém, estamos certos, porque assegurados pela palavra infalível da Igreja, que diz ter Maria sido antes, no momento e depois do parto, e seu castíssimo e digníssimo Esposo n’Ela conservou, honrada e santa, a Flor do Paraíso. Nos desígnios da Divina Providência, São José devia cooperar, com a sua virgindade, no grande Mistério, e, em vista disso, dispôs Deus, como vimos, a união angélica de José e Maria, à sombra da qual devia nascer Jesus.

Mas o Santo teve parte mais ativa no guardar, salvar e criar Jesus Menino. O Pai infinitamente sábio e rico que Jesus possuía nos Céus, manifestou sua Sabedoria e Amor para com Ele, dando-Lhe um Pai que Lhe fosse custódio e defensor, e para tal fim infundiu no Coração de seu representante uma afeição imensa, capaz de qualquer sacrifício pelo Filho amado.

O amor paterno de São José foi a fortaleza segura que acolheu e defendeu o Inocente perseguido, que O guardou na viagem até a terra longínqua dos faraós, que O manteve oculto até a morte de seus inimigos. De lá, seus braços levaram de novo o Menino para a Palestina e O sustentaram, fatigando-se por longos anos. O amor de São José por Jesus era fortíssimo. Ele podia dizer, com mais verdade que o grande Apóstolo São Paulo: “Não sou mais eu que vivo; é Jesus Cristo que vive em mim”. Diz São Dionísio: “O Santo vivia uma vida toda de amor; só Jesus vivia nele, Jesus era o princípio e a regra de seus pensamentos, de seus afetos, palavras e obras”.

Aprendamos de São José a encontrar no Salvador a luz do nosso espírito e o amor em que se deve abrasar o nosso coração. Jesus é o Sol das almas; Ele nos dirige com seus exemplos, ilumina com sua doutrina e vivifica com sua graça. É, pois, o Caminho que todo cristão deve seguir, a Verdade que todo cristão deve crer, a Vida da qual todo cristão deve participar, para que nele se cumpram as palavras de São Paulo: “Todos vós fostes batizados em Jesus Cristo, revesti-vos de Jesus Cristo”.

Além disso, o Santo participou do Grande Mistério pelo qual nos alcança o gozo de seus efeitos e graças. Ele, que com todos os cuidados criou o Salvador, certamente auxiliará também a nós que constituímos o Corpo Místico de Jesus, a Ele incorporados pelo fato de ter assumido a nossa natureza, tornando-se desta forma nosso Chefe e Fonte de graça.

Disse um célebre autor: Quatro coisas causaram a nossa ruína: um homem, uma mulher, uma árvore e uma Serpente; e quatro outras nos salvaram: Cristo, Maria, a Cruz e José.

Que dizer da abnegação e do sacrifício com que o Santo nutriu e educou o Verbo Encarnado? Foi como um instrumento que se utiliza para o trabalho e depois se deixa de lado. Sua vocação foi a de ocultar a Luz divina aos olhos do mundo, antes de ter que aparecer para iluminá-lo. O Menino que São José leva nos braços tem nos Céus deus por Pai e é Deus Ele mesmo; se mostrasse o seu Divino esplendor, todo o mundo seria iluminado. Mas não é ainda a vontade de Deus; por isso, coloca São José como Pai legal entre Ele e o Filho. A este Mistério foi consagrada toda a vida do Santo, verdadeiro Anjo e Custódio da Infância de Jesus.

Ó São José, guia-nos tu a Jesus Menino; sob a tua proteção, temos a certeza de sermos bem acolhidos pelo Filho e por Maria, pois que amam a quem proteges.


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Fonte: Pe. Tarcísio M. Ravina, da Pia Sociedade de São Paulo, “São José – Na Vida de Jesus Cristo, na vida da Igreja, no Antigo Testamento, no Ensino dos Papas, na Devoção dos Fiéis, nas Manifestações Milagrosas”, 2ª Parte, Cap. Protetor da Infância de Jesus, pp. 116118; Edições Paulinas, Recife, 1954.


domingo, 21 de julho de 2024

DA NECESSIDADE DE PEDIR O AUXÍLIO DIVINO E DA CONFIANÇA NA VOLTA DA GRAÇA.


(De divino petendo auxilio, et confidentia recuperandae gratiae)1


1. JESUS CRISTO. Filho, Eu sou o Senhor que conforta no dia da tribulação.2 Vem a Mim quando não te sentires bem.

O que mais impede a consolação celeste é recorreres tarde à oração.

Antes de me suplicares com todo o coração, buscas primeiro muitas consolações e alívios externos.

Daqui vem que de tudo tiras pouco proveito até que reconheças que só Eu salvo os que em Mim esperam e que fora de Mim não há auxílio eficaz, nem conselho proveitoso, nem remédio durável.

Uma vez, porém, que já recobraste alento depois da tormenta reanima-te à luz de minhas misericórdias; porque estou ao teu lado, diz o Senhor, não só para restituir-te tudo o que perdeste, mas ainda muito mais.

2. Há, porventura, coisa difícil para Mim? Ou sou Eu acaso semelhante ao que promete e não cumpre?

Onde está a tua fé? Conserva-te firme e constante; sê generoso e forte; a seu tempo virá a consolação.

Espera=me, espera que Eu virei e te curarei.3 O que te acabrunha, é uma tentação; e vão temor o que te amedronta.

De que serve a preocupação de futuros incertos, senão para acumular tristezas sobre tristezas.4 A cada dia basta o seu mal.5

É vão e inútil inquietar-se ou, alegrar-se, com coisas futuras, que talvez nunca se realizem.

3. É humano, porém, deixar-se iludir por semelhantes imaginações e indício de alma ainda fraca, ceder tão facilmente às sugestões do Inimigo.

Ao Demônio, pouco se lhe dá se nos ilude e engana com objetos reais ou imagens falsas e se nos domina com o amor das coisas presentes ou o temor das futuras.

Não se perturbe, pois, nem tema o teu coração.6

Crê em Mim e põe tua confiança na minha misericórdia.

Quando cuidas que estás longe de Mim, é quando muitas vezes estou mais perto de ti!

