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"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

sexta-feira, 8 de setembro de 2023

O NASCIMENTO DA VIRGEM MARIA.


Naquele tempo vivia em Nazaré, pequeno burgo da Galileia, uma Virgem donzela da tribo de Judá, parenta chegada de Isabel e Zacarias. Chamava-se Maria.

Tudo o que os homens sabiam d’Ela, era que sob um exterior singelo e modesto ocultava um nascimento ilustre. Por parte de seu pai Joaquim pertencia à casa real de Davi, e pela de sua mãe Ana, à família sacerdotal de Aarão. Depois da queda da antiga dinastia, os seus antepassados, despojados da sua alta dignidade e fortuna, e perseguidos, como pretendentes perigosos, pelos novos senhores da Judeia, tinham procurado na obscuridade o repouso. Desconhecidos ao sombrio Herodes, e ocultos num valesinho solitário, Joaquim e Ana lá viviam em paz dos frutos dos seus rebanhos, bastante ricos, apesar da sua decadência, para aliviar os indigentes e oferecer abundantes vítimas sobre o altar de Javé.

E contudo, decorriam-lhes os dias na tristeza, porque se recusava o Céu a abençoar-lhes com prole a sua união. Como a mãe de Samuel, cujo nome gracioso tinha, suplicava Ana ao Senhor, que lhe pusesse termo à esterilidade; Joaquim juntava as suas preces às da desolada esposa, mas parecia que Deus se comprazia em exercitar-lhes a paciência. E contudo, por causa da sua perfeita virtude, tinha-os Deus escolhido para executar o mais admirável desígnio de quantos concebera. No momento em que os dois esposos perdiam de todo a esperança, deu-lhes o Senhor uma filha, que havia de ser eternamente a sua glória e a honra da nação.

Esta criatura bendita, colocara-A Deus em Seus eternos decretos acima de toda a criatura, acima dos reis e rainhas, que no decorrer dos séculos representariam o Seu divino poder; acima dos Santos, nos quais resplandeceriam com maior brilho as Suas perfeições infinitas; acima até dos Nove Coros de Espíritos gloriosos que Lhe rodeiam o trono. Eva no Paraíso terrestre, parecia-lhe menos pura, Ester menos amável, Judite menos forte e menos intrépida.



Ao criar esta Virgem, fez um milagre, com que não favoreceu nenhum outro filho de Adão. Posto que saída de uma raça manchada desde o princípio, preservou-A do Pecado Original. A torrente lodosa que vai rolando suas ondas por cima de todo o homem que vem a este mundo, deteve-se no momento da sua Conceição; e pela primeira vez, desde o naufrágio do gênero humano, descobriram os Anjos sobre a nossa terra uma criatura imaculada. E por isso, num santo arroubamento exclamaram:

Quem é esta mulher, formosa como o sol, radiante como o astro das noites?”1

Ana e Joaquim receberam com gozo esta filha privilegiada de Deus, cujo glorioso Nascimento haviam de celebrar à porfia os Anjos e os Homens. Não conheciam os pais toda a grandeza do tesouro confiado aos seus cuidados, mas bem cedo observaram que a celeste Menina em nada se parecia com nenhuma outra criança da terra. Antes de poder articular palavra, já a razão presidia a todos os seus atos e até nos movimentos mais instintivos nunca obedecia às tendências desordenadas que germinam em todos os corações, infeccionando-os. Maravilhados com os dons que Deus prodigara àquele Anjo da terra, Ana e Joaquim prometeram consagrar-lhe a infância ao serviço particular do templo. E de fato, apenas terminava o seu terceiro ano de vida, levaram-Na para a Cidade Santa, a fim de A apresentar ao Senhor. A Menina subiu gozosa os degraus do templo, contentíssima de se encontrar na Casa de Deus, cujo amor era o que só fazia bater-lhe o Coração. Ali nos aposentos vizinhos do Santuário, no meio das suas piedosas companheiras viu Ela passar demasiado rápidos os belos dias da juventude. As suas ocupações consistiam na meditação dos Livros Santos, e em confeccionar os ornamentos destinados ao culto divino e em cantar os louvores de Javé. Por vezes com o rosto voltado para o Santo dos Santos, tomava do seu avô Davi os cantos inspirados e com um Coração mais ardente que o do Santo rei, repetia Ela esta letra de amor:

