Blog Católico, para os Católicos

BLOG CATÓLICO, PARA OS CATÓLICOS.

"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

sábado, 20 de abril de 2019

O REDENTOR E A CO-REDENTORA, SE ENCONTRAM NUM PRODÍGIO DE AMOR E DOR.



Uma das dores mais cruciantes que suporta Jesus em Sua ida ao Calvário é, sem dúvida, o encontro com Sua Mãe Santíssima.1 Impelida pelo amor e acossada pela dor, vencendo todo obstáculo que lhe opõe a multidão de povo e os cordões dos legionários romanos,2 ei-la à porta da cidade, a espera que por lá passe o Filho querido. Chega-lhe aos ouvidos o clamor blasfemo do populacho embriagado de ódio; percebe o som baço das pancadas com que apressam a marcha dos condenados,3 até que O avista, curvo sob o peso da Cruz, cercado pelos ladrões, coroado de espinhos e arrastado pelos puxões e violentamente. Ah! Como, à tal vista Vossa Alma não separou-se do Vosso Corpo, ó Virgem Dolorosa?4 Encontram-se os olhos da Mãe e do Filho, mas não lhe sendo possível proferir palavras, pela pressa diabólica que tem os judeus de suprimir o Cordeiro inocente;5 falam-se na mudez eloquente dos Corações.

Querido Filho, meu único amor, diz Maria!6 Minha boa e terna Mãe, única consolação Minha! Responde Jesus.7

Neste tácito e silencioso diálogo, estreitamente unem-se os dois Corações, penetram-se mutuamente, formando Um, como único Coração pela intensidade da dor e pela veemência do amor.

Um veste o luto do outro, partilhando-se reciprocamente a onda amargosa da aflição; e enquanto esforçam-se para se aliviarem mutuamente, veem com isto, aumentar o Martírio e redobrarem os padecimentos.

Recebe Maria todo o mar de dor, que ameaça afogar Jesus; experimenta Jesus todas as agonias que lancinam a Alma de Sua Mãe querida. A vista de Maria, é para Jesus uma nova Cruz; a vista de Jesus, é para Maria, uma paixão adicionada às paixões do passado!

Assim sofrem os dois Corações mais puros, mais Santos e mais amáveis do Céu e da terra!




Sei, ó Jesus, que o Vosso Coração tem a amplitude do mar, mas sabendo ao mesmo tempo que ele está repleto, a transbordar de tristezas, como é possível que acheis lugar, para receber este novo caudal de amarguras?

Minha pobre mente vagueia trescalam-te nesta região do Amor Divino, impotente a solucionar este problema; por isto, humilho-me e limito-me, embora mesquinhamente, a oferecer-Vos o tributo da minha sincera compaixão; a Vós também recorro, ó Virgem das Dores, e vendo-Vos toda absorvida na Paixão do Filho;8 e sabendo ao mesmo tempo que ofereceis misericórdia e compassivamente todos os sofrimentos que espicaçam Vossa Alma, para regeneração dos pobres filhos de Eva,9 humildemente Vos rogo, enterneçais o meu duro coração, para que juntamente Convosco e ao Vosso lado, derrame ao menos uma lágrima de compaixão.10

Comunicai-me alguns dos sentimentos piedosos de que está embebida toda Vossa Alma; porquanto, homenagem mais agradável não poderia eu oferecer a Jesus, do que a minha compaixão santificada e valorizada pela Vossa. Por muito feliz me darei, se conseguir partilhar dos Vossos sofrimentos, a fim de aliviar os de Jesus, valendo mais uma gota das Vossas amarguras, do que todo o oceano espumejante das doçuras mundanas.

Sim, minha boa e terna Mãe, isto quereria eu fazer, se a isto não se opusesse o pensamento dos meus pecados.

Pois se Vós sofreis, se Jesus, Vosso Filho, sofre, é por minha causa;11 é que minhas iniquidades concorreram para os Vossos martírios. Ah! Mãe aflita, alcançai-me uma dor viva, uma contrição sincera, para destarte consolar-Vos e ao Vosso querido Jesus.

Propósito: Proponho ter devoção especial à Virgem das Dores;12 sendo esta eficacíssima para alimentar a contrição dos pecados e o amor de Deus.




Reminiscências

- O lugar do encontro também é indicado aos peregrinos da Terra Santa.

- “Não podendo a Mãe bendita suportar aquela vista de Seu Filho divino, em tal estado, desmaiou13 nos braços das piedosas mulheres, enquanto Jesus, amargurado por mais essa dor, teve de continuar o Seu caminho. À multidão e aos carniceiros pouco lhes importava os sofrimentos de um e de outro”.14

- “Quando o cortejo se pôs em movimento, Maria seguiu uma rua paralela e veio esperar Seu Filho na rua de Efraim.15 O encontro foi para Ela de horrível agonia”.16


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Fonte: Pe. Caetano Maria de Bergamo, O.F.M.Cap., “Pensamentos e Afetos sobre a Paixão de Jesus Cristo para cada dia do ano – Extraídos da Sagrada Escritura e dos Santos Padres”, Vol. 2, Caps. CCCVII, pp. 856-859; Tradução de Frei Marcellino de Milão, O.F.M.Cap.; Escola Typographica Salesiana, Bahia, 1933.