Quando pensas que tudo está quase perdido, estás então frequentemente em ocasião de maior merecimento.

Nem tudo está perdido, quando te acontece o contrário do que desejas.

Não julgues pela impressão do momento, nem te entregues à aflição, venha donde vier, como se não houvesse esperança de remédio.

4. Não te imagines desamparado de todo, ainda que Eu te envie alguma tribulação passageira, ou, te prive da consolação pela qual suspirais: é este o caminho que leva ao Reino dos Céus.

E é, sem dúvida, melhor para ti e para todos os meus servos, ser exercitados pelas adversidades, do que tudo ter à medida dos vossos desejos.

Conheço os pensamentos mais ocultos; para tua salvação muito convém que, de quando em quando, te deixe sem consolação espiritual, a fim de que, não te desvaneças com o bom êxito e não te comprazas em ti mesmo, julgando ser o que não és.

O que dei, posso tirar e dar de novo quando me aprouver.

5. Quando dou, dou o que é meu; quando tiro, não levo o que é teu; porque de Mim procede toda dádiva boa e todo dom perfeito.7

Quando te envio alguma aflição ou qualquer contrariedade, não murmures nem desfaleça o teu coração: posso aliviar-te num instante e mudar em alegria todo o peso que te oprime.

Reconhece, porém, que sou justo e mui digno de ser louvado, quando assim procedo contigo.

6. Se julgas com sabedoria e verdade, nunca deves te afligir e abater na adversidade, mas, alegrar-te e agradecer-me.

E até deves ter por única alegria, que te aflija com dores e não te poupe.

Como o Pai Me amou, Eu vos amei,8 disse Eu, aos meus amados discípulos e, entretanto, não os enviei a gozos mundanos, mas a grandes pelejas; não às honras, mas às ignomínias; não à ociosidade, mas ao trabalho; não à descansar, mas a produzir abundantes frutos na paciência.

Lembra-te bem, filho meu, destas palavras.



1ª Reflexão9

Apresentaram um dia a Jesus Cristo um paralítico, deitado no seu leito; e Jesus, vendo a muita fé dos que lho traziam, voltou-se para o paralítico e disse-lhe: Confia, filho, os teus pecados estão perdoados.10

Uma fé viva opera prodígios. Quem não crê em Deus, não se mostra filho de Deus. A fé é o fundamento das coisas que se esperam, e a convicção das que não se vêm11 (nem pelos sentidos, nem pela razão).

A fé é um dom de Deus, uma luz sobrenatural, que nos leva a crer firmemente tudo o que Deus revelou e a Igreja nos manda crer. Quantas vezes a meditação de uma só verdade da fé tem sido bastante, com a graça divina, para fazer de um grande pecador um grande Santo? Que consolação para uma alma, que sempre gemera no erro e na indiferença, ver-se num instante iluminada pela graça e exclamar como Saulo: Senhor, que quereis que eu faça?12 É sempre feito o que Deus faz; não nos pertence, pois, julgar as obras de Deus, mas sim, ordenar as nossas ações, conforme a regra suprema da vontade divina. Filho, não recuses o castigo do Senhor, nem te desanimes, quando por Ele fores castigado; porque Deus corrige aquele a quem Ele ama e põe nele as suas complacências, como um pai em seu filho.13 Sei que Deus me ama com amor infinito desde toda a eternidade, que pensa em mim dia e noite, que toma pela minha salvação o maior interesse; esta convicção deve tranquilizar-me.

Desde que eu saiba o que Deus exige de mim, nada mais me importa inquirir. A minha vida neste mundo é meio e não fim: não vivo para viver a meu capricho, vivo para merecer a vida eterna. Que se cumpra, pois em mim, agora e sempre, a vontade de Deus. Nem sempre há de rugir a tempestade da tribulação; se hoje sofro, amanhã gozarei: depois da tempestade vem a bonança.

2ª Reflexão14

Com quanto saibam os homens, que é passageira a vida presente, há contudo neles, uma tendência extraordinária a concentrar-se nesta vida tão curta, e a não julgar das coisas senão pela relação que tem com ela. Querem invencivelmente ser felizes; mas, querem sê-lo desde este mundo, buscam na terra uma felicidade que nela não existe, nem pode existir, e nisto se enganam lastimosamente. Uns buscam-na nos prazeres e bens do mundo, e depois de se terem cansado a correr após ela, “veem que tudo é vaidade e aflição de ânimo, e que o homem nada mais tem de todos os trabalhos com que se aborrece neste mundo”.15

Outros convencidos do nada destes bens, voltam-se para Deus, mas querem também que o desejo de felicidade que os atormenta seja satisfeito desde o presente, sempre inquietos e queixosos, quando lhes retira as graças sensíveis, ou os prova com trabalhos e tentações. Não compreendem que a natureza humana é fraca, e incapaz neste estado de toda felicidade real; que as provações de que se queixam são os remédios necessários que emprega em sua bondade, o Médico celestial das almas, para as curar, e que toda nossa esperança na terra, toda nossa paz consiste em nos entregarmos inteiramente a Ele com amorosa confiança. Eis aqui porque o real Profeta repetia constantemente esta oração: “Tende dó de mim, Senhor, porque estou enfermo; curai-me, porque o mal penetrou-me até os ossos; curai minha alma, Vós que curais todas as nossas enfermidades”.16

Portanto, durante esta vida, resignação, paciência, sossegada submissão da vontade, no meio das trevas do espírito e da amargura do coração; e depois, e daqui a pouco, na verdadeira vida descanso inalterável, alegria imortal, e a fidelidade do mesmo Deus, que então “veremos tal qual é, face a face”.17

Sede Vós, meu Salvador, o único amor meu, e o fim de toda minha vida, desejos e obras. A Vós busque, a Vós ache, a Vós vá, a Vós chegue, a Vós só deseje, e a Vós só possua sempre, e tudo o que Vós não sois, desta hora para sempre me enfastie. Vinde, Senhor, e com vossa presença iluminai as trevas desta alma, e fazei que ela não viva senão para Vós, por Vós sofra, e por vossos sofrimentos mereça participar um dia da glória dos Bem-aventurados.