Senhor, quão amáveis são os vossos tabernáculos! Um dia passado em vosso templo vale mais do que mil nas tendas dos pecadores”.2

A hora dos sacrifícios, quando o sacerdote imolava a vítima sobre o altar dos holocaustos, suplicava Ela a Javé que aceitasse pela salvação do povo aquele sangue de expiação e que enviasse, enfim, o Messias prometido a seus pais. Era o seu único desejo ver com os seus olhos e venerar a mulher bendita que O havia de dar ao mundo. Com diferença das filhas de Israel, das quais cada uma aspirava à honra de vir a ser a mãe do Libertador, Maria julgava-se indigna deste inefável privilégio. Um dia até, impelida pelo Espírito de Deus, renunciou a ele por um voto solene. Esquecendo-se de que vivia num corpo de carne, elevou-se até aos Anjos do Céu, e prometeu ao Senhor de não ter outro esposo mais que a Ele.


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Fonte: Rev. Pe. Berthe, CSS.R., “Jesus Cristo – Sua Vida, Sua Paixão, Seu Triunfo”, Livro 1º, Cap. II, pp. 21-23. Tradução do Francês. Estabelecimentos Benzinger & Co. S.A., Einsiedeln/Suíça, 1925.

1.  Cânt. 6, 9.

2.  Salm. 83, 2.


A NATIVIDADE DA SANTÍSSIMA VIRGEM MARIA.


É hoje o dia do Nascimento da Santíssima Virgem Maria, canta a Igreja: Nativitas est hodie Sanctae Mariae Virgines. Celebremos este dia, acrescenta Ela, com toda a solenidade possível: Nativitatem hodiernam solemniter celebramus, celebremo-lo com alegria: cum jucunditate. O vosso Nascimento, ó Virgem, Mãe de Deus, encheu de alegria todo o Universo: Nativitas tua, Dei Genitrix Virgo, gaudium anuntiavit universo mundo. O Céu fez-nos hoje um presente magnífico e de um valor inestimável, diz São Bernardo: Pretiosum hodie munus coelum nobis largitus est. É propriamente neste dia que as espessas trevas, em que o mundo estava sepultado havia mais de cinco mil anos, começavam a desaparecer pelo Nascimento desta brilhante Aurora, esperada desde muito, e desde muito o objeto do desejo dos mais Santos Patriarcas e Profetas.

Celebremos todos o Nascimento da Mãe de Deus, exclama São João Damasceno, pelo qual o gênero humano foi restaurado, e trocou em alegria a tristeza que Eva, nossa primeira mãe, nos causou”. Assim como a aurora é o fim da noite, diz o Abade Ruperto, assim este dia natalício foi o fim de nossos males, e o começo de uma felicidade bem consoladora: Sicut aurora finis praeteritae noctis est, sic nativitas Virgínis finis dolorum et consolationis fuit initium. Que alegria mais pura, mais santa e mais plena, que aquela que este dia feliz inspira à Igreja, pelo Nascimento d’Aquela que os oráculos dos Profetas tinham anunciado, diz São Jerônimo: Viticinium Prophetarum. Nascimento que é o penhor das divinas Promessas, diz São João Damasceno: Pignus promissionis; e como que a segurança e o voto do futuro nascimento de um Deus.

Todos os séculos desde a criação do mundo pareciam disputar entre si, diz São João Damasceno, qual deles teria a glória de ver o feliz Nascimento da Santíssima Virgem: Certabant saecula quodnam ortu Virginis gloriaretur. Era tempo, enfim, determinado desde toda a eternidade nos segredos da sabedoria divina; esse tempo tão desejado e por tanto tempo esperado, chegou.

Segundo a opinião mais provável, a Santíssima Virgem nasceu em Jerusalém.

Nunca houve nascimento mais ilustre quer pela nobreza do sangue de seus pais, quer pela santidade e mérito desta Menina, que ao nascer, se tornou o objeto da consolação de todo o Universo e a admiração de toda a corte celestial. Seu pai, São Joaquim, era de sangue real, descendente de Davi. Este ramo de família real era originário da Judeia, mas pobre de bens de fortuna, por singular providência de Deus, que não queria que os próximos parentes do Salvador fossem de condição diversa da Sua.