1.  S. Bern., de lament. Virg.

2.  S. Bonav., Stim. am., p. 1, c. 4.

3.  S. Brigit., Revel., cap. 10.

4.  S. Bonav., Medit., vit. Chr., c. 77.

5.  S. Bonav., Medit., loc. cit.

6.  S. Bonav., Stim., am., p. 1, c. 4; S. Ephr., de lament., b. Virg.; Cant., 8, 1.

7.  Cant., cap. 2 et 5.

8.  S. Bonav., Stim., am., p. 1, cap. 4.

9.  Idem. Ibid.

10.  Hymn., Eccl., de dolor. Virg., in offic.

11.  Ibid.

12.  S. Aug., Medit., c. 41.

13.  É a Tradição que no-lo diz. Ludulph. Cart: “Vita Christi”.

14.  Rev. Pe. Luiz de S. Carlos, C.P., “A Paixão de N. S. Jesus Cristo, narrada ao povo conforme os Santos Evangelhos e a Tradição”, pp. 145-146. Tipografia “O Calvário”, São Paulo/SP, 1952.

15.  A piedade dos fiéis aí construiu uma igreja, denominada, ainda hoje – Nossa Senhora do Espasmo.Ainda hoje lá se lhe veem as ruínas” (R.Pe. Berthe, C.Ss.R., “Jesus Cristo – Sua Vida, Sua Paixão, Seu Triunfo”, Cap. VI, pp. 389-390. Einsiedeln/Suíça, 1925).

16.  “A Paixão de Jesus Cristo”, pela Associação da Adoração Contínua a Jesus Sacramentado, pp. 167-169. Editora Vozes Ltda., Petrópolis/RJ, 1925.

sexta-feira, 19 de abril de 2019

“Busquei alguém que Me consolasse e não o encontrei”.



Vida Desolada de
Nosso Senhor Jesus Cristo.


A vida de nosso amante Redentor, foi toda desolada e privada de todo o conforto. Sua vida foi aquele grande mar inteiramente amargo, sem nenhuma gota de doçura ou consolação: “Grande como o mar é a tua dor”.1 O Senhor revelou um dia a Santa Margarida de Cortona, que durante Sua vida inteira, não experimentou uma só consolação sensível.

A tristeza que Ele experimentou no jardim de Getsêmani era tão grande, que bastaria para tirar-lhe a vida, e essa tristeza Ele não a sofreu só, então, mas o afligiu sempre desde o primeiro instante de Sua Encarnação, pois todas as penas e ignomínias que Ele deveria suportar até a morte, lhe estavam sempre presentes. Mas não foi tanto essa vista quanto a de todos os pecados, que os homens cometeriam depois de Sua morte, que O afligiu sumamente durante Sua vida inteira. Ele viera por meio de Sua morte, a tirar os pecados do mundo e a resgatar as almas do Inferno; mas via que, apesar de Sua morte, todas as iniquidades possíveis seriam cometidas na terra, das quais cada uma, vista distintamente por Ele, O afligia imensamente, como escreve São Bernardino de Sena: “Ele viu em particular, cada uma das culpas”. E foi essa a dor que Ele tinha sempre diante dos olhos e sempre O afligia: “Minha dor está sempre na Minha presença”.2 Santo Tomás diz, que a vista dos pecados dos homens e da ruína de tantas almas, que se haviam de perder, foi para Jesus Cristo um tormento tão grande, que sobrepujou as dores de todos os penitentes, mesmo daqueles que morreram de pura dor. Os Mártires sofreram grandes dores, cavaletes, unhas de ferro, couraças ardentes, mas suas dores eram sempre mitigadas por Deus com doçuras internas. Entre tantos Mártires, não houve um só tão penoso como o de Jesus Cristo, já que Sua dor e Sua tristeza, foram pura dor e pura tristeza, sem mistura de consolação: “A grandeza da dor de Cristo se aprecia da inteireza da dor e da tristeza”.3 Tal foi a vida de nosso Redentor, e tal foi a Sua morte, inteiramente desolada. Ao morrer na Cruz, privado de todo o alívio, procurava alguém que O consolasse, mas não encontrou: “Busquei alguém que Me consolasse e não o encontrei”.4 Não encontrou, então, senão escarnecedores e blasfemadores, que lhe diziam: “Se és o Filho de Deus, desce da Cruz. Salvou os outros e não pode salvar-se a Si mesmo”.5 E assim o aflito Jesus, achando-se abandonado de todos, se voltou para Seu eterno Pai; vendo, porém, que até Seu Pai O havia abandonado, deu um grande grito e exclamou num lamento supremo: “Meu Deus, meu Deus, por que Me abandonastes?”.6 E assim terminou a vida de nosso Salvador, morrendo como Ele predisse por Davi, submergido numa tempestade de ignomínias e de dores: “Eu cheguei ao alto mar e a tempestade Me submergiu”.7 Quando nos sentirmos desolados, consolemo-nos com a morte desolada de Jesus Cristo; ofereçamos-lhe então a nossa desolação, unindo-a com a que Ele, inocentemente, padeceu no Calvário por nosso amor.

Ah, meu Jesus, quem não Vos amará, vendo-Vos morrer assim desolado e consumido de dores, para pagar os nossos pecados? E eu sou um dos carrascos, que tanto Vos afligi durante toda a Vossa vida, com a vista de meus pecados. Mas já que me chamastes à penitência, concedei-me ao menos, que eu participe daquela dor, que sentistes das minhas culpas durante a Vossa Paixão. Como posso procurar prazeres, eu que tanto Vos afligi, com os pecados de minha vida? Não, eu não Vos peço prazeres e delícias, eu Vos suplico lágrimas e dor: fazei que eu viva o resto de minha vida, chorando sempre os desgostos que Vos dei. Abraço Vossos sagrados pés, ó meu Jesus crucificado e desolado, e assim eu quero morrer. Ó Maria, Mãe das dores, rogai a Jesus por mim.