3ª Reflexão18

Humilhai-vos grandemente perante Deus, no conhecimento de vosso nada e de vossa miséria. Ai! Que sou eu, Senhor, quando sou de mim mesmo? Nenhuma outra coisa sou, ó Senhor, senão uma terra seca, a qual, rachada de todas as partes, testifica a sede que tem da chuva do Céu, e entretanto, o vento a dissipa e reduz a pó.

Invocai a Deus e rogai-Lhe que vos dê Sua alegria: Tornai a dar-me a alegria de vossa salvação.19 Meu Pai, se é possível, afastai de mim este cálice.20 Afasta-te de mim, ó brisa infrutuosa, que dessecas minha alma, e vinde, ó gracioso vento das consolações, e soprai em meu jardim, e suas boas afeições exalarão o cheiro de suavidade.21

Entre todas as nossas securas e esterilidades, não esmoreçamos, mas esperando com paciência a volta das consolações, sigamos sempre nosso rumo, não deixemos por isso, nenhum exercício de devoção, antes, se é possível, multipliquemos nossas boas obras; e não podendo apresentar a nosso caro Esposo confeitos líquidos, apresentemos-Lhe secos; pois para Ele tudo é um, contanto que, o coração que Lhe os oferece esteja perfeitamente resoluto a querer amá-Lo.

Acontece muitas vezes, minha Filotéa, que a alma, vendo-se na bela primavera das consolações espirituais, tanto se diverte em apanhá-las e fruí-las, que na abundância dessas doces delícias, faz muito menos de boas obras: e ao contrário, entre as asperezas e esterilidades espirituais, quanto mais se vê privada dos sentimentos agradáveis da devoção, tanto mais multiplica as obras sólidas, abundando na produção interior das verdadeiras virtudes de paciência, humildade, desprezo de si mesma, resignação e abnegação de seu amor-próprio.22


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1.  IMITAÇÃO DE CRISTO, Nova tradução portuguesa pelo Pe. Leonel Franca, S.J., Livro III, Cap. XXX, pp. 143-145. 4ª Edição, Livraria José Olympio Editora, Rio de Janeiro/São Paulo. 1948.

2.  Naum I, 7.

3.  Mat. VII, 7.

4.  II Cor. II, 3.

5.  Mat. VI, 34.

6.  Jo. XIV, 27.

7.  Tg. I, 17.

8.  Jo. XV, 9.

9.  Imitação de Cristo, novíssima edição, confrontada com o texto latino e anotada por Monsenhor Manuel Marinho, Livro III, Cap. XXX, pp. 211-215. Editora Viúva de José Frutuoso da Fonseca, Porto, 1925.

10.  Mat. IX, 1-8.

11.  Heb. XI, 1.

12.  At. IX, 6.

13.  Prov. III, 11-12.

14.  Imitação de Cristo, Presbítero J.I. Roquette, Livro III, Cap. XXX, pp. 264-270. Editora Aillaud & Cia., Paris/Lisboa.

15.  Eccl. I, 3.14.

16.  Salm. VI, 3; ib, XL, 5; ib, CII, 3.

17.  I Cor. XIII, 12.

18.  Imitação de Cristo, versão portuguesa por um Padre da Missão, Livro III, Cap. XXX, pp. 221-225. Imprenta Desclée Lefebyre y Cia., Tornai/Bélgica, 1904.

19.  Salm. L, 14.

20.  Luc. XXII, 42.

21.  Cânt. IV, 15.

22.  Introdução à Vida Devota, IV Parte, Cap. XIV.


quarta-feira, 17 de julho de 2024

PADRE PAULO RICARDO ENSINA, A ÚNICA VERDADE DE FÉ SOBRE OS HEREGES.


CREDO DE SANTO ATANÁSIO

Este credo, apesar do nome, foi divulgado por Santo Ambrósio, foi incluído na liturgia, é autêntica Profissão de Fé e é totalmente reconhecido pela Igreja Católica.

1. Quem quiser salvar-se deve antes de tudo professar a Fé Católica.

2. Porque aquele que não a professar, integral e inviolavelmente, perecerá sem dúvida por toda a eternidade.

3. A Fé Católica consiste em adorar um só Deus em três Pessoas e três Pessoas em um só Deus.

4. Sem confundir as Pessoas nem separar a substância.

5. Porque uma só é a Pessoa do Pai, outra a do Filho, outra a do Espírito Santo.

6. Mas uma só é a divindade do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, igual a glória, co-eterna a majestade.

7. Tal como é o Pai, tal é o Filho, tal é o Espírito Santo.

8. O Pai é incriado, o Filho é incriado, o Espírito Santo é incriado.

9. O Pai é imenso, o Filho é imenso, o Espírito Santo é imenso.

10. O Pai é eterno, o Filho é eterno, o Espírito Santo é eterno.

11. E contudo não são três eternos, mas um só eterno.

12. Assim como não são três incriados, nem três imensos, mas um só incriado e um só imenso.

13. Da mesma maneira, o Pai é onipotente, o Filho é onipotente, o Espírito Santo é onipotente.

14. E contudo não são três onipotentes, mas um só onipotente.

15. Assim o Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus.

16. E contudo não são três deuses, mas um só Deus.

17. Do mesmo modo, o Pai é Senhor, o Filho é Senhor, o Espírito Santo é Senhor.

18. E contudo não são três senhores, mas um só Senhor.

19. Porque, assim como a verdade cristã nos manda confessar que cada uma das Pessoas é Deus e Senhor, do mesmo modo a Religião Católica nos proíbe dizer que são três deuses ou senhores.

20. O Pai não foi feito, nem gerado, nem criado por ninguém.

21. O Filho procede do Pai; não foi feito, nem criado, mas gerado.

22. O Espírito Santo não foi feito, nem criado, nem gerado, mas procede do Pai e do Filho.

23. Não há, pois, senão um só Pai, e não três Pais; um só Filho, e não três Filhos; um só Espírito Santo, e não três Espíritos Santos.

24. E nesta Trindade não há nem mais antigo nem menos antigo, nem maior nem menor, mas as três Pessoas são co-eternas e iguais entre si.

