A conhecida revista francesa
“Famille Chrétienne”, em sua edição de 20 de junho último, publica
importante entrevista do Cardeal Burke, prefeito do Tribunal supremo da
Signatura Apostólica, o mais elevado e decisivo Tribunal da Santa Sé.
Nessa entrevista, feita pelo
jornalista Pierre de Calbiac, o Cardeal Burke, de origem
norte-americana, expõe a doutrina católica e a lei natural a propósito
de temas da maior atualidade, como a família, o aborto, a
homossexualidade, a proibição da comunhão a políticos abortistas e a
preservação moral das crianças.
Reproduzimos aqui a íntegra
dessa entrevista com tradução de Helio Dias Viana. Abaixo, o título, a
pequena introdução e as perguntas são da própria revista.
* * *
Cardeal Burke: “A Igreja Católica jamais aprovará as uniões homossexuais”
Pierre de Calbiac
(Tradução Helio Viana)
O cardeal Raymond Leo
Burke, prefeito do Tribunal supremo da Signatura Apostólica, esteve
presente nas jornadas Evangelium vitae, concluídas pelo Papa Francisco I
no dia 16 de junho em Roma. Ele exorta os católicos a se mobilizarem –
inclusive na rua se necessário – para defender a família e a vida.
A defesa da vida é um combate incessante para a Igreja, como o atesta, entre outros, a continuação das jornadas Evangelium vitae lançadas por João Paulo II. Onde se radica essa prioridade?
A lei que a Revelação nos deu nos ensina que o primeiro direito de um ser humano é de viver.
Esta verdade, que é a inviolabilidade de vida inocente, é tão mais
evidente quando se lembra que Cristo morreu por todos os seres humanos
sem exceção. Lembremos igualmente a parábola do juízo final: “O que fazeis ao menor dos meus é a mim que o fazeis”
(Mateus 25,40). Ora, aqueles que são vivos, mas ainda não nasceram, são
os menores. É por isso que a Igreja conclamará sempre a proteger a vida
inocente. Mais ainda, o primeiro preceito da lei natural é o de
promover e proteger a vida humana. Inscrito no coração de cada um, este
preceito é participado por todo mundo, seja qual for a sua orientação
espiritual.
Uma nota da Congregação para a
Doutrina da Fé, assinada pelo cardeal Ratzinger em 2004, indicava que
não se devia dar a comunhão a políticos católicos, homens e mulheres,
que defendessem publicamente o aborto. Ela está ainda vigente?
Inteiramente! Os
homens políticos que se dizem católicos, mas que defendem o aborto
pretendendo não querer impor suas convicções religiosas, estão no erro,
pois, como eu já o disse, a revelação divina não vem senão confirmar
aquilo que a lei natural acessível a todos já estabeleceu. E aqueles que
fazem abertamente a promoção do aborto não devem, portanto, ter acesso à
sagrada comunhão. Esta regra de disciplina canônica está prevista no
artigo 915 do Código de Direito Canônico. Os católicos devem saber manifestar sua oposição, inclusive na rua, quando necessário.
Qual é o papel da família no respeito pela vida?
A família tem o primeiro papel,
pois são os pais que devem ensinar os filhos a respeitarem a vida
humana e a si próprios. Em uma segunda etapa, a educação religiosa deve
preparar os filhos nesse sentido. Nesta ótica, a catequese é muito
importante. Durante os anos, a maneira de ensinar o catecismo às
crianças foi de tal maneira pobre que há uma necessidade de realizar um
verdadeiro trabalho nesse ponto. Espero que esse tempo em que a
catequese foi empobrecida acabou. Lembro-me de que quando eu era bispo
de uma diocese, tentei tanto que pude remediar esses problemas.
Vossa Eminência é o prefeito do
Tribunal supremo da Signatura Apostólica, que vela pela boa
administração da justiça eclesiástica. O que diz o ensinamento da Igreja
sobre as uniões homossexuais?
O ensinamento da Igreja é muito
claro. A união sexual é moral no âmbito do casamento, sendo ela a
expressão de um amor fiel, permanente e fecundo, isto é, procriador,
entre um homem e uma mulher. Uma nota da Congregação para a Doutrina da
Fé, aparecida em 2003 e assinada pelo Cardeal Ratzinger, então prefeito
dessa mesma congregação, condenava assim toda forma de legalização das
uniões homossexuais. A
natureza nos ensina que o homem e a mulher são feitos um para o outro. A
alteridade é uma condição necessária ao casamento. Cumpre, pois,
compreender que a Igreja Católica jamais aprovará as uniões
homossexuais, que não podem ser naturalmente procriadoras.
Na França, a lei que legaliza o casamento homossexual foi votada. O que os católicos devem fazer doravante?
Acompanhei o combate dos
franceses contra essa lei. Eu posso lhes dizer aqui: continuem a
manifestar, continuem a mostrar que essa lei é injusta e imoral. A
Igreja os apoiará nesse combate pela justiça. Eu incito assim os padres e os bispos a continuar nessa via e a manifestar sua oposição na rua se necessário. É importante que eles dêem o exemplo. Eu mesmo cheguei a manifestar, notadamente na Marcha pela Vida. Na Evangelium vitae, João Paulo II faz referência à desobediência civil, é nesse gênero de caso que devemos praticá-la. Os
pais têm igualmente um trabalho a fazer contra essas leis insidiosas.
Eles devem observar o que fazem seus filhos. O pior hoje é sem dúvida a
pornografia. Os pais devem prestar atenção principalmente quando os
filhos utilizam o computador e olham coisas cujos efeitos eles não medem
e que fazem muito mal.
Como preservar as crianças desses desvios de conduta quando exibidos na rua?
É preciso que os pais procurem
manter seus filhos longe de tudo isso e explicar-lhes o que é bem e o
que é mal. A escola é também um lugar no qual importa investir. É
necessário principalmente que o ensino católico seja ainda mais católico
do que o é atualmente.
http://www.comshalom.org/blog/carmadelio/34927-cardeal-burke-%E2%80%9Ca-igreja-catolica-jamais-aprovara-as-unioes-homossexuais%E2%80%9D