Fonte: Santo Afonso Maria de Ligório, “A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo”, II Volume, Cap. X, Meditações Sobre a Paixão de Jesus Cristo – 5ª Meditação, pp. 179-181. Editora Vozes Ltda., Petrópolis/RJ, 1940.

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1.  Lam. Jr. 2, 13.
2.  Salm. 37, 18.
3.  S. Tom., 3 p. q. 46 a. 6.
4.  Salm., 68, 21.
5.  Mat., 27, 46.
6.  Mat., 27, 46.
7.  Salm., 68, 3.

quinta-feira, 18 de abril de 2019

CONTEMPLAÇÃO DO AMOR E DA DOR, EM NOSSO SENHOR JESUS CRISTO.



Subida ao Monte da Mirra, ou,
Contemplação das Penas de Jesus.


Subamos, alma minha, ao outeiro do incenso, e monte da mirra; que temos ali muito que admirar, muito que aprender. Vamos, digo, ao Calvário com os passos da consideração, e afeto. Este, verdadeiramente, é o outeiro do incenso; pois ali sobre vivas brasas do amor, no altar da Cruz ardeu, e se consumiu a vida de meu Senhor Jesus Cristo, para exalar ao Céu a fragrância do Sacrifício, que aplacou a ira Divina. Este, verdadeiramente, é também o monte da mirra; porque se esta significa o amargoso da mortificação, e o penoso da morte: ali provou estas amarguras, e passou por estas penas, O que é a nossa consolação e a nossa vida.

Oh, que estranho espetáculo é este, que a meus olhos se oferece! O Filho de Deus Humanado, o Rei da Glória, o que é a Cabeça de todos os Anjos e homens, e absoluto Senhor de todo o criado, crucificado e morto em um lenho infame, entre dois insignes malfeitores. Vê, e repara bem, como tem a Cabeça coroada de espinhos, os cabelos feitos pastas de sangue, os olhos fechados com o pesado sono da morte, as faces tumorosas com os golpes e bofetadas, e cobertas de sangue e salivas; a língua está seca, os lábios denegridos, a boca meio aberta, como que acaba de espirar, o peito levantado, o ventre exausto e consumido, o lado rasgado às violências de uma cruel lança, os nervos estendidos com quanto força pode a malícia e crueldade dos algozes, os ossos deslocados, que se podiam contar, as mãos e os pés desgarrados e fixos com duros cravos, todos os seus membros ignominiosamente despidos e expostos, à vista de inumerável povo, e de seus êmulos mofadores: e, finalmente, ao pé da Cruz a lastimada MÃE MARIA, inocentíssima, feita um mar imenso de amarguras, e um epílogo de todas as penas e tormentos de Seu amado Filho.

Que figura sem figura é esta, tão nova e prodigiosa? Não sabes, alma minha? É a figura do Amor Divino. Quis Deus formar uma estátua, ou retrato perfeito do Seu Amor: e deste modo o formou. Contempla atentamente e verás, como não há espaço, ou parte mínima em toda esta figura, que não esteja cheia de Mistérios e perfeições do Amor. O Amor é dadivoso e magnífico. Que maior dádiva, que dar-me Deus a Seu Filho Unigênito, e com Ele dar-me o Seu Corpo e Alma, Sua Honra e Vida, Seus Merecimentos e Exemplos, Sua Graça e Glória? O Amor iguala e assemelha os extremos por desiguais, e mui distantes que sejam. Aqui o Filho de Deus se abateu a parecer pecador, para levantar os pecadores a ser filhos de Deus. O Amor despreza penas e tormentos, por remediar e fazer bem ao amado. Que tormentos e penas não tomou sobre Si nosso Salvador, para nos livrar da morte do pecado, e comunicarmos a vida de Sua graça?

Mais. O Amor é sumamente ativo, como o fogo: faz muito em breve tempo. Em poucas horas de Sua Paixão sagrada, concluiu o Filho de Deus, o Mistério da Redenção do mundo, e alcançou aquelas três gloriosíssimas vitórias, do pecado, da morte e do Inferno, e franqueou o Reino dos Céus a todos os filhos de Adão, que quisessem aproveitar-se de Seu Sangue: e consumou tudo o que d'Ele estava profetizado nas Escrituras. O Amor tem grandes seios, onde cabem até os ingratos; dilatado bojo onde se digerem gravíssimas ofensas. Cristo na Cruz tem os braços estendidos quanto pode, para recolher e abraçar a todo o Gênero Humano: ora, pelos mesmos que O crucificaram, acha desculpa ao seu pecado: Pater dimitte illis, non enim sciunt quid faciunt.1 O Amor dá bem por mal, em competência do ódio, ira e ingratidão, que costumam dar mal por bem. Do lado de JESUS lanceado saíram os Sacramentos de nossa Religião Cristã, e a luz, que na alma e no corpo iluminou ao mesmo ímpio soldado que O ferira. O Amor é constante no que empreende. JESUS uma vez elevado no altar da Cruz, para nela ser sacrificado, não quis descer, ainda que pudesse, por mais que seus inimigos com suas línguas mordazes O irritaram. O Amor faz estimação dos opróbrios padecidos pelo amado. JESUS teceu de nossos espinhos a Sua coroa; e a Cruz, que era o opróbrio das gentes, tomou por cetro do Seu Reino. O Amor não é interesseiro. JESUS, o que de nós pretende em nos amar, é livrar-nos da perdição eterna, e conduzir-nos à eterna felicidade. O Amor permanece, e aumenta com as mesmas tribulações. JESUS havendo-nos amado desde o princípio, para o fim, nos amou mais e nos ama sem fim: Cum dilexisset suos, qui erant in mundo, in finem dilexit eos.2