25. De sorte que, como se disse acima, em tudo se deve adorar a unidade na Trindade e a Trindade na unidade.

26. Quem, pois, quiser salvar-se, deve pensar assim a respeito da Trindade.

27. Mas, para alcançar a salvação, é necessário ainda crer firmemente na Encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo.

28. A pureza da nossa fé consiste, pois, em crer ainda e confessar que Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, é Deus e homem.

29. É Deus, gerado na substância do Pai desde toda a eternidade; é homem porque nasceu, no tempo, da substância da sua Mãe.

30. Deus perfeito e homem perfeito, com alma racional e carne humana.

31. Igual ao Pai segundo a divindade; menor que o Pai segundo a humanidade.

32. E embora seja Deus e homem, contudo não são dois, mas um só Cristo.

33. É um, não porque a divindade se tenha convertido em humanidade, mas porque Deus assumiu a humanidade.

34. Um, finalmente, não por confusão de substâncias, mas pela unidade da Pessoa.

35. Porque, assim como a alma racional e o corpo formam um só homem, assim também a divindade e a humanidade formam um só Cristo.

36. Ele sofreu a morte por nossa salvação, desceu aos infernos e ao terceiro dia ressuscitou dos mortos.

37. Subiu aos Céus e está sentado a direita de Deus Pai todo-poderoso, donde há de vir a julgar os vivos e os mortos.

38. E quando vier, todos os homens ressuscitarão com os seus corpos, para prestar conta dos seus atos.

39. E os que tiverem praticado o bem irão para a vida eterna, e os maus para o fogo eterno.

40. Esta é a Fé Católica, e quem não a professar fiel e firmemente não se poderá salvar".


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terça-feira, 16 de julho de 2024

A SINGULARIDADE DA ORDEM CARMELITANA.

A primeira imagem de Nossa Senhora do Carmo


“… De todos os povos, e gentes do mundo [a Virgem Maria] escolheu o povo cristão, que são os seus filhos por fé; de todos os cristãos escolheu os seus devotos, que são os seus filhos por afeto; de todos os seus devotos escolheu as congregações que a servem debaixo de seu nome e patrocínio, que são os seus filhos por instituto; e, finalmente, de todos os institutos passados, presentes e futuros, escolheu a Ordem do Monte Carmelo, para que ela fosse a única e escolhida entre todos os outros filhos, e, sobre todos eles, sua; Matri suae, electa genitrici suae. Todos os outros com mais ou menos prerrogativa, e sempre com grande dignidade, são filhos da Virgem Maria; mas os carmelitas são os seus filhos, os seus: Matri suae, genitrici suae…

Ó sagrada religião do Monte Carmelo, como vos fez semelhante a si quem vos fez só para si e para que levásseis tantos a Ele! Tudo isto fazia Cristo para introduzir nos ânimos dos homens a fé de sua Divindade, e ensinar ao mundo que assim como havia nele duas naturezas, assim tinha dois Nascimentos: um nascimento antiquíssimo e eterno, em que era Filho de seu Pai, e outro nascimento novo e em tempo, em que era Filho de sua Mãe. E assim como Cristo teve dois nascimentos, e ambos virginais, como lhes chamou S. Gregório Nazianzeno, um antiquíssimo e eterno, em que nasceu de Pai sem mãe, outro novo e em tempo, em que nasceu de Mãe sem pai, assim a sagrada religião carmelitana teve dois nascimentos também virginais: um antiquíssimo na lei escrita, em que nasceu de Elias virgem, que foi nascimento de pai sem mãe; outro menos antigo, na lei da graça, em que nasceu da Virgem Maria, que foi nascimento de Mãe sem pai. As duas cores e as duas peças do hábito carmelitano são a prova e a herança destes dois nascimentos. A prova e herança do nascimento do pai sem mãe é o manto branco, dado por Elias nas mãos de Eliseu carmelita; a prova e herança do nascimento de Mãe sem pai é o Escapulário pardo, dado pela Virgem Maria nas mãos de Simão, também carmelita e Geral santo dos carmelitas”.


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Fonte: Pe. Antônio Vieira, S.J., “Sermão sobre a Festa de Nossa Senhora do Carmo”.


domingo, 14 de julho de 2024

DA CONFRARIA DE NOSSA SENHORA DO MONTE CARMELO OU DO ESCAPULÁRIO.


Da Confraria do Escapulário1


Que é o Carmelo? O Carmelo ou Carmo é um Monte da Palestina, situado a dez quilômetros de distância de Nazaré.

Explicação: A palavra Carmelo é hebraica, e significa: messe ou espiga madura, vinha de Deus, lugar delicioso ou fértil.

Há dois montes (chamados) de Carmelo. Aquele de que aqui falamos está situado entre a Galileia e a Samaria, e tem quase sessenta e cinco quilômetros de circunferência. Adorava-se outrora neste monte uma divindade chamada também Carmelo. Ele foi muito célebre, no tempo dos judeus, por terem ali habitado os Profetas, Elias e Eliseu. Ainda lá existem as grutas, em que eles se recolhiam, e a nascente de água, que Elias fez brotar da terra por suas orações.

Quem são os Carmelitas? Os Carmelitas são uma Ordem Religiosa originária do Monte Carmelo.

Explicação: Os Carmelitas consideram Elias e Eliseu como seus Patriarcas. Parece certo que deles proveem por uma sucessão não interrompida, e no Ofício da festa de Elias, aprovado pela Sagrada Congregação dos Ritos, é Elias qualificado de Fundador e Instituidor da Ordem do Carmo.

Ensina-nos uma constante tradição, que a Santíssima Virgem visitou o monte Carmelo; e nada há nisto que seja inverossímil, pois que este monte só dista dez quilômetros de Nazaré. Seja como for, a Ordem do Carmo distinguiu-se sempre pelo seu ardente zelo me glorificar a Santíssima Virgem, e é sobre o monte Carmelo, que se edificou a primeira Capela sob a sua invocação. Este fato, testificado por dois graves historiadores dos primeiros séculos,2 referido e confirmado depois por escritores, fidedignos e por sábios teólogos, pareceu assaz autêntico aos Sumos Pontífices, por isso, o inseriram no Breviário Romano, na legenda da festa de Nossa Senhora do Carmo, depois de ter sido atentamente examinado e aprovado pelos três célebres Cardeais da Congregação dos Ritos, Belarmino, Pinelli e Torres.