Santa Ana, sua mãe, era filha de um sacerdote de Belém, da tribo de Levi, e da família de Aarão, a qual entre os judeus era a família sacerdotal. De sorte que a família real e a sacerdotal se achavam reunidas em Maria, sua filha. Jamais, diz São João Damasceno, se tinham visto dois esposos mais unidos: gênio, sentimentos, inclinações, tudo indicava que tal casamento fora obra de Deus. Como Deus era o único objeto de todos os seus anelos, e como o seu coração suspirava ardentemente pela vinda do Messias, passavam os dias no retiro e na oração. Eram dois astros brilhantes, diz Santa Brígida, que muito embora ocultos em uma vida obscura, não deixavam de ofuscar os mesmos Anjos por seu esplendor, e de encantar o Céu por sua piedade e pureza, fora do comum.

Havia muitos anos que Joaquim e Ana viviam nesta doce paz e união, e em todos os exercícios pios que tanto edificavam, quando o Senhor quis fazer brotar este rebento misterioso da vara de Jessé, de que fala Isaías, e mostrar, enfim, esta Aurora tão esperada, que devia preceder de perto o divino Sol, que era o Messias. É sentir comum dos Padres, que São Joaquim e Santa Ana iam já adiantados em anos sem terem sucessão e sem esperança de a terem.

Esta esterilidade, que era olhada então como uma maldição de Deus e como a mais ignominiosa desgraça que podia cair sobre uma família, porque lhe roubava toda a esperança de parentesco com o Messias prometido; esta esterilidade desde muito que era uma humilhação para São Joaquim e Santa Ana, e como a idade lhes tinha arrebatado toda a esperança de ter filhos, contentavam-se em derramar o seu coração na presença de Deus, e submissos à Sua vontade, não pediam senão o que fosse para sua maior glória. Crê-se que os dois castos esposos tiveram revelação de Deus que lhes fazia saber que deles nasceria uma filha, que seria bendita entre todas as do seu sexo e da qual Deus se queria servir para salvação de Israel.

Tiveram a Santíssima Virgem, que nasceu miraculosamente, diz São João Damasceno, de mãe estéril; e que depois de haver livrado por seu Nascimento a seus pais da ignomínia da esterilidade, os tornou as duas pessoas do mundo mais venturosas e respeitáveis. Quid autem est, diz este Santo, cur Virgo Mater ex esterili orta sit? mas porque é que esta Virgem Mãe nasceu de mãe estéril? É porque era necessário que, responde ele, o que era tão novo debaixo do sol, só por via extraordinária acontecesse, e que Aquela que era o mais insigne dos milagres nascesse miraculosamente: Quoniam scilicet oportebat ut ad id quod solum sub role novum erat ac miraculorum omnium caput via per miracula sterneretur. Era justo que a natureza cedesse à graça e que lhe deixasse toda a glória do seu fruto. A Virgem, Mãe de Deus, disse este Padre, devendo nascer de Santa Ana, a natureza não ousou por motivo de respeito concorrer para o que devia ser obra da graça; como que se deteve para deixar à graça todo o vagar de produzir o seu fruto.

É fácil de compreender qual não seria a alegria deste pai afortunado, desta feliz mãe, no momento em que esta ditosa Menina veio ao mundo. Iluminados por luz sobrenatural, compreenderam que Deus a formara para Si e que eles apenas eram os depositários. Um nascimento tão extraordinário foi para eles presságio certo do mérito e da excelência desta Santa Menina. Ó felizes pais, exclama São João Damasceno, que tiveste a ventura de dar ao mundo uma Virgem, que será ao mesmo tempo Mãe de Deus, sem deixar de ser filha vossa: Virginem enim Dei matrem mundo peperistis: Feliz o ventre, Virgem Santa, que Vos trouxe, e felizes os peitos que Vos alimentaram! Que todos os fiéis se apressem, exclama o devoto Sérgio de Hierápolis, a vir saudar esta Menina que acaba de nascer, porque antes do seu Nascimento estava já predestinada para ser a Mãe do seu Deus; e com Ela o mundo renasce e se renova.