Ó figura viva do Amor Divino estampada no Filho de Deus morto! Quem Te imprimirá profundamente na minha alma! Ó meu JESUS amorosíssimo! Quem saberia conhecer, estimar e corresponder a tanto amor! Ó meu Salvador Crucificado! Quem teria a glória de ser crucificado também Convosco! Ó Soberano Rei da Glória, por meus pecados expostos à maior confusão; por minha causa reputado, não por Deus, nem ainda por homem, mas por bichinho vilíssimo da terra: Ego vermis, et non homo; por réprobo e malvado, e feito irrisão do povo e opróbrio das gentes? Verdadeiramente, Vossa caridade é incompreensível: verdadeiramente, Vossas misericórdias não tem número. Amor, que entrega o Filho à morte, para dar vida ao servo: Amor, que condena a inocência, para perdoar à maldade, não tem em todos os entendimentos criados, regra por onde se meça, nem razão por onde se defina.

Que graças e louvores não Vos daremos; pois tanto a Vossa custa nos livrastes da morte eterna? Como, Senhor, serei ainda tão ingrato; que me esqueça de Vosso Amor, que Vos ofenda, que despreze Vosso Sangue, que torne com meus pecados a Vos crucificar? Muito me amastes, meu JESUS! Quem me dirá agora, a razão de amar eu tão pouco, ou totalmente não amar a quem tanto me amou? Ninguém pode dar razão alguma do que é suma sem-razão. Senhor: nenhuma razão tenho, de não Vos amar mais que tudo, e de não deixar de amar tudo, só para amar a Vós unicamente. Oh, meu dulcíssimo Salvador! Nenhuma razão tenho de não Vos amar de todo coração: e mais, quando este mesmo amor, que Vos devo, e me pedis, Vós mesmo mo dais, se eu o quiser receber; e para que mo pudésseis dar, e eu o quisesse receber, morrestes nessa Cruz. Quando eu me via tão pobre do Vosso Amor, costumava recorrer a pedir-Vos que mo desses. Já agora, nem de vo-lo pedir, me fica muito lugar; pois quem rejeita o que lhe dão, claro é que não deseja muito o que pede. Dai-me, que saiba eu pedir o que desejo, e aceitar o que peço. Ame-Vos eu, Senhor, senão como Vós mereceis ser de mim amado (que isso é impossível), ao menos como, com a Vossa graça posso amar-Vos. Ame eu, Senhor, as Vossas penas, dores, desprezos e desamparos: e nunca, jamais, me glorie em coisa alguma fora de Vossa Cruz. Fazei-me, ó meu JESUS Crucificado, fazei-me, Vos peço, semelhante a Vós: imitador das excelentíssimas virtudes, que dessa cadeira da Cruz me estais ensinando. Quero, Senhor, por Vosso Amor e glória, ser pobre, ser desprezado, ser obediente até a morte; ser benigno com meus adversários, ser perseguido e caluniado pelos mesmos, a quem fizerdes bem por meio de mim. Quero morrer por Vosso Amor; pois Vós por meu amor morrestes. Pesa-me dentro da alma, Vos haver ofendido, sendo Vós a mesma bondade infinita. Confesso diante do Céu e da terra, que fiz o mal: confesso minha culpa. Mas, confiado em Vossa misericórdia e na virtude e eficácia de Vosso Sangue, assento e proponho firmemente, de emendar a vida e tomar daqui por diante, por regra dela, Vossa santíssima vontade. Ponde, Senhor, nesta minha determinação o selo de Vossa graça, para que fique confirmada: e fazei em mim, não como minhas ingratidões merecem, senão conforme Vossa grande misericórdia. Amém.





Desejo a Todos os Irmãos,

uma Santa e Frutuosa Semana Santa,

Finalizada por uma Santa e Feliz Páscoa.


Ave Carmelo! Ave Maria!



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Fonte: Ven. Pe. Manoel Bernardes, Orat., “Luz e Calor”, Segunda Parte, Opúsculo IV, Solilóquio XIII, Art., 387, pp. 434-437. Nova Edição; Lisboa, 1871.

1.  Luc., 23, 34.

2.  Jo., 13, 1.

domingo, 14 de abril de 2019

ENTRADA DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO EM JERUSALÉM.



1ª Meditação

Vendo se aproximar o tempo de Sua Paixão, quer Nosso Senhor Jesus Cristo se aproximar também da cidade de Jerusalém, que é o lugar onde há de sofrer, para que saibamos ser tão grande o amor para conosco, que o impele a espontaneamente correr em procura da Cruz.1 Mais de uma vez entrara Ele naquela cidade, mas nunca com pompa e festivamente como agora, consentindo em derredor de Si acompanhamentos e manifestações de jubilo.2

Tudo, porém, tem sua significação.

Nosso Senhor Jesus Cristo chega a Jerusalém com alegria, porque é chegada a hora de imolar-se na Cruz,3 pois é certo que quanto mais se aproxima o momento de sacrificar-se pelos homens, realizando assim a Redenção do mundo, mais se acendem os ardores da caridade em Seu Divino Coração.4

Observemos com que humildade e com que nobreza, Ele se conduz neste seu trajeto, desfilando pelas ruas de Jerusalém.