O que é a Confraria de Nossa Senhora do Carmo? A Confraria de Nossa Senhora do Carmo era a princípio, uma simples Associação de carmelitas.

Explicação: A instituição desta Confraria ou Associação é das mais antigas, como se depreende do testemunho de vários Sumos Pontífices, que em suas Bulas, referem e confirmam as indulgências concedidas por Leão IV, no ano 848, e por Adriano II, em 862; o que prova que nessa época estava já estabelecida no Oriente.

Em que época recebeu a Confraria de Nossa Senhora do Carmo, o nome de Confraria? Foi quase no meado do século XIII.

Explicação: No século XIII, vendo-se os Carmelitas perseguidos pelos sarracenos, abandonaram o Monte Carmelo e os lugares vizinhos da Palestina, e vieram para a Europa, onde procuraram estabelecer-se. Encontraram numerosos obstáculos, e viram a sua Ordem a ponto de se extinguir. Então São Simão Stock, natural da Inglaterra, e geral da Ordem, voltou-se para Maria; pede-lhe com as mais fervorosas orações que proteja a sua Ordem do Carmo, e lhe dê algum privilégio, pelo qual merecesse maior estima. Comovida das súplicas deste seu filho, a Santíssima Virgem apareceu-lhe um dia, quando ele estava em oração, cercada de uma multidão de espíritos celestes, tendo na mão o Escapulário, que lhe entregou, dizendo estas palavras: “Recebe, meu querido filho, este Escapulário como sinal distintivo da minha confiança e a demonstração do privilégio, que Eu obtive para ti e para os filhos do Carmo. Aquele que morrer piedosamente revestido do Escapulário, será preservado do fogo eterno; é um sinal de salvação, uma defesa nos perigos, e o penhor de uma paz e proteção especial até ao fim dos séculos”.3 Esta aparição, que teve Simão Stock, reconheceram-na por verdadeira os mais graves autores, e principalmente Bento XIV; e desde então é o Escapulário o distintivo dos Carmelitas, e se denominou a Confraria de Nossa Senhora do Carmo, também do Escapulário.

O que é o Escapulário? O Escapulário consiste em duas pequenas tiras de pano pendentes do pescoço.

Explicação: O Escapulário era antigamente uma parte do hábito monacal. Cobria os ombros dos religiosos, por isso, chama-se Escapulário, da palavra latina scapulae, que significa ombro.

O Escapulário da Ordem do Carmo, é o único, que goza dos privilégios que a Santíssima Virgem lhe anexou, quando o concedeu. Consta de duas tiras de pano de lã, de quase duas polegadas em quadro, com dois cordéis ou fitas. É o que trazem os confrades como um sinal da sua particular dedicação ao serviço da Rainha do Céu.

O que se requer para fazer parte da Confraria de Nossa Senhora do Carmo ou do Escapulário? Para fazer parte desta Confraria, e gozar dos seus privilégios e indulgências, requer-se que se receba de um Religioso Carmelita, ou de um Sacerdote para isso autorizado pela Santa Sé, o Escapulário bento por ele na forma prescrita.

Explicação: O Escapulário deve compor-se de duas tiras de pano de lã, de cor marrom, com umas fitas ou cordões, presos ou costurados pelos lados das mesmas duas tiras de pano, e as mesmas fitas terem dois palmos ou dois palmos e meio de comprimento (15cm X 20cm). Mas no Escapulário da Imaculada Conceição requer-se a cor azul, e tendo-se recebido o Escapulário do Carmo e o da Imaculada Conceição, devem trazer-se ambos.4

Não se requer que o Escapulário tenha a estampa ou imagem de Nossa Senhora para lucrar as indulgências.

Deve-se trazer o Escapulário pendente ao pescoço, de dia e noite, com saúde ou com doença, na vida e na morte.

O Sacerdote autorizado para impor o Escapulário, deve pô-lo sobre o novo confrade da maneira que acabamos de dizer. Todavia, não deixaria de ser válida a admissão daquele que recebesse o Escapulário de diverso modo; mas deveria esse confrade pô-lo depois sobre si, da maneira prescrita, a fim de gozar dos privilégios e indulgências do Escapulário.5

Pode-se trazer o Escapulário por cima ou por baixo do vestido.

Requer-se o Escapulário recebido no dia da admissão na Confraria, fosse benzido por um Sacerdote para isso autorizado pela Santa Sé; mas destruindo-se ou perdendo-se, pode-se tomar outro, até não bento, e ter de reserva, desde a admissão na Confraria, vários Escapulários não bentos, para os mudar quando se quiser.

É necessário trazer sempre ao pescoço o Escapulário para participar dos privilégios e das indulgências da Confraria? Sim; isso é absolutamente necessário.

Explicação: Para participar dos merecimentos da Ordem do Carmo e das indulgências pessoais que lhe são anexas, requer-se que se traga o Escapulário ao pescoço de dia e de noite, com saúde ou com doença, na vida e na morte. Não se trazendo por esquecimento ou negligência, deve-se por ao pescoço quanto antes. Ainda que não se trouxesse durante uma pequena parte do dia, não se ficaria privado das indulgências correspondentes a esse dia; mas não se trazendo todo o dia, perdem-se as indulgências desse dia, e não os privilégios da Confraria.6

Quais são as obrigações dos confrades do Escapulário? – Para ser membro da Confraria do Escapulário e poder gozar dos seus privilégios, basta receber o Escapulário das mãos de um Sacerdote munido dos poderes necessários para o impor, e trazê-lo ao pescoço de dia e de noite, na saúde ou doença, na vida e na morte.