Vinde, povos, vinde nações de qualquer clima que sejais, exclama São João Damasceno, vinde vós de qualquer idade e condição que sejais, vinde celebrar o Nascimento desta Virgem, com a qual nasceu nossa salvação”. Houve jamais um tão digno motivo de alegria? E em que dia deve afirmar-se mais a nossa alegria, pois que se pode dizer com Santo Ildefonso, que foi na Natividade da Virgem que de alguma sorte começou o feliz Nascimento de Jesus Cristo? In Nativitate Virginis felix Christi est inchoata Nativitas. Deus não tinha até aqui olhado a terra senão como um país de lágrimas, destinado para habitação de criminosos; mas desde o momento que Maria aparece no mundo, Deus vê já um objeto que muito Lhe agrada para se mostrar sempre irritado.

Alguns dias depois deste fausto Nascimento, levaram seus pais esta Santa Menina ao templo, onde depois das orações rituais se Lhe deu o Nome de Maria. Santo Ambrósio, São Bernardo e muitos outros Santos Padres asseveram que este Nome Lhe foi dado pelo Céu como o mais próprio para significar a grandeza, a dignidade e a excelência da Virgem, e que por isso foi revelado a Santa Ana e a São Joaquim. Dignitas Virginis annunciatur ex nomine, diz São Pedro Crisólogo.

Podemos colocar a tratos a imaginação, e esgotar todos os artifícios e segredos da eloquência para tecer magníficos elogios ao Nascimento dos príncipes; que há com efeito que dizer de uma criança que acaba de nascer? Louvar a sua nobreza é elogiar os seus avós. Não há assunto mais estéril do que sua pessoa nestes primeiros momentos. Quanto ao futuro tudo o que decerto pode prever-se é que terá de estar sujeito a grandes misérias. Não se sabe se será bom ou mau, engenhoso ou imbecil; ainda não fez coisa alguma, e não se sabe o que fará; outro tanto não se pode afirmar de Maria. Maria vem ao mundo cumulada de merecimentos, e sabemos que infalivelmente há de encher o mundo de bênçãos e de felicidade.

Não sofre dúvida, que a Alma da Santíssima Virgem, não seja depois de Jesus Cristo, a mais bela que foi criada; e pode afirmar-se que de todas as obras do Criador, foi a mais excelente: Opus quod solus opifex supergreditur, diz São Pedro Damião. A beleza do corpo era proporcionada à sua Alma. Sabe-se que, desde o momento em que esta bela Alma foi unida ao corpo, aquela foi santificada, e este prestou desde logo os seus órgãos para as operações da vida racional. Maria concebida sem pecado, recebeu desde o primeiro momento da Sua vida com a graça santificante o perfeito uso da razão. Desde então o Seu espírito foi esclarecido com todas as luzes da sabedoria e enriquecido de todos os conhecimentos morais e naturais. Mas qual foi a medida desta graça; e qual o primeiro emprego desta razão tão esclarecida? Esta graça foi tão abundante, que São Vicente Ferrer assegura que excedeu a de todos os Santos e de todos os Espíritos Celestiais: Virgo sanctificata fuit in utero super omnes sanctos et omnes angelos.

Desde este primeiro momento em que todos os Santos foram aos olhos de Deus um objeto de horror, Maria o foi de admiração para as celestiais inteligências, e a Bem-amada de Deus. Eis aí qual foi a Virgem Santíssima desde o primeiro instante da sua Conceição. Este fundo de graças e de luzes, de sabedoria e de virtudes, crescendo a cada instante, calculemos, se é possível, qual seria o tesouro de merecimentos de que se achou enriquecida no dia do seu Nascimento. Que assunto mais digno de nossas admirações, respeitos e elogios, e digamos também e do culto de toda a Igreja, que o Nascimento desta Santíssima Menina! Não há que surpreender se passados quinze anos, o Anjo a saúda cheia de graça.