Ele não aparece trajando purpura, em coche dourado, cercado por grande enxame de criadagem, mas avança, vestindo uma pobre túnica, cavalgando humilde jumento, pois que não quer ser temido como um poderoso, mas quer ser amado pela Sua mansidão.5 E o povo enfeita as ruas, e canta hinos de louvores e agita festivamente ramos de oliveira, para indicar a vinda de um Rei pacífico.6

É que Ele vem não para esmagar, mas para aliviar e salvar seus súditos, o diz inconfundivelmente o ar de modéstia e mansidão que espira do Seu rosto.7

Admiremos Sua caridade e humildade.

Porque, ó bom Jesus, Vos apressais em procurar escárnios, flagelos, espinhos e Cruz?8

Não admira que os Mártires corressem com alegria em busca dos suplícios, pois que O vosso amor lhes dava asas; mas Vós, por quem ides sofrer? A resposta me enche de confusão, Senhor; Vós ides alegre e pressurosamente sofrer por mim.

Oh! Amor de Jesus, amor imenso! Mas comparando o desejo que Vos abrasa de sofrer por mim e a repugnância que eu tenho em sacrificar-me por Vós, sinto-me desfalecer pela confusão.

Sim, ó meu Deus; se fosse permitido estabelecer um paralelo, que diriam em ver-Vos tão humilde e eu a transpirar soberba por todos os poros?

Enquanto Vos contemplo sentado sobre o jumentinho, afigura-se-me ver um mestre, que do alto de sua cátedra ensina-me a humildade,9 procurando convencer o discípulo de que, embora Vossa vontade seja que todos se salvem, todavia, de fato, só os humildes conseguirão a salvação.10 Graças e louvores Vos sejam dados, ó meu Jesus, pois que desejoso como Sois de minha salvação, não somente me ensinais a humildade, mas fortemente a me inspirais.

Humildade querida, eu te amo e te desejo.

Vós, porém, Senhor Todo-Poderoso, que cuidais de um só como de todos e de todos como de um tão somente,11 valei-me nas minhas misérias, a fim de que, no mesmo instante em que desejo ser humilde, não me sirva deste sentimento para envaidecer-me.12



2ª Meditação

Quando Nosso Senhor Jesus Cristo operou o milagre da multiplicação dos pães, quiseram as turbas aclamá-Lo rei, mas Ele declinando da honra fugiu, indo se esconder.13

Agora, porém, aceita os aplausos da multidão e até das crianças que erguem a voz saudando-O verdadeiro rei, glorioso rebento da linhagem de Davi,14 e não somente tem disto prazer, mas repreende os príncipes da Sinagoga, que movidos pela inveja, não suportam tais louvores,15 confirmando desta maneira Sua legítima realeza.16

Mas vejamos que rei seja Ele.

É rei que teme ser feito rei, porque não espera que os homens O façam Rei; é já Rei, Filho de Pai Rei, não humano, mas divino; não terreno, mas celeste; não temporal, mas eterno.17 Tem por isto grande prazer em ouvir aqueles aplausos inocentes inspirados pela fé, que O reconhecem e proclamam verdadeiro Messias vindo ao mundo para salvá-lo.18 Assim como os homens festejaram Seu Nascimento, cantando hinos de glória,19 assim, agora que vai morrer, homenageiam-No os povos, confessando-O Salvador do mundo,20 dirigindo-lhe a súplica de Davi, que se digne operar a Redenção dos homens.21

Ponderemos, como já o Profeta havia predito, esta entrada gloriosa de Jesus, quando convidara toda Jerusalém a sair-lhe ao encontro, a fim de acolhe-Lo com exultação.22 Ó alma minha, este convite é feito também a ti.

Jesus vem visitar-te e nesta visita quer operar tua santificação. Porque não vais encontrá-Lo, com a simplicidade e humildade das crianças, acolhendo-O com expansão, com sentimento de humildade, com terna confiança filial?

Ah! Meu Jesus, que lucro tendes, sendo proclamado Rei dos homens. Vós que já Sois o Rei imortal dos séculos. O fato de serdes meu Rei não Vos confere nenhuma honra, sendo antes para admirar Vossa carinhosa benignidade, para comigo.

Vós Sois o meu Rei, e tão generoso que quisestes baixar a esta terra, para me erguer até Vosso trono, e tornar-me partícipe de Vossa glória.23

Assim seja, pois, ó meu Soberano; estendei-me a mão caridosa, para que não me despenhe no precipício. Entrego minha salvação aos Vossos cuidados. Dirigi-me, recorrei-me, não podendo eu esperar a conquista do meu último fim24 de ninguém, senão da Vossa infinita Liberalidade. Se conseguir salvar-me, terei feito tudo o que é possível neste mundo; mas, se por uma tremenda calamidade eu viesse a naufragar e perder-me eternamente, inútil seria tudo quanto fizesse, ainda que operasse prodígios. Meu Jesus, que Sois meu Rei, não permitais que o Vosso pobre súdito se perca; e para que tamanha desgraça não aconteça, cercai-me de Vossa eficaz assistência.