Explicação: Para serem membros da Confraria não se prescrevem aos fiéis orações nem abstinência, nem jejuns extraordinários; basta que recebam e tragam consigo o Escapulário, da maneira que dissemos; e não há lei alguma que os obrigue a recitar 7 Pai Nossos e 7 Ave Marias para lucrar as indulgências do Escapulário de Nossa Senhora do Carmo.7

Quais são os privilégios da Confraria do Santo Escapulário? – Consistem, principalmente, nas numerosas indulgências, com que os Sumos Pontífices enriqueceram esta Confraria.

Explicação: Os confrades do Santo Escapulário entram em uma santa associação com a Ordem dos Carmelitas, cuja santidade e virtudes a tornaram tão venerável aos fiéis. Além disto, eles participam dos merecimentos não só dos mesmos religiosos e religiosas carmelitas, mas também dos merecimentos e boas obras de todos os membros da Confraria. Finalmente, podem, cumprindo as condições requeridas, alcançar as indulgências tão preciosas e numerosas, com que a Santa Sé enriqueceu a Confraria de Nossa Senhora do Carmo. Eis o sumário delas:

) Indulgência plenária no dia da entrada na Confraria aos fiéis que, contritos e confessados, comungarem nesse dia e orarem pela Santa Igreja, etc.

2º) Indulgência plenária no dia da festa de Nossa Senhora do Carmo, com as mesmas condições.

3º) Indulgência plenária, em artigo de morte, aos confrades que invocarem o Santo Nome de Jesus, ao menos de coração, não podendo com a boca, e com as sobreditas condições, sendo possível.

4º) Indulgência plenária uma vez cada mês a todos os confrades, que acompanharem a procissão da Confraria, autorizada pelo Bispo, e com as mesmas condições. – Os que por doença ou qualquer outra causa legítima, não acompanharem a dita procissão, lucrarão a mesma indulgência, visitando devotamente a Capela da Confraria; ou se também não poderem, como os presos, os viandantes… recitando o pequeno Ofício de Nossa Senhora, ou cinquenta Pai Nossos e cinquenta Ave Marias, com um Ato de Contrição e o firme propósito de se confessarem e comungarem logo que possam.

5º) Indulgência de cinco anos e outras tantas quarentenas aos que revestidos do Escapulário, contritos e confessados, comungarem uma vez por mês, e orarem conforme o costume.

6º) Indulgência de trezentos dias todas as vezes que os confrades usarem de comida de peixe às quartas-feiras, além das sextas-feiras e sábados e mais dias prescritos, exceto no dia de Natal, se cair num desses dias.

7º) Indulgência de cem dias todas as vezes que recitarem devotamente o Ofício de Nossa Senhora.

8º) Indulgência de quarenta dias cada dia que recitarem sete Pai Nossos e sete Ave Marias em honra das sete alegrias da Santíssima Virgem.

9º) Indulgência de três anos e outras tantas quarentenas cada vez que os confrades, contritos e confessados comungarem em alguma festa de Nossa Senhora, e orarem segundo a intenção do Sumo Pontífice.

10º) Indulgência de cinco anos e cinco quarentenas aos que acompanharem com uma luz ou tocha acessa o Sagrado Viático, e orarem pelos enfermos.

11º) Indulgência de cem dias todas as vezes que assistirem à Missa devotamente e aos outros Ofícios que se fazem na igreja, Capela ou Oratório da Confraria, hospedarem ou socorrerem os pobres, e fizerem qualquer outra obra de piedade ou caridade. – Todas estas indulgências podem se aplicar às Almas do Purgatório.

Além destas indulgências, que os confrades do Santo Escapulário podem lucrar, não gozam eles de certos privilégios? Sim; os confrades do Santo Escapulário, além das indulgências que podem lucrar, gozam de dois grandes privilégios: o primeiro, é que se morrerem revestidos do Escapulário, serão preservados das chamas eternas; o segundo, é que se morrerem com o Escapulário, e forem para o Purgatório, Maria irá livrá-los no sábado seguinte à sua morte.

Explicação: Foi a mesma Virgem Santíssima que fez a primeira destas promessas a São Simão Stock, quando lhe apareceu e lhe deu o Escapulário, como o referimos. “Aquele que morrer piedosamente revestido do Escapulário, lhe disse Ela, será preservado do fogo eterno”. O sentido desta promessa, é que a Santíssima Virgem obterá aos confrades moribundos a graça de não serem surpreendidos pela morte em estado de pecado mortal. – A segunda promessa ou privilégio de serem livres do Purgatório no sábado seguinte à sua morte, se morrerem com o Escapulário, funda-se em uma aparição da Santíssima Virgem ao Sumo Pontífice João XXII. Ele mesmo afirma na Bula, que publicou a este respeito, que a Santíssima Virgem lhe apareceu, e que lhe dirigiu estas palavras: “João, Vigário de meu Filho, às minhas solicitações junto d’Ele é que deves a alta dignidade, a que foste elevado. Assim como te subtraí aos embustes dos teus adversários, espero de ti uma ampla e favorável confirmação da Santa Ordem dos Carmelitas, que sempre me foi singularmente dedicada. Se entre os religiosos ou confrades, que deixarem o século presente, se acharem alguns, cujos pecados tiverem merecido a entrada no Purgatório, Eu descerei, como sua terna Mãe, ao meio deles, ao Purgatório, no sábado seguinte à sua morte; livrarei aqueles que lá encontrar e os conduzirei à montanha santa, à feliz morada da vida eterna”.

É autêntica a Bula chamada Sabatina? – A autenticidade desta Bula é incontestável.

Explicação: Esta Bula, publicada em 1322, encontrou-se no Bullario dos Carmelitas. Em 1409, renovou-a Alexandre V e inseriu-a na que publicou a este respeito. Passado um século, em 1520 e 1538, renovou Clemente VII as Bulas de João XXII e de Alexandre V. Depois foram confirmadas por alguns outros Sumos Pontífices, e principalmente, por Paulo V, que, por ocasião de várias contestações que se levantaram, minou toda a questão com o seguinte Decreto:

Podem os fiéis crer piamente, que a Bem-aventurada Virgem Maria os protegerá depois da morte, e sobretudo, ao sábado, se durante a vida trouxerem o Santo Escapulário, guardarem a castidade própria do seu estado, recitarem o pequeno Ofício, ou não podendo, observarem os jejuns da Igreja e abstinência nas quartas-feiras, além das sextas-feiras e sábados, exceto o dia de Natal, se cair num daqueles dias”.