Santo Epifânio diz, que esta graça foi imensa; Santo Agostinho, que foi inefável. São João Crisóstomo chama a Maria, Tesouro de toda a graça. São Jerônimo diz, que a graça fora difundida toda em seu seio; e São Bernardino de Sena ousa mesmo afirmar, que Ela recebera toda a que é possível dar-se a uma pura criatura: Tanta gratia virgini data est, quanta uni et purae creaturas dari possibili est.

Se os povos costumam testemunhar tão grande alegria, quando nascem os filhos do soberano, porque lhes nascem reis e senhores, haverá motivo para espanto quando se diz que o Nascimento de Maria encheu de alegria o Céu e a terra, como canta a Igreja. Ela deve ser a Rainha dos Anjos e dos homens, a nossa única esperança junto de Jesus Cristo, como diz Santo Epifânio; nossa Mediadora junto do Mediador, São Bernardo; o Remédio de todos os nossos males, diz São Boaventura; a nossa Paz a nossa Alegria, a nossa boa Mãe, diz Santo Efrém; enfim, a nossa glória, a nossa consolação, a nossa vida.

Maria é oriunda de Patriarcas e Reis; mas o que a exalta aos olhos de Deus, não é o esplendor de Suas dignidades, nem o Seu poder, nem as Suas brilhantes ações; a santidade que fez a dita de Sua Conceição, faz só também a ventura e a glória do Seu Nascimento. Ela nasce, não como os grandes do mundo no esplendor, não como os reis da terra no meio das pompas e do fausto do século; mas sem essas magnificências, sem esse brilho mundano; e não obstante, por obscuro que pareça esse Nascimento, é preferível ao dos grandes e dos reis. Todos estes foram concebidos em pecado, todos nasceram no ódio de Deus e filhos da ira; Maria, ao nascer, é o objeto das mais abundantes bênçãos, e enriquecida de todos os dons do Seu espírito; eis o que faz a Sua verdadeira grandeza, e é assim que o Rei da glória honra Aquela que Ele quer honrar.

Crescei, Santa Menina, crescei para glória de Deus, que Vos fez nascer, e para nós, em favor de quem nascestes. Algum dia dareis Vós Nascimento ao mesmo Deus, de quem agora o recebeis. Crescei pois para Lhe preparardes um digno Tabernáculo. Quando se encerrar em vosso preciosíssimo ventre, conferir-Vos-á o mais Augusto caráter, elevando-Vos à Maternidade Divina.

Vivei e crescei para dignidade tão eminente e para o maior e mais glorioso destino. Por vosso intermédio, quer vir a nós para nos libertar da escravidão. Vivei e crescei para nossa salvação, e para que, nascendo de Vós o nosso Salvador, fiqueis constituída Mãe de todos os fiéis.

Admirar-nos-íamos justamente de que uma Festa tão santa e que tanto nos interessa não se celebrasse na Igreja desde os primeiros séculos, se não soubéssemos a razão que tiveram aqueles primeiros fiéis, sem dúvida mais devotos de Maria e de Seu culto do que nós, para não darem aos gentios e às nações grosseiras, educadas na idolatria, motivo de crer que os cristãos adoravam como deusa a Mãe de Deus. Este o motivo que naqueles nebulosos tempos impedia os fiéis de mostrarem o seu zelo pelo culto da Virgem em festas ruidosas e solenes, contentando-se de Lhe renderem seus respeitos reverentes, uma terna devoção e culto reservado.

Mas logo que a Igreja gozou de paz, e que os Pastores puderam instruir publicamente os rebanhos, floresceu em todo o mundo cristão o culto público e solene da Santíssima Virgem, celebraram-se com pompa e solenidade os Seus principais Mistérios; Solenizaram-se as Suas festas com magnificência; concordaram gregos e latinos neste ponto da Religião, não obstante o desgraçado cisma; o Nascimento da Santíssima Virgem foi uma das principais festas entre os cristãos.

Creio firmemente com toda a Igreja, que, tendo sido santificada no ventre de sua mãe, é objeto digno do nosso culto desde o primeiro instante em que nasceu.


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Fonte: Pe. Croiset, S.J., “Ano Cristão”, Vol. IX, pp. 92-97, 08 de Setembro; Tradução do Francês pelo Pe. Matos Soares, Porto, 1923.


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