3ª Meditação

Para agradecer a Deus o benefício de tê-los livrados da escravidão do Egito, tinham por costume os Hebreus todos os anos, por ocasião da solenidade pascoal, sacrificar-lhe um cordeiro; e a lei exigia que este fosse sem mancha e conduzido para suas casas entre manifestações de alegria, cinco dias antes do sacrifício.25 Querendo pois Nosso Senhor Jesus Cristo observar rigorosamente o ritual mosaico, ainda mais por ser Ele o verdadeiro Cordeiro Imaculado que há de imolar-se nesta próxima Páscoa, para Redenção do Gênero Humano,26 conduz-se para Jerusalém no meio de ruidosas alegrias, justamente cinco dias antes de ser crucificado e sacrificado sobre o Calvário.27

Ele é o Sumo Sacerdote que há de oferecer o sacrifício ao Eterno Pai; mas Ele é também a Vítima escolhida para propiciação da Divina Justiça em prol dos pecadores,28 e é por isso, que se rende a Jerusalém com solene pompa, para que O conheçam pelo que Ele é, o verdadeiro Cordeiro de Deus,29 já simbolizado na antiga lei,30 e apontado pelo Precursor São João Batista.31

Ah! Se nos fosse dado contemplar o que se passava no amoroso Coração de Jesus, Vítima e Sacrificador, Sacerdote e Cordeiro!32 Como Sacerdote, expandia-se em atos de religião, docilmente submetendo-se à Divina Majestade. Como Cordeiro, produzia atos de caridade, sabendo que iria ser imolado entre martírios e ignomínias, em expiação não dos Seus, mas dos pecados alheios.

Quanto a nós, ponderemos os motivos que nos tocam de perto. Se os hebreus ofereciam um cordeiro por haverem sido livrados das calamidades do Egito, que sacrifícios não deveríamos nós oferecer, que havemos sido libertos da eternidade do Inferno?

Em primeiro lugar, confesso ó Eterno Pai, os inúmeros pecados meus, e o acanhamento que sinto das minhas torpes ingratidões, entendendo seja esta uma homenagem a Vós tributada, proclamando-Vos digno de eterna glória,33 em reparação do péssimo uso feito das Vossas graças. Em seguida, enfeixo os meus afetos juntamente com os afetos do Vosso Filho Jesus, e, em união com Sua Divina Pessoa, ofereço-Vos todo o meu ser.

Quantas paixões de soberba e iracundia, inveja e gula, concupiscência e sensualidade fervilham dentro de mim. Pois bem, Senhor, quero agora todas vo-las sacrificar, sobre aquele mesmo altar da Cruz onde Jesus Vosso Filho,34 Vítima aceitável vai consumar o mais doloroso e o mais misericordioso dos sacrifícios.35

Meu Jesus, que ides morrer por mim com tanta serenidade, fazei que Vos imite entregando-me à mortificação, com aquela suave calma que torna o sacrifício agradável aos olhos do Vosso Eterno Pai.36



4ª Meditação

Considerando Nosso Senhor Jesus Cristo, que entra triunfalmente em Jerusalém rodeado pelos Apóstolos, acompanhado pela multidão que em respeitosas manifestações O honra e homenageia em brados entusiásticos de: Viva o Filho de Davi! Viva o bendito Messias, o Salvador de Israel,37 é certamente motivo de consolação vermos reconhecida e glorificada a Pessoa de Deus através da natureza humana.38

Mas ao pensarmos por outro lado que, escoados, apenas cinco dias, um dos Apóstolos entrega-Lo-á, outro chegará a renegá-Lo, e todos os demais O abandonarão: ao pensarmos que esta mesma multidão que, agora O eleva às nuvens, com seus vivas, há de acusá-Lo como subversivo,39 pior do que um facínora sanguinário e há de reclamar em brados enfurecidos, a morte Dele, e morte de Cruz,40 não ficaremos pasmos e atônitos diante de tão repentina mudança?41

É esta uma imagem do que vai pelo mundo.42

Da glória à desonra, das alturas ao fundo do vale, das eminências aos baixos, dos hosanas ao crucifica-O, há apenas um passo. Rapidamente foge o prazer, neste relancear de olhos, acaba-se a glória, a alegria e a prosperidade e todas as doçuras se convertem no intragável amargor do desengano.43

Vê ó minha alma, se vale a pena estimar tanto o mundo e seguir-lhe as máximas enganosas e mentirosas, e convence-te desta grande verdade: que tudo é vaidade, e vaidade das vaidades e aflição de espírito.44

Tudo passa e não há satisfação que dure senão a felicidade eterna, prometida a quem sinceramente serve a Deus.45

Mas esta repentina mudança é também uma fiel imagem de mim mesmo. Todas as vezes que recebo os Sacramentos da Confissão e Comunhão, quantos protestos de amor não dirijo a meu Senhor Jesus Cristo? Afirmo estimá-Lo sobre todas as coisas, juro de amá-Lo entre todas e sobre todas as criaturas, mas ao apagarem-se aqueles fervores superficiais, volto ao que era, e deixando-me empolgar por mesquinhas satisfações dou-lhe as costas com leviandade e ingratidão.

Hoje grito: hosana! Para amanhã bradar: crucifica-O!

E esta minha instabilidade não é tanto efeito da natureza corrompida, quanto da minha malícia habitual.46

Meu Deus, Vós bem vedes e conheceis o íntimo do meu ser. Frequentes vezes separo-me de Vós, porque em verdade nunca à Vós me uni e não sendo possível verdadeira união Convosco senão pelos vínculos do amor, confesso que a causa principal que de Vós me afasta, e porque não Vos amo. Ah! Senhor, como não amar-Vos? Dai-me ó meu Deus, que chore minha grande infelicidade.