As lições do Segundo Noturno da festa de Nossa Senhora do Carmo, no Breviário Romano, são conformes com este Decreto. Lê-se nele, que os confrades, que tiverem praticado durante a vida as obras pias prescritas, são socorridas, o mais breve possível (quantocius), depois da morte, pela Santíssima Virgem, que os fará sair do Purgatório, e entrar na feliz morada da glória, segundo uma piedosa crença (ut pie creditur).

Qual é o sentido da promessa que a Santíssima Virgem fez de que irá livrar do Purgatório os confrades do Escapulário no sábado seguinte à sua morte? – O sentido desta promessa, é que a Santíssima Virgem, no dia que lhe é especialmente consagrado, descerá ao Purgatório, por suas súplicas e intercessão, e obterá para os confrades do Escapulário, que lá se acharem, a remissão das penas (temporais) devidas aos seus pecados.

Explicação: Deve admitir-se, uma contínua descida da Santíssima Virgem ao Purgatório todos os sábados, para livrar das suas penas os filhos do Carmo? De certo, nada há aqui impossível; mas não é neste sentido tão literal, que os Carmelitas entendem as palavras da Santíssima Virgem ao Papa João XXII. Eles pregam e nunca deixaram de pregar, que Maria descia ao Purgatório por suas orações e intercessão. É no mesmo sentido, que se diz na Sagrada Escritura, que Deus desceu ao Egito para livrar o seu povo.8 Se, porém, alguém devesse descer em pessoa ao Purgatório para tirar dali os filhos do Carmo, seriam o Espíritos Celestes, esses Ministros de salvação sujeitos às ordens da Rainha dos Anjos e dos Homens. – Vê-se em Roma, no Convento dos Carmelitas de S. Martinho do Monte, junto do altar da Virgem, um quadro, que representa a Virgem no seu trono, e os Anjos retirando do meio das chamas as Almas dos Confrades do Carmo. – Pode-se considerar este livramento como um verdadeiro jubileu, que a Santíssima Virgem obteve de seu Divino Filho, cada semana, sobretudo ao sábado, em benefício dos filhos do Carmo, que coroaram a sua vida verdadeiramente cristã com uma santa morte. Como Mãe de Deus, Maria faz todas as semanas do alto do Céu, em virtude do imenso valimento que goza junto do seu Filho, o que fazem os Sumos Pontífices na terra, de vinte e cinco em vinte e cinco anos, em virtude do Poder das Chaves. O que há, que seja superior ao poder de Maria? Não a chama a Igreja de a Mãe da Divina Graça, a Porta do Céu?9

Basta receber o Escapulário e trazê-lo sempre ao pescoço, para se ter direito ao privilégio sabatino? – Para ter direito ao privilégio sabatino, isto é, para ser livre do Purgatório, no primeiro sábado depois da morte, não basta receber o Escapulário e trazê-lo sempre ao pescoço; é necessário também cumprir as condições impostas pela mesma Santíssima Virgem e reveladas a João XXII.

Explicação: Essas condições são: 1º) guardar a castidade própria do seu estado; 2º) recitar todos os dias o Ofício canônico, ou o pequeno Ofício de Nossa Senhora. As pessoas, que não sabem ler, devem suprir a segunda condição, não faltando a nenhum jejum prescrito pela Igreja e comendo peixe às quartas-feiras, além das sextas-feiras e dos sábados, exceto no dia de Natal, se ocorrer num desses dias. O pequeno Ofício da Santíssima Virgem deve recitar-se, como se acha no Breviário Romano, não havendo privilégio pessoal ou local.

Podem comutar-se as obrigações, de que acabamos de falar? – Podem em alguns casos.

Explicação: Não se trata aqui da obrigação de guardar a castidade própria do seu estado; porque é evidente, que em nenhum caso pode ser dispensada nem comutada.

As pessoas que sabem ler, e que se acham impossibilitadas de recitar cada dia o Ofício da Santíssima Virgem, são disso dispensadas; mas a Igreja aconselha, que peçam a decisão ao Confessor, a fim de obterem dele uma certa comutação. O Confessor pode, por exemplo, fazer consistir esta comutação na recitação diária da Ave, maris stella, do Magnificat, e da Salve Regina, que fazem parte do Ofício dos Carmelitas.

As pessoas que não sabem ler e estão legitimamente impedidas de jejuar ou guardar a abstinência, etc., podem fazer comutar esta obrigação em alguma obra pia; como ouvir Missa às quartas-feiras, visitar nesses dias o Santíssimo Sacramento, dar esmolas, etc. Os Confessores Carmelitas podem comutar as obrigações acima expostas; mas não os outros Sacerdotes que receberam a faculdade de benzer e impor o Escapulário. Segundo uma decisão da Sagrada Congregação das Indulgências, datada de 22 de junho de 1842, é preciso pedir e ter um especial poder para comutar as obrigações comutáveis do Escapulário; por consequência, não basta estar autorizado para admitir na Confraria.10

Não autorizou Deus com milagres a Confraria do Santo Escapulário? – Sim; Deus autorizou com brilhantes milagres a Confraria do Santo Escapulário.

Explicação: São numerosos estes milagres; referiremos aqui alguns deles.

Durante o cerco de Montpellier, no tempo de Luís XIII de França, o senhor de Beanregard, oficial cheio de bravura, recebeu no peito duas balas, que depois de penetrarem os vestidos se amassaram sobre o Escapulário de Nossa Senhora do Carmo, que ele trazia, e pararam, sem lhe causarem dano. O próprio rei foi testemunha deste milagre. – Em 1751, foi aberto em Bordeus o túmulo da senhora Luc, americana, falecida vinte anos antes, e encontrou-se intacto o Escapulário, com que fora sepultada; enquanto que o seu corpo estava reduzido a pó. – Mons. Coislin, Arcebispo de Besançon, fala em uma das suas Pastorais, publicada em 1720, de um Escapulário que lançado sobre um violento incêndio, o extinguiu imediatamente, e foi retirado do meio das chamas sem o menor dano.

