Coração
de Jesus,
Amigo
das Almas Castas.
O
Coração de Jesus consagra afeto especial às virgens e almas puras;
elas Lhe são tão caras como os Anjos. Tais são os atrativos da
virtude da castidade; também, diz Santo Ambrósio, aquele que a
guarda, é um Anjo, aquele que a perde, é um Demônio.
Uma alma casta é a esposa predileta do Coração de Jesus: Eu
prometi a Jesus Cristo, diz São
Paulo, apresentar-lhe vossas almas como esposas castas.
Escrito está que o Esposo
divino se nutre entre os lírios.
Estes lírios são as almas que se conservam puras para agradar a
Deus. Um intérprete nota sobre esta passagem dos Cânticos, que,
como o Demônio se sustenta das manchas da impudicícia,
assim o Coração de Jesus se nutre dos lírios da castidade.
Esta
virtude, alcançada em grau supremo, é que formou a união mais
íntima entre Jesus e Maria, a Virgem das virgens. Esta união de
amor foi tal, que, como Maria mesma revelou a Santa Brígida, seu
Coração não formava senão um com o Coração de Jesus.
Esta Virgem incomparável pareceu tão bela aos olhos do Senhor, que
Ele ficou arrebatado por sua beleza, e por isso lhe chama Sua
única columba, Sua única perfeita.
Quanto mais um coração é puro,
diz Alberto o Grande, tanto mais se enche de amor divino.
Daí vem que o amor sagrado feriu e transpassou de tal modo o Coração
de Maria, que não ficou parte alguma dele que não fosse abrasada.
São Bernardo atesta que Ela nunca foi tentada pelo Inferno; porque,
diz ele, como as moscas afastam-se de um fogo grande, assim
os Demônios eram repelidos para longe do Coração de Maria, que era
uma chama de caridade tão intensa, que eles não ousavam
aproximar-se Dela. Seu sono
mesmo não A impedia de amar a Deus atualmente. Ela podia então
dizer com Seu divino Filho: Eu durmo e meu Coração vela,
meu Coração ama, meu Coração não cessa de ser unido ao Coração
de meu Amado. Ó efeitos admiráveis da pureza!
A
grande pureza de São José é que lhe mereceu a glória incomparável
de ser escolhido para pai nutrício de Jesus; sua pureza mereceu-lhe
a felicidade de viver na intimidade do Filho de Deus, de ser
ternamente amado por Ele, de poder tantas vezes estreitar sobre seu
coração o Coração ardente de Jesus Cristo. Ah! Que afetos deviam
penetrar o coração de São José, quando levava em seus braços
este amável Menino, e Lhe fazia ou recebia ternas carícias, e ouvia
sair de Sua boca as palavras de vida eterna, que, como outros tantos
dardos inflamados, abrasavam sua bela alma! Entre as pessoas que
se amam, muitas vezes o amor esfria à medida que a frequência é
maior, porque quanto mais os homens conversam, tanto mais descobre um
os defeitos do outro. Isto não sucedia com São José: quanto mais
ele conversava com Jesus, mais admirava sua santidade, e quanto mais
O admirava, mais O amava. Ele teve o favor inefável, depois de ter
apertado a Jesus tantas vezes contra seu coração, de exalar o
último suspiro nos braços e sobre o Coração de Jesus. Tais foram
as relações deste esposo virgem com seu Deus.
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São
João era o Discípulo amado de Jesus, porque primava na pureza. Na
última Ceia, ele teve a ventura de reclinar a cabeça
sobre o peito e o Coração do Seu divino Mestre.
Ó Discípulo de predileção, vós sentistes então toda a ternura
do Coração ardente de Jesus para com aqueles que O amam!… Se
queremos também tornar-nos caros ao Coração de Jesus e merecer
Suas ternas consolações, procuremos primar na castidade, sabendo
que todas as riquezas da terra não são nada em comparação
de uma alma casta.