Amo a vaidade e à vaidade tenho um grande apego.

Aí está a causa dos meus males! Destruí em mim o império da vaidade e sobre suas ruínas edificai o reino do Vosso amor. Escorai, em fim, as paredes deste edifício com os alicerces do temor santo, aceitando a firme resolução que tomo, de amar-Vos e obedecer-Vos para sempre.47



5ª Meditação

Prosseguindo Nosso Senhor Jesus Cristo Sua viagem entre honras e aplausos, aproxima-se da cidade de Jerusalém, e mal de longe a avista, que rompe em convulsivo pranto.48

Chora, para confirmar pelo exemplo serem bem-aventurados os que choram.49

Chora, não por saber que aí será condenado à morte, mas porque prevê as ruínas da cidade deicida, a qual por juízo de Deus será destruída e reduzida a um montão de ruínas.50

Não chora sobre a cidade pelos destroços dos edifícios materiais, mas sobre as iminentes ruínas temporais e eternas dos seus habitantes; lágrimas ainda mais sentidas ao refletir que indo Ele morrer para salvar a todos, no entanto, muitos por própria culpa51 tornar-se-ão réprobos.

Ponderemos, quão grande seja o amor de Jesus para com as almas. Ele prepara-se a derramar Seu Sangue por todos; para quem há de salvar-se e para quem há de se condenar;52 oferecendo, porém, em favor destes últimos, além do Sangue uma onda de lágrimas. Ora, se Jerusalém é símbolo da Igreja, composta de escolhidos e precitos, dar-se-ia porventura, o caso de me achar incluído no número daqueles que por seu endurecido coração, são causa do pranto do amoroso Redentor?53

Ele chora sobre os infelizes que, decaídos do antigo fervor, levam uma vida de tibieza e frouxidão.54

Estarei eu neste número? Jesus dulcíssimo, eu contemplo Vossas lágrimas como derramadas exclusivamente sobre mim, filho da Vossa Igreja, mas infiel às Vossas graças, ingrato às Vossas misericórdias e correndo risco de perder-me, se não cuidar logo dos meus interesses eternos.

Ah! Não permitais que eu chegue a condenar-me.

Reconheço haver merecido o Inferno pelos meus pecados.

Sim, eu confesso, Senhor! Chorai, chorai muito sobre mim, ó querido Filho de Davi; mas estas lágrimas que tanto Vos afligem, porque derramadas sobre infelizes que não se aproveitarão de Vossa Paixão, sejam causa de intensas consolações de minha parte, ao verdes o firme propósito em que me estou e produzir dignos frutos de penitência.

Sei que quando uma alma volta ao Vosso abraço paternal, por uma conversão sincera, o Vosso Coração transborda de júbilo.55 Por isso, fazei, Senhor, que eu cumpra aquela penitência para a qual Vós me chamais com tantos estímulos.56 Pelos merecimentos do Vosso Sangue e das Vossas lágrimas, ouso esperar a salvação; e tanto mais arraigada fica em mim esta esperança quanto mais medito, que foi o grande amor que me dedicastes, a causa de derramardes tanto Sangue e tantas lágrimas.57

Fazei pois, que, ao lado de uma firme esperança, eu ponha o Vosso santo amor, retribuindo-Vos em parte, o infinito amor que me consagrastes.58

Todas as virtudes são falhas e defeituosas, faltando o Vosso amor. Somente com este na vida e na morte, estarei ao coberto das ciladas infernais.59



6ª Meditação

Chorando sobre Jerusalém, Nosso Senhor Jesus Cristo derrama toda cheia dos Seus pesares, e lançando à infeliz cidade um olhar compassivo, declara que o motivo de Suas grandes mágoas é a descuidosa dissipação a que Jerusalém está entregue, e os perigos que a ameaçam.

Nada mais diz o amoroso Salvador senão: Se tu soubesses,60 se tu previsses a ira de Deus, que pende sobre ti; certamente tu também chorarias,61 providenciando sobre o teu futuro.62 Mas este é o teu mal, tua ruína está iminente e tu não pensas nisto!63

Um pai amoroso se aflige e chora em ver seu filho que vai morrer, porque rejeita o remédio que se lhe oferece, assim Nosso Senhor Jesus Cristo contristasse em ver aquela cidade que tem o remédio à mão e no entanto, prefere perecer antes que aplicá-lo. Como Salvador que é, vai visitá-la, a fim de esclarecer os Seus concidadãos; mas estes enlevados pela vaidade, fecham os olhos à verdade64 e, desta forma desprezando os meios, tornam-se indignos da salvação.65 E Jesus conclui, Suas plangentes considerações dizendo: “Jerusalém, tu perecerás, e a causa de tua perdição será porque não quisestes prever teu mal,66 nem conhecer teu bem.67

Esta predição é para mim uma advertência momentosa e urgente. Inúmeras são as inspirações e luzes, sem conta os avisos internos e externos com que Jesus me visita, estimulando-me para que conserte minha vida e endireite meus desvios e deslizes e me afervore na prática do bem!

Sei que destas visitas aproveitadas ou negligenciadas, depende minha eterna destinação feliz ou desgraçada;68 mas como me comporto eu?

Oh! Infeliz de mim? Quanto sou dissipado, descuidado e indolente! O presente me enlaça e absorve; e não penso na eternidade que me está tão próxima.