Poderíamos ainda citar muitos outros fatos não menos notáveis.

Não instituiu a Igreja uma festa da Confraria do Escapulário? – Sim; a Igreja instituiu uma festa da Confraria do Escapulário.

Explicação: A festa do Escapulário, ou de Nossa Senhora do Carmo, celebra-se a 16 de julho. A Igreja instituiu-a para aumentar a devoção dos fiéis para com a Santíssima Virgem, para a honrarem, e merecerem a sua especial proteção.

Podem os confrades do Escapulário agregar-se a outras Confrarias? – Sim, podem.

Explicação: Ainda que sejam membros da Confraria do Escapulário, podem os fiéis agregar-se a outras Confrarias e alcançar as indulgências que lhes são anexas, contanto que cumpram as condições prescritas. Tal é o sentido de uma resposta do Padre Jerônimo da Conceição, Geral da Ordem dos Carmelitas, datada de 26 de fevereiro de 1841, e de outra da Sagrada Congregação das Indulgências, de 20 de maio do mesmo ano.11

Pode o altar da Confraria servir para outras Confrarias? – Sim; posto que seja mais conveniente, que cada Confraria tenha o seu altar próprio.

Explicação: É o que resulta de uma decisão da Sagrada Congregação das Indulgências, datada de 20 de maio de 1841. – Segundo uma resposta do Padre Jerônimo da Conceição, deve o altar assinado à Confraria do Escapulário ser dedicado somente a Nossa Senhora do Carmo, e é nesse altar que devem de preferência benzer-se os Escapulários.12

De que idade podem os fiéis receber o Escapulário? – Os fiéis podem receber o Escapulário, seja qual for a idade que tiverem.

Explicação: Podem os fiéis receber o Escapulário de toda a idade, até mesmo imediatamente depois do Batismo,13 sobretudo em ocasião de perigo grave, como o recebeu Luiz XV, rei de França, da mão do Padre Diniz Duffand. É, porém, mais prudente recebê-lo na idade da discrição, por exemplo, na Primeira Comunhão. Obra-se então com mais discernimento, e é menos de recear, que se venha a afrouxar no serviço de Maria Santíssima.

O Escapulário, de que até agora temos falado, chama-se Escapulário de obrigação, porque é necessário trazê-lo para lucrar as indulgências e participar dos privilégios anexos à Confraria. – Há outro Escapulário, chamado de devoção, e que se pode, sem o menor inconveniente, dar às crianças logo depois do Batismo, porque não impôs outra obrigação que a de o trazer o tempo que os pais quiserem. Com efeito, há pais piedosos, que cheios de amor e reconhecimento para com Maria, apresentam os seus filhos ante o seu altar, e lhes impõem um Escapulário bento, que eles deverão trazer seis meses ou um ano, para lhes atrair a especial proteção da Imaculada Virgem do Carmo.


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Fonte: Catecismo: Explicação Histórica, Dogmática, Moral, Litúrgica e Canônica – Com respostas às objeções extraídas das Ciências contra a Religião, Tomo IV, terceira edição portuguesa, Lição XLVI, Artigo III, pp. 409-420. Livraria Chardron, Porto. 1903.

1.  Congregatio indulgentiis sacrisque reliquiis praeposita in una Ambianensi sub die 6 aug. 1841, proposito dubio. – An fideles dispensari possinte ab obligatione vescendi ut dicitur dimagro feria IV cujus libet hebdomadae, quae praescripta et gestantibus sacrum scapulare? Respondit: Accedente gravi impedimento, non tenere confratres neque ad jejunium, neque ad recitationem horarum canonicarum, aut officii parvi B. M. V., neque ad abstinentiam diebus mercurii et sabbati; consulendi tamen fideles ut hoc in casu se subjiciant judicio docti et prudentis confessarii pro aliqua immutatione impetranda. In quorum fidem etc.

2.  José d’Antiochia, escritor do século II, e João IV, Bispo de Jerusalém, no século VI.

3.  Manual do Escapulário, por M. Sambucy.

4.  Dubium I. Utrum color caeruleus sit color necessarius in scapulari beatae Immaculatae Virginis? – Dubium II. Utrum qui scapularia montis Carmeli et Immaculatae Conceptionis accepit, utrumque gestare debeat? Affirmative. (S. Congr. Indulg. Die 11 febr. 1840).

5.  Dubium. An ad lucrandas indulgentias sacri scapularis necesse sit ut una ab humeris, altera in pectore dependeat; an vero sit sufficiens illud deferre absque distinctione circa modum? – Resp. Affirmative quoad primam partem; negative quoad secundam.(S. Congregaçãodas Indulg. Die 12 febr. 1840).

6.  Licet valida sit receptio personarum ad S. Scapulare cum habitu funiculo commendato, qui solum ante pectus pendeat, tamen, ut sic admissi gaudeant privilegiis et indulgentiis S. Scapularis, debent illud supra pectus aeque ac supra humerus pendulum gestare. (Resposta do P. L. Calamata, Geral dos Carmelitas, de 7 de maio de 1833).

7.  Manual do Escapulário, pelo Abbade Sambucy.

8.  Êx. 3, 8.

9.  Dissertação sobre a Bula Sabatina, pelo Padre Agostinho Lesbaseilles; Lyon, 1834.

10.  A Santa Sé dignou-se confirmar tudo o que irregularmente se havia feito, mas de boa fé, antes de 22 de junho de 1842.

11.  Idem vir potest ne aggregari multis sodalitatibus et lucrari indulgentias uniculque concessas, dummodo conditiones praescriptas adimpleate? – Resp. Affirmative. (Datum ex secretaria S. Congr. Indulg., die 29 maii 1841).

12.  Altare, assignalum, sodalitati, dedicatum esse debet tantum modo SS. Virgini de monte Carmelo, fieri potest. (Resp. De Fr. Jeronymo da Conceição, de 26 de fevereiro de 1841. – S. C. Indulg. Die 20 maii 1841).

13.  Quanquam… possunt rite admitti recepto statim baptismatis Sacramento. (Resp. Do Padre Calamata, de 7 de maio de 1838).


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