Por ser maior o valor desta virtude, mais terrível é a guerra que a
carne faz ao homem para lhe arrebatar este tesouro. Para conservá-lo,
pois, é necessário empregar toda a vigilância possível.
Primeiro,
é necessário fugir da ocasião. Fugi do pecado,
diz o Espírito Santo, como se foge de uma serpente.
Não se contenta de fugir da
mordedura das serpentes; foge-se de seu contato, foge-se até de sua
vizinhança. Se pessoas há que podem ser para nós ocasião de
queda, devemos fugir até de sua presença e conversação. O casto
José não quis nem escutar o que a mulher de Putifar tinha começado
a lhe dizer: fugiu logo, persuadido que era perigoso parar para a
ouvir.
Importa
ainda, se queremos ser castos, fugir a ociosidade. O Espírito Santo
nos adverte que a ociosidade ensina a cometer muitos
pecados.
Mas diz Santo Isidoro, o trabalho amortece o fogo da
concupiscência.
Pratiquemos
além disto a humildade e mortificação. A carne que não é
mortificada, dificilmente se submete ao espírito. A castidade
conserva-se no meio das mortificações, como o lírio no meio dos
espinhos. Quanto aos orgulhosos, Deus os pune permitindo que caiam
nalguma falta vergonhosa: Priusquam humiliarer, ego
deliqui.
São Bernardo diz: Pela
humildade é que se obtém a castidade.
O
mais necessário, porém, é a oração. Cumpre orar e orar
continuamente; porque para praticar uma virtude qualquer, tem-se
necessidade da graça de Deus, e com muito mais razão é necessária,
para conservar a castidade, uma graça poderosa, vista a violenta
inclinação do homem para o mal. Assim, desde os primeiros assaltos
do vício impuro, é bom renovar o firme propósito de antes morrer
do que pecar, e imediatamente depois, é necessário refugiar-se nos
Corações de Jesus e Maria, invocando seus Santos Nomes. Assim é
que os Santos venceram todas as tentações de que foram acometidos.
Prática
Para
obter grande pureza, invocarei cada dia a São José pela seguinte
oração, que é chamada oração eficaz:
“São
José, pai e protetor das virgens, guarda fiel a quem Deus confiou
Jesus, a Inocência mesma, e Maria, a Virgem das virgens, eu vos rogo
e conjuro por Jesus e Maria, este duplo depósito que vos foi tão
caro, fazei que eu conserve meu coração isento de toda mancha, e
que, puro e casto, sirva constantemente a Jesus e Maria em castidade
perfeita. Assim seja”.
Afetos
e Súplicas
Terno
Redentor meu, eu Vos agradeço me terdes dado tantos meios para
vencer as tentações que me assaltam cada dia. Prometo praticar
estes meios constantemente; ajudai-me a Vos ser fiel. Vejo que
quereis minha felicidade eterna: eu também a quero, principalmente
para agradar ao Vosso Coração que deseja tanto a minha salvação.
Meu Deus, não quero mais resistir ao amor que me tendes. Por um
efeito deste amor é que me suportastes com tanta paciência quando
Vos ofendia. Vós me convidais a Vos amar: oh! Isto é o que desejo.
Sim, eu Vos amo, ó bondade suprema, eu Vos amo, Bem infinito; pelos
merecimentos do Vosso Coração não permitais que eu seja ingrato a
Vossos benefícios; ponde fim à minha ingratidão, ou à minha vida.
Senhor, o que haveis operado em mim, dignai-Vos confirmar e
completar.
Esclarecei-me, fortificai-me,
abrasai-me no Vosso amor. Ó Maria, tesoureira do Coração de Jesus,
proclamai-me Vosso servo; é o título que ambiciono, e rogai a Jesus
por mim. Após seus merecimentos, são Vossas orações que devem me
salvar.
Oração
Jaculatória
Bendita
seja a Santa e Imaculada Conceição da Bem-aventurada Virgem Maria!
Exemplo
Imelda
Lambertini nasceu em Bolonha, de uma família nobre. Desde o berço,
tudo nela anunciava alguma coisa de sobrenatural. Para parar suas
lágrimas, bastava pronunciar os nomes sagrados de Jesus e Maria.
Apenas terminada sua infância, ela fez para si um pequeno oratório
aonde ia frequentemente para rezar e oferecer a Deus seu coração
virginal. Desprezando o mundo, ela pedia a seus pais a permissão de
entrar para um convento da Ordem de São Domingos. Impossível
descrever suas mortificações, seu amor da oração, sua
generosidade em cumprir todos os seus deveres. Todos os seus afetos
eram para a Rainha dos Anjos e para a Eucaristia. Todos os dias ouvia
a Missa. Sua tenra idade não lhe permitia participar do banquete
sagrado, e isto lhe causava grande dor, porque seu coração vivia
abrasado no amor de Jesus. Ela não cessava então de convidar o
Esposo divino a vir morar em sua alma. O Coração de Jesus, que ama
sempre aqueles que O amam, dignou-se ouvi-la pelo prodígio que vamos
referir.
Era
o dia da Ascensão do ano de 1333; Imelda tinha então doze anos.
Enquanto suas companheiras, felizes e recolhidas, iam, cada uma a seu
turno, tomar lugar na mesa santa, só ela ficou ajoelhada no seu
lugar, chorando de santa inveja a pensar na felicidade das outras.
Seus olhos erguidos para o Céu, suas pequenas mãos cruzadas sobre o
peito, e segurando entre os dedos o crucifixo que nunca deixava, ela
dizia com a esposa sagrada:
“Vinde,
ó Amado da minha alma! Descei ao jardim do meu coração, que é
todo Vosso. Ou cessai de inclinar para mim Vosso olhar, ou deixai
minha alma voar para Vós. Arrastai-me para Vós: corra eu ao odor de
Vossos perfumes! Oh! Pudesse eu também Vos dar asilo e fazer-Vos
festa em meu coração! Ó Jesus, vinde, porque enlanguesço de amor
para Convosco!”
Mas,
Jesus não vinha. Sabendo que tudo é possível à oração, ela
orava e chorava ao mesmo tempo. De repente, uma hóstia sai do
Cibório, atravessa a grade do Coro, e voando pelo ar, pára acima de
Imelda. As religiosas, comovidas por este espetáculo, não ousavam
crer a seus próprios olhos; mas a ilusão não é mais possível: o
milagre persevera; uma claridade se espalha na igreja, acompanhada de
suave odor. O confessor, advertido deste prodígio, corre, e vendo
neste fato manifestação inequívoca de Deus, recolhe
respeitosamente sobre uma Patena a Santa Hóstia, e a dá em comunhão
à ditosa menina. Enfim, ela possui seu Deus, o único objeto de seu
amor!… Com as mãos cruzadas sobre o peito, os olhos suavemente
cerrados, a piedosa menina abisma-se em profunda e deliciosa
contemplação. Muito tempo suas irmãs admiram-na em silêncio, não
ousando interrompê-la. Afinal, chamam-na, sacodem-na, mandam que se
levante; Imelda, sempre tão pronta em obedecer, fica imóvel, ela
não ouve, não sente. Imelda, a amante da Eucaristia, não era mais
deste mundo… Ela tornou-se logo objeto da veneração pública.
Tendo sido operados muitos prodígios em seu túmulo, a Igreja
permitiu honrá-la sob o título de Bem-aventurada.
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Fonte: O
Sagrado Coração de Jesus, segundo Santo Afonso de Ligório, ou,
Meditações para o Mês do Sagrado Coração, a Hora Santa e a
Primeira Sexta-feira do Mês; coligidas
das Obras do Santo Doutor pelo Padre Saint-Omer, C.Ss.R., “A
Primeira Sexta-feira do Mês de Setembro”,
pp. 344-350.
5ª Edição Portuguesa, Tipografia de Frederico Pustet, Impressores
da Santa Sé. Ratisbona/Alemanha, 1926.