Quereis ser santo, mas recuso os meios que à santidade conduzem, e enquanto dentro de mim travam combate os tumultuários instintos da carne, com os puros deleites do espírito, eu permaneço irresoluto e indeciso, acabando por não saber se sou homem espiritual ou carnal.

Meu Jesus e meu Deus, apiedai-Vos de mim! Vós conheceis o meu mal; cego como sou às Vossas luzes, surdo às Vossas vozes, empedernido às ternuras do Vosso amor, verdadeiro enfermo espiritual que agora quer confiar e se valer do carinhoso e valente Médico celeste.69

A chaga pior do meu coração, é o amor desregrado que me prende ao mundo e aos seus ídolos; e embora me tenho iludido julgando existir em mim algumas centelhas de amor divino, descubro agora o embuste do meu amor-próprio, confessando que verdadeiramente nunca Vos amei, não sendo outra coisa senão frases ocas e vazias, palavras que retinem, os protestos de amor que habitualmente Vos dirijo.70 Que será de mim, se, assim seco e árido, chegar ao fim de minha vida?

Fazei, Senhor, que me aproveite das Vossas misericórdias enquanto ainda me sobra tempo.



Propósito

Tomarei a resolução de corresponder às divinas inspirações com as quais Deus me visita constantemente. Temerei o que Jerusalém não temia, os castigos de Deus, propondo eficazmente encetar uma nova vida.71


_______________________

Fonte: Pe. Caetano Maria de Bergamo, O.F.M.Cap., “Pensamentos e Afetos sobre a Paixão de Jesus Cristo para cada dia do ano – Extraídos da Sagrada Escritura e dos Santos Padres”, Vol. 1, Caps. X-XV, pp. 24-39; Tradução de Frei Marcellino de Milão, O.F.M.Cap.; Escola Typographica Salesiana, Bahia, 1933.

1.  Beda in Matth., 21.

2.  S. Chrysost., hom. 67 in Matth., ex Op., Imperf.

3.  S. Petr., Dam., serm. Dom. palm.

4.  S. Chrysost., hom. 67 in Matth.

5.  S. Chrysost., hom. 67 in Matth.

6.  Matth., 21, 8; Luc., 19, 38.

7.  S. Chrysost., loc. cit.

8.  S. Petr., Dam., serm. Dom. palm.

9.  S. Chrysost., hom. 67 in Matth.

10.  Psalm. 17, 28; 33, 19.

11.  S. Aug., lib. 3. Conf., cap. 11.

12.  S. Th. In suppl. 3, part., qu, 6, ar. 4.

13.  Jo. 6, 15.

14.  Matth., 21, 5 . 9.

15.  Matth., 21, 16.

16.  Beda in Marc., 11.

17.  S. Aug., Tract. 25 in Jo.

18.  S. Ambros., lib. 9 in Luc., cap. I.

19.  Luc., 2, 14.

20.  Marc., 11, 9.

21.  Psalm. 117, 25.

22.  Zac., 9, 9; S. Chrysost., hom. 67 in Matth.

23.  S. Aug., tract. In Jo.

24.  S. Aug., Conf., cap. I; 4 Reg., 6, 26; Psalm., 70, 2.

25.  Exod., 12, 3.

26.  Jo., 12, 1, 12.

27.  S. Chrysost., hom. in Jo.

28.  Heb., 7, 17; 9, 14.

29.  Beda hom. in Matth. 21.

30.  Beda loc. cit.

31. Jo. 1, 29.

32.  Hymn., Eccles. Tempo pasch.

33.  S. Aug., lib. 4 Confess., cap. I.

34.  Levit., 9, 3.

35.  I Petr., 2, 1, 5; Psalm., 50, 21.

36.  I Cor., 8, 9, 15.

37.  S. Hieron., in Matth. 21.

38.  S. Chrysost., hom. 68 in Matth.

39.  Luc., 23, 1; Jo. 19, 15.

40.  Luc., 23, 18 . 21.

41.  S. Hilar., in Matth. 21.

42.  Idiot., cont. de am. div., cap. 32.

43.  Idem, ibidem.

44.  Eccl. 12, 8; Psalm., 4, 3.

45.  I Jo., 2, 17.

46.  Threm., 1, 8.

47.  S. Aug., Conf., cap. 2; S. Bern., M, cap. 9; Psalm., 118, 120.

48.  Luc., 9, 41.

49.  Orig., hom. 58 in Luc.

50.  Luc., 19, 43.

51.  S. Cyrill., in Cat. Luc. 19.

52.  2 Cor., 5, 14; I Jo., 2, 2.

53.  Orig., hom. 38 in Luc.

54.  S. Greg., hom. 39 in Evang.

55.  S. Aug., lib. 8 Conf., cap. 3.

56.  S. Aug., lib. 10 Conf., cap. 4.

57.  Psalm., 16, 7.

58.  S. Aug., lib. 10 Conf., cap. 29.

59.  Idiot., cont. div. am. cap. 15.

60.  Luc., 19, 42.

61.  S. Greg., hom. 39 in Evang.

62.  Theoph., in Luc., 19.

63.  S. Greg., loc. cit.

64.  S. Greg., ibid.

65.  S. Cyrill., alex., in Cat. Luc., 19.

66.  S. Greg., hom. 39 in Evang.

67.  Luc., 19, 44; Theoph., in Luc., 19.

68.  S. Greg., hom. 39 in Evang.

69.  S. Aug., lib. 10 Conf., cap. 28.

70.  Idiot., contempl. Div. am., cap. 17.

71.  Psalm., 76, 